Não, eu não morri. Minha mãe me colocou de castigo. Sem ligar o computador até o dia do teste. Resumindo, dez dias sem meu facebook, meses sem um celular, não tinha comprado nenhum livro, então, o que me restou  foi a TV, o que não era bom já que só falava do terrível dia da tortura, do teste, já nem sei mais do que chamar, confesso que estou ficando com um pouco de medo, não quero ter um dragão, não sou bom com animais. Da ultima vez que tive um cachorro - um pastor alemão com pelos meio marrons, meio mel - deixei ele comer alguns pedaços de pizza, o que resultou em uma doença que não lembro o nome, e tive que sacrificar o meu pobre animalzinho.

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Hoje é dia 8 de agosto, faltam 7 dias, já é impossível andar na cidade sem ouvir murmurinhos sobre o tal grande dia, o que me deixa muito nervoso, os homens que dizem ter passado por esse teste começam a contar histórias sobre escadas infinitas, filas e filas de meninos, as mães aflitas do lado de fora do Salão Nacional, algumas desejando que o bendito dragão escolha seu filho, fofocando sobre o capitulo da novela na noite passada, e outras simplesmente esperando que o filho possa voltar pra casa, inteiro, intacto, sem essa loucura de dragão.

Na minha escola, entro e vou direto pra sala de aula, ainda não me recuperei da queda na livraria. Deborah e Frank estão realmente namorando, mas deve ser por pouco tempo, já que a Deborah ganhou as Olimpíadas de Matemática e vai passar alguns meses em outro estado para fazer um curso.

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- E aí, qual é a resposta da 7? - sussurrou Gustavo da cadeira ao lado.

- Eu não sei se respondi certo, mas coloquei a B - respondi com pouco entusiasmo.

- Estou ouvindo uma conversinha, por favor, desliguem os celulares e esqueçam seus amigos, eles não sabem de nada - disse o senhor Antony, meu professor de história, tentando ser engraçado.

Na hora do intervalo, desisti de comprar um lanche na cantina, aquela lojinha pequena e feia está cada dia mais cheia. Henrique e Jorge estão fazendo seus planos, tentando pensar em palavras mágicas para abrir o ovo de dragão. Na boa, eu queria muito que abrisse pro Jorge, ele é de uma família pobre, tem que comer a comida do refeitório todos os dias, e não pode ter tudo o que quer, seria muito bom para ele e para a família dele ter um pouco de fama.

Finalmente fui pra casa, peguei um livro que já tinha lido faz um tempo, deitei no sofá e comecei a ler. Depois de uns quinze minutos caí no sono, o que foi bom, já que não tinha nada pra fazer.

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11 de agosto. Estou cada vez mais perto de me apresentar para um ovo, não acredito que temos mesmo que fazer isso. Não entendo o porque dessas pessoas terem tanto interesse em um dragão. 

Já passava das nove da noite, quando na TV começa a tocar uma música de plantão. Meu pai vem correndo do quarto para ver a notícia, o rosto da minha mãe ganha uma expressão de medo, angústia e terror. Nunca tinha visto ela sim, e só ouvi essa música tocar na TV quando tinha uns cinco ou seis anos. A voz da apresentadora era uma daquelas vozes de tele-mensagem e dizia:

-Atenção rapazes de Mercinatti, o nosso querido e amado presidente, Leonard Koaress, anunciou hoje, do Salão Nacional que deverão comparecer as teste somente meninos de 16 anos..

Ótimo. Eu ainda preciso ir fazer aquela besteira, o sonho de Jorge foi arruinado, ele tem apenas 15 anos. Henrique deve estar super feliz por ter completado 16 uma semana atrás. 

- Foi encontrado um antigo pergaminho, esclarecendo alguns requisitos para o dono do dragão, infelizmente estava danificado, e a única frase que conseguiram traduzir foi: "O incrível dono desse dragão terá apenas 16 anos e será imprescindível para o futuro de Latam."

Alguns minutos depois do aviso, foi como se nada tivesse acontecido, todos voltaram a sua vida normal, continuaram a fazer o que estavam fazendo.

Mas, e agora? Quantos meninos estarão lá no Salão Nacional no dia quinze? Um pergaminho nunca tinha sido achado, será que é agora que esse ovo vai se abrir? - as perguntas fervilharam dentro da minha cabeça.

O medo tomou conta de mim.