Seeking Shelter escrita por MrsHepburn, loliveira


Capítulo 26
Os Anjos e Os Culpados




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Estou provando vestidos. A dama de honra tem que ter um vestido especial e é isso que eu e Ashley viemos procurar, na nossa festinha das garotas. A verdade é que só paramos nas lojas de vestidos e ela me joga alguns até estar satisfeita. Depois, a atendente e ela conversam sobre os penteados que iriam combinar e a maquiagem que eu vou usar.

Na quarta loja, Jill me liga. Ela não veio pra escola hoje, nem para o ensaio, mas Max me diz que está bem, só está de ressaca. Está de castigo e ele chegou atrasado na escola porque ficou muito tempo conversando com ela.

–Oi, Jill. -Digo hesitante, sem saber qual vai ser o seu humor. Max, hoje, me disse que eu deveria desconsiderar o que ela me disse, mas eu sei como uma mente bêbada funciona. Ela fala coisas que não quer falar, verdade, mas não significa que sejam mentiras.

–Oi, Carter. -Ela diz, tímida. -Me desculpa por ontem. -Suspiro, na mesma hora que apertam o meu vestido amarelo na frente do espelho.

–Você me assustou pra caramba, Jill. E me decepcionou muito. -Sei que não são as palavras que ela gostaria de ouvir, mas eu preciso dizer.

–Eu sei. Eu só queria provar pra mim mesma que o que tinha acontecido não ia me corromper, sabe? Que eu ainda consigo me divertir e beber e falar com garotos.

–Um passo de cada vez. Começa devagar e não pula de cabeça nisso. Você tem quinze anos. Eu sei que quer conhecer o mundo e acha que descobriu tudo sobre a vida mas isso não é viver. Confia em mim, festas e bebida não são viver. São divertidos, mas isso não pode ser o seu foco agora. Seu foco é voltar aos trilhos e se recompor. E tem muitos meninos lá fora que você pode conhecer fora de um bar, e de preferência sóbrio. -Ela não fala nada por um tempinho. -Jill?

–Estou aqui.

–Ouviu o que eu disse?

–E se ninguém mais me querer?

–Alguém vai te querer, querida. E vai ser o certo, porque você vai querer esse alguém, também.

–Mas quando? -A voz dela sai frustrada.

–Lamento decepcioná-la, mas não tenho uma data pra você pôr no calendário.

–Estou falando sério.

–Eu também. Se você parar de tentar, vai parar de esperar isso com tanta urgência. Amor é importante, eu sei. Principalmente amor entre um casal, mas se concentra em outros tipos de amor agora, que estão ao seu alcance.

–Por que parece que você sabe tudo?

–Porque eu sei. -Ela ri e eu sorrio. Olho para Ashley e ela faz que sim com a cabeça, falando do vestido. Faço um sinal positivo, indicando que também gostei e elas desapertam o laço. -Estou brincando. Tenho que desligar. Vai ficar bem?

–Sim, claro. Max não tira os olhos de mim.

–Manda um oi pra ele.

–Ele disse "E aí." O que você tá fazendo?

–Comprando meu vestido de dama de honra.

–Isso parece interessante, e você me conta depois. Desculpa outra vez. -Ela murmura.

–Até depois, Jill. -Desligo e olho para Ashley, então elas começam a mexer no meu cabelo.

As semanas passam com um borrão. Eu não tenho tempo de fazer absolutamente nada, parece, mas eu faço praticamente tudo. Provas finais, ensaios de música, conversas com o advogado da Jill e o advogado da defesa (um babaca), depois horas de conversas com Ashley e Connor sobre o casamento, depois isso, depois aquilo. Não consigo nem respirar direito, mas me sinto bem fazendo alguma coisa. Ou fazendo muitas coisas ao mesmo tempo. Me manter ocupada me mantém feliz, porque então eu não lembro das coisas que aconteceram e ninguém fica me lembrando também.

Então, rápido assim, o dia do julgamento chega. Pra me ajudar, eu não consigo dormir a noite e acordo com dor de cabeça. Em seguida, quando eu chego, Jill está chorando porque encontrou não só Louis Stratt, mas todos os outros que estavam lá quando ela foi estuprada. Claro que ela não falou com eles e vice-versa, mas eles ficaram a encarando e ela começou a chorar de medo no corredor, bem na hora que eu apareço.

–Calma, Jill... -diz Max. Seus pais olham a distância, preocupados, mas nenhum deles se aproxima, porque estão falando com o advogado.

–Estou calma, estou calma. -Repete, sem parar. Olha para mim. -Está pronta?

–Se você estiver, eu estou. -Porém a verdade não é tão simples. Estou morrendo de medo, tanto quanto ela, mas jurei a mim mesma que não iria chorar aqui e não vou.

–Veio sozinha? -Max pergunta.

