Seeking Shelter escrita por MrsHepburn, loliveira


Capítulo 27
Sinais


Notas iniciais do capítulo

oi como vão nessa semana maravilhosa



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Vou ligar para Harvey e perguntar se ela pode vir me buscar, mas não estou com vontade de ir embora, não ainda. Por mais egoísta que seja, não quero que ela venha ver meus pais, porque acredito que isso é algo só meu.

Como eu estava indo para outra cidade no momento do funeral, nunca tive a oportunidade de vir aqui antes, mas eu fico feliz com o lugar que escolheram para botar os seus corpos. Fica a alguns metros de distância de uma árvore e, por isso, tem várias flores caídas ao redor. Sento na grama, de frente para a cruz e leio aquelas palavras mil vezes. Um pouco abaixo, na colina, uma família está levando flores para algum membro da família e um senhor varre o chão, juntando as folhas caídas. A inquietação no meu coração parou, os acontecimentos que aconteceram a pouco menos de uma hora já não estão tão agitados na minha mente. Ao invés disso, sou ocupada por memórias da minha família, e até coisas que eu não presenciei realmente, como o casamento dos meus, que eu só vi por vídeo, ou o nascimento de Chaz. Nossa família era boa. Tem famílias que ficam juntas por conveniência, porque é mais fácil, porque é mais confortável. Entretanto, minha família se amava. Meu pai costumava dizer que éramos amigos. Minha mãe vivia fofocando comigo, sobre as colegas dela. Não preciso nem mencionar meus irmãos. E eu fico feliz de eles terem morrido com uma família unida, e não odiando os filhos ou uns aos outros. Lembro de vários fragmentos e sem que eu perceba, a vida deles se torna maior do que a sua morte.

É meio triste saber que somos acostumados a lembrar mais das coisas ruins, das coisas do passado ou das coisas que não nos fazem bem e ignoramos as coisas boas. Por que? Eu não sei. Talvez, lembrando das coisas ruins, ou no meu caso as coisas do passado, seja uma maneira de fazer com que não nos esqueçamos de que certa coisa aconteceu, porque sofrer nunca nos faz esquecer mas sempre nos faz lembrar. E as lembranças da minha família, por mais que não me deixem tão felizes quanto me fizeram ser quando aconteceram, são importantes para imortalizar eles na minha mente. Eu ficaria feliz em sentir a dor se ela viesse acompanhada do que restou da vida deles.

–Oi, mãe. Oi, pai. Oi, Chaz. Como vocês estão? -Pergunto para o nada. -Estou bem, muito obrigada. Espero que vocês gostem de como meu cabelo está agora. E de saber que eu nem bebo mais. E que estou no clube de música e que Connor vai se casar. Dá pra acreditar? Com Ashley, mas acho que vocês sempre souberam disso, desde o momento que ele levou ela pra nossa casa. Lembram? Foi o dia que você queimou a carne, pai, então você deve lembrar. Me desculpem por ter demorado tanto pra vir aqui, eu só estava um pouco perdida. -Suspiro, fechando os olhos e encostando na árvore. O sol não consegue me atingir, então eu estico as pernas para que elas saiam da sombra, lembrando da conversa sobre vitamina D com a Harvey. -Se puderem, por favor me deem um sinal só para eu saber se eu estou fazendo isso certo. E me desculpem se eu fiz algo errado nesse meio tempo, como eu disse, eu fiquei meio perdida depois que vocês morreram. -Para a minha surpresa, solto uma risadinha. -Devo estar parecendo uma louca. -A risada fica mais alta e eu não consigo parar, porque quanto mais eu penso em como isso é idiota, mais engraçado fica. Aqui estou eu, sozinha, falando com meus pais mortos que não estão nem aqui. A risada se torna uma gargalhada, depois outra, depois outra e então eu paro. -Ai, meu Deus.

Ai. Meu. Deus.

Minha garganta dói da risada, tem uma lágrima no meu olho e eu estou sem fôlego, mas tudo que eu consigo pensar é: ai meu Deus.

Estou tendo uma epifania, uma iluminação, realização, um sinal.

Eu não ria desse jeito há séculos. Só pra fechar com chave de ouro, sem nem pensar, solto outra risadinha. Olho pro céu.

–Ai meu Deus, como eu amo vocês. -Então eu estou chorando e rindo ao mesmo tempo, mas a risada vence. Eu não me sinto sozinha. Nem com vontade de apertar os nós dos dedos até eles ficarem brancos. Eu só me sinto viva, mas é um "viva" diferente. Não é um viva de estar vivendo a vida, ou da maneira que eles retratam nos filmes (sempre pulando de uma piscina ou de um morro ou em uma Ferrari a cem por hora); mas viva, o oposto de estar morta. O contraste entre mim e meus pais, meu irmão. E eu interpreto minha epifania como outra epifania: não importa como eu estou vivendo, desde que eu esteja viva.

Fácil assim.

–Valeu, mãe. -Falo, porque minha epifania soa muito parecida com algo que ela falaria. -Eu sinto falta de vocês. Todos os dias. Obrigada. -Concluo e então me levanto. Descendo a colina, me sentindo um pouco mais leve, meu celular começa a tocar.

