Burning Torch escrita por Pacheca


Capítulo 1
O Dia de Antes


Notas iniciais do capítulo

Para quem leu as notas da fic e sabe que a principal também aparece na fic da minha amiga Heart Ghost e para quem interessar, o link da fic é esse :
http://fanfiction.com.br/historia/399784/Que_a_sorte_esteja_sempre_a_seu_favorCapital_Game
Não sei todos os nomes, mas adorei o Prata *-* Sei lá, sou estranha -q
Boa leitura!



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Nunca entendi qual era o grande desespero das pessoas em relação à Colheita. O pior que podia acontecer era morrer, mas quando a outra opção era virar escravo da Capital, não me parecia tão ruim.

Pisquei preguiçosamente. A Colheita seria na tarde seguinte. Minha avó dormia no único outro cômodo da casa. Deixei-a em paz e saí, escondendo uma faca na bota direita.

O distrito 7 era um lugar bonito. Cercado de árvores, agora com folhas num tom esverdeado. O ar tinha cheiro de madeira e terra molhada. Era uma das poucas coisas que eu amava.

Caminhei por algumas ruas, observando as pessoas. As crianças muito novas para irem à Colheita corriam, despreocupadas com o futuro. As pouco mais velhas pareciam assustadas, mas ainda tentavam aproveitar.

As mulheres não trabalhavam, apenas observavam suas crianças com olhares tristes. Provavelmente pensavam em várias formas diferentes que seus filhos poderiam morrer.

A praça já estava pronta para a tarde seguinte. O telão onde seria exibido o filme sobre os Dias Escuros e a origem dos Jogos Vorazes já estava pronto, junto com o palco e suas esferas de vidro.

Passei pelo lugar sem prestar mais atenção aos detalhes. Eu já conhecia aquele cenário por inteiro. Continuei caminhando, saindo da área movimentada do distrito. Passei por alguns pacificadores, mas eles não se preocuparam comigo. Nunca se preocuparam, na verdade.

Finalmente cheguei ao muro. Eu já tinha ouvido que em outros distritos o que os isolava eram Cercas elétricas. No 7 era um muro, por volta de 4 metros de altura. E no alto ainda tinha uma cerca elétrica.

Talvez por sermos lenhadores, a Capital achou que teríamos uma desculpa para sairmos dos limites do Distrito e irmos para a floresta. Por isso definiram que nos isolariam por um muro além da Cerca.

Mas o distrito 7 era grande. Um muro para isolar todo o lugar tinha que ser muito extenso. E difícil de manter completamente intacto. Não foi difícil encontrar, num ponto mais afastado, uma saída.

Há alguns anos, quando eu tinha uns 9 ou 10 anos, descobri uma parte do muro que tinha uma fenda. Era uma passagem estreita, mas escondida o suficiente e que nos permitia fugir do 7.

Passei pela fenda, respirando fundo. Até o ar parecia diferente. Caminhei entre as árvores, esmagando alguns gravetos sob meus pés. A quarta e última coisa que eu gostava.

Antes de meus pais morrerem eram seis coisas, mas agora eram apenas 4. Minha avó, claro, Shiranui, meu único e melhor amigo, o cheiro de terra e madeira do distrito 7 e de caminhar pela floresta sentindo os gravetos sob meus pés.

Parei ao lado de uma árvore, pegando minha faca na bota. Finquei a lâmina no tronco da árvore. Puxei a lâmina de volta e a arremessei atrás de mim.

– Quase. – Shiranui saiu de trás de uma das árvores, sorrindo de forma irônica, com minha faca na mão. – Um pouco mais para o lado e teria me acertado. Mas acho que fiz algum barulho que me entregou.

– Você me parece tão silencioso quanto um bestante tentando dançar sobre um monte de folhas secas. – Peguei minha faca de volta.

– Já entendi. – Ele apoiou as mãos no cinto, ao lado do revólver, normalmente escondido por um casaco.

Observei Shiranui enquanto ele olhava a marca que eu tinha feito alguns instantes antes de ele aparecer.

Eu era alta, tinha 1 metro e 70 de altura, mas ele era mais alto que eu alguns centímetros, com cabelos compridos, que chegavam ao meio de suas costas, presos num rabo de cavalo alto. A pele morena cobria os músculos definidos, com uma tatuagem cobrindo seu braço esquerdo da altura do ombro ao cotovelo.

Eu adorava aquela tatuagem de dragão, combinava bem com os olhos escuros dele, com o brilho sarcástico e com o rosto duro dele. Eu sabia que as outras garotas do distrito achavam Shiranui bonito, a não ser pela tatuagem. Elas o temiam, entretanto.

– Pronta para amanhã? – Ele tinha passado por mim agora e caminhava ainda mais para dentro da floresta.

– Por que não estaria? – Comecei a segui-lo, guardando a faca.

– Não sei, você me parece confiante demais. – Ele olhou para trás de soslaio, com aquele ar provocador.

– Não faço questão de sobreviver àquele banho de sangue.

