– O-o q-quê foi que disse?

Maria ficou sem reação. É verdade que antigamente ela tinha sentimentos por ele, o laço sentimental entre os dois era forte, e que poderia se desenvolver ainda mais caso Christopher permanecesse na vila. Mas ela nunca imaginava que o lorde ainda guardava algo por ela, e ficou chocada ao ouvi-lo; não do jeito ruim, mas também não foi do bom.

– Perdoe-me se fui um pouco precipitado. – ele fez uma pausa olhando para baixo, retornando à ela logo depois – Eu não consigo mais esconder, Maria, estou apaixonado por você.

Novamente os convidados se exaltaram. Foi o estopim para que todos ficassem emocionados. Depois da festa perfeita, eles não esperariam por menos. Tirando Richter e Annette, que viram o nervosismo de Maria, todos os outros estavam empolgados, e desejavam muito que ela se manifestasse.

– Eu... eu... eu não sei o que dizer-

– Bem, por que nós não vamos comer alguma coisa? – o cunhado de Maria apareceu rapidamente e ficou entre os dois – Maria deve estar morta de fome, não é? – Richter a cutucou com o braço.

– Espere, Richter. – ela disse um pouco mais preparada, ficando de frente para Christopher novamente – venha comigo, por favor?

Confuso, o lorde assentiu e Maria o levou para subir as escadas. Annette tentou acalmar a todos, pedindo para que a música voltasse e que se dirigissem até a mesa com a comida.

Os dois seguiram até à varanda da casa, no segundo andar. O local estava mobilhado com três cadeiras de mármore nobre branco; estavam em volta da pequena mesa redonda enfeitada com um jarro de flores. Além disso, havia duas cadeiras de mais de um lugar perto das arestas laterais. Era um lugar refinado, mas ao mesmo simples e bastante aconchegante.

A noite já se mostrava presente e a lua brilhava majestosamente no céu. O tempo esfriou mais, entretanto ainda era suportável.

– Eu... não devia ter sido tão direto e revelar isso para todos, não é? – disse Christopher, caminhando até a borda da varanda para olhar o céu. – sinto muito se deixei-te envergonhada.

Maria ficou em silêncio por alguns segundos, reparando nele e em sua voz. Estava notavelmente triste, decepcionado.

– Chris... – ela segurou seu braço esquerdo, sem saber o que dizer.

– A culpa é toda minha.

– Não. – Maria começou a se aproximar dele, e ao chegar, tocou em seu ombro direito.

– Maria...

– Christopher, tem certeza disso? – a caçadora o encarou nos olhos. – Tem certeza que seu sentimento por mim é verdadeiramente amor?

– Não entendi? Eu sempre amei você.

– Quero dizer... – ela hesitou um pouco – tem plena certeza de que isso não é apenas seu coração confundindo-o?

– Não acredita no que eu sinto? – ele a olhou, falhando em sua voz.

Então ela se afastou, virando-se de costas.

– Não jogue isso contra mim, Lorde Galvan. – Maria disse seriamente – tanto tempo passou-se depois que você se foi. Muitas coisas aconteceram... imaginei que tinha encontrado a felicidade ao lado de outra mulher.

Maria revelou, mesmo implicitamente, que ainda guardava algo por ele antes.

– Como eu poderia ser feliz com outra?

– Claro que poderia, Christopher! Eu não seria a melhor pessoa para ser sua esposa.

– Seria, sim. Maria, você é uma mulher belíssima, carinhosa, e gentil. – ele segurou as mãos da moça – sempre amei-te, só nunca tive a coragem de expor meus sentimentos.

Maria observou as mãos de ambos. Christopher realmente estava apaixonado, mas como dizer ao seu melhor amigo que a recíproca poderia não ser a mesma? Quando Alucard apareceu em sua vida, tudo virou de ponta a cabeça.

– Chris... por favor... eu... – ela afastou-se – preciso de um tempo.

– Mas... – Christopher sussurrou.

– Não penses mal de mim, é que... estou confusa. Não sei se estou preparada para tal pedido, por isso lhe peço tempo, apenas.

Alguns segundos se passaram e ele disse:

– Tens todo o tempo que quiser, minha amada. – era notável a decepção em sua voz.

– Vamos esquecer essa parte por enquanto, e voltarmos para a festa, está uma linda comemoração, não é?

– Sim... sim. Vá primeiro.

Maria sabia que ele não estava mais contente. Seu coração ficou apertado. Foi tão difícil dizer aquelas palavras ao melhor amigo. Aquilo a desanimou ainda mais; primeiro com Alucard afastando-se dela após a "declaração de amor” que havia dado, e agora, aquela rejeição feita por ela.

O que dizer aos convidados agora? Que ela recusou um pedido de casamento do homem que era dono do lugar e a principal pessoa a organizar a festa? Maria não sabia se era culpada, ela não tinha ideia de que aquilo iria acontecer, não esperava por tais palavras. Os únicos que poderiam salvá-la eram Annette e Richter, que no momento preocupavam-se em manter os outros ocupados e distraídos para esquecerem-se da cena anterior.

Quando ela retornou, encontrou sua irmã conversando com amigas, que quando viram a presença de Maria, logo se manifestaram fazendo várias e várias perguntas para a jovem. Annette, preocupando-se com a irmã, logo as cortou, levando-a para longe.

– Maria, você está bem? – a mulher perguntou.

– Mais ou menos, minha irmã. – ela respondeu com os olhos baixos.

– Gostaria de voltar para casa?

– Não, não. Ficarei até o final.

Parecia que Richter e Annette conseguiram fazer com que o público não ligasse mais para o pedido de casamento do lorde. Mas o alívio durou pouco. Logo, várias pessoas aproximaram-se de Maria e começaram a fazer perguntas:

– Vejam só, será que olhamos agora para a futura Lady Galvan? – um deles comentou brincando.

Maria, como era de se esperar, ficou envergonhada com os diversos comentários dos ansiosos convidados. Então, numa tentativa de cortá-los, ela tomou uma iniciativa.

– Amigos, meus amigos... acho que... um assunto como esse é de cunho privado. – Maria tentou ser o mais simples e séria possível.

Na mesma hora, eles ficaram decepcionados com a resposta. Como a conheciam, preferiram não pressioná-la, o que a deixou melhor. Menos uma preocupação para ela. Agora, só queria aproveitar a festa o quanto podia.

E assim foi. A caçadora passou o resto do tempo conversando com amigos, comendo um pouco e dançando quando era convidada. Tudo isso para tentar esquecer-se dos momentos com Lorde Galvan; ela não estava preparada para casar, muito menos com ele. Não porque não gostasse dele, ela gostava, mas o único relacionamento que queria manter era uma amizade.

Enquanto o resto das horas passava, ela percebeu que Christopher não havia aparecido mais no baile. A última vez que notou sua presença foi antes de terem aquela conversa. Talvez ele estivesse decepcionado demais para voltar, era o que Maria pensava e ao mesmo tempo, tentava esquecer.