–Então, eu soube que você ia participar de um episódio de Law & Order hoje, e eu só liguei pra saber como é que foi. -Cyrus.

–Legal, mesma coisa de sempre. Atores velhos e um final dramático.

–Estou falando sério, Carter.

–Extremamente desconfortável. Mas agora acabou. -Aproveitando minha recém descoberta felicidade, convido ele pra fazer alguma coisa mais tarde.

–Eu tenho um encontro com Alana, sua idiota! -Paro na calçada.

–Hmm, tá bom, porque eu sou idiota? Só perguntei.

–Eu já te disse isso, por isso. Você esqueceu.

–Não me queime na fogueira, por favor.

–Vai viver sua vida herege e me deixa passar pelo drama de decidir o que vestir.

–Eu posso te ajudar se quiser. -Proponho.

–Minha mãe está levando o assunto muito a sério, mas obrigado. Agora é sério, eu preciso decidir.

–Te ligo depois pra saber como foi. -Em seguida, ligo para Harvey, perguntando se ela pode vir me buscar e se quer almoçar comigo.

Ela e Fletcher chegam em vinte minutos, e ficam me olhando curiosos.

–O que você estava fazendo no cemitério? -Fletcher pergunta.

–Vim visitar meus pais. -Harvey olha para as mãos, desconfortável e Fletcher segura a mão dela, apertando. Ele começa a dirigir. -Aconteceu alguma coisa?

–Só... só pensando na minha mãe. -Ela oferece um sorriso.

–Aconteceu alguma coisa com ela?

–Ela foi pro hospital essa semana de novo, é sempre ruim quando eu não estou lá. -Lembro que Harvey mencionou um dia que a mãe tinha uma doença, só não lembro o nome.

–Harvey fica nervosa. -Fletcher explica.

–Por que ela não vem morar com vocês?

–Ela tem as amigas dela e a nossa casa. E meu avô está lá, então alguém a faz companhia.

–Ela parece ter uma vida boa.

–Ela tem. Só espero que não acabe tão cedo.

–Não fique assim. Ela já passou por isso antes. -O namorado dela lembra, então eles se lançam em uma conversa própria e meio que me esquecem. Paramos na praia e almoçamos, enquanto eu escuto as piadinhas deles. Fico pensando se Harvey já superou a perda do bebê e se ainda não, pelo menos parece. Ou então ela lida com a situação muito bem. Não menciono isso, com medo de estragar o clima, e fico pensando em Jill e em quanto ela vai superar isso. Eu sei que ela é forte, mas até as pessoas mais fortes se sentem fracas de vez em quando. Fico com vontade de ligar para ela ou para Max, pra saber como as coisas estão, quando meu irmão me liga. Conto para ele como foi e explico que estou almoçando com Harvey e Fletcher. Não conto para ele sobre o cemitério, porque isso não é algo que eu quero contar pelo telefone, mas eu definitivamente planejo conversar sobre isso com ele. Convido ele e Ashley para fazer alguma coisa mais tarde, e eles aceitam. Aproveitando que já estou no telefone, eu ligo para a senhorita Birkin, e ela me dá a notícia de que a sequência das luzes para a apresentação foram finalizadas e que ela já mandou nosso setlist para os organizadores, então estamos oficialmente inscritos para a competição. Jogo o celular na mesa e o casal volta a olhar pra mim.

–Você parece uma empresária desse jeito. -Sorrio. Quando o jantar termina, eu peço para eles me deixarem na frente da casa dos Ellis.

São quase quatro da tarde, a essa hora e os carros estão estacionados no meio fio.

–Precisa de carona pra casa? -Harvey pergunta.

–Não, dá pra ir andando. Muito obrigada.

–Sem ofensa, mas seria super útil se você arrumasse um carro. -Fletcher diz e eu só sorrio, sem querer contar pra ele sobre o meu trauma, embora ele saiba sobre os meus pais. Quando eles vão embora, eu bato na porta e Ingrid vem me atender. Ela está com sua expressão de mãe-neurótica-que-precisa-de-férias, no telefone, com as olheiras evidentes agora que está sem maquiagem, e puxando Tedd pra onde quer que ela vá. Ela acena para mim e dá espaço para que eu entre.

–Só um segundinho, senhorita Kinnes. Não, não eu não vou desligar. Calma, eu só... -Ela suspira, se afastando do telefone. -Oi, querida. Eu sei que você deve ter vindo para ver o Max ou a Jill, mas pode dar uma olhada Tedd rapidinho enquanto eu busco um documento no escritório? -Ela balança as mãos avidamente. -As coisas estão uma loucura. -Ela me dá a mão de Tedd e sai, mas para quando lembra de uma coisa. -Ah, eles estão no final do corredor.

–Obrigada. -Ela só balança a cabeça novamente e volta para o telefone, saindo dali. Me abaixo para falar com Tedd e faço um movimento com as mãos, perguntando se ele lembra de mim.

Ele soletra meu nome. Com os dedos.

