Seeking Shelter escrita por MrsHepburn, loliveira


Capítulo 18
Vida Complexa




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De alguma forma, a banda descobriu sobre o meu flashback e Cyrus também, então as coisas voltaram a serem horríveis bem na semana do meu aniversário. Connor deve ter contado para eles, então eu guardo todo meu ódio para ele agora e ele nem liga, feliz demais com Ashley e sua relação estabilizada. Ando pela escola, na terça feira como um zumbi, sem olhar pra ninguém no corredor e fugindo de Cyrus, principalmente.

Veja bem, ele era meu melhor amigo. E tínhamos uma relação legal antes por isso quando eu voltei, nada realmente mudou. Mas a regra agora era que a gente não conversava sobre as merdas da minha vida, uma vez que todo o resto do mundo conversava sobre as minhas merdas e eu podia ter uma folga disso quando estávamos juntos. E era legal, poder esquecer disso e conversar sobre música com ele. Mas agora, nem ele consegue ignorar quão miserável minha vida está e começou a se comportar diferente, sem conseguir esconder a pena e isso é insuportável. E para não falar algo que eu não devo, prefiro ficar calada quando estamos juntos, e ele por sua vez, fica com Alana, e parece bem contente.

Isso me fez perceber quão insignificante eu posso ser. Uma vez eu li que isso era uma coisa boa, não ser importante pra ninguém e assim poder fazer o que bem entender, mas não é uma coisa boa pra mim. Ou pelo menos só preciso de tempo pra me acostumar, já que já se passaram dois anos desde que eu estou me sentindo assim, e só agora percebi de verdade. Não quero ser dramática, apesar de que segundo a senhorita Birkin, essa é uma das qualidades de um artista, mas a questão é essa:Todo mundo tem alguém.Todo mundo tem alguém pra pensar no final da noite, alguém pra esperar, amar e confiar e alguém como apoio, e então eu me pego no refeitório comendo minha maçã e lendo um livro que eu nem gosto e não estou prestando atenção, me sentindotão sozinha quanto um ser humano pode ser.Não invisível. É como se as pessoas pudessem me ouvir, me ver e simplesmente não ligassem. E depois, no clube de música, todo mundo pratica as harmonias juntos, e eu consigo ver eles rindo como um time finalmente, cooperando (menos o Babaca, como sempre) e evoluindo, com a banda ajustando os arranjos da canção e eu só olho, incapaz de fazer alguma coisa útil. Eles me olham, preocupados, e mesmo que não saibam da mais nova descoberta, eles sabem sobre o acidente e posso ouvir eles pensando "O que há de errado dessa vez?" e por um segundo, eles ligam. E então, seus próprios problemas e suas próprias vidas sugam eles outra vez e eu fico sozinha, tendo que cuidar de mim mesma. Não sou hipócrita. Sei que é importante cuidar de si mesma e sei que Connor sacrificou tudo por mim, mas ele, no final do dia, tem Ashley, e no final do dia, eu tenho eu mesma.

E meus níveis de amor próprio estão entre inexistentes e sofríveis.

Basicamente, estou um saco. E sei que isso vem de vários fatores diferentes, como o fato de ser meu aniversário em dois dias, e eu ter parado de tomar as pílulas felizes, e que eu descobri que alguém pode ter abusado do meu corpo e eu nem mesmo lembro disso em sã consciência porque eu estava chapada demais, o que me leva a mais um episódio de A Culpa De Carter Hallaway, focado no acidente dos meus pais.

Max está me deixando maluca. Ele parou totalmente de falar comigo e nem olha na minha cara, e mais uma vez, tudo bem, eu aceito a punição, mas eu queria não adicionar isso pra lista de porcarias dessa semana.

-Carter? -Birkin pergunta, e sou forçada a levantar os olhos. Todo o grupo me encara, e eu mantenho minha expressão séria.

-Sim? -Soo como um ser humano normal, então isso é uma coisa boa.

-As aulas de dança vão começar semana que vem para o ensaio das Regionais, quarta feira, tudo bem?

-Tá bom.

-Na sala de dança.

-Tá bom.

-Você quer falar algo para eles?

-Não hoje. -Respondo, mas depois me sinto meio culpada. Ou mais culpada, se isso é possível. -Mas vocês foram maravilhosos hoje. -E isso deixa-os contente.

A aula termina, pego minha mochila, desvio de Naomi e Clark, conversando e quando saio pela porta do auditório, Marco e Max estão ali, conversando baixinho, parecendo amigos outra vez. Nem lembrei de perguntar porque estavam brigando, pra começo de conversa. Marco acena com a cabeça, com os lábios pressionados em uma linha e a testa franzida, e Max olha pra baixo. Espelho o aceno, e entro no carro de Connor, em silêncio. Ashley está no banco da frente, ao seu lado, olhando pela janela.

Eu quero a minha mãe.

Antes de irmos pra casa, passamos na escola de Chaz e mais uma vez sou atraída para a sala de música das criancinhas, dessa vez cantando "You Are My Sunshine" com uma professora diferente daquela que eu vi, na última vez.

Connor finalmente conseguiu os documentos que precisava para trancar a matricula de Chaz e então, a gente vai pra casa.

A noite, Jill me liga.

-Você está bem, Carter? -Ela parece genuinamente preocupada, o que me dá um aperto no coração.

-Não muito.

