Burning Torch escrita por Pacheca


Capítulo 16
Trilhando Reencontros


Notas iniciais do capítulo

Gente~
Desculpem a demora, estava na roça, sem internet .q Boa leitura :*



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Acordei pouco antes do sol nascer. Eu estava meio dolorida por ter dormido a noite inteira toda encolhida no chão de pedra, além de uma dor no tornozelo, provavelmente pelo jeito que cai depois de pular enquanto corria de Jenna.

– Que bela droga. – Me levantei, sentindo uma fisgada no tornozelo. – Ai.

Voltei a me sentar, tirando minha bota. Não estava inchado, mas ainda doía. Respirei fundo, amarrando os cadarços de novo e me forçando a ficar de pé. Ia doer um pouco, mas eu ia ter que me acostumar.

Tomei mais um pouco de água, colocando a mochila nas costas e saindo da caverna. O ar da manhã estava frio, mas não me incomodei em vestir a jaqueta. Logo esquentaria.

O silêncio parecia ser a pior coisa, depois do café da manhã escasso e da dor no tornozelo. Por mais sozinha que eu sempre tenha andado, Shiranui sempre quebrava o silêncio.

Cheguei à ponta do precipício, olhando pra baixo. Agora que a adrenalina passara, a queda parecia ainda pior. As chances de que eu conseguisse pular dessa vez eram muito menores. Ia ter que me virar.

– Ok, ok. Vamos ver. – Tirei a mochila das costas. – Eu posso tentar jogar minha mochila antes.

Peguei a mochila, pensando em jogá-la, mas fiquei receosa de não conseguir. Me sentei, abrindo-a. Encontrei o material para fazer tochas, a pomada e a faca, antes de pegar o gancho de escalada.

Me lembrei de uma troca mais cedo. Eu tinha entregado minhas tirinhas de bife defumadas pela corda e as frutas secas com Aron. Nunca tínhamos pensado em nos separar, então não tinha visto problema algum na hora.

– Isso tem tudo pra dar errado. – Me levantei com um suspiro, prendendo o gancho na corda, depois de guardar tudo na mochila de novo. – Mas vai ter que funcionar.

Depois de checar que nem a mochila nem a aljava com as flechas e com o arco cairiam, peguei o gancho e o atirei o mais longe que pude do outro lado. Ele não prendeu em nada. Joguei de novo, dessa vez sentindo-o firmemente preso a uma árvore.

– Muito bem. Dobre as pernas. Só isso. – Respirei fundo, testando a corda mais uma vez. Firme. Dei duas voltas com a corda em cada mão, fechei os olhos e pulei.

A parede de pedra se aproximou rapidamente , mais do que eu imaginara. Coloquei meus pés na minha frente, acertando a parede. Meu tornozelo teria chorado se ele tivesse essa habilidade.

– Ai. Ai. Ok. – Olhei para baixo, me arrependendo no minuto seguinte. Percebi que a queda era menor do que eu imaginei, mas ainda assim, não foi muito animador.

Comecei a me puxar para cima. Tive que soltar minhas mãos, aumentando ainda mais minha insegurança. Não parei de subir, até que ouvi um estalo.

Eu já estava quase chegando lá no alto, quando eu senti o gancho começando a soltar. Arregalei os olhos, desesperada. Eu ia cair.

– Não! Não, não, não. – Tentei acelerar minha subida, mas o esforço soltou o ganho ainda mais. Fechei os olhos, esperando para cair.

O gancho se prendeu de novo. Eu já tinha descido um pouco. Não tive coragem de abrir os olhos. Até que eu ouvi a voz lá do alto.

– Jojo? – Olhei pro alto, achando o garoto do 4. – Garota, como você fez isso?

– Ei. Oi. – Eu arfava. – Você poderia...me puxar? Por favor. – Não sei se falei daquele jeito por desespero ou pra continuar no meu papel de garotinha sonsa.

