Over Again escrita por Asuka


Capítulo 2
"Saída"


Notas iniciais do capítulo

Um dia, eles precisariam deixar os esconderijos.
"Saída"
Boa Leitura ♥



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1. Nós iremos morrer

Pisquei mais algumas vezes para o casarão em pedaços que havia sido meu lar por incansáveis anos e avancei, era hora de partir dali. Cada pessoa do meu grupo carregava uma mala, uma mochila pequena e uma bolsa com comida. Sabíamos que não íamos voltar.

– Verifique o papel novamente, Yarin. – Meu irmão falou, enquanto avançávamos com nosso grupo de quinze pessoas pela deserta Rua de Braimer.

Retirei o papel desbotado do meu bolso. Havíamos recebido o papel duas semanas antes, e todos ficamos muito surpresos quando ele chegou. Óbvio, não recebíamos cartas desde... Desde... Desde sempre. Não me lembro de uma única vez em que escolhemos enviar cartas em vez de e-mails ou sms.

Prohibitus restantes.” Li em voz alta, afim de que todos escutassem. “Com grande pesar, convoco todos vocês para a primeira reunião pós-guerra. Será no Brasil, na província de Pearl, a única província que sobreviveu a guerra, apenas com alguns problemas que logo serão resolvidos. Esperamos que os Prohibitus dessa província não tenham sofrido grandes perdas. A reunião acontecerá no dia 24 de Junho de 2700, na antiga Caxangá, próximo ao Primeiro Posto Solar. De seu líder, Jhonatan Brohan.”

– Não vi a hora de eles nos convocarem. – Karen berrou, saltitando.

Karen era nossa integrante mais nova, e mais alegre. Com seus 13 anos de idade, uma garota loira com um sorriso perfeito, que contagiava a todos. Naquele momento, era a única que realmente estava contente em deixar o casarão.

Alguns minutos depois chegamos ao local indicado.

– Nossa. Não me lembrava dele desse jeito. – Ruy, meu namorado, falou.

O nosso Primeiro Posto Solar de Pearl era, de longe, enorme. Criado em 2540, foi ideia do governo de Pearl. Fazer com que os carros andassem com bateria solar. E a noite, os motoristas utilizavam os Postos Solares para carregar suas baterias. Uma ótima ideia, se precisa da minha opinião. Bem mais barata, na verdade.

– Onde está Jhonatan? – Falei, olhando ao meu redor, procurando algum indício de pessoas.

– Não tem ninguém aqui, Yarin. Acho melhor voltarmos. – Meu irmão, Rupert falou.

– Graças a Deus chegaram. – Uma garota ruiva falou, se aproximando do nosso grupo, com uma cara aterrorizada. Era Laura, filha de Jhonatan. – É o último grupo, venham.

Ela nos conduziu ao fim do Posto, para o quarto de controle de baterias, onde muitas pessoas estavam sentadas em uma espécie de sofás amontoados. Estimei que, ali estavam todos os grupos espalhados dos Prohibitus e me surpreendi ao ver Julian. Um dos militares que nos tiraram do nosso antigo esconderijo, a socos e pontapés.

– Estão todos aqui? – Jhonatan falou. Todos assentiram.

Algumas garotas se mexeram desconfortáveis nos sofás. Claro, a língua oficial dos Prohibitus era português. Mas, poucos ali sabiam falar. Apenas os líderes falavam fluentemente. E os outros, consequentemente, não entendiam.

– Ótimo. – Ele continuou. – Bom, primeiro, devo dizer que sinto muito pelas perdas que sofremos nesse tempo. Sei que muitos familiares dos que aqui se encontram escolheram ficar em um dos dois grupos.

Todos ali sabiam que Jhonatan não gostava de pronunciar o nome dos grupos.

– E não conseguiram se juntar a nós nos últimos momentos. Mas, enfim, não podemos fazê-los voltar, então... Continuemos.

Um garoto, que aparentava ser mais novo que Karen, fungou, e discretamente limpou uma das lágrimas que caiam pelo seu rosto. Olhei para ele, tentando passar firmeza. Ele apenas sorriu de volta.