-Max disse pra mamãe que alguma coisa tinha acontecido com você, mas eles não me deixaram ouvir o resto da conversa. -Nessa hora, eu decido uma coisa. Algo que vai deixar Harvey orgulhosa. A única maneira de fazer a situação e real e assim, poder lidar com isso de frente, é falando sobre isso. E, mesmo que eu não queira assustar Jill, talvez seja uma boa ideia contar para ela, porque assim pelo menos ela vai saber que não é uma boa ir para festas e se drogar com dezesseis anos.

-Jill, não fique assustada, tá bom? -Pergunto, o que é inútil, uma vez que eu mesma estou assustada.

-Agora estou ficando assustada. -Ela diz.

-Você lembra daquelas festas que eu costumava ir, certo?

-Certo.

-Eu... eu costumava usar... drogas nessas festas. Aliás, nunca use drogas. Por favor. E então, em uma dessas festas, um cara acabou... me tocando contra minha vontade. -É uma boa maneira pra se colocar? O outro lado da linha fica em silêncio. -Jill?

-Eles te levaram para um quarto? -Fico confusa.

-Não foram eles. Foi um cara. Mas eu não lembro direito. E não sei como terminou, porque não lembro.

-Quem, Carter? -A voz dela é ansiosa.

-Eu sei o rosto dele, mas eu não sei o seu nome. Se acalme.

-Hm, tenho que desligar. Tchau. -Jill fala rapidamente, e então desliga.

Que ótimo, assustei ela.

Vou dormir oito horas da noite e consigo durar a noite toda, por causa de um sonífero.

Quarta feira é brutal, mas por um motivo razoável: Bernard.

Eu não vou para a aula de manhã, e nos encontramos na praia, embora ela esteja de salto alto e terno, então ficamos sentadas em um banco de pedra, a alguns metros da praia, tomando café e ela come um sanduíche, e eu não como nada por estar nervosa demais.

-Você tem consciência de que estamos fora do meu ambiente de trabalho, então, se quiser levar quaisquer problemas que eu vou relatar, vai ter que ir até a clínica e então poderei documentar tudo isso? O que eu falar aqui é irrelevante para qualquer processo e investigação, a menos que seja levado para o meu escritório e durante meu horário de trabalho.

-Eu entendo. Doutora Bernard, fui sua paciente por quase dois anos. Só fala alguma coisa.

-Quando você chegou, fizemos o teste patológico, que revelou a depressão. Depois, a partir dos nossos encontros, você me revelou que usava drogas e bebia bastante, principalmente nas festas. Fiquei curiosa sobre isso, principalmente depois de você me dizer que tinha uma boa vida SEM tudo isso. Mas você não soube me contar porque cometia tais ações e que todas as festas eram caóticas demais, porém você parecia gostar, então encaminhei um outro teste para você. Muito parecido com a hipnose, só que usamos métodos medicinais, como um certo remédio que te faz falar, e desbloqueia memórias que, em sã consciência, você não quer lembrar. O cérebro é uma ferramente de autoproteção muito eficaz, Catherine, ele pode mesmo bloquear memórias a todo custo que seja preciso medicamentos para forçá-lo a liberá-las, mesmo que certas memórias causem danos emocionais e mentais. Para sua sorte, você estava grogue, então não lembra de verdade do que lembrou ou me falou naquele dia, mas eu documentei tudo.

-Sem querer ofender, Doutora, mas pode ir direto ao ponto? -Ela respira fundo.

-Você não foi estuprada, Carter. Fizemos exames corporais. Embora você já tivesse relações sexuais, o que dificultou nosso trabalho, mas, se tivessem sinais de abuso, apareceriam. O que aconteceu foi que você enlouqueceu e usou toda sua força para fugir dali, o que é normal em situações em que você está drogada. O corpo libera forças acima do que você está acostumada a usar e foi por isso que você conseguiu sair. Naquele teste, foi isso que me revelou, mas não comentou que estava assustada ou traumatizada, talvez porque não lembrasse disso em sã consciência. Nas sessões normais, cheguei a lhe perguntar sobre o garoto que te beijou, mas você não lembrava e eu não conseguiria chegar mais afundo no assunto. Então resolvi seguir em frente com os problemas dos seus pais e os seus traumas, como o da bebida e de dirigir.

Uma onda de alívio me atinge. Meus olhos se enchem de lágrimas e eu agradeço silenciosamente por ter saído daquele lugar.

-Antes de vir para cá, estava olhando na sua ficha de paciente e percebi que seu aniversário é amanhã. Feliz aniversário, Carter. Acho que já recebeu seu presente. -Ela sorri, profissional e eu me sinto tão leve que eu podia andar sobre as ondas sem afundar.

-Obrigada.

-Bem, se não se importa, preciso pegar um voo agora. Alguém vem te buscar?

-Meu irmão.

-Mande lembranças a ele.

-Pode deixar. Adeus, doutora Bernard.

-Tenha uma boa vida, Catherine. -Ela entra no carro, dá partida, e me deixa ali. Literalmente sozinha, embora pareça menos pior agora, tenho que admitir. Fico um bom tempo assim, antes de ligar para Connor.

Muito obrigada por não ter feito besteira. A voz aparece. Dessa vez, não é a minha voz, é mais a voz gentil do meu pai e da minha mãe, o que me reconforta e ao mesmo tempo me deixa chorando ali no banco, encarando a praia.


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Notas finais do capítulo

NÃO PENSEM QUE A CONFUSÃO ACABOU ISSO É SÓ O COMEÇO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! BYE!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!