Seeking Shelter escrita por MrsHepburn, loliveira


Capítulo 28
Felicidade




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/425955/chapter/28

Encontramos Connor e Ashley meia hora depois, no Stevenson –o boliche que nós costumávamos ir antes, como nos velhos tempos. Trouxemos Tedd também, para o alívio de Ingrid, e os olhos dele brilham durante o trajeto. Aquela agitação feliz que eu senti mais cedo ainda permanece, mas agora é mais quieta, embora seja evidente. Até Connor percebe, quando vem me abraçar assim que chegamos.

–Por que você está tão... feliz? –Tento não levar como um insulto, mas ele parece muito surpreso. Na verdade, tento não ficar assustada, ou triste, mas sei que na maioria das vezes eu estou com minha expressão miserável e isso me entristece um pouco.

–Tenho que te contar uma coisa.

–Agora? –pergunta, olhando para a nossa companhia. Faço que não, e voltamos a falar com eles. Ashley puxa Tedd para um lado, já que ela ama bebês, e tenta conversar com ele, sem saber que ele não entende nada. Apenas quando Jill explica sobre a surdez que ela entende, fica um pouco vermelha de vergonha, e então passa a conversar com ele por intermédio de Jill e a linguagem de sinais afiada que ela tem. Eu, Connor e Max vamos até o balcão do boliche e pegamos tênis para todo mundo, até Tedd.

–Vai ser bom pra ele. Tedd nunca brincou fora de casa com ninguém exceto meus pais, ou Jill. –Max explica. Pegamos as bolas, e travamos uma pequena discussão sobre como devemos jogar. Por fim, acabamos formando dois grupos: o das garotas e o dos meninos. Temos vantagem do nosso lado, porque Ashley é boa no boliche e Tedd não serve para muita coisa, se não sabe jogar. Eu e Connor ficamos frente a frente, no nosso rito de iniciação.

–Você está pronta para perder? –Ele usa o tom de voz Rambo dele, brincando. Certamente é estranho para mim ouvir essas brincadeiras, ou então identifica-las. São tantas as coisas que você perde quando está ocupado demais sendo triste que eu até me pergunto porque eu estava naquele estado por tanto tempo. Em seguida, eu me lembro que eu tive um motivo muito bom, e lembro de uma coisa que a minha mãe sempre falava sobre felicidade: “Ela vai embora tão rápido quanto vem, mas ela sempre volta.” Eu não posso confiar muito no que eu estou sentindo, porque tenho conhecimento que pode muito rapidamente ir embora, o segredo é que eu vou agarrar esse sentimento com toda minha força enquanto ele está aqui. Seguindo esse princípio, replico para Connor com minha voz desafiadora.

–Você está pronto para comer poeira? Perdedor.

–É isso que vamos ver. –Ele replica.

–Faça o seu pior.

–O meu pior ainda é melhor do que seu melhor.

–Isso não fez sentido nenhum. –comento. Connor não muda de expressão, ao invés disso, responde lentamente:

–Eu sei. –então se vira, mas olha para trás com o olhar de lutador dele, indicando que a guerra começou.

–Começou, garotos. Vejam e chorem! –Ashley grita, um pouco mais animada do que seria preciso e começamos a jogar. Jill faz jogadas mais tímidas do que as de Ashley (que grita ou aplaude) mas é tão boa quando Ashley. Quanto a mim, sou razoável. Na média. Consigo fazer strikes e derrubar bastante pinos, mas não é algo que chame a atenção.

No time do meninos, Max é o melhor. Ele joga da mesma maneira que Jill joga –sem fazer muito alarde, chamar muita atenção – mas consegue fazer um strike na maioria das vezes. Connor é como Ashley, só que ao invés de gritar ou aplaudir, ele xinga.

–Graças a Deus a gente não precisa tampar os ouvidos de Teddy toda vez que você xinga. –Ashley comenta, fazendo todos rirem. Tedd... Tedd não joga de verdade, porque Max ajuda ele em cada movimento, então não conta muito, e apesar de quieto, ele é uma boa companhia. Já conheci crianças que choram por tudo, se desesperam, gritam, ou pedem pra ir embora ou comer alguma coisa a cada cinco minutos, mas Tedd não se encaixa nesse grupo. Eu sempre gostei dele, mas agora gosto mais ainda, percebendo quanto ele é na dele e quieto. Fico o observando na maior parte do tempo (porque eu sou a primeira e a última a jogar e todo mundo leva um século pra fazer sua jogada então eu tenho bastante tempo livre) e pelos pequenos movimentos, consigo compreender que ele é gosta muito de Jill, apesar de ela não prestar atenção nele, focada no jogo. Sempre que tem oportunidade, vai ao encontro dela e senta no seu lado, ou segura sua mão dela, analisando o boliche.

