Burning Torch escrita por Pacheca


Capítulo 2
A Colheita


Notas iniciais do capítulo

Então, pessoas, ai está o segundo capítulo...
Espero que gostem!
Boa leitura :3



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A lua brilhava alto no céu. Respirei fundo, encostando minha cabeça na parede da pequena casa. Não consegui dormir, então saí da casa e me sentei no degrau da entrada.

Não consegui dormir, mas não foi por ansiedade. Tive um ou dois pesadelos, mas nenhum deles era sobra a Colheita. Era sobre o incêndio. O incêndio em que meus pais morreram.

Minha vontade era atravessar o distrito e ir até Shiranui, mas decidi que era melhor só sair de casa. Ele precisava descansar, e cruzar o distrito àquela hora seria no mínimo suspeito.

Inspirei o ar da noite mais uma vez. Ali, daquele degrau em frente minha casa, sentada, eu podia ver o brilho da lua sobre os globos de vidro da Colheita.

Os observei por um momento. A ideia de que um daqueles papéis lá dentro tinha meu nome e podia ser sorteado me fez tremer. Não pelo medo da Arena, da morte. A ideia de viajar até a Capital, aquele lugar que eu tanto odiava, é que me deixava com medo.

Me levantei e entrei em casa de novo. Eu ainda não tinha sono algum, mas teria que me forçar a dormir, ao menos um pouco. Me deitei no colchão no chão da sala, onde eu sempre dormia, e fechei meus olhos. Por fim, o cansaço me venceu e eu adormeci.

Um sorriso involuntário se formou no meu rosto quando me olhei no espelho da casa. Minha avó provavelmente não gostaria de me ver na Colheita vestida daquele jeito, mas era exatamente isso que me fez sorrir.

Olhando pela janela, eu podia ver as meninas, de várias idades, com seus vestidos arrumados e cabelos presos em penteados elegantes. Eu era a exceção.

Usava uma calça escura, com as botas de couro de minha mãe e uma camiseta verde escura. Meu cabelo estava solto, totalmente despenteado. E eu, sinceramente, não ligava sobre o que diriam de mim na Capital se fosse escolhida.

Saí da casa e caminhei calmamente até a praça. O distrito estava mórbido, com todas as janelas das casas fechadas e as pessoas, que mais pareciam se dirigir a um enterro.

Parei em uma das filas, esperando minha vez de estender minha mão para o Pacificador. Em poucos instantes, eles colheram a gota do meu sangue e me direcionaram à minha fila.

Procurei Shiranui entre a multidão de adolescentes. Ele já estava entre os garotos de 18 anos, a 7 fileiras de distância. Respirei fundo, ainda o encarando.

Charol Mullin subiu ao palco, seus saltos altos ecoando pela área a cada passo que ela dava. Era no mínimo engraçado observar como as pessoas da Capital eram todas iguais. Charol era exatamente igual à antiga seletora, não fosse a peruca alaranjada.

Cruzei os braços sobre meu peito. Charol correu um olhar sobre a multidão, com um sorriso congelado em seu rosto, antes de começar o discurso. A seletora podia até mudar, mas o discurso não.

Não prestei atenção às suas palavras, muito menos ao vídeo. Olhei na direção de Shiranui de novo. Ele me encarava, um sorriso estampado em seu rosto.

Voltei a encarar o palco quando o som dos saltos voltou a ecoar pela praça. A grande hora. Ou meu nome seria dito naquele instante ou eu voltaria para casa, sem nenhuma perspectiva na vida.

– Como de costume, damas primeiro. – Ela caminhou até a bola de vidro. Eu estava ansiosa. Até em me voluntariar na hora eu pensei. Ela puxou uma das tirinhas de papel cuidadosamente dobrada e a abriu, alisando-a.

Silêncio geral. Todos naquela praça esperavam o nome ser pronunciado. Ela parecia saber da ansiedade de todos, ficava ali, sorrindo, deixando todos ainda mais nervosos com a demora.

– Jojo Aismael. – Meu coração bateu descompassado, não sei se por ansiedade ou medo. Ansiedade, por ter uma chance de desafiar aquelas aberrações da Capital. Medo, por saber que havia uma grande chance de Shiranui ir comigo para a Arena.

Respirei fundo, endireitei minha postura e caminhei até as escadas do palco. Ela continuava com o sorriso congelado no rosto, estendendo a mão para mim, me convidando para o palco.

Subi os degraus e me posicionei ao seu lado. Observei as outras crianças do distrito, os garotos estavam ansiosos, mas as garotas me estudavam. As ignorei e passei a encarar Shiranui enquanto ela caminhava até a outra bola de vidro.

– E agora, o rapaz. – Ela demorou um pouco, parecendo decidir qual tirinha pegaria. Por fim, afundou a mão entre os papéis e puxou um.

“Não é o meu!” Shiranui movia os lábios, formando as palavras sem o som. Tenho certeza de que ele só tentava me deixar mais tranquila. A ideia de ter que matar meu melhor amigo me deixava um pouco nervosa.

