Seeking Shelter escrita por MrsHepburn, loliveira


Capítulo 8
Dom




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A situação com o clube de música é preocupante. Mas se formos falar toda a verdade, preciso dizer que a situação da escola é preocupante. Está tudo um... caos. E a escola é dividida em garotas com pouca roupa, garotos que amam isso, e os que são contra tudo isso, mas que não saem das sombras. Por sorte, no clube de música tem um pouco de cada, mas não sei mais o que fazer pra que eles se levantem e cantem com o coração. Essa é a única maneira para ganharmos o estadual, que é a próxima competição.

Então Connor me deu uma ideia. Não posso obrigá-los a cantar uma música qualquer, então vou pedir que cantem a música que mais mexe com eles. Aquela que se conecta com as suas emoções e mexe com o jeito como eles cantam. Todos eles têm potencial para cantar, é claro, mas alguns deles vieram aqui com o objetivo de apenas participarem do coral, então eu chamei a banda, e nos separamos em dois grupos. Eu vou ficar com os cantores principais, porque é o que eu estava mais acostumada quando ainda fazia parte do clube, e a banda vai ficar com os grupos do coral, já que conseguem trabalhar harmonias e com os tons certos com eles.

O único problema, é que -por experiência própria -cantores principais tendem a ter um ego enorme. Não dá pra culpar eles, já que eles se sentem naturalmente as estrelas principais, uma vez que fazem quase todo o show, mas tem horas que é preciso parar e se perguntar se tudo não está ficando um pouco demais.

E essas garotas com quem estou conversando tem tudo de Demais.

-Estava pensando em algumas luzes no palco... -Uma começa a falar.

-Parou. -Corto ela. -Qual seu nome mesmo?

-Lies.

-Escute, Lies, é só uma apresentação-teste. E o que eu, e a senhorita Birkin queremos de vocês nessas apresentações é perceber no que vocês são boas ou não. Você não precisa de complemento. A única coisa que precisa é a sua voz.

-Mas eu quero fazer uma apresentação perfeita. É isso que os juízes vão querer, se você não sabe. -O tom de voz dela me irrita. Como se eu não soubesse disso. Mas então eu percebo que ela só deve estar nervosa e com inveja. Porque eu sei como funciona e ela é nova nesse negócio e não faz a menor ideia do que fazer pra se sobressair. Então mesmo irritante, tento dar um tempo para ela.

-Não somos os juízes. Cante como se fosse a única coisa que você tem. Porque se as luzes, a fumaça, a coreografia derem errado na hora da apresentação de verdade, você vai ter que confiar em sua própria voz. -Digo, sincera, não só para Lies, mas para todos eles que estão por perto. -A primeira coisa é não esquecer a música. Não. Na verdade, a primeira coisa é SABER a música. -Eles riem. -Depois, é não esquecer. Vocês assistem American Idol, sabem como é. -Mais risadas. -E então, cantem do fundo do coração de vocês. Não tem problema se vocês começarem a chorar ou algo assim, desde que mostrem que tem emoções. Entenderam?

-Sim. -Dizem em uníssono. Olho para a banda, do outro lado e Clark faz um sinal positivo. Olho para o grupo na minha frente.

-Podem ir. -E então, eles vão e eu sento do lado de Naomi.

Não falei com Max desde aquele dia, mas aquele ar tenso entre nós desapareceu conforme fomos obrigados a trabalhar juntos. Ashley e Connor ainda estão daquele jeito incerto e Cyrus está ocupado terminando um trabalho com uma das amigas dele, que ainda não decorei o nome. Essas foram as mudanças de uma semana para outra, nada de muito grande.

-Como foi? -Pergunto a eles.

-Difícil. Tentar fazer os tons baterem com as vozes diferentes foi mais difícil do que eu imaginava. -Marco diz, parecendo sóbrio. -E com você?

-Foi difícil. Eles queriam fazer um show, não só uma apresentação. Alguns egos estão demais, mas acho que só querem fazer tudo certo.

-Você acha que vamos conseguir juntar todo mundo em um grupo só? -Naomi pergunta.

-Claro. É óbvio que vamos ter que usar músicas onde mais de um pode cantar a parte principal, porque duvido que alguém vai querer ser deixado de fora, mas dá sim.

-Isso vai dar uma dor de cabeça. -Max comenta.

-Tem uma menina que está exigindo que comecem a praticar a dança. -Fecho os olhos, prevendo a MINHA dor de cabeça. Dança, pra mim, sempre foi uma das partes mais legais, mas quão trabalhoso é isso, é outra história.

-Vamos ter que começar rápido, é verdade. -Respondo. -Só não sei que estou preparada pra todos aqueles ensaios.

-E aquela música que tem que pausar e voltar toda hora quando alguém erra. -Naomi diz. Ela sempre ia nos ensaios de dança comigo, porque seu namorado vinha se encontrar com ela na sala de dança a tarde, então ela sabe como é.

-Ou a dor depois.

