Burning Torch escrita por Pacheca


Capítulo 4
Chegada


Notas iniciais do capítulo

Demorei, mas cheguei!! Mil perdões, viajei, depois teve essa bagunça aqui do Nyah!, mas cá estou eu, postando -q
Ficou grandinho...
Surpresa estão por vir :p
Boa leitura :*



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O rosto de Charol ficou vermelho de raiva quando me viu saindo do meu quarto com as mesmas roupas com que cheguei da Colheita. Ela realmente achava que eu usaria aquela roupa ridícula que ela colocou sobre minha cama?

– Vamos desembarcar em algumas horas! – Os saltos ecoavam pelo trem enquanto ela marchava na minha direção. – Por que não está pronta ainda?

– Estou pronta. – Dei de ombros. Neville e Loner estavam atrás dela, reprimindo um sorriso. Cocei meu nariz enquanto Charol bufava, tentando não perder a calma.

– Muito bem. Não me culpe depois. – Dei um sorriso torto pra ela, concordando com a cabeça.

A mulher se afastou, ainda com o rosto vermelho. Neville voltou para o seu quarto, usando uma roupa cintilante. Loner deu uma risada alta assim que Charol saiu do vagão.

– Você é maluca, sabia? – Ele cruzou os braços sobre o peito, saindo do caminho para que eu entrasse no vagão.

Cruzei o vagão e fui para o próximo. O último, melhor dizendo. A parede oposta à da porta era arredondada, completamente revestida de vidro. Eu podia ver a paisagem lá fora, passando num borrão por nós. Loner parou atrás de mim.

– O que pretende fazer? Nunca mais tomar banho?

– Só até desembarcarmos. Vai ser chocante, eles vão ficar arrepiados.

– Pode até ser. – Ele deu de ombros e se sentou no sofá de veludo vermelho que cobria o fundo do vagão. O segui, me sentando na ponta oposta.

Apenas alguns minutos olhando as árvores passando como um borrão por nós foram suficientes para me deixar enjoada. Fechei os olhos e me deixei escorregar um pouco no sofá, apoiando a cabeça nas costas do sofá.

– Que foi, durona? – Abri os olhos, olhando Loner. – Não suporta uma corridinha?

– Engraçado, não? Aposto que se me pedissem para deixar seu cérebro escorrendo por esse vidro eu não hesitaria. – Dei um sorriso torto.

– Eu me pergunto com que arma faria isso.

– Um revólver, como o dos Pacificadores, seria suficiente. – Fechei os olhos de novo, respirando fundo.

– O que mais sabe usar? – Ele colocou os braços sobre as costas do sofá. – Alguma coisa que vai ser útil na Arena?

– Por que quer saber? Vai me treinar e deixar o garoto à própria sorte? – Me endireitei no sofá.

– Realmente se importa? Não faço questão nenhuma que vocês ganhem essa palhaçada.

– Sou do 7. O que acha que eu sei usar? – Me virei, evitando olhar pela parede de vidro.

– Machado?

– De preferência. – Dei de ombros. – Mas se for preciso, posso matar alguém com uma espada ou uma faca.

Loner ficou encarando o chão por vários instantes, pensativo. Não falei nada, só esperei. Ele ergueu os olhos para mim, como se me visse pela primeira vez.

– Você pode seguir uma bela estratégia. – Ele se levantou e fechou a porta do vagão. – Se eu nunca tivesse conversado com você diria que você é uma garotinha assustada.

– Como é? – Inclinei minha cabeça um pouco para o lado.

– Uma ruiva de olhos claros, num corpo bonito e com um rostinho sonso, é essa sua descrição, florzinha. – Ele se sentou ao meu lado, sério. – No entanto, é só você abrir essa boca carnuda e todo esse ar de garotinha inocente se vai.

– O que você quer que eu faça? Fale logo.

– Seja frágil.

Minha gargalhada quebrou o silêncio depois de alguns segundos. Alta, cortante. Nem se eu me calasse pro resto da minha vida eu conseguiria ser frágil.

