Sim, era ele, Frank Ware, o garoto mais cobiçado pelas meninas, e o terror de muitos meninos como eu. Ele é bom em quase todos os esportes - menos basquetebol–, e consegue tirar notas boas simplesmente pelo fato de que alguém nega fazer sua lição de casa, ou passar uma colinha na hora da prova, acaba com um olho roxo, alguns hematomas pelos braços, e uma perna quase quebrada.

*****

Cheguei mais perto e cumprimentei a todos com um simples "Oi pessoal", algumas pessoas nem ligaram, algumas responderam com um breve "Oi".

- Muito transito pra chegar? - me perguntou o pai da Carol

É, muita confusão nos preparativos pro dia da tortura– como eu e meus amigos costumávamos chamar o dia do teste– e também saí um pouco atrasado de casa. Nós dois demos uma risadinha discreta e eu fui logo para a rodinha dos meus amigos.

– E aí cara , tá preparado ? - Disseram Jorge e Henrique em uníssono.

– Ainda bem que você chegou - desabafou Gustavo - esses caras não param de conversar sobre o dia da tortura.

– Vai me dizer que você não é louco pra ganhar um dragão de estimação? Só espero que seja macho, porque..

– Macho ou fêmea tanto faz! - interrompeu Jorge– O que mais quero, é descobrir que segredos estão escondidos por trás disso.

*****

A livraria era o sonho de qualquer leitor, centenas e centenas de prateleiras de livros. As meninas foram direto para uma seção de livros de vampiros, aqueles romances melosos que me dão dor na barriga. Jorge, Henrique e um primo dele, aluno do primeiro ano, foram correndo para a seção de livros sobre dragões, eles estavam obcecados por aquele ovo que durante anos e anos não se abria, estavam crentes que o destino do dragão tinha a ver com eles. Gustavo sumiu antes que eu pudesse perguntar aonde ele ia, e então eu fiquei parado um pouco depois da entrada da livraria igual uma mosca morta. Foquei na Deborah, que estava andando abraçada com Frank, deduzi que eles estavam namorando, e decidi ter a certeza, foi aí que eu decidi ir atrás deles. Estava prestando tanta atenção no quase casal que não percebi uma placa e tropecei nela, pisei dentro de um balde cheio de água e por fim caí no chão, olhei para a bendita placa amarela, nela estava escrito "CUIDADO, PISO ESCORREGADIO E OBJETOS DE LIMPEZA!" em preto. Quando me dei conta do que realmente tinha acontecido, olhei em volta, cerca de quinze ou vinte pessoas se segurando para não rir da minha cara, e uma funcionária que não sabia se me ajudava ou brigava comigo. Resolvi levantar, já que não recebi nenhuma ajuda, agora eu tinha uma perna molhada, uns três livros caídos na poça de água causada por mim, e um grande prejuízo. O meu celular novo, no qual minha gastou mil e poucos reais, estava na água junto com os livros.

O gerente concordou em não me cobrar nada, já que o meu prejuízo tinha sido muito maior. Saí imediatamente da livraria e fui direto para o ponto de ônibus. Gustavo estava correndo atrás de mim, resolvi não esperar por ele, não tinha pedido a companhia de ninguém. Depois de aproximadamente um minuto ele me alcançou.

– Cara, eu sei que o aconteceu é muito vergonhoso para alguém da sua idade, quer dizer, pra qualquer pessoa! Mas você não comprou nada, eles estavam com promoções muito boas ..

Logo interrompi.

– EU NÃO SEI SE VOCÊ PERCEBEU, MAS O CELULAR QUE A MINHA MÃE ME DEU NA SEMANA PASSADA ESTÁ ESTRAGADO POR CULPA DAQUELE BALDE! ACHO QUE A PALAVRA COMPRAR NÃO VAI ESTAR NO MEU DICIONÁRIO POR UM BOM TEMPO! SEGUNDA FEIRA A GENTE SE VÊ, SE EU ESTIVER VIVO.

Peguei o ônibus de volta pra casa, ainda era meio dia e quinze, mas eu já podia ouvir os berros da minha mãe chegando em casa às sete reclamando por eu não ter atendido nenhuma das ligações dela, e me dando a sentença do castigo por ter estragado meu celular novo.

Estou morto– pensei.