Seeking Shelter escrita por MrsHepburn, loliveira


Capítulo 6
O Que Fica




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/425955/chapter/6

É estranho pensar que algumas pessoas podem ter saído da sua vida, mas a vida delas tecnicamente continua. Por exemplo: a conta do banco, redes sociais, encontros com médicos, viagens programadas e no meu caso, a matrícula do meu irmão mais novo, Chaz, que ainda está em aberto mesmo depois de dois anos. Claro que paramos de pagar, já que ele não estuda mais ali, mas precisamos trancar sua matrícula, já que ninguém lidou com as questões legais da morte deles, exceto o advogado e ele nem lembrou da matrícula do meu irmão.

Então Connor, Ashley e eu estamos aqui pra oficializar o fechamento da matrícula, já que Connor tem mais de dezoito anos e pode assinar a papelada. Enquanto os dois "adultos" lidam com isso, a professora antiga de Chaz, Allison, me mostra a escola, já que eu nunca estive aqui de fato.

Um sentimento de solidão entra em mim, vendo todas as crianças pequenas brincando. Sinto falta do meu irmão. E isso me faz mal, porque fico... agoniada e agitada esperando a visita acabar de uma vez. Processar o fato de que o perdi outra vez não é a melhor coisa pra se fazer agora, depois de um dia de merda. Ainda é dia dos namorados, e a aula do clube de música foi de mal a pior depois que os garotos começaram a cantar rap e as meninas começaram a cantar hiphop com metade das roupas que estavam antes.

-Aqui é onde eles lancham. -Ela me mostra. -E aqui é a sala de música. -Ótimo. Quase ouço ela perguntando se eu não quero entrar e observar a aula das crianças de cinco anos. Porém, ela não precisa perguntar, porque a música me chama pra dentro da sala.

A professora de música, uma jovem de no máximo vinte anos, está sentada com todas as crianças ao redor cantando Moon River.

Moon. River. Quem canta Moon River para criancinhas? Mas é a cena mais linda que eu já vi desde que voltei para a cidade. As crianças, imitando as notas lentas de Audrey Hepburn, cantando no tom doce que ela usa no filme Breakfast At Tiffany's. Fico com vontade de cantar também, mas me impeço, porque começaria a chorar, muito provavelmente.

Saio de lá o mais rápido que eu passo, despistando a professora de Chaz e indo para a secretaria, onde meu irmão está.

A imagem dele é tão assustadora quando ver aquelas criancinhas cantando. Porque ele parece um pai novamente, com as mãos no rosto e parecendo adulto e preocupado. Memórias de um Connor adolescente, livre invadem minha mente e eu faço muita, mais muita força para não chorar. É tudo tão... demais pra mim agora. O dia exigiu tanto que eu não sei por quanto tempo vou aguentar sem chorar. Me aproximo, sento ao lado de Ashley, que parece triste. Ela afaga meu ombro, enquanto sentamos nas cadeiras de espera, observando Connor lidar com a secretária.

-Por que está demorando tanto?

-Ele esqueceu de trazer uns documentos. Está pensando em como achar eles agora, já que provavelmente não tem o que eles querem que ele traga. -Isso é ruim. Mas me sinto na necessidade de alegrar Ashley, por algum motivo.

-Ele vai achar. A gente procura o advogado que cuidou do inventário da casa e aquelas... paradas e trazemos aqui.

-Assim espero, Carter. -É estranho ver Ashley séria.

-O que foi? -Ela balança a cabeça, sem me contar nada e pensando bem, não é da minha conta então fico calada.

A volta pra casa é silenciosa e cheia de tensão, por algum motivo. Ashley não dorme no nosso apartamento, então eu e Connor ficamos acordados até tarde assistindo TV.

-Como foi depois que eu saí? -Ele pergunta, se referindo as audições.

-Não tão boas.

-E a banda foi legal com você? -A banda sempre foi legal comigo.

-Sim.

-Max?

-Não falei com Max. -O evitei sempre que tive a chance e ele fez o mesmo.

-Está tudo bem?

-...Sim. -Não sei se estou mentindo. -O que aconteceu com a Ashley? -Ele fica tenso de novo. Sei que algo grande vem em seguida.

-Pedi ela em casamento. -Quase engasgo.

-O quê?!

-Eu sei que eu deveria ter contado antes pra você. Mas é dia dos namorados! Eu achei que tudo ia dar certo! -Ele parece irritado consigo mesmo.

-E o que ela disse?

-Que não. -Isso me choca mais ainda.

-O quê?! Mas vocês se amam.

-Ela disse que não estava preparada.

-Vocês... terminaram? -Pergunto porque eles estavam meio frios no resto do dia.

-Não, mas às coisas não estão mais as mesmas obviamente.

-Sinto muito.

-Não tem problema.

-De verdade, Connor. -Ashley é uma das únicas pessoas que meu irmão tem agora, sei como deve estar doendo.

-Eu sei, C. Vou dormir, até amanhã.

-Boa noite. -Ele me dá um beijo na testa e vai para o seu quarto, me deixando sozinha. Tento ir pra cama, mas como sempre o sono não vem e eu me sinto claustrofóbica nesse apartamento tão menor do que minha antiga casa, então visto minhas botas de neve, meu casaco pesado e saio do apartamento... trombando com o vizinho. Ou com a caixa enorme dele.

-Desculpe! -Aviso.

-Tudo bem. -Ele bota a caixa no chão. Analiso e vejo que são... câmeras fotográficas e filmadoras antigas.

-Wow. -Escapa da minha boca.

-Eu sei. -Lembro que ia sair, e vou até a escada, mas o vizinho me chama.

-Ei! Pode me ajudar a levar uma caixa até o meu carro? -Hesito, mas a educação ganha e concordo. Ele me leva até o apartamento dele. Limpo, organizado e definitivamente alguma mulher mora aqui.

-Vou pegar a caixa. -Ele sussurra. -Tente não fazer muito barulho, minha namorada está dormindo.

-Qual seu nome? -Digo, enquanto ele vai até uma porta e tira uma caixa enorme de lá, e não sei se vou conseguir segurar.

-Fletcher.

-Por que tantas câmeras?

-Estou no curso de filme na faculdade. Preciso filmar umas cenas a noite e vou usar essas câmeras pros efeitos diferentes.

-Ah. -Ele me entrega a caixa e eu carrego elas até o carro dele no estacionamento.

-Obrigado!

-De nada.

-Apareça algum dia lá no meu apartamento, Harvey está curiosa pra ver os novos vizinhos.

-Harvey? -Pergunto, confusa enquanto ele joga a caixa no porta malas. Ele sorri.

-A minha namorada.

-Ah, tá, claro. Vocês, hm, moram juntos?

-Ela acabou de se mudar pro meu apartamento.

-Legal, -digo, pois não tenho mais nada a dizer.

-Bem, te vejo por aí. E se precisar filmar alguma coisa um dia, me chame. -Então ele entra no carro e sai da garagem do edifício. Saio logo atrás dele, a pé, e rápido assim, estou sozinha na noite.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

meio insignificante eu sei mas é porque era preciso pro proximo fazer sentido e tem HARVEY E FLETCHER DE SINK US TO SWIMMMMMMMMMMMMMMMM