– Falo sério. – Ele se levantou. – Chegaremos em menos de duas horas. Coma algo e se prepare para a sessão de tortura. Dessa não vai poder fugir.

– Tortura, é? Que tipo de tortura?

– Se depilar, fazer as sobrancelhas... – Ele deu de ombros. – Espero que tenha um estilista criativo. Sinceramente, não acredito que 53 anos se passaram e tudo que eles conseguem pensar para o distrito 7 são árvores.

– Ou você é uma árvore ou um lenhador. – Me levantei também.

– Bem, que seja. Boa sorte, garota. Se você morrer vai ser uma falha minha, então, não morra!

– Sim, senhor. – Me inclinei para a frente, sorrindo sarcasticamente. Ele abriu a porta do vagão e saiu, me deixando sozinha, por alguns instantes.

Parei ao lado do garoto, Neville. Ele estava mais calmo agora, já não ficava evitando meu olhar. Olhamos pela janela, a multidão colorida do lado de fora já reunida, para nos ver.

– Boa sorte. – Ergui uma mão, deixando-a entre nossos ombros. Ele a apertou de leve.

– Não sei bem se sorte é o que precisamos agora, mas boa sorte pra você também. – Dei um sorriso fraco com a resposta dele.

Charol parou atrás de nós, colocando as mãos em nossas costas. O sorriso fixo tinha voltado a aparecer em seu rosto. Ela ainda estava indignada com minhas roupas, mas não me importei.

As portas se abriram lentamente. Soltei a mão de Neville. Ele sorria naturalmente, acenando para o povo em êxtase. Tudo que eu podia fazer era ficar atordoada.

Aquele lugar era simplesmente magnífico. Os prédios imensos, as luzes ofuscantes, a harmonia das construções. Eu não gostava do povo da Capital, mas do lugar em si eu gostava. Ou ao menos achava bonito.

Um sorriso bobo se formou no meu rosto. Flashes piscavam a todo instante sobre nós. Loner parou ao meu lado, sussurrando algo que só eu podia ouvir.

– Bom trabalho, sonsinha. Eles já te amam. – Sorri para ele em resposta, sendo filmada por uma câmera da Capital.

Olhei ao redor mais uma vez. Algumas pessoas me olhavam em choque, provavelmente por causa das roupas, mas nenhuma delas parecia desaprovar por completo o visual.

Fomos escoltados até um carro. Dessa vez não pude ser rude com os Pacificadores, infelizmente. Eu estava em território inimigo, tinha que agir sob as regras deles. Ao menos, por enquanto.

A sala de preparação ficava num prédio afastado daquela multidão, perto dos apartamentos dos tributos. A sala parecia ser num subterrâneo, cheia de luzes brancas fluorescentes.

Me deitaram em algum tipo de cama metálica, tirando minha roupa e me deixando com uma camisola fina. Antes de levaram minhas roupas embora, agarrei o braço do homem que cuidava de mim e falei calmamente em seu ouvido.

– Aquela roupa era da minha mãe. Ela morreu há pouco tempo. – Ele colocou a mão do braço livre sobre o peito. O fragilizei, ótimo. – Poderia cuidar dela e me devolvê-la assim que possível?

– Claro que sim, querida. Só vamos lavá-la. – Dei um sorriso agradecido e o soltei. Parecia que ele ia chorar a qualquer momento. Quanto drama.

Loner tinha razão, aquilo foi uma sessão de tortura. De quem fora a ideia de arrancar pelos corporais com cera quente? Aquilo doía. Quando a mulher dos cabelos azuis escuros puxou uma tira de papel na altura do meu tornozelo, não me contive e dei um chute a esmo. A mulher caiu no chão, segurando o papel.

Me apoiei sobre meus antebraços, olhando-a no chão, me sentindo mal. Não que eu não achasse que o povo da Capital merecesse uns chutes de vez em quando, mas ela não fizera nada além de seu trabalho.

– Desculpa. – Ela se levantou, um pouco atordoada. – Mil desculpas, eu não pude evitar.

