Seeking Shelter escrita por MrsHepburn, loliveira


Capítulo 7
Boa Noite


Notas iniciais do capítulo

oi genteeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee



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A última vez que eu estava na rua a essa hora, sozinha, eu estava chapada.
Na verdade, foi a primeira e última vez que eu usei cocaína. Por causa do
Marco, que aposto que ainda usa às vezes. Estávamos em uma festa, sem Max,
já que se ele estivesse lá isso nunca teria acontecido e nos primeiros
quinze minutos eu nunca me senti tão bem. Naquele momento, eu considerei
ligar para Max, pedir para ele ir me buscar para irmos pra sua casa, porque
eu estava simplesmente... fora de mim. Rindo de tudo e quase beijei alguém,
embora não lembre quem. Eu podia sentir meu coração batendo forte no peito
de emoção e a música da festa estava eletrizante. Então alguém recomendou
ir para fora, pra rua, e deixar a festa lá, então Marco e eu fomos, mas no
meio do caminho me perdi e fiquei sozinha, perambulando na rua, rindo de
mim mesma como se fosse a coisa mais engraçada do mundo e acabei caindo no
gramado de alguém. Por sorte, a velhinha da casa me encontrou e acordou
antes de alguém pior me encontrar e eu consegui achar uma desculpa para
contar para os meus pais. Fiquei meio culpada demais, então nunca mais
aceitei cocaína.
Estou chorando agora. Não sei se é de raiva ou tristeza, mas a raiva vence.
Minha mente está se perguntando o que tem de errado comigo, porque não
consigo mais me sentir a vontade, porque eu odeio ficar em casa e quando
saio começo a chorar, por que meus pais morreram, por que eu me sinto tão
sozinha, por que Connor parece não me ajudar mais nessa batalha contra
esses sentimentos, por que tivemos que voltar, por que? Por. Que? *Por que?
*
Gostaria de estar morta. Minha fase suicida já passou, mas eu gostaria de
estar morta. Gostaria de trazer todos *eles* a vida e me deixar morrer,
porque eu não quero viver sem eles. Nunca, nunca me senti tão *solitária. *Sem
mencionar *culpada.*
Eu odeio minha vida. Me julgue o quanto quiser, vou continuar odiando minha
vida. Sentada no banco no meio da rua, chorando, patética.
*Como você é idiota, Carter.* Aquela voz aparece.
Eu sei, respondo, eu sei mesmo.
-Carter? É... é você? -Uma voz de mulher diz. Levanto o olhar e vejo que é
Naomi, com a sua picape.
-Oi. -Limpo os olhos.
-Está chapada? -Nego. -Bêbada? -Nego de novo. -Tem certeza?
-Sim.
-Então o que está fazendo aí? -Ela estaciona no canto da rua, para poder
falar comigo. -São duas da manhã. -Ela explica.
-Sem sono. -Ela pensa um pouco, sem questionar.
-Quer comer alguma coisa? -Sei o que ela está tramando. Ela quer ter
certeza que eu não estou chapada ou bêbada. Meu pai fazia essa pergunta
toda hora. Se eu responder que não, ela vai saber que algo está errado e se
eu disser que sim, vai provar que estou em perfeitas condições. Então mesmo
sem fome, respondo:
-Sim, estou morrendo de fome.
-Então sobe aí. -Entro no carro e levo um susto quando vejo Clark deitado no banco de trás do carro, de olhos fechados.
-Hm... o que vocé está fazendo?-Pergunto, idiota. Naomi começa a dirigir.
-Acabamos de sair de um festival. Estamos indo pegar alguma coisa pra comer antes de ir pro Max e Clark tá dormindo agora porque sabe que se dormir no ensaio do Max ele vai pirar.
-Oh. Vocês podem me deixar em casa antes de irem pro Max, se não for incomodo. -Tento parecer calma, mas estou pirando por dentro. Naomi percebe porque pega o celular e liga pra Max.
-Cara, eu e Clark vamos atrasar um pouco. -Pausa. -Encontramos uma pessoa. -Engulo seco, mas o rosto de Naomi fica impassivo. -Não é da sua conta. Vamos comer alguma coisa com ela depois vamos pra aí. Batata frita ou algo assim, pai. -Ela revira os olhos. -McDonalds. Tchau.-Aposto que ela desligou na cara dele. Fica um silêncio desconfortável até ela falar comigo de novo. -Desde que você foi embora, ele está um saco. -Oh.
-Ah.
-Fica meio babaca querendo saber tudo que a gente faz. Em parte eu entendo sabe. -Eu não. -Mas ele não é nosso pai. Aposto que Connor não éassim com você.
-No começo ele era, mas quando a terapia começou ele foi melhorando.-Depois do acidente, Connor praticamente virou um stalker. Achando que eu ia morrer... toda hora.
-Vocês fizeram muita terapia?
-Dois anos.
-...Isso é muito tempo.
-Foi necessário. -Dou de ombros.
-Você está melhor agora? -Ela pergunta. Penso um pouco. Estou melhor?
-Pode-se dizer que sim. -Embora bem de verdade eu não esteja e posso usar o exemplo de dez minutos atrás como prova. O pior já passou, mas não quer dizer que o ruim tenha ido embora.
-Estou conversando com a Carter sobre terapia... É, os tempos mudaram. -Naomi diz. E entendo o que ela quer dizer. Ficamos amigas porque, obviamente, ela era da banda do mu namorado, mas nunca conversamos sobre coisas muito... sérias. E agora, desde que voltei a cidade, ela foi a primeira pessoa, exceto meu irmão e Ashley, que falei sobre isso. -Você mudou bastante, hein?
-É...
-Posso perguntar... porque? -A pergunta me intriga.
-Como assim?
-Porque você está do jeito que está. -No momento, estou confusa.
-Hmmm, eu não sei? Só me pareceu... preciso. Tipo, eu não aguentava me olhar no espelho, então mudei minha aparência. Passei a não suportar álcool, e nem chego perto de drogas, muito menos festas. Só estou tentando descobrir como viver... sem eles aqui. -O clima fica pesado e quero chorar, mas por sorte, ela estaciona em um McDonalds, acorda Clark e entramos.
-Ah, oi, Carter. -Diz Clark, quando acorda de vez. Sorrio pela naturalidade da cena.
-E aí. -Respondo. Fazemos nosso pedido e Naomi paga pra mim, dizendo que posso pagá-la depois e todos nós nos sentamos, comendo nossas batatas fritas. Conversamos sobre música, escola e conto pra eles sobre meus anos fora. Clark não fala muito, Naomi faz as perguntas, sempre.
-Ashley foi visitar vocês? -Ela questiona. Balanço a cabeça. -Ninguém foi visitar vocês? -Nego outra vez. Me sinto desolada. Por ver eles se sentirem mal... por minha causa. Clark até parou de comer, pra me encarar. Olho pra batata. Justo quando eu pensava que não podia ficar pior, ouço Clark sussurrar:
-Ah, merda...-E olho pra cima, capturando uma visão de Max, entrando pelas portas e furioso.
Ah, merda.
-Mas que porra? -Ele diz, quando chega perto o suficiente da nossa mesa. Quero sumir.
-MAX! -Os dois exclamam, alarmados. Max os encara.
-Não estou falando da Carter. Estou falando de vocês. São três da manhã! Eu e Marco esperamos por uma hora, seus babacas. -Ele está com raiva mesmo. Max sempre foi responsável e pontual, e sempre levou tudo o que faz a sério, então tenho certeza que ele não está bravo por minha causa, mas por causa deles.