–Os dois tinham que resolver uma coisa do casamento. Não podiam ficar aqui. -Ele sorri, solidário.

–Sr. Ellis. Senhorita. -O advogado chama. -Senhorita Hallaway. Está na hora. Vamos recapitular algumas coisas, vocês entram e só falam quando forem chamados, sem comentários ou insinuações sobre os réus. Senhorita Hallaway, responda todas as perguntas da mesma maneira que ensaiamos e senhorita Ellis, tente se controlar no tribunal e responder as perguntas da mesma maneira. Isso não vai levar muito tempo, já que está comprovado que ele cometeu mesmo tais atos, mas o advogado da defesa pediu uma audiência, então temos que dar. Todos de acordo? -Concordamos. -Ótimo, então vamos lá.

Entramos no tribunal. Não tem muita gente, apenas a juíza e os réis com o advogado. Sentamos do outro lado, e os pais de Jill e Max ficam na área pública.

Eles me chamam. Me fazer jurar que eu não vou mentir e começam a fazer perguntas. Algumas são cruéis, mas já ensaiamos.

"Eu estava sob efeito de drogas, mas meu cérebro me manda pequenas visões daquele momento..."

"Eu disse que tinha um namorado e ele me puxou do mesmo jeito..."

"Consegui me defender e fugi dali."

Então, inutilmente, o advogado de defesa me faz perguntas, que só me deixam revoltada, e por último:

–Mas, no final, ele não chegou a cometer nenhum ato sexual com a senhorita. -Diz como se fosse óbvio e como se eu fosse burra.

–Isso é meio irrelevante, visto que não estou aqui por queixas próprias. -Rebato, cordial e com uma sobrancelha erguida. O advogado sorri, mas sei que sabe que está vencido.

Logo, chamam Jill. E é doloroso assistir, visto que ela não consegue conter o choro. Eles a fazem perguntas, ambos. O advogado da defesa tenta ganhar crédito mencionando que Jill tinha uma quedinha pelo culpado e queria isso, mas ela replica que não foi bem assim e que não pediu para fazer sexo com ele. O advogado de Jill, então, aponta para as coincidências entre o meu caso e o dela. Garota de quinze anos. Em uma festa da faculdade. Depois ele conta os detalhes grotescos do caso, como o fato de haverem mais pessoas no quarto na hora do estupro e como eles escolheram quem ia fazer sexo com ela. Nessas horas, eu tenho que olhar pra baixo e fechar os olhos, respirando fundo para não perder o controle e apertando minhas mãos até elas ficarem brancas e doer.

Eles são declarados culpados. Mas apenas Louis Stratt pega prisão, por quinze anos. Os outros vão para uma penitenciaria por apenas três, por serem cúmplices. Está tudo acabado.

Jill corre para fora, com os pais para consolá-la e Max, a abraçando enquanto ela chora, da mesma forma que me abraçou. Me ocorre então que ele devia estar acostumado com crises de choro desse tipo. Ignorando o nó na minha garganta e a inquietação misteriosa do meu coração, vou até eles para me despedir. Abraço Ingrid, John, Jill (apertando mais do que o normal) e Max.

–Já vai? -Ingrid pergunta.

–Sim, eu preciso ir. -O que é uma mentira, porque é sábado de manhã e eu não preciso fazer nada, mas eu quero muito ficar sozinha. -Mas você me liga depois. -Aponto pra Jill e ela concorda. Aperto a mão do advogado e saio pelo corredor o mais rápido que eu posso. Apertando os nós dos dedos e a dor da minha mão é a única coisa que me impede de gritar.

Eu quero a minha mãe.

Eu quero Chaz, e a minha mãe e o meu pai.

E eu preciso de um abraço. Mas não tem ninguém que eu possa abraçar. Ninguém ao meu redor pra me falar como eu fui ótima lá dentro, ou pra dizer que acabou ou pra me esperar quando eu saísse do tribunal. Eu estou lembrando novamente que estou sozinha. Fecho os olhos, parada na calçada, esperando a onda da tristeza me atingir e ela vem, quieta, sem muito alarde, depositando-se no meu coração. Mando uma mensagem para Connor, avisando que ele não precisa vir me buscar e começo a andar. Quando percebo onde estou indo, eu começo a correr, agradecendo por não estar de salto alto. Corro, corro e corro, sentindo o vento no meu rosto e meu corpo começa a doer, do esforço físico. Chego sem fôlego. Começo a subir o pequeno morro, rodeado de cruzes brancas no gramado, até chegar na que eu quero ver.

É a primeira vez que eu venho aqui.

Olho para a cruz.

"Em memória de Suzannah, Andrew & Charlie Hallaway. Todos anjos no céu e divinamente amados..."


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Notas finais do capítulo

o que acharam? gente eu acabei de planejar o resto da fic e ela vai ficar muito grande, socorro, enfim é isso byeeeeeeeeeeeee