– Tudo bem, meu bem. – Os olhos dela estavam marejados, não sei se pelo choque ou pela dor. – Só não faça isso de novo.

– Eu realmente sinto muito. – Voltei a me deitar, me segurando para não chutá-la de novo.

Depilaram tudo que podiam: pernas, virilhas, parte do meu rosto. Pegaram uma pinça e arrancaram vários pelos das minhas sobrancelhas. Meus olhos se encheram d’água. Lavaram meu cabelo duas vezes, com um produto com cheiro de verbena. Por fim, me levaram para uma outra sala, tirando minha camisola.

Fiquei nua, numa sala vazia, com nada além de uma mesinha com biscoitos e duas poltronas de veludo vermelho, como o sofá do último vagão do trem.

Me sentei em uma das poltronas, tentando me esconder. Aquela nudez me incomodava um pouco. Fiquei contando os minutos passando, até o homem entrar na sala.

Era um sujeito da minha altura, com o cabelo branco curto, com uma única mecha azul clara, na franja. Os olhos eram de um azul muito claro, quase brancos, e a pele era bem mais clara que a minha. Ele era albino.

– Jojo. Como vai? – Ele se sentou na outra poltrona,pegando um biscoito, esperando uma resposta.

– O que, espera que eu diga que estou bem? – Cruzei os braços sobre os seios, tentando escondê-los. Ele não parecia se importar com minha nudez.

– Sei que não, só estava sendo educado. – Ele se levantou. – Bem, chega de conversa então.

Ele pegou minha mão e me puxou, me forçando a ficar de pé. Deu uma volta ao meu redor, observando meu corpo. No mínimo, desconfortável.

– Ok, pode se vestir. – Ele indicou um roupão fino, preto. Coloquei-o, relaxando um pouco.

– Então, que tipo de árvore eu vou ser? – Me sentei de novo, tamborilando os dedos no braço da poltrona. Ele deu uma risada fraca antes de me responder.

– Gosta de árvores? – Ele se inclinou para frente.

– Pode-se dizer que sim. – Dei de ombros. – Mas espero que você seja um pouco mais criativo do que os outros.

– Sabe, Jojo, você é uma pessoa contrastante. – Ergui uma sobrancelha, pedindo uma explicação mais clara. – A forma física de uma garotinha...

– Sonsa. – Completei para ele quando percebi que ele procurava uma palavra certa. Aparentemente, Loner tinha razão sobre minha aparência frágil.

– A forma física de uma garotinha sonsa, como você disse, e a atitude completamente provocadora. Opostos que se contrastam assim que você se apresenta.

– E isso é bom?

– Se eu souber usar esse contraste, sim. – Ele respondeu calmamente.

– E você sabe usar esse contraste?

– Imagino que sim. – Os olhos quase brancos pousaram nos meus. Fiquei encarando o azul esbranquiçado por alguns instantes antes de perguntar.

– O que tem para mim? Uma árvore de duas cores?

– Não é bem isso. – Ele se recostou na poltrona. – Vai ter que confiar em mim.

– Muito bem, se você não fizer um bom trabalho o problema vai ser seu. Eu sou só mais um tributo que pode acabar morta em poucos dias, já você...

– Vou ser o estilista ridículo, sei disso. Então, vai confiar em mim.

– O que devo esperar? Um pinheiro? Salgueiro?

– Quer mesmo saber que árvore é? – Dei de ombros, fazendo-o rir. – Bordo. Você vai ser um bordo.

– Sério? Um bordo? – Eu até que gostava de bordos, mas nunca me imaginei vestida como um.

– Vai ter uma surpresa. Um bordo forte e delicado ao mesmo tempo. E um contraste um pouco mais forte.

– Qual seu nome?

– Teuk. – Ele se levantou da poltrona, pegando outro biscoito.

– Teuk? Estranho. – Me levantei também, colocando o dedo no peito dele. – Se você fizer alguma coisa ridícula, quem vai sair naquela carruagem ridícula vestido de bordo vai ser você. Vai ficar lindo no meu vestido.

