15 anos atrás, NY

– Papai, papai! - Kiera pulava para cima e para baixo tentando chamar a atenção do pai, que estava ocupado lendo uma notícia no jornal. - Papai, olha o que eu fiz!

Charlie coloca o jornal em cima da mesa da sala e olha para a filha. Um sorriso forma-se instantaneamente nos lábios do pai.

– O que temos aqui, corujinha? - pergunta Charlie, pegando a filha no colo e analisando as mãozinhas sujas de tinta da mesma.

– Eu pintei a minha blusa da Barbie - diz a menina, dando um sorriso que, para quem não a conhecia bem, acharia inocente. - A mamãe sabe que eu não gosto dessas roupas cor-de-rosa! - cruza os bracinhos e faz um bico - Só porque eu gosto das bonecas não quer dizer que eu quero me vestir como elas. O Batman é bem mais legal, e o Ky sempre ganha roupas do Batman, por que eu ganho da Barbie? - pergunta com uma expressão torturada no rostinho.

Charlie ri da menina, que sempre gostou mais das roupas e brinquedos do irmão do que os seus próprios.

– Porque você é uma princesa, corujinha. E as princesas usam roupas cor-de-rosa, não roupas do Batman.

– Mas eu não quero ser uma princesa! - exclama fazendo o beicinho novamente. - O Batman é um herói, ele salva as pessoas. As princesas são salvas, e eu não quero ser salva, quero salvar.

O pai solta uma gargalhada enquanto analisa a blusa da filha. Não era possível que uma menininha de cinco anos preferisse ser o Batman à Barbie, a ponto de pintar um morcego sobre a coroa da Barbie que estampava a sua blusinha cor-de-rosa.

– Tudo bem, vamos fazer um acordo. Mas você tem que acreditar em mim, tá bom?! - a criança assente - As princesas nem sempre precisam ser salvas. - o pai começa - Eu conheci uma princesa que ajudava as pessoas e usava roupas cor-de-rosa. - a menina faz um pequeno "O" com a boquinha - Sim, é verdade. Não é a roupa que vai fazer com que você tenha que ser salva ou salvar alguém, mas sim o que você quer ser. Você pode usar as roupas que a mamãe compra para você, e ainda assim, ajudar o seu irmão a salvar as pessoas. O Batman tem um parceiro, o.. - o pai tenta lembrar-se do nome, mas a filha o interrompe antes que ele possa falar.

– O Robin! - exclama a pequena.

– Sim, o Robin. Então, você pode ser a parceira do seu irmão. Ele pode ser o Batman e você a Princesa Guerreira. Você poderiam ajudar muitas pessoas ou animaizinhos e você ainda usar cor-de-rosa. Então, este é o trato: você não vai mais pintar suas roupas, porque Deus me ajude, sua mãe vai ter um ataque cardíaco quando ver mais uma blusa pintada, e também ajuda o seu irmão, sendo a parceira dele. O que acha, corujinha?

Os olhos da pequena brilharam de tanta empolgação para contar à Kyle que ela seria a nova parceira dele. Kiera deu um beijo na bochecha do pai e saiu correndo atrás de Kyle, para falar que mesmo usando rosa, ela ainda poderia pisar nos pés dos "bandidos malvados", como ela costumava chamá-los.

O pai fica apenas olhando a filha afastar-se. Um pouco melancólico, percebe que a menininha que pegou no colo quase seis anos antes, não é mais uma boneca. Kiera estava cada vez maior e mais inteligente. Sua menininha estava crescendo.