O que é por minha causa, também.

-Primeiro: se acalma. Segundo: vamos conversar em outro lugar. -Naomi diz, com a sua expressão impassível de novo sem deixar a mostra nenhuma emoção e ela levanta, arrastando Max pra fora do lugar. Olho para Clark, e junto coragem o suficiente pra perguntar:

-Ele me odeia, não é? -Clark fica surpreso.

-Claro que não.

-Pode falar a verdade.

-Ele nunca te odiou.

-Se você está falando isso porque está com pena...

-É verdade, Carter. Ele nunca te odiou. Ninguém te odeia. -Quero acreditar nele, mas o tom de pena na sua voz me impede. E é impossível não odiar algo que partiu seu coração.

E eu parti o coração de Max. Foi o que ele me disse quanto terminou comigo.

-Tudo bem. -Digo, porque não quero mais falar desse assunto. Preciso voltar pra casa logo. Termino de comer antes de Naomi e Max voltarem. Ela senta e ele senta... do meu lado. Minha mente vai a mil, pensando na melhor coisa a se fazer nessa situação. Naomi e Clark conversam sobre alguma coisa de propósito, nos deixando de fora.

-Oi. -Ele diz, neutro. Apenas balanço a cabeça. Depois de um tempo em silêncio, observando Clark e Naomi comerem, ele volta a falar. -Você vai ter que falar alguma coisa alguma hora dessas. -Olho pra ele. Sério.

O que você quer que eu diga? Qual a coisa certa a se dizer?Aquela voz pergunta.

-Bom dia. -Digo, sem pensar e desvio o olhar.

-Ainda não é dia.

-Boa noite.

-Parece que você está indo embora. -Detecto diversão na voz dele. Naomi vira.

-Bem, agora que disse, ela está indo mesmo embora. Vem, Carter, vou te deixar em casa e então estou indo pra sua casa pra ensaiarmos. Clark, vai com Max. -Levanto e arrumo minhas botas de neve, depois aperto meu casaco e tento não ligar pro fato de que estou de pijama, apesar de só ter a banda e um casal dentro do McDonalds a essa hora. Jogo meu cabelo pra frente, tentando me esconder.

-Vejo vocês daqui a pouco. -Naomi diz. Nós duas estamos em pé, e Max e Clark continuam sentados, nos olhando de baixo. Não encontro o olhar de Max, por sorte.

-Tchau.

-Boa noite. -Ele diz e então sou obrigada a olhar. Ele tenta um sorriso, mas apenas os cantos da boca levantam. Naomi me puxa para fora, e então voltamos para o carro, e ela dirige em silêncio até meu apartamento.

-Te vejo no clube de música. -Ela diz, porque não temos nenhuma aula juntas.

-Obrigada pela comida.

-Sem problemas, qualquer coisa é só chamar. -Sei que é verdade.

-Beleza. -Sorrio e entro no condomínio.

Quando chego em casa, aliviada por não ter acordado Ashley ou Connor ou os dois, vou direto para cama e tento respirar fundo. Dessa vez, o ar parece entrar bem mais fácil e já estou mais calma, então rápido assim eu durmo.


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Notas finais do capítulo

o que acharam?