Presente escrita por Dama das Estrelas


Capítulo 8
Surpresa




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– Essa voz... Adrian?!

A moça olhou para trás, espantada e ao mesmo tempo surpresa. Não sabia se sorria ou se ficava de boca aberta. Lá estava ele, de pé, vestindo sua roupa mais comum, mas sem seu sobretudo preto com detalhes dourados.

– A-adrian, é você mesmo...

Sem falar ele aproximou-se dela ficando frente a frente.

– Maria. Peço-lhe seu perdão. – ele disse de forma serena.

– Pelo quê?

– Minha ausência. Não tive coragem de vir.

– Não tem que pedir desculpas. Você já deixou-me contente apenas por aparecer. – ela olhou de lado – Sinceramente, eu achava que não viria.

– Seria um grande erro ausentar-me da festa de alguém que acolheu a mim. – Alucard disse no mesmo tom.

Maria deu um passo para trás, ainda com o rosto melancólico.

– Então veio aqui apenas por obrigação?

O rosto dele alterou-se por breves segundos.

– N-não... eu-

– Estou brincando! – ela logo mostrou um grande sorriso. – É quase impossível que eu fique irritada com você. – em seguida, balançou os pés. – Você não veio aqui apenas para conversar, creio eu.

O meio-vampiro virou-se.

– Adrian?

– Maria, – ele falou, ainda de costas – consegue ouvir?

– Ouvir? Mas de quê está-

Sem avisar, Alucard se virou para ela, estendendo sua mão direita. Os olhos dela ficaram surpresos, mas mesmo assim estava confusa. A caçadora nunca viu um ato feito por ele daquela forma. A curiosidade falou mais alto, e assentindo, Maria estendeu sua mão para o homem.

Os dois afastaram-se da entrada do terraço, seguindo pela esquerda. A mulher notava o quão grande era o lugar a qual se encontrava, pensando que podia realizar a festa ali mesmo.

Ao caminharem mais, chegaram ao outro lado do espaço. Foi então que Maria começou a notar um som distante, mas compreensível de música. Ela sorriu logo depois de reparar naquilo.

– Era isso... – Maria corou, olhando para baixo e percebendo o som da música que ecoava pela casa.

Alucard ficou de frente para a caçadora, e usando sua mão esquerda para unir-se a ela, instintivamente, Maria deixou seu braço apoiar-se nele. O meio-vampiro ficou um pouco envergonhado de ter que tocar em suas costas, só que ela não perdeu tempo e segurou seu pulso levando até ela.

Por um breve momento, eles olharam um para o outro timidamente. A música continuava, e suas bocas permaneciam sem dizer qualquer coisa. E sem perceber Maria viu seu corpo mexer, levando Alucard a fazer o mesmo.

– Perdão... – ele disse, desviando o olhar – há séculos não danço... com alguém.

– Adrian... – sem querer, ela aproximou-se mais dele enquanto davam os primeiros passos. – não se preocupe. Também não danço com outra pessoa faz tanto tempo, que acho que esqueci-me de como se dança.

– Você dança muito bem. – ele disfarçou.

– Obrigada, Adrian.

Seus passos tornavam-se mais soltos e confiantes. Alucard tentava acompanhá-la desconcentrando-se às vezes, mas então Maria olhava para ele com olhos serenos, mostrando que estava tudo bem, mesmo sem falar. E com o passar do tempo, eles sentiam-se mais à vontade, expandindo seus movimentos para longe do canto donde vinha à música.

Maria nunca imaginou que pudesse desfrutar de um momento como aquele; dançar com o companheiro da casa. Após um ano vivendo juntos era a primeira vez que dançavam; ainda mais daquele jeito, quase intimamente, como se já faziam isso há tempos. Por um momento, Adrian girou-a com um braço, e aquilo a fez sentir-se mais alegre ainda.

A dança dos dois parecia durar horas, uma eternidade. Maria não tirava o sorriso do rosto, e Alucard mostrava um semblante mais suave, sem a frieza de sempre. Era um sonho para a caçadora.

Eles mal perceberam que ficaram vários minutos ali, juntos, como nunca estiveram antes. A música já havia terminado, mas ainda continuaram sem perceber; só depois notaram o silêncio que pairava novamente no ar. Soltaram suas mãos e ficaram olhando um para o outro. Maria fez um gesto cortês em agradecimento, tocando na borda de seu vestido e levemente inclinando sua cabeça e seu corpo para baixo. Ele apenas assentiu.