– Se eu tivesse um pouco de inteligência eu simplesmente soltaria o gancho. – Ele ergueu uma sobrancelha, como se esperasse que eu dissesse algo para convencê-lo do contrário.

– Eu sei, eu sei, mas... – Me agarrei mais ainda à corda. – Olha, você tem uma arma?

– Tenho. – Ele deu de ombros. – Um martelo. Por quê?

– Você me tira daqui e depois me mata. Só me tira daqui. – Percebi que ele franziu o cenho, me olhando.

– Qual a diferença?

– Eu não gosto de ficar dependurada aqui. – Quis olhar para baixo, mas não o fiz. – Qual seu nome?

– Clay. – Ele deu um suspiro. – Ah, que se dane.

Ele se abaixou e pegou a corda, me puxando pra cima. Fiquei aliviada quando finalmente cai no chão, sã e salva. Ao menos em parte. Ele jogou o gancho pra mim.

– Pronto. – Ergui meu olhar para ele, depois que não levei a martelada que achei que ele fosse me dar. – Eu realmente deveria te matar.

– Eu fico feliz por você hesitar. – Me sentei, enrolando a corda e guardando-a na mochila. – Obrigada.

Ele me encarava fixamente, com o martelo na cintura. Me levantei, prendendo meu cabelo de novo. Depois de mais alguns instantes daquele silêncio incômodo, ele finalmente falou algo.

– Aquele cara do seu distrito. Nevile? – Concordei com a cabeça. – Ele é seu namorado?

– Não. A gente não é nem amigo direito. – Passei a andar, ouvindo Clay me seguindo.

– Ele é um idiota. – Franzi o cenho pra ele. – Fala sério, aquele cara é meio lerdo. Se eu não estivesse numa luta pela minha vida aqui eu daria em cima de você.

– Valeu, eu acho. – Falei, olhando pro chão. Eu nunca soube como reagir a elogios, nunca recebi um.

– Bem, minha cota de bom moço já se preencheu. – Olhei pra ele, com medo. Mas o martelo continuava em sua cintura. – Infelizmente, da próxima vez não vou poder te ajudar.

– Uma pena. Espero nunca mais ter que te encontrar então. – Estendi a mão pra ele. Clay agarrou meu antebraço e me puxou pra perto.

– Sinto muito não ter te conhecido antes, gracinha. – Não sei se a ideia dele era realmente me elogiar, ou só me provocar. De um jeito ou de outro, ele terminou a frase com um beijo na minha bochecha.

Depois disso, ele me soltou e passou por mim, com a mão sobre o martelo. Respirei fundo, sem entender aquele garoto. Me concentrei no que eu tinha prometido para os meus parceiros. A trilha de fogueiras.

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Antes do sol atingir seu ponto mais alto, acendi a maior das fogueiras. Tinha colocado algumas folhas que eu encontrei caídas pela trilha, aumentando a quantidade de fumaça.

Subi numa das árvores, deixando uma flecha pronta no arco. Tentei fazer o mínimo barulho possível, mesmo respirando. Pouco menos de uma hora depois, vi Malec se aproximando.

O problema é o que vinha logo atrás dele. Acho que nunca vi Malec tão distraído. Ele baixou a guarda, completamente. Ergui o arco, mirando no peito do garoto do 11. Ele carregava uma faca de arremesso.

Assim que Malec saiu da minha frente, soltei a flecha. Não fui rápida o suficiente pra evitar que o garoto arremessasse a faca, mas ele caiu sem fazer qualquer som, a não ser o baque do seu corpo atingindo o chão.

– Wow. – Malec pareceu acordar de um sonho. Vi que a faca tinha passado de raspão pelo seu ombro, mas não devia ser nada sério. Ele me olhou. – Obrigado.

– Qual seu problema? – Preparei outra flecha, lançando-o um olhar duro. – De todos da nossa aliança, imaginei que você seria o último a baixar a guarda.

– Já entendi, ok? – Ele ergueu o braço que segurava a maça. – Nem sinal dos outros?