– Ainda está muito recente, mas... O mundo, praticamente, acabou. Quantos de nós sobramos? Apenas os Prohibitus. Poucos Prohibitus, pra falar a verdade. Há boatos que alguns dos outros sobreviveram, mas, por enquanto, são apenas boatos. – Jhonatan resmungou, tomando seu jeito de durão, que já era bem conhecido entre todos.

– Boatos? – Christian, um garoto do meu grupo falou. Diferente de todos os outros líderes, eu havia ensinado português ao meu grupo. Sabia que, um dia, precisariam.

– Sim. – Jhonatan olhou pra ele, surpreso. – Boatos. Yarin, como você...

– Tivemos muito tempo para aprender as línguas, Jhon. Vá direto ao ponto, sim? – Falei.

– Certo. Bem, como sobreviventes acho que temos a responsabilidade de... Recriar o mundo. Quero dizer, levantá-lo outra vez. O mundo está em pleno caos. A guerra ainda é recente. Precisamos reagir.

– O que quer dizer, exatamente, Jhonatan? – Fred, o líder da província de Otto, se pronunciou, e, imediatamente, todos do seu grupo o olharam com curiosidade.

– Quero dizer que precisamos reconstruir o mundo novamente.

Angeline, a líder de Harbor, bufou.

– Claro. Será que você quer dizer que temos que nos transformar em Deus e criar animais, plantas, colocar rios, desenhar as pessoas e...

– Não, Angeline. Entendo o que quer dizer. Mas não vamos fazer ”papel de Deus”. Precisamos dar uma força para reconstruir, apenas isso. O mundo, como eu já disse antes, está um caos. – Jhonatan falou.

– Onde está o resto dos Prohibitus? – Rupert falou.

– Em outra reunião. Não caberiam todos aqui. Hoje, Prohibitus de cada província estão espalhados pelo mundo, em reuniões como esta. Nessa reunião, convoquei apenas os Prohibitus das províncias principais. – Jhonatan falou.

Rodei meus olhos pela sala. Havia muita pouca gente ali. Claro, não estariam todos lá. Éramos, aproximadamente, 25.000.

– Então, concordam comigo? – Jhonatan falou.

– Certo, vamos supor que todos concordam. Como vamos viajar? – Luke, o líder de Ernst, falou, enfatizando as três últimas palavras.

– Do mesmo jeito que chegamos aqui. – Jhonatan falou. – Com os jatos.

Ah, óbvio. Em cada grupo havia três pessoas que sabiam pilotar pelo menos um veiculo. No nosso grupo, havia eu, que conseguia pilotar carros; Jheniffer, que pilotava alguns tipos de jatos e helicópteros; Christian, que pilotava alguns barcos e, com ajuda de sua irmã, Carly, alguns tipos de navios.

– E, como isso vai funcionar? – Eu perguntei, atraindo a atenção de todos para mim.

Jhonatan suspirou algumas vezes, antes de continuar:

– Primeiro, iremos separar alguns grupos. Um grupo para determinada tarefa, outro para outra.

– Como? – O garoto que havia sorrido para mim se pronunciou. Logo depois fiquei sabendo que seu nome era Ulisses, e era da província de Ernst.

– Bom, por exemplo, se a tarefa é localizar prohibitus escondidos, o líder de cada grupo irá escolher certa quantidade de pessoas do seu grupo para fazer a tarefa, junto com outras pessoas, escolhidas por outros líderes.

– Certo. E depois de separar grupos? – Uma garota ruiva perguntou.

– O resto será transmitido diretamente aos seus líderes. Por enquanto, só o que precisam saber é que iremos separá-los dos seus grupos, por algum tempo.

Fiquei um pouco irritada quando Jhonatan olhou pra mim, com um olhar irônico. Ele não queria falar o resto dos seus planejamentos por minha culpa. Eu fui a única líder que ensinara outras línguas a meu grupo. E ele não queria que o resto dos Prohibitus soubesse a outra parte do plano.

– E, quando partimos? Para onde vamos? – Angeline disse.

– Partiremos amanhã, à noite. Inicialmente, iremos para Marine.

– Marine? A antiga Argentina? – Falei.

– Sim. Por enquanto, vocês podem ficar em algum dos hotéis abandonados nessa avenida. Tragam seus jatos aqui ao pôr do sol de amanhã.


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Notas finais do capítulo

Deixem reviews se gostaram ^^