–Sua vez. –Connor me chama, e então me levanto e faço minha jogada. Derrubo metade dos pinos e meu irmão me olha vitorioso.

–Alguém perdeu o jeito.

–Me processe. –Pego a outra bola, me concentro ao máximo e então a lanço. Ela derruba o resto dos pinos e eu olho para Connor. –A propósito, vai se foder.

–Ooohh, veja quem está mostrando suas garras.

–Só joga Connor.

–Me obrigue.

–Se ela não conseguir, eu obrigo. –Max entra na conversa.

–Tá bom, tá bom. –Ele pega a bola e faz o seu teatrinho de concentração. Tirando os olhos de Tedd, sento ao lado de Jill. Ela não tem dito muita coisa desde que chegou, e não quero pressionar ela, fazer com que ela finja que está bem para me deixar despreocupada, entretanto eu preciso saber se ela está bem.

–Como você está se sentindo?

–Um pouco abalada.

–Abalada como o Max ou como a sua mãe? -Ela sabe a diferença.

–O meio termo entre os dois, eu suponho. -Jill enterra o rosto nas mãos. -Eu queria que minha vida fosse que nem uma música. -Analiso suas palavras, mas não consigo interpretá-las.

–Como assim?

–Uma música é constante, sabe? Ou ela é uma música feliz ou triste. Eu queria que minha música fosse feliz, porque todo mundo ama músicas felizes, e elas acabam em três minutos. -Isso quer dizer que ela pensa em se matar? Espero que não. Espero muito que não.

–Não tem problema ser uma música triste.

–Ninguém gosta. Porque são tristes e ninguém gosta de se sentir triste.

–Querida, a vida é mais como um CD. Vai ter faixas tristes e faixas felizes mas o conjunto todo vai ser lindo. Só porque algo é triste não quer dizer que é feio e você não deveria pensar isso sobre si mesma.

–Ai meu Deus, você parece a minha mãe. -

–Você já me disse isso antes. -Comento, neutra.

–Desculpa, é sério. -Jill levanta, para fazer a jogada dela, depois se senta no mesmo lugar novamente. Um comentário que meu pai fez sobre Jill e sobre a dinâmica dos irmãos me vem a cabeça. Foi no dia que meus pais foram conhecer os pais de Max. Meu pai disse que Jill era uma garota adorável, mas que ela estava propensa a ter algumas crises de identidade durante a adolescência, por ser a filha do meio. Não sei se ele estava certo no geral, mas sobre mim e ela, estava. -Jill, me promete uma coisa. Não tenha desgosto de você mesma, nunca. Se você está triste, tudo bem. Com raiva? Fique com raiva. Mas... pare de se odiar, Jill. É sério. Você não tem motivo pra isso. Tudo bem se você chorar e quiser ficar quieta, desde que isso te deixe um passo mais perto de entender que você é maravilhosa não importa o que aconteça. E eu não estou falando por mim mesma. Estou falando pelo Max, a sua mãe e o seu pai também.

–Eu vou tentar.

–Por favor, tente. -Eles me chamam, e eu faço minha jogada final, sem concentração pra continuar. Connor fica gritando vitorioso parecendo um idiota, que até Ashley o ignora.

–Engole essa, maninha!

–Você tem sérios problemas competitivos. -Ashley diz. No fim, acabamos perdendo pra eles, mas ninguém liga muito pra isso. (Menos Connor. Ele liga por todos nós.) Nós sentamos em uma das mesas dali, e eu puxo meu irmão para o canto. Espero ele se gabar que ganhou de nós, e então fica sério novamente.

–O que você queria me contar? -Conto para ele sobre a visita ao cemitério e o meu ataque de riso, sem saber que tipo de reação esperar dele. Connor escuta sério, porque não é todo dia que eu falo sobre nossos pais. Falo baixinho, para que ninguém da mesa escute.

–Você... riu? Sério?

–Não conseguia parar. Foi muito estranho, o que me fez rir mais ainda.

–Você literalmente riu na cara da morte.

–Não é engraçado agora, então nem tente fazer piada. -Ele levanta as mãos, na defensiva.

