Cada carruagem ganhava uma salva de palmas e um comentário que ecoava por todo o lugar. Uma imagem iluminava um telão, mostrando em detalhes os tributos.

A garota do 1 usava um vestido de um ombro só que ia até seus pés, completamente coberto de pedras brilhantes. A iluminação sobre elas fazia a garota parecer um farol. O garoto usava um colete e calças muito parecidas.

A garota do 2 estava com um vestido acinzentado, fosco, na altura dos joelhos, com um decote enorme. O garoto ao seu lado usava apenas uma calça cinza, também fosca, deixando o tórax a mostra. E que tórax.

Não sei bem o que era a roupa dos tributos do 3. Ao meu ver, a garota usava um vestido com vários fios e pecinhas metálicas. Era parecido com a camisa do garoto. Mas podia ser só um pano desfiando.

A garota do 4 usava uma saia esverdeada com uma blusa azul transparente . No alto da sua cabeça havia uma tiara de conchas com pérolas. Como se ela já tivesse ganhado. O garoto usava um tipo de macacão de escamas, com uma rede por cima.

Os tributos do 5 me surpreenderam. Eu sempre assistia aos Jogos e ao desfile e nunca prestava muito atenção aos tributos do 5. Dessa vez, a garota usava um vestido até os joelhos, com os braços completamente cobertos com luzes piscantes. O garoto usava as mesmas luzes cobrindo seu tórax. Os braços expostos me permitiram ver uma cicatriz próxima ao seu cotovelo.

Os dois do 6 usavam uma roupa de maquinistas, os macacões brancos com botas da mesma cor e um boné com a insígnia do distrito 6. Nada de novo, nada de surpreendente.

E então era nossa vez. Respirei fundo mais uma vez e coloquei aquele sorriso bobo no meu rosto. Neville também sorria, daquele jeito natural. Os aplausos eram ensurdecedores. Não acenei, mas sorri para cada um, com um olhar sonhador.

E então veio o choque. Meu vestido começou a se desfazer. As roupas de Neville. Ficamos nus em cima daquela carruagem. Não completamente nus, mas quase. Teuk tinha razão, eu fiquei com raiva dele.

O povo foi à loucura. Não consegui ver as roupas dos outros distritos por um instante. Só quando eles apareceram no telão consegui me recompor. Meu sorriso se fora.

Os do 8 usavam vários pedaços de tecidos e panos remendados, com tiras enroscadas em seus braços e pescoços. Era uma explosão de cores e texturas que quase me deixou tonta.

A garota do 9 usava um vestido curto em tons de âmbar, salpicada de grãos de todos os tipos. O garoto usava uma túnica do mesmo tom, também salpicada de grãos.

Os dois do 10 usavam peles sobre os ombros. A garota me fuzilava com os olhos. Percebi que a cada chance que tinham, as câmeras voltavam a focar a passagem da nossa carruagem. Dei aquele sorriso torto que costumava usar com Shiranui.

Os dois do 11 eram duas crianças, com no máximo 13 anos cada uma. Elas vestiam uma roupa de linho, com uma aparência humilde. A garotinha carregava um cesto e o garoto segurava uma enxada.

E por fim os do 12, com as roupas sujas de carvão. Pareciam completamente perdidos naquele lugar, como se só quisessem voltar para suas minas e se esconderem lá para sempre.

Senti o olhar do presidente sobre nós. Sobre mim. Neville ainda sorria, mas já não acenava. Dei aquele sorriso bobo de novo, mas não se encaixava com minha nova roupa. Fiquei séria, seguindo o presidente, lá no alto, com um olhar.

– Sejam bem vindos, tributos. – Ele começou seu discurso. – Nesse ano mais uma edição dos Jogos Vorazes está prestes a acontecer. Vocês são nossas estrelas. Estou muito orgulhoso de cada um de vocês e seus respectivos distritos, que permitem que a adorada Panem seja tão grandiosa.

As carruagens voltaram a se mover, saindo da praça. O povo voltou a aplaudir. Senti um ódio renovado pela Capital e seu povo. O presidente nos olhava do alto. Podia ser só uma impressão, mas senti que ele estava olhando diretamente para nós.

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– Eu vou te matar! – Teuk entrou de costas no elevador do prédio de alojamentos dos tributos. Antes que mais alguém entrasse, apertei o 7 e deixei a porta se fechar. – O que você tem na cabeça?

– Ideias brilhantes? – Ele segurava o riso, mas parecia um pouco surpreso com minha raiva.

– Me deixar nua não é uma ideia brilhante. – Botei o dedo no peito dele, fazendo ele se encostar ainda mais na parede do elevador.

– Não estava nua. Estava seminua, é diferente. – Ele finalmente sorriu. Continuei séria por alguns instantes, mas a raiva acabou e eu comecei a rir. – Viu? Você já está gostando de mim.

– Cala sua boca, não gosto de ninguém. – Cruzei os braços, percebendo que o que sobrara da roupa era bem menor do que eu achei que fosse.

– Venha logo, sonsa rancorosa. – O elevador se abriu no sétimo andar. Teuk me puxou para fora, me levando para uma sala enorme. Luxuosa demais, não tão bem decorada quanto os vagões do trem. Ao menos não na minha opinião.

– Foi um sucesso. – Charol entrou com Loner na sala. Reys e Neville chegaram logo depois.

Reys era uma mulher baixa, com os cabelos azuis e olhos violetas, quase tão incômodos quanto os de Teuk. Ela me deu um sorriso fraco, que eu respondi com um aceno de cabeça.

– Muito bem. Vão descansar. Logo haverá um belo jantar e a reprise das Colheitas e do desfile. Vamos estudar o adversário. – Loner cruzou os braços e me encarou, como se me desafiasse a me negar.

– Tudo bem, vai ser ótimos descobrir como cada um vai morrer. – Passei por Loner, indo para um corredor. Charol me indicou a primeira porta à esquerda como meu quarto.

– Rosto de flor, língua de espinho. – Ouvi Teuk comentando com os outros. Alguns risos, que eu ignorei. Abri a porta do quarto, começando a tirar a minha nova roupa.