-Lembra daquele dia que você teve que comprar gelo pro seu tornozelo? -Ela me pergunta e eu caio na risada.

-Eu não conseguia nem andar. Meu pai... -Paro no meio da frase, sem jeito e sem ar, como se eu tivesse falado algo que não devo. E pra falar a verdade, falar dos meus pais pra alguém que não fosse meu irmão nunca passou pela cabeça. Saiu tão natural que não tive tempo de raciocinar, mas agora não consigo mais terminar a frase. Não lembro nem do que ia falar. Não lembro como se fala.

-Naomi, como é o nome daquela música que um deles disse que ia cantar? -Max pergunta, me livrando da situação.

-Hmmm, Kiss The Girl? -Naomi questiona. Fico pasma, saindo do meu choque anterior.

-Alguém vai cantar Kiss The Girl?

-Um grupo, sim.

-Eu cantei essa música na quinta série. -Isso vai ser ruim. -E eles tinham que cantar com o coração.

Justo quando termino de falar, um grupo se apresenta.

E é bom. Eles cantam alguma música que eu não conheço. Eu espero. Espero sentir aquela coisa. Aquela mágica, aquela onda que enchia meu coração quando alguma música estava tocando, mas eu não sinto nada. E continua assim. Durante todas as apresentações, a senhorita Birkin faz comentários, sugestões e perguntas para os grupos ou as pessoas cantando, alguém da banda pede para mudar um tom ou algo assim, mudar de música, tentar de outra forma, ver o melhor jeito e eu fico quieta. Sem falar nada, mesmo que saiba que Birkin me olha de lado de vez em quando e a banda vive me perguntando se eu tenho algo pra falar. No fundo, começo a me desesperar. Pensar que isso não foi uma boa ideia, que tem algo errado comigo, já que eu não sinto mais nada. Mas tento manter a calma, e pensar que isso não é o fim do mundo.

Porém parte de mim sabe que algo mudou, e que talvez o meu talento mágico, como diz a senhorita Birkin, tenha desaparecido. Posso não ter mais o "dom".

Só tem uma pessoa que me faz sentir algo, e essa é a Jill. Ela canta Mountains, uma música acústica e que requer bastante voz assonante, e parece que vai quebrar. Jill fecha os olhos, canta lentamente sem tentar deixar nenhum atributo em evidência, e quando termina, sei que estava certa sobre ela porque todo mundo fica uns trinta segundos sem dizer uma palavra.

Ela tem o "dom", assim como Max.

Mas meu sexto sentido me diz que tem algo errado com a emoção que ela deixou transparecer na música, algo que não tem nada a ver com sua letra. E eu passo o resto da aula de música quieta, remoendo a minha ideia e mordendo minha língua para não perguntar nada a Max, mas no final, quando todos são dispensados, vou até ele, que fica meio atônito.

-Jill está bem? -Tento parecer blasé, mas não sei se consigo.

-O que quer dizer?

-Alguma coisa aconteceu com ela nos últimos meses? -Sua expressão não muda.

-Acho que não. Por que está me perguntando? -Se eu contasse pra Max, provavelmente ele me acharia idiota. Não dá pra adivinhar nada da vida de ninguém através de uma música que Jill, uma garota perfeitamente normal, cantou.

-Só... fiquei curiosa. -Ele não compra, óbvio. Me conhece bem demais pra saber quando estou mentindo, mas me conhece bem pra saber que não é uma boa hora para me pressionar. E já falar com ele é um grande passo pra mim -embora só tenha percebido agora, que nossa conversa terminou. Ele olha, intrigado, mas então Connor me chama do estacionamento, botando Bingo Players pra tocar no último volume e a música é muito brega pra ser tocada em uma escola, então nem me despeço de Max, apenas corro desesperada até o carro.

-DESLIGA ISSO!

-Eu amo essa música! -Ele diz. Abro minha porta, jogo minha mochila lá dentro e desligo o som. -Aquele é o Max? -Ele olha para o meu ex-namorado, conversando com Jill, no mesmo lugar onde estava antes.

-Sim.

-Você estava conversando com Max.

-Era uma coisa da escola. -Minto e Connor não percebe.

-Ah.

-Ashley vem junto hoje?

-Já estou aqui. -Ela diz, abrindo a porta de trás e jogando um cartaz enorme para dentro.

-O que é isso?

-É o que vai me ajudar hoje a explicar biofísica pra você. Lembra? Sou sua tutora hoje? -Ela diz, amigável. Connor não diz uma palavra, e começo a achar que ela só vai para nosso apartamento pra me dar aulas, porque se fosse por Connor, não iria.

Isso me deixa meio triste.

Então tento animar eles.

-Podemos sair pra jantar, o que vocês acham? -Eles se entreolham.

-Não é uma boa ideia. -Ashley diz.

-Tenho algumas coisas pra fazer hoje. -Connor adiciona.

-Vamos só estudar, tá bom, Carter? -Ela tenta sorrir. E eu não tinha percebido até agora, mas a falta de afeto entre os dois me faz sentir cada vez mais sozinha.


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