– Eu sei, ou morrer ou ser escravo. Nenhuma delas me parece boa. Já me explicou isso várias vezes. Eu concordo.

– Na morte ao menos você tem a chance de pensar no que quiser antes de partir, sem medo.

– Talvez seja por nosso jeito de pensar que as outras pessoas no distrito tenham medo de nós. Acham que não temos sentimentos. – Shiranui parou. – Talvez fosse melhor mesmo não termos, não?

– Tem medo de se arrepender se usá-la, Shiranui? – Indiquei a arma presa à sua cintura.

– Não. – Ele me olhou sério, com uma expressão dura. – O que estou dizendo é que só não me voluntario porque não quero deixar você e a Sra. Aismael sozinhas me vendo morrer.

– Minha avó provavelmente não suportaria. Já eu entendo que se não formos escolhidos esse ano passaremos o resto da vida carregando um machado e cortando árvores.

– Quer dizer que não sentiria minha falta? – Ele se virou pra mim, com um sorriso torto estampado no rosto.

– Quero dizer que entendo o que é melhor. – Ele deu de ombros, ainda sorrindo. – Mas o que faremos agora? Uma pequena despedida caso algum de nós seja o escolhido?

– Vamos logo. – Ele me deixou andar na frente agora.

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Continuava como da primeira vez que eu encontrei aquele lugar. Melhor, que eu cai naquele lugar.Nunca soube bem o que era aquele lugar. Uma sala, como de uma casa comum, mas aparentemente ruída e esquecida embaixo da terra.

Shiranui me deu a mão e me ajudou a descer pelo buraco dessa vez, por onde eu caí pela primeira vez.

A única luz no ambiente era a claridade que entrava pelo buraco acima de nós. Shiranui pegou um toco de vela no chão e o acendeu com um isqueiro.

Observei o lugar mais uma vez, sob a luz bruxuleante da vela.Era uma pequena sala, um quarto de uma casa comum. No lado esquerdo havia 6 estantes, todas abarrotadas de livros, a maioria em línguas estranhas. No lado direito, um piano velho, com a madeira apodrecendo e algumas teclas se desprendendo.

Eu e Shiranui o consertávamos de vez em quando, como podíamos, mas o tempo ainda o deixava em péssimos estados. Fui até os livros, passando os olhos pelos títulos que eu conseguia ler.

– Acha que podem ser daquele lugar? Qual era mesmo o nome?

– Roma. – Parei os olhos sobre um que começava com Panem. – O que acha que Panem significa?

– Não faço ideia. – Shiranui parou ao meu lado.

– Aliás, como será que esse lugar parou aqui? Acha que Panem foi fundada sobre alguma cidade?

– Não sei, Jojo, as chances são imensas. Afinal, se existia todo um outro mundo diferente do que a Capital prega, não me surpreende que eles tenham tentado escondê-lo.

– Talvez esse seja nosso problema. – Ele me olhou confuso. – Somos intrusos de um tempo diferente do nosso. Devíamos ter nascido naquela época.

– Provavelmente. – Ele colocou o braço tatuado sobre meus ombros. – Os pacificadores devem estar fazendo todo o possível para que ao menos um de nós vá para a Arena. Somos duas bombas nos pilares da Capital.

– Como assim? – Eu olhava para o revólver na cintura dele.

– Somos uma ameaça para eles. Até os Pacificadores nos temem, por que eles nos ignorariam assim?

– Acho que tem razão. – Tirei o braço dele dos meus ombros. – Vamos logo, não queremos ser pegos por aqueles malditos pacificadores. – Shiranui concordou, mas não foi para a saída.

Ele caminhou até o piano e pegou uma das teclas, que se soltara.O segui. Ele abriu o tampo empoeirado das teclas e, em alguns segundos, colocou a do chão de volta no lugar.

Ele as apertava levemente, ouvindo o som que saia delas. Era bonito. Eu não tinha certeza, mas achava que aquele piano estava afinado, mesmo com todo o tempo abandonado ali debaixo.

– Quem sabe não poderemos viver aqui um dia? – Shiranui suspirou. – Eu, você e vovó Aismael.

– Assim que destruirmos a Capital, seremos donos dos próprios narizes. – Ele abraçou minhas pernas e me levantou, até que eu alcançasse a saída. Me icei para a superfície de novo e estendi minha mão para ele, puxando-o para fora do buraco. – E então viveremos ali, em paz. Depois de tirar um pouco da poeira, claro. – Ele riu.

Fomos caminhando até a fenda no muro, esquecendo do evento da tarde seguinte. Tudo que podíamos fazer era esperar, ver se realmente um de nós ia para a Arena.

Enquanto acompanhava Shiranui, lembrando das palavras dele, cheguei a uma conclusão. Eu não queria morrer. Eu só queria ser livre.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Alguma melhoria que deveria ser feita, alguma sugestão?
Me digam sempre suas opiniões, são as que contam ^~^
Shiranui é tão lindo gente *-*
Bjs



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