Sr. Finley só podia estar de brincadeira.

Depois do mal entendido no meio da rua a caminho da faculdade, Kiera resolveu focar-se na aula com o Sr. Finley ao invés de ficar imaginando o motivo de Dylan ter vindo para NY. Obviamente, isso era impossível. Ela não conseguia parar de questionar-se. Por que ele saiu de Miami? Porque, qual é, se o Kyle acreditou naquela desculpa que a vó dele o expulsou, ele é muito otário, pensou Kiera. Lembrando-se de como era Dylan, formou vários cenários em sua mente, indo do tráfico de drogas até o roubo do Banco Central de Miami. Só podia ser algo assim, ou ele não viria para cá, pensou. Enquanto divagava razões plausíveis, Sr. Finley continuava a falar coisas que não lhe interessavam. Não lhe interessavam até ela escutar a palavra “projeto de fim de semestre” e “novo instrutor”. Olhando com curiosidade o professor, começou a prestar atenção ao que esse dizia.

- Vocês terão dois meses para terminar o projeto de jornalismo. Vocês vão criar uma matéria sobre algo que está ocorrendo recentemente e aprofundar-se no assunto. Terão de fazer entrevistas, pesquisas e um relatório final escrito mais um vídeo. Nesse vídeo vocês farão um tipo de documentário, explicando o projeto que escolheram e também as entrevistas. Como vocês já sabem, esse não é um trabalho obrigatório, mas a não ser que vocês queiram me ver novamente no próximo semestre, eu sugiro que vocês façam. Para a alegria de alguns e tristeza de outros, esse projeto valerá 60% da nota do semestre – falou Sr. Finley com um sorrisinho arrogante. Os alunos que estavam “tristes” gemeram. Já aqueles que sempre iam bem em qualquer trabalho e amavam o Sr. Finley, estavam praticamente dando pulinhos. Isso irritou Kiera. Ela, obviamente, era do grupo dos infelizes.

Kiera já estava entrando em pânico, pensando que teria de provavelmente fazer um transplante de cérebro para conseguir fazer esse trabalho e não ter de repetir a cadeira, quando Sr. Finley pigarreou para chamar atenção.

- Queridos alunos, - começou. Falso, pensou Kiera – vocês terão tempo para discutir seus projetos fora da sala de aula. Agora, vou apresentar a vocês, o instrutor de que falei. Para aqueles que já estão quase arrancando os cabelos de tanta preocupação, isso provavelmente será um alívio. Eu, como professor, não poderia deixa-los a mercê em um trabalho tão importante. Então, consegui um instrutor para auxiliá-los na produção deste projeto. Cada aluno que considerar que precisa da ajuda dele, terá de marcar uma hora para se encontrarem durante a semana para discutirem o projeto. Tendo dito isso, quero apresenta-los seu futuro instrutor, Sr. Husty.

Nessas horas Kiera já estava praticamente dormindo de tanto tédio. Mas a menção do sobrenome conhecido deixou-a alarmada. Levantando a cabeça que antes estava apoiada em seus braços sobre a mesa, olhou na direção da porta.

Assim que o instrutor entrou, não sabia se saía correndo ou se fingia-se de morta ali mesmo. Pensou em uma terceira opção, na qual se limitou apenas em gemer baixinho e amaldiçoar Deus por esses joguinhos sórdidos.

Bem a sua frente, estava Dylan Husty.

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Dylan entrou na sala confiante. Até onde sabia, todos ali dentro eram só alunos do segundo ano, com exceção do Sr. Finley. Posicionou-se ao lado dele, em frente à classe.

Os olhares de todos os alunos estavam sobre ele e sentiu-se como se fosse o novo brinquedo de uma criança. Olhando para eles, pensou que já era hora de se apresentar.

- Olá, eu sou Dylan Husty e me formei em Jornalismo no ano passado na Universidade de Miami. Estou aqui para ajuda-los com o projeto de fim de semestre, e qualquer dúvida vocês podem questionar-me.

Sentindo-se mais confiante, permitiu-se analisar os alunos. Seu olhar foi passando cuidadosamente por alguns, que mesmo querendo esconder, Dylan percebia que se encolhiam sob seu olhar. Quando continuou sua análise, paralisou. Seus olhos castanhos se encontraram com os verdes que sempre lhe tiraram o fôlego. Kiera olhava-o com um quê de descrença – provavelmente por não acreditar que o destino pudesse fazer isso com eles – e outro de raiva. Ele não gostou desse último, porque ao descobrir que causava esse sentimento em Kiera, percebeu que ela não o tinha perdoado. Não, pensou entristecido, ela não chegou nem perto disso.

Para não complicar as coisas, resolveu deixar seu olhar cair sobre outro aluno antes que fizesse alguma bobagem. Entretanto, uma mão levantada o fez retornar o olhar.

- Sim? – perguntou a Kiera, já temendo sua pergunta por ela ser um pouco impulsiva. Que ela não traga nossas desavenças para a sala de aula, implorou silenciosamente.

- Eu gostaria de saber, - começou desafiadora – por que o Sr. Husty veio para cá ser instrutor, quando ele poderia muito bem ser um lá em Miami?

Olhando-a com divertimento, ponderou sua resposta. Ele sabia que teria de responder essa pergunta cedo ou tarde a ela. Só não esperava que tivesse de fazê-la na frente de uma classe inteira.

- Porque, Srta. ..? – perguntou-a com um sorriso no rosto.

- Haver. Kiera Haver – respondeu já ficando vermelha de raiva.

- Porque, Srta. Haver, o estágio em NY parecia bem mais interessante – respondeu-a simplesmente.

Dylan já podia ver Kiera levantando-se da cadeira e indo lhe dar um tapa muito bem dado na cara. Porém, ela apenas o observou e deu um aceno de cabeça como quem compreende.

Lembrando-se da Kiera que ele conhecia das férias de verão, alguns anos atrás, estranhou a atitude. Contudo, resolveu aceitar isso, afinal, era melhor do que ela sendo suspensa por agredir o novo instrutor.