– Nem sinal. – Concordei. Fiquei vigiando à minha frente, enquanto Malec tomava conta das minhas costas. Poucos minutos depois, ouvi mais alguém se aproximou. Aron.

– Bom ver vocês dois vivos. Você parece meio abatido, Malec.

– Não consegui dormir durante a noite. A cada duas horas, um daqueles malditos moleques passava perto do meu esconderijo. E eram dois, não conseguiria matá-los. O do 9 e a do 12.

– Quem derrubou a garota do 9 o do 3? – Perguntei, descendo da árvore.

– Eu tirei a do 9 da minha cola. – Aron falou, rodando sua faca na mão.

– Neville matou o do 3, então. – Malec terminou o raciocínio. – Vamos ter que esperá-lo muito mais tempo?

– O prazo é até meio dia. – Olhei para o céu, tentando definir as horas pelo sol. – Ele deve ter uns vinte minutos.

– Legal. – Ele se sentou numa pedra, deixando a maça no chão ao seu lado. – Então, o que vamos fazer sobre os outros dois? Os do 5.

– Não sei. Nenhuma das duas opções me parece boa. – Respondi. – Uma floresta que não se sabe onde termina ou um labirinto de túneis dentro de uma montanha.

– Eu iria pela montanha. – Aron falou. – Me parece mais fácil de se esconder. E pela nota que os dois tiveram, não sei se escolheriam pelo ataque direto.

– Concordo com o grandão ali. – Malec falou, sem demonstrar muito interesse.

– Tudo bem. Vamos subir. – Falei, me sentando perto de Malec. – Mas ainda temos que esperar.

– Ok. – O assunto acabou ali. Ficamos os três sentados em silêncio, apenas vigiando se algum outro tributo se aproximava.

Já era nosso terceiro dia ali. Por mim, aquilo já estaria terminado. Minha cabeça doeu. Me lembrei da ameaça de Snow. Ou eu matava Neville, ou ele matava Shiranui.

Dei um suspiro. Os outros dois me olharam, curiosos. Ignorei-os, olhando pro outro lado. Eu tinha me convencido a não sentir mais nada ali. Mas eu já tinha sentido tanta coisa: raiva, medo, desespero, cansaço. E agora eu sentia falta de Neville.

Minha guerra mental continuou pelos minutos seguintes. Se eu matasse Neville, tudo seria mais fácil. Afinal, mesmo se eu não o fizesse, ele ainda corria o risco de morrer. Mas se ele morresse por outra mão, Shiranui também morreria.

E além do mais, eu tinha me afeiçoado a Neville. Não só a ele. A todos os outros. Aron, Malec. Até mesmo Julia e Mikail. Clay. Quando você está numa situação de matar ou morrer, você adquiri certa simpatia com aqueles lutando ao seu lado.

Eu tinha que me decidir. Me decidir logo. Shiranui ou Neville. Fechei meus olhos. Aquela era a hora. E eu tinha que escolher. Então seria...

– Desculpe a demora. – Neville parecia a ponto de desmaiar. Minha mente ficou vazia no mesmo instante. Nenhum dos dois nomes se sobressaiu.

– Tudo bem. – Consegui falar. – Vamos logo. Aron, pode apagar isso?

O garoto do 2 começou a chutar terra para cima da fogueira, enquanto eu ia me afastando. Neville ia logo atrás de mim. Aquilo me irritou. Será que ele não podia simplesmente perceber que eu não queria me afeiçoar a ele? Não mais.

Seguimos nosso caminho, em silêncio. Não voltei a pensar na ameaça de Snow. Eu queria que aquele velho morresse engasgado com o osso do frango que ele jantasse.

Chegamos até o lago. Olhei para a montanha uma última vez antes de tirar o gancho de dentro da mochila.


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Notas finais do capítulo

O que acharam do Clay? Onde será que Julia e Mikail estão? Tchan tchan tchan tchaaan (suspense) Até o próximo capítulo.