Seeking Shelter escrita por MrsHepburn, loliveira


Capítulo 17
O Sol


Notas iniciais do capítulo

ficou meio insignificante mas importante eu acho enfim no proximo aquelas coisas começam a acontecer bye



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/425955/chapter/17

Harvey está dirigindo, me levando para algum lugar, onde eu possa respirar direito, e tenho uma sensação que é a praia. Fui para lá depois de desligar o telefone com a doutora e avisar como connor que eu PRECISAVA DE AR. Então eu deixei Max lá, deixei Clark e Naomi lá e meu irmão e sua namorada, para sair com Harvey. É sábado de manhã, e eu me pergunto se ela não tem nada melhor pra fazer além de consolar uma adolescente desamparada, mas ela aceitou bem rápido minha oferta de sair de casa um pouco, mesmo que agora ela me olhe a cada cinco segundos, preocupada com as minhas reações.

Eu não consigo me aguentar. E quando digo "me aguentar" estou querendo dizer aguentar minha própria pele, eu mesma. Aquela cena me vem a cabeça e de repente eu quero que um carro caia em cima de mim. Eu não entendo. Não entendo porque eu só lembrei disso agora. Não entendo como Max pode ficar bravo por eu não lembrar daquele cara, não entendo como não consigo lembrar do que aconteceu e estou com nojo de mim mesma.

É uma coisa ruim atrás da outra, e isso está me cansando.

Me pergunto o que eu diria para os meus pais se eles estivessem aqui. Ou se eu diria qualquer coisa, ao menos, já que não consegui contar para Connor.

Marcamos uma sessão para semana que vem. O que, ironicamente, é a semana do meu aniversário de dezoito anos.

Para alguém tão jovem, sou bem ferrada.

-Carter? -Harvey pergunta, hesitante.

-Oi. -Murmuro, sem vida.

-Chegamos. -Olho para o lado e vejo que estamos na praia. Nem demorou muito para chegarmos, e eu me surpreendo por nunca ter pensado em vir antes, já que a cidade é tão pequena e a praia é tão perto. Saio do carro, botando meu casaco e me sentindo desconfortável só de pensar no meu corpo. Imagino que tenha acontecido o que está na minha mente. Eu dormi com aquele cara... contra a minha vontade. E sei que tem uma palavra certa para isso, mas é demais para eu processar no momento. A doutora Bernard disse que era coisas que ela não podia falar pelo telefone, então imagino que estou certa. Eu quero morrer.

Harvey vai até uma árvore, na sombra e senta no chão e eu, em silêncio, vou atrás dela, sentando do seu lado. A praia está cheia de gente, família aproveitando o recém descoberto final de semana e adolescentes aproveitando a folga. Harvey puxa a calça para cima, evitando o contato com a areia e então, finalmente fala alguma coisa.

-O que aconteceu?

-É uma longa história. Se não se importa, prefiro não contar.

-Tudo bem. O que você está sentindo?

-Eu estou confusa e triste. -Falo a verdade, porque é tudo que tenho para dizer.

-Já me senti confusa e triste. Posso entender.

-Você não entende o meu tipo de confusão e tristeza. -Ela me encara, de sobrancelha erguida.

-Então me explique. -Olho para o sol, pensando nas palavras certas.

-A diferença entre o meu tipo de tristeza e o dos outros, é que eles, quando estão tristes, não veem o sol, sabe? Escuridão total. Isso é ruim, mas não é como o meu tipo de tristeza. Para mim, o sol está lá, só que chorando. Eu sei. Eu sei que lá no fundo, tem coisas boas no mundo. Só que as coisas boas no mundo nunca me encontram. Eu vejo o sol, mas é como se eu não pudesse... o sentir. E isso é uma merda. -Ela parece ponderar minhas palavras.

-Entendo. Não vou dizer que você tem que enxergar as coisas boas na sua vida, porque você não está com vontade, eu sei. Mas vou te dizer uma coisa. Tem gente que não pode aproveitar o sol. Como você, por exemplo. Mas é por isso que inventaram a vitamina D, Carter. Para essas pessoas. Entende minha comparação? A vitamina D é o que pode substituir o efeito do sol em nós e talvez seja isso que você precisa. Não dá pra desfazer todas as coisas ruins que aconteceram, ou que você fez, para ser feliz. Você vai ter que viver com isso. Mas você tem que achar a sua vitamina D se quiser ser feliz. Crie os seus atalhos e rotas de fuga e faça aquelas coisas pequenas que te deixam feliz e você vai conseguir viver.

-Eu não consigo esquecer as coisas que aconteceram. -Como vou conseguir esquecer algo como aquilo?

-Ninguém esquece! Ninguém esquece. Se você está falando dos seus pais, pode confiar em mim, você não vai esquecer. -Por um segundo, acho que ela está chorando, mas então ela limpa os olhos antes de eu ter certeza. -Se está falando de outra coisa, pode ter certeza que você também não vai esquecer. Mas você tem que olhar as coisas por um outro lado, só isso. Olhar as memórias dolorosas de outra forma.

-Que outra forma? Imaginando falas divertidas no lugar das originais? -Ela ri, mas estou mais irritada do que com vontade de fazer piada para rir junto.

-As nossas sombras sempre vão parecer maiores que a gente se a gente olhar de uma certa forma. É só você pensar em tudo aquilo como uma parte da sua vida, que acabou, e pronto. Você tem que olhar pra trás e ficar feliz porque aquilo não está mais acontecendo, pelo menos. De alguma coisa você tem que ser feliz. Vitamina D, lembra?

-Você estava chorando? -Olho para os seus olhos e então eu percebo que eles estão meio vermelhos.

-Eu fiquei meio emocionada com essa conversa toda.

-Por que? -Até onde eu sei, a vida dela é perfeita. Com um namorado, melhor amiga, uma mãe e avô que a amam e uma escola que ela gosta.

-Nós estávamos falando sobre morte, e isso mexeu comigo.

-Morte faz isso com as pessoas. -Comento, quietamente, olhando para frente, para as ondas ao longe.

-Eu estava grávida. -Minha cabeça se vira imediatamente em sua direção.

-O quê? Quando?

-Eu descobri no ano passado. Em dezembro. -Agora estamos em Março, então ela deveria ter uma barriguinha... tem alguma coisa errada. -Eu perdi. Entende? Ele morreu... dentro de mim. Então eu entendo o que você quer dizer. Descobri na semana que você e seu irmão se mudaram para o apartamento do lado. Fletcher achou que era melhor eu morar com ele durante o momento... frágil. Estamos melhor agora. -Ela me tranquiliza.

-Eu... eu nunca teria adivinhado.

-As coisas ruins não acontecem só com você. -Harvey oferece um sorriso fraco. Considero contar para ela sobre o meu flashback, já que ela confiou em mim para contar isso, mas decido que não estou preparada, e ela não disse isso só para me fazer falar, então está tudo bem. A vontade de chorar passou, embora, mesmo depois de tudo que conversamos, o sentimento de desespero e culpa ainda não.

-Eu costumava ter uma fixação pelo conceito da felicidade. Sempre me irritava com as pessoas felizes demais. Mas agora eu percebi que todo mundo é feliz e todo mundo é triste, em épocas diferentes. Então você não é completamente triste nem completamente feliz. Sabe? Mas pode tentar ser feliz constantemente. Então tente. Tudo bem?

Não sei se vou conseguir, ou se vou ao menos tentar, então não digo nada. Mas abraço Harvey, e isso é resposta o suficiente por enquanto.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!