Em pouquíssimos dias ali, Bulma já tinha: tido grandes surpresas, criado um intercomunicador, usado uma maquina do tempo, beijado um homem mais velho e agora, estava a um passo de entrar numa festa.

Muitas aventuras para pouco tempo! E era o tipo de aventura diferente do qual ela estava habituada. Porem bem lá no fundo, estava gostando de tudo aquilo.

O local não era grande, como quando ocorriam festas na Corporação. Mas tinha bastante iluminação e parecia mesmo — para todos os efeitos — uma festa!

Assim que os três entraram, uma garota espalhafatosa e animada se jogou em seus braços. Bulma recordava levemente dela.

— Já voltou!

— Oi? — perguntou em resposta.

— Ahn, é a Bulma. Por um momento pensei que Bra tinha voltado.

— Tudo bem. — ela a tranqüilizou.

Certo, a menina era filha de Kuririn, Bulma se lembrou do dia em que chegou nesse tempo e fora na casa do Mestre Kame, e essa mocinha estava ao lado de outra loira.

Olhou para os lados e Trunks parecia levemente nervoso. Então... Ah... Era ela a sortuda.

E parecia que a menina não tinha sacado sua sorte, bom, tem mulheres que não nasceram com um poder de sedução tão forte como o de Bulma, mas essa loirinha teria de perceber sozinha!

Tantos rostos desconhecidos, tanta gente que ela julgava conhecida e agora estavam envelhecidos.

— Ei Vegeta você veio! Oi Bulma, essa é a Pan minha neta. — Goku disse.

— Vovozinho, então essa é a senhora Bulma mais jovem?

Era a aniversariante, Bulma sabia, e por mais que fosse adolescente, lembrava uma criança em vários efeitos.

Talvez estando ao lado de Goku, que agora tinha voltado a ser criança.

— Ei Bulma, sou a Videl.

Era quase o mesmo que uma grande interrogação crescendo na cabeça de dela. Já que essa moça não era tão acabada quanto seus amigos, e parecia inteirada de sua pessoa.

— Ér... Olá.

— Sou a esposa de Gohan. — ela apontou para o rapaz.

Ah, o filho de Goku! Certo, ela recordava disso. E se essa era a mulher de Gohan, também era a mãe da aniversariante.

— Um prazer em te conhecer Videl.

— Ela nem mudou tanto... — outra voz ecoou um tanto desdenhosa.

Bulma olhou para a senhora, parecia nervosa e a encarava de ponta a ponta. Ela também sentia que devia ter uma forte rincha com ela, porem uma grande amizade. Era estranho ter algo tão contraditório, mas que ao mesmo tempo as completava.

— Vou levar isso como um elogio.

— Não era pra levar como elogio.

— Como não poderia? Acabou de dizer que não mudei tanto, então quer dizer que quanto for velha, ainda serei linda e maravilhosa!

— Não foi com esse sentido! — ela respondeu mais arisca.

A mais jovem empinou o nariz.

— Esta sentindo inveja!

— Não teria inveja de você, nunca. Pode estar agora mais jovem, porem sempre será mais velha do que eu!

— Mãe, pare de bobeira.

O filho mais jovem de Goku resmungou. E parecia ter dificuldades de tirar os olhos da mulher do senhor Vegeta.

— Mãe? Então você é a Chichi. Bom quem diria que aquela garotinha chata ia crescer e continuar chata! — Bulma respondeu, dando língua para ela.

A festa rolava solta entre os “meros mortais”. Mas nesse grupinho da discórdia parecia bem mais quente.

— Eu chata? Eu? Você que sempre foi um a metida!

— Nunca fui metida coisa nenhuma!

— E oferecida. O-F-E-R-E-C-I-D-A. Sempre querendo o meu Goku!

— Goku? Mas... ECAAAAAA!

— Ele mesmo, não é Goku?

O mesmo se atentou na conversa somente agora com a menção do seu nome, já que a comida parecia bem mais interessante do que qualquer papo.

— O que Chichi?

— Saiba que no meu tempo, Goku tem quatorze anos sua maluca!

— Ah, é? — Chichi perguntou, ficando instantaneamente mais calma.

Quando soube que tinha uma Bulma “jovem” e que — segundo seus filhos — era ainda mais bonita que a Bulma original. Era ficou nervosa.

Se Bulma tivesse descoberto algo para deixá-la jovem e não a consultou, Chichi terminaria a amizade!

Viver com saiyajins era complicado, e o fator mais difícil era o deles não envelhecerem na mesma proporção humana. Como ambas casaram com companheiros da mesma idade, a diferença agora era enorme.

Sabia que Bulma tinha a mesma preocupação, ou uma ainda maior.

“Não quero parecer sua mãe!” — Chichi a ouviu dizer uma vez para Vegeta.

E Bulma falar isso preocupava ainda mais a esposa de Goku, já que apesar de mais velha, Bulma parecia ainda mais conservada do que Chichi. Talvez pela facilidade em remediar as coisas.

E quando queria atacar Bulma em qualquer situação, bastava insinuar que ela teve algum interesse em Goku.

Se esse interesse um dia existiu, Chichi desconhecia. Se houve algo entre os dois ela também desconhecia e preferia nunca saber. Apesar de duvidar. Goku era inocente demais quando se casaram.

E Bulma sempre fora inocente de menos. Ate mesmo essa versão juvenil.

— Vou lembrar-me de prevenir o Goku quando voltar. — ela disse, ainda não esquecendo.

— Só estava curiosa.

— Sei...

Bulma sentiu algo vibrar na bolsa que carregava. E foi para a parte mais afastada da festa, sendo seguida por Vegeta.

— O que pensa que esta fazendo?

Ele nem respondeu. Apenas encostou-se a parede com braços cruzados.