–Você que sabe. -E depois de uma pausa, adiciona: -Não consigo acreditar que você riu desse jeito.

–Eu sei. Foi surreal.

–Você chorou?

–Não. -Ele me olha, surpreso.

–Que esquisito.

–Eu sei.

–Mas estou feliz por você, mana. Eu já planejava te levar lá há um tempinho, só que eu não sabia se você estava preparada.

–Eu nem sabia que estava. Apenas cheguei lá e subi o morro. -Connor aperta minha mão e me dá um beijo na testa.

–Estou orgulhoso de você, de verdade.

–A comida vai esfriar! -Ashley diz, nos trazendo de volta a realidade. Deslizamos para o grupinho de novo, que começa a conversar sobre o baile de formatura.

–Você vai? -Jill me pergunta.

–Eu nem sabia que tinha, mas, uh, não, obrigada.

–Por que não? -A noiva do meu irmão questiona, com Tedd no colo e comendo uma batata frita.

–Não acho que seja algo que eu gostaria de ir agora. Antigamente, talvez... -Antigamente eu adorava. Me vestia como uma Barbie, mas agora a ideia não parece nem ao menos tentadora. E é no final de semana que segue o casamento do meu irmão, e em seguida a competição. Não acho que meu corpo vai aguentar o cansaço. -Só não parece algo que eu me sentiria confortável. Mas você devia ir. -Aponto para Jill. Ela olha para Max.

–Se a mamãe deixar... -Ele dá de ombros e em um piscar de olhos, o rumo da conversa muda. Passa para basquete, depois o jornal local e acaba nos professores da escola. Nunca rio tanto como nesse momento, das piadas que eles fazem. Mal consigo comer e minha garganta arde, por uma boa causa. O tempo todo, eu noto Connor me encarando e quando Max me olha, é com um olhar diferente, algo que não consigo detectar. Ashley, eu descubro, é a contadora de piadas nata, delatando até as situações embaraçosas dos seus próprios colegas. Eventualmente, quando meus olhos caem em Tedd, começo a conversar com ele para não se sentir excluído, mesmo que ele não ligue. Nós ficamos assim por algumas horas, comendo, voltando a jogar boliche e conversando. Eu até começo a fofocar com Ashley e Jill, como uma garota de verdade, coisa que eu não faço há anos. Lá pelas dez horas da noite, Max recebe uma mensagem de Clark e diz que precisa ir porque tem ensaio da banda e não pode se atrasar. Connor acha o horário do ensaio meio peculiar, mas os horários dele sempre foram meio distorcidos e eu posso provar que eles ficam das onze da noite até, digamos, três ou quatro da manhã ensaiando, uma vez que já presenciei essa cena. Aproveitando a deixa, todos nós nos dirigimos até a porta de fora, acolhidos pelo ar fresco. Quando vou me despedir de Max, ele me olha estranho de novo e eu não consigo me segurar e pergunto por que ele está me olhando daquele jeito.

–Você parece... diferente. -Dá pra ver a mente dele trabalhando, tentando achar as palavras certas para falar. Ele procura alguma coisa nos meus olhos, algo que não sei o que é, então não posso dar a ele. -Não sei explicar. -Conclui. Logo após, vai embora com Jill e Tedd, para levá-los pra casa. Meio atordoada, entro no carro com o casalzinho e ligo para Cyrus.

–Adivinha quem é o maior garanhão do planeta. -Ele me poupa dos olás.

–Hmmmm, Brad Pitt?

–Ew, não. Sou eu. Eu!

–Então suponho que deu tudo certo.

–Certo é minimizar a situação.

–Você beijou ela? -Nessa parte, Ashley ergue uma sobrancelha do banco da frente, curiosa.

–Sim. Óbvio que sim, e a gente foi comer pizza porque ela não queria ir em um restaurante caro. Estou apaixonado. -Eu rio, mas eu sei que ele está falando totalmente sério. Cyrus nunca entendeu meu relacionamento com Max e nem no amor, então se está falando isso é porque quer dizer exatamente essas palavras.

–Isso é inédito.

–Sem piadinhas segunda feira.

–Eu prometo. -Desligamos, e Ashley pergunta quem era. -Cyrus.

–Ah.

–Eu pareço... diferente? -Indago, curiosa para saber a resposta deles. Ashley me analisa.

–Sim... você parece...

–Feliz. -Connor complementa. -Como a antiga Carter. -E isso é o suficiente mandar toda essa felicidade pelo ralo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

o que acharam?