– Não tenho palavras para expressar sobre o quanto deixou-me feliz por isso.

– Alegra-me saber disso.

– Mas... então... você vai ficar e juntar-se a nós na festa?

– Maria, sabes que eu não poderia descer até lá.

O semblante da jovem mudou. Ficou decepcionada ao ouvi-lo. Ela realmente desejava que ele participasse da comemoração, mesmo sabendo de seus receios.

– Eu... – ela não conseguiu continuar. Olhou para baixo e deu alguns passos para trás; era como se tudo o que fizeram minutos atrás fosse apagado.

Alucard observou a reação dela. Mesmo que fisicamente não demonstrasse, também estava descontente por não poder acompanhá-la.

– Você sabe, Maria. – ele repetiu.

– Mesmo assim! – a mulher voltou seu olhar para ele, inconformada. – deve haver um jeito para você vir e disfarçar sua aparência, ou algo assim...

O meio-vampiro desviou sua vista dela; franziu um pouco a testa e levemente apertou o punho direito.

– Eu vim... apenas por você, não pelos outros.

Maria ergueu os olhos. Não podia acreditar que ele tinha dito algo daquilo. Nunca, em tanto tempo vivendo juntos, ouvira palavras tão profundas vindas dele em relação aos dois.

– Não tenho presentes para lhe dar, pois o que daria para alguém que já possui tudo?

– Mas, eu não sou rica, Adrian... – Maria respondeu um pouco risonha.

Alucard, imprevisivelmente caminhou alguns passos, voltando a ficar mais perto dela.

– Você tem amor, Maria. É cercada por gente que lhe ama.

Ela ficou em silêncio, perplexa.

– Não posso presentear-te, pois você já tem tudo que alguém precisa: amor.

Seus olhos encararam-se. O coração dela batia mais rápido, e Alucard podia ouvir perfeitamente. Ele sabia o que ela estava sentindo.

– Então... dê-me o seu. – Maria sussurrou.

Pela primeira vez o meio-vampiro foi pego de surpresa. Ele sabia que Maria tinha algo, mas nunca pensou que era tão evidente. Seu coração, assim como o dela, começou a bater mais rápido, seu coração humano.

– O que... – ele hesitou.

Maria aproximou o rosto ao dele, estavam tão próximos, principalmente seus lábios, que por pouco, não se tocaram.

– Está... ouvindo isso? – ele afastou-se dela lentamente, com um rosto sério.

– Eu? Não estou-

– Estão procurando por você, Maria.

– Adrian... – ela estendeu a mão para ele, que se afastou ainda mais.

– Sinto muito. – disse ele balançando a cabeça negativamente.

Mesmo que ela tentasse segui-lo seria em vão. Tentou dizer algo, mas achou que o melhor fosse afastar-se dele. Então deu meia volta, e sem olhar para trás, retornou às escadas.

Seus pensamentos ainda estavam lá em cima, com Alucard. Tirando os últimos minutos, teve, se não, a melhor dança de sua vida e justamente com quem queria estar por mais tempo. Os momentos anteriores foram prazerosos e que deveriam ficar guardados em sua mente. E ela também sentia que o meio-vampiro havia gostado.

Quando desceu completamente, encontrou Annette à sua procura. Ela mostrou um rosto aliviado ao ver a irmã mais nova.

– Maria, onde esteve? Todos nós começamos a ficar preocupados com você! – a mulher disse, segurando as mãos da caçadora.

– Perdoe-me, irmã. Subi até o terraço para fugir um por meus pensamentos no lugar. Achei até que não estavam dando minha falta.

– A festa foi justamente por sua causa. – Annette disse depois de dar uma leve risada surpresa – Não acha que seria incomum comemorar uma festa sem a peça principal? Agora vamos!

Maria foi puxada pela irmã, e as duas deram passos rápidos até o saguão principal, onde todos estavam reunidos. Os convidados dirigiram seu olhares a elas, ansiosos por algo.

Annette levou-a até o final da sala, onde todos estavam à sua volta. Maria estranhou no começo, pois não esperava outra coisa, e estava morrendo de vergonha.