– Por que acha que é um vestido?

– Sempre é. Por que o meu não seria?

– Vou chamar sua equipe. Não saia daqui. – Abaixei meu braço, voltando a me sentar na poltrona.

Não demorou muito para um trio de pessoas esquisitas entrar na sala. Um sujeito de cabelos verdes, parecendo grama, uma mulher com a pele arroxeada e uma outra com tatuagens por todo o rosto, pescoço e braços.

Me maquiaram, com uma sombra laranja, mas não muito chamativa e um batom marrom. Deixaram meu cabelo solto, caindo sobre meus ombros. Me deixaram me observando num espelho e foram chamar Teuk.

Percebi as sardas claras em meu rosto. Meu cabelo estava bonito, como quando minha mãe o penteava para mim. Era como se uma outra pessoa me encarasse naquele espelho. Uma pessoa realmente frágil.

– Pronta para o vestido? – Teuk me tirou do meu transe, carregando um saco com minha roupa, imagino eu.

– Como se eu tivesse alguma escolha. Me mostre o que tem. – Dei um sorriso torto e deixei ele me vestir.

Era mesmo um bordo. Um vestido laranja nos ombros, quase vermelho, que ia ficando marrom a medida que se aproximava do chão. Era recoberto de folhas até minha cintura. Bonito. Minha cintura era rodeada por pequenos gravetos.

– Claro que precisava dos gravetos. – Revirei os olhos. Teuk só deu uma risada fraca.

Teuk me levou até os cavalos. Neville já me esperava, acariciando nossos cavalos. Eram dois cavalos, enormes, ambos marrons, como terra molhada.

– Confia em mim? – Teuk me parou antes que eu me aproximasse da carruagem. – Porque eu e Reys tivemos uma ideia um pouco, fora do comum.

– Que tipo de ideia? – Me virei para ele, franzindo o cenho.

– Uma ideia que provavelmente vai te deixar brava comigo. Você e seu parceiro.

– Desde que funcione. – Suspirei. Ele deu um sorriso e arrumou meus cabelos mais uma vez.

– Muito bem. Pode ir. Lembre-se. Seja frágil no início, forte no fim. Aproveite o contraste.

– Tudo bem, posso fazer isso. – Me afastei, parando ao lado do meu parceiro.

O observei por alguns instantes. Nunca tinha reparado que ele era tão...bonito. Ele devia ser da altura de Shiranui, percebi prestando atenção mais de perto, mesmo que mais novo, com o cabelo escuro curto. Os olhos eram de um castanho escuro, quase vermelho. A roupa dele também estava espetacular. Parecia um macacão de lenhador, mas com as mesmas tonalidades que meu vestido, e do mesmo material.

– Oh, olá. – Só quando coloquei minha mão ao lado da dele no flanco do cavalo ele percebeu minha presença. – Pronta para a surpresa?

– Vou matar Teuk se ele fizer qualquer coisa estúpida. Só espero que funcione. – Dei de ombros. – Bela roupa.

– A sua também. – Ele sorriu, daquele jeito natural dele. – Gosta de bordos?

– Sinceramente? – Me virei para ele. – Gosto. São diferentes. Dizem que as folhas de árvores são verdes, mas não as dos bordos. São avermelhadas. Bem mais bonitas.

– Sim. Muito bonitas mesmo. – Ele respondeu, pensativo. Um sinal tocou, indicando que deveríamos subir nas carruagens. – Pronta?

– Como sempre estive. – Subi na carruagem, olhando ao redor enquanto Neville subia no lado dele. As outras garotas usavam saltos. Eu não. Eu estava descalço. Não que me importasse, mas era estranho.

Os cavalos começaram sua marcha. Respirei fundo e me segurei na beira da carruagem. Ser frágil. Só sorrir daquele jeito bobo de novo. Eu podia fazer aquilo. A carruagem se moveu.


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Notas finais do capítulo

O que acham que vai rolar? Roupas especiais?
Bjs



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