– Neville Westdon. – Alívio me dominou assim que o primeiro nome do garoto foi pronunciado. Vi Shiranui me dando um sorriso fraco. O garoto, de uns 15 ou 16 anos, subiu ao palco e parou do outro lado de Charol.

Ele estava tenso, com os punhos cerrados tremendo e o maxilar travado. Mas ele tentava se controlar, se portar como se não se preocupasse. Charol deu um passinho para trás e disse com seu sotaque irritante.

– Apertem as mãos, tributos do 7. – Segurei firme a mão do garoto. Ele soltou a minha assim que pôde. – E que a sorte esteja sempre ao seu favor.

Me virei para a multidão, que começava a se dispersar. Shiranui caminhava em direção ao Edifício da Justiça. Um Pacificador tentou me pegar pelo braço, mas me soltei.

– É só indicar o caminho. – Ele me olhou de forma nada simpática. Retribuí com um sorriso sarcástico. – Tenho força suficiente para me sustentar e andar até a sala.

Ele bufou, mas não tentou mais me segurar. Algumas câmeras filmavam nossa entrada no Edifício. Entrei na sala que me mandaram e esperei. Só duas pessoas iriam me ver.

A primeira delas entrou em poucos minutos, pequena e frágil, tossindo. Ela parou na minha frente, sorrindo fraco. A abracei, com um aperto no peito. Era a única pessoa que me fazia querer chorar por estar ali.

– Oh, querida. Você consegue. – Ela tinha a voz doce, um pouco chiada devido à tosse, e calma. – Vou te esperar na estação no dia que o trem chegar ao 7 com a vitoriosa.

– Se cuida, vó. – Me afastei dela, estudando seu rosto. Sereno, como sempre. – Preciso da senhora.

– Estarei aqui. – Ela me estudou, das cabeças aos pés, e deu uma gargalhada chiada. – Só você, Jojo, para se vestir assim numa Colheita.

– Me destaquei entre tantos vestidos. – Sorri para ela. – Agora vá. Shiranui vai te ajudar com o que precisar.

– Eu sei. – Ela beijou minha testa, ficando nas pontas dos pés. – Eu te amo.

– Também te amo, vó.

Ela saiu assim que o Pacificador abriu a porta, com força desnecessária. Minha avó passou por ele com a cabeça erguida, como se estivesse em um desfile. Adorava isso nela, esse ar de rebelde disfarçada.

Shiranui entrou logo em seguida. Senti os braços dele passando ao redor do meu corpo. O apertei de volta, mais calma.

– Minha vó está sob seus cuidados. – O encarei com uma expressão dura, que logo se desfez quando ele sorriu.

– Sim, senhora. – Ele concordou. – Jojo, você tem certeza de que quer...?

– Morrer. Não. – Encarei o chão, pensativa. – Shiranui, essa noite eu pensei em algo que você me disse. “Somos uma ameaça para eles”.

– O que está pensando? – Ele franziu o cenho.

– Podemos mudar isso. Aos poucos, seremos a rebelião. – Eu falava baixo, olhando diretamente para a porta. – E então nos mudaremos para a casa enterrada.

– Precisa sobreviver para isso. – Ele apoiou a mão na cintura, onde eu sabia estar seu revólver. – Eu te daria isso, mas tenho certeza de que se acharem vai ser um problema.

– Não preciso do seu revólver. Não tenho boa mira. – Ele deu um riso fraco, passando a mão pelo rosto.

– Se certifique de que vai conseguir ao menos uma faca. Você vai conseguir.

– Sabe qual o problema? Eles querem que eu vire a boneca deles.

– Jojo, você foi à Colheita usando calças e uma camiseta qualquer, como se não tivesse importância alguma. Acha mesmo que eles gostam de bonecas que não seguem às leis.

– Acho que não. – Dei uma risada fraca. – Se cuida e cuida da minha avó. Acabaremos com a Capital quando eu voltar.

– Com certeza. – Ele me abraçou de novo. – Que a sorte esteja sempre a seu favor. – Ele imitou o sotaque de Charol, me fazendo rir.

– Se é que existe sorte de fato... – Era o que sempre dizíamos quando ouvíamos a frase dos Jogos Vorazes.

O Pacificador abriu a porta, puxando Shiranui pelo braço. Ele se soltou, fuzilando o Pacificador com um olhar. Sorri com a expressão assustada do vigia.

Me sentei no sofá de veludo vermelho. O outro garoto provavelmente estava se despedindo de toda a família. Eu tinha que esperar, até que ele terminasse para poder embarcar.

Eu acabara de prometer a Shiranui que acabaríamos com a Capital. Eu ainda não sabia como, mas se fosse para sobreviver aos Jogos, que fosse para ajudar outros. A Capital cairia.


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Notas finais do capítulo

O pau começa a quebrar daqui a pouco ^.^ Deixem suas opiniões enquanto isso :3
Bjs



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