Tedd é um menino adorável, apesar de ser um pouco tímido. Acho que isso aconteceu por causa da surdez. As coisas devem ser tão pacificas para ele sem poder ouvir os sons que eu duvido que ele saiba que exista caos em algum lugar. E como não deve saber, não age do mesmo jeito caótico dos outros. Ele só tem seu próprio ritmo, eu suponho.

Pergunto para ele se ele pode me levar até os seus irmãos e ele pega minha mão, me levando até o final do corredor.

O quarto de Max.

Quase fico com medo de abrir, até ouvir o som do videogame. Tedd abre a porta para mim e só Jill olha pra cima, bem na hora que eu vejo o avatar de alguém ser explodido.

Acho que era o da Jill, porque ela vira para Max e joga o travesseiro na cara dele.

–Seu babaca.

–Você tirou os olhos da tela e eu só aproveitei a chance. -Ele finalmente olha pra cima. -Oi, Carter.

–Posso... posso entrar? -Ele faz que sim. O jogo recomeça. Olho para eles. Os dois estão esparramados na cama de Max. As paredes do quarto continuam as mesmas, cheias de fotos de bandas e de pessoas do nosso dia-a-dia. É um pequeno caos. Os dois deslizam para o lado, para dar espaço para mim e Tedd e eu sento, puxando o irmão menor deles junto. Jill parece melhor agora, mas não acho que é um bom momento pra começar a falar sobre o que aconteceu de manhã.

–Você pode cobrir os olhos dele ou distrair enquanto a gente joga? Minha mãe não gosta que ele fique assistindo violência. -Max pede.

Sento com Tedd no chão, ele de costas para a tevê do quarto. Sem saber o que fazer, pergunto para ele como vai a escola. Ele responde que gosta de ler. Pergunto que livros, e ele conta para mim, em linguagem de sinais, que gosta de um livro sobre uma rosa. A rosa é branca e vive sozinha, porque ela é diferente. Ela vive nas pedras, triste até conhecer o sol. O sol pergunta porque ela é tão branca, e se ela não gostaria de pegar uma corzinha. A rosa explica que ela é assim desde sempre, e não pode mudar. O sol pergunta porque ela é tão sozinha, e ela explica que as outras rosas acham ela diferente. Como o sol fica com pena, ele pergunta se ela não quer conhecer o mundo com ele, e chama o vento. O vento faz com que a rosa voe conhecendo o mundo todo, e no fim, ela fica colorida, por algum motivo que meu nível intermediário de linguagem de sinais não me deixa saber. Digo que é uma história muito bonita, e ele diz que também acha, por isso é a preferida dele. Comparando a história de Tedd e a da rosa, pergunto para ele se ele se identificou com alguém, e ele respondeu: "Eu gosto da rosa, porque ela é branca mas se chama rosa, então alguma coisa nela tem cor. E ela é diferente, como eu." E eu sorrio, de tristeza porque ele me lembra meu irmão, mas também porque Tedd é adorável. Quando olho para o videogame, vejo que está pausado e eles estão olhando para nós.

–Ah, oi. -Digo.

–Quando você aprendeu sinais? -Indaga Jill.

–Quando eu estava na clínica.

–Você pode virar ele agora, o jogo acabou. -Ele diz, e depois faz movimentos com a mão, falando com Tedd. Imediatamente, Tedd pula em cima da cama, e eu sento no canto.

–Então, vocês estão bem? -Eles se entreolham. Jill responde.

–Eu... eu vou ficar bem. -Mas não parece verdadeiro. Parece algo que ela fala pra deixar as pessoas despreocupadas.

–Quero a verdade. -Ela cai na cama de Max.

–Estou feliz que esteja acabado. E em casa, é como se aquilo não pudesse me atingir. Só está... difícil. Na escola. No parque. Com as minhas amigas. -Lembro do incidente com Mag.

–Você quer desistir da música? -Questiono, amigável. -Se for ajudar, não tem...

–Não, claro que não. Eu gosto. Eu vou dar um jeito. -Max afaga seu cabelo, enquanto ela vira o rosto no travesseiro pra me olhar. Do outro lado, Tedd abraça Max. Ele realmente parece um irmão mais velho.

–A mãe de vocês parece bem abalada.

–Ela está tentando ser uma super mãe esses dias. -Olho para Max, me perguntando se ele ainda sente vontade de ser o super irmão para Jill.

–Ela precisa de umas férias.

–Eu também. -Jill suspira. Max sorri, simpatizante. Olho para meu celular. Tem uma mensagem de quinze minutos atrás, de Connor, perguntando onde e quanto nós vamos sair.

–Ei, vocês estão no clima de jogar boliche? Tipo... agora?


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Notas finais do capítulo

oi de novo fskdjfhskdjh o que acharam? como vai a vida de vocês? ASSISTIRAM CATCHING FIRE? como eu tô de férias, eu fico bastante em casa e eu assisto muitos filmes, então vocês tem algum filme pra me indicar? Não gosto de terror ou suspense, mas eu amo filme independente ou estrangeiro, então se tiverem algum romance, drama, documentário, (sendo ou não estrangeiro ou indie) pra me indicar, estou aberta a sugestões
espero que tenham gostado e o proximo vai ser meu fav esperem pra ver