Vegeta era estranho em vários aspectos, e parecia visivelmente fora de “foco” entre as pessoas. Na verdade ele sempre a encarava, de inicio, imaginou que era porque era maluco.

Depois percebeu que ele seguia seus passos. Então podia ser alem de maluco, um maníaco.

Mas o vendo encostado na parede, algo clareava sua mente.

Vegeta só funcionava com Bulma!

Era algo que ela nunca falaria em voz alta, algo que talvez ele nunca percebeu ou nunca admitiria. E que COM CERTEZA sua versão do futuro conhecia muito bem. Uma fraqueza.

Vegeta não lidava e interagia com todos como, por exemplo, Trunks fazia.

Ele tinha que estar perto do que conhecia. Confiava.

Era manipulado por Bulma.

E o fato dele se atentar a ela — mesmo não sendo a esposa oficial dele —, deixava claro que o mesmo nunca sacara isso. Era um espelho estranho e inverso.

Ela pegou o aparelho intercomunicador que carregou na bolsa caso alguém do outro tempo fizesse contato, mesmo duvidando disso já que o mesmo parecia ter dado os últimos suspiros no passado. Ele que tinha vibrado, e uma mensagem aparecia na tela.

“Falta apenas mais uma esfera, amanha isso termina”. B.B

— Era dela.

— Dela quem?

— Bulma.

— Como pode mais uma vez não me deixar falar?

— Ela mandou uma mensagem, deve ter feito algo que fez o intercomunicador funcionar mesmo que rapidamente.

— Claro que fez, ela é mais inteligente do que você! — ele disse com frieza.

Bulma deu um sorrisinho para ele. Será que Vegeta não percebia que isso não era provocação, e sim um elogio?

— Falta a ultima esfera, disse que amanha isso termina. Então amanha eles devem invocar Shenlong.

— Serio?

— Sim, veja.

Ela estendeu o aparelho e Vegeta leu a mensagem por pelo menos cinco vezes.

B.B.

Sua Bulma apenas um dia de distancia, mal podia acreditar. Não, não mesmo.

Era bom demais.

— Essa festa me cansou.

— Vamos embora então.

— E Trunks?

— Ele sabe muito bem se virar sozinho.

— Vamos pegar a cápsula...

— Deixa de bobeira garota!

Ele agarrou na cintura, e antes de conseguir dar um gritinho, Bulma se viu no ar.

Voando numa velocidade tremenda, passando por pontos que conhecia tão bem. Estava habituada a sobrevoar com naves. Porem assim era fantástico!

— Vegeta isso foi... Perfeito! Obrigada. — murmurou o abraçando, assim que chegaram.

Vegeta percebeu que ate mesmo de carregar Bulma ele sentia falta, apesar dessa versão ser bem mais leve. Não que sua esposa estivesse acima do peso, mas essa menina era menos avantajadas em partes exatas do que sua Bulma.

— Não foi nada. — ele murmurou soltando os braços dela de suas costas.

Estavam próximos demais, ele não queria achar isso bom.

— Eu realmente quero te conhecer logo!

— Dez anos.

— O que? O que disse?

— O tempo que falta ainda, dez anos.

— Esta dizendo que só vou te conhecer daqui a dez anos? — ela perguntou um tanto desolada.

— Isso.

De repente se desesperou.

— Não. Vou fazer algo, vou te encontrar antes. Não tem porque perder tempo com qualquer outro se vou me casar com você.

— Não vai me achar.

— Como pode dizer isso? Posso criar o que quiser, saiba disso.

— Eu vou te achar. E Bulma, você não vai gostar de mim quando nos conhecermos.

— Impossível... — ela murmurou.

Afinal Vegeta tinha esse jeitão, mas ela já sentia algo reprimido por ele em tão poucos dias que...

— Não, não posso te odiar.

— Mas vai, e vai sentir medo.

Ela se aproximou novamente, agora buscando um consolo, buscando os lábios dele, porem Vegeta se afastou.

— O que foi?

— Não posso fazer isso, não é certo.

A resposta era prevendo que o próximo passo dela seria lhe beijar, como fez no dia anterior em seu quarto.

— Sabe de uma coisa, posso ser jovem, mas entendo o que acontece. Vegeta as coisas boas se desgastam, é um traço muito ruim e triste do ser humano, talvez um traço de todos os seres. Podem viver quinze ou vinte anos juntos. Mas se vierem a se separar, poucas lembranças boas são mantidas, sabe por quê? Porque é mais fácil viver com a culpa do que com remorso.

Ela não parou de falar.

— É melhor sempre apontar o dedo do que se olhar no espelho. Não pense que seu casamento vai desandar por causa de um beijo que trocamos, você ama sua mulher, que por sinal sou eu.

— Não é bem assim. — ele disse.

— E não me arrependo. Não é como uma traição. Esse beijo podia ser ate uma noite, eu teria com outro qualquer, ou com Yamcha. Kami... Não trocaria isso. Mas só vou te conhecer daqui a dez anos. E por mais que provavelmente você não me agrade de inicio, lá dentro vou saber que você... — ela apontou para o coração dele. — Que você esta guardado.

Ele nada respondia.

— Cuide bem dos nossos filhos, eu realmente estou animada para essa parte. E cuide do nosso casamento. Meu “eu” do futuro tem muita sorte de ter você ao seu lado.

— Eu... Gosto de você, por incrível que pareça. — ele murmurou atrapalhado nas palavras. — Mas amo a MINHA Bulma.

A garota deu um sorriso sacana, lembrava tanto a mulher dele quando fazia isso.

— Assim que tem que ser.

Era um tipo estranho de despedida. O clima entregava isso.

E mesmo não soubessem, foram as ultimas palavras que Vegeta e a jovem Bulma trocaram.