– Bem... eu não sei o que você ou Richter aprontaram dessa vez. – a caçadora balançou a cabeça mostrando um sorriso torto, ainda envergonhado.

– Na verdade, Maria, – Richter apareceu no meio do público, rindo intencionalmente – não fomos nós, foi ele. – seu cunhado apontou para algo atrás dela, na verdade, alguém. Os olhos dela brilharam.

– Chris...topher – ela disse, admirada.

Lorde Galvan era o homem que apareceu. Os convidados também ficaram surpresos vendo ilustre pessoa.

Ele vestia um longo sobretudo de camurça marrom, com botões e outros detalhes nitidamente de ouro, calças brancas; calçavas botas de couro um anel, também de ouro. Seu cabelo estava penteado, parecia mais um príncipe que apenas um lorde.

Os dois se abraçaram. Depois de Adrian, Christopher era uma das pessoas que ela mais desejava estar presente na festa.

– Chris, como é bom ver você aqui! Não esperava que viesse, já que achei que teria coisas mais importantes a fazer.

– Vir à sua festa é mais importante que meus afazeres, Maria. Eu nunca deixaria de vir, só peço perdão por ter atrasado-me.

– Chris... – ela olhou para baixo, corando.

– Err... – Richter fez um barulho com a boca, disfarçando – falo em nome de todos que agradecemos sua grande contribuição em ceder esta mansão e toda essa festa para nossa querida Maria.

– Hã, o quê? – a loira perguntou confusa – Richter, o que está dizendo?

– Eu não tive coragem de contar a você que fui o responsável por isso.

– Você? Mas, contaram-me que os donos da casa eram um casal...

– Pedi discrição sobre isso. – Lorde Galvan pegou em suas mãos – Sinto muito se ficou decepcionada.

– Poderia ter contado. Mas, tudo bem, você quis fazer uma surpresa para mim e fico muito feliz.

– Eu não teria conseguido se não fosse sua família. – ele fez um gesto com a cabeça, mostrando Richter e Annette, sem tirar suas mãos das dela. O casal assentiu sorridente.

– Muito obrigada, Chris. – ela disse agradecida.

Christopher lhe lançou um sorriso, e soltando suas mãos, virou-se para os convidados.

– Nesse dia especialíssimo, queria que todos ouvissem o que tenho a dizer.

Maria não tinha ideia do que ele estava prestes a falar.

– Maria, desejo-lhe as mais gloriosas felicidades. Eu não sabia o que dar-lhe de presente, porque, para uma deusa como você, tudo ainda é pouco.

A jovem corou ouvindo aquelas palavras, frase que foi semelhante às de Alucard.

– Ajudei a fazer esta comemoração, porque... não poderia deixar de lhe dar algo, mesmo que fosse insignificante.

– Christopher! Você não sabe o quanto todos deixaram-me tão feliz!

– Mesmo assim, Maria. – ele olhou para ela com olhos profundos – Por isso queria fazer esse pronunciamento... – o lorde fez uma pausa e depois continuou – Desde quando fui embora da cidade há muitos anos, eu sempre tive a fervorosa vontade de voltar para você, minha melhor amiga e única pessoa a qual podia contar.

– Eu... – ela hesitou, enquanto isso todos os outros ouviam as palavras dele atentos.

– Prometi a mim mesmo que voltaria assim que tivesse condições dignas de realizar meu desejo. E é por isso, Maria, que... eu lhe faço esse pedido.

– Hã?

Ela não teve tempo de dizer mais nada quando Christopher ajoelhou-se e estendeu sua mão.

– Maria, você aceita casar-se comigo?

Os convidados, em poucos segundos, fizeram um alvoroço; reações assustadas, animadas, surpresas tomaram conta do saguão principal. Nem Richter e Annette tinham ideia que ele faria uma pergunta como aquela. O centro da festa deixou de ser apenas de Maria, para se tornar também de Christopher.

A caçadora ficou sem reação, começou a olhar para todos os lados, tentando buscar uma saída sem precisar responder àquele homem. Olhou até para cima, onde algo lhe fisgou sua atenção.

Era Adrian, que observava a cena pela janela do lado de fora. Seu rosto não estava contente. E em poucos segundos de sua vista, desapareceu de repente.


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