Capítulo IV

                                                  O Velório

-Hermione,acorda! - Senti uma mão chacoalhando meu ombro.

Resmunguei qualquer coisa e me virei para o lado para voltar para o meu sono.

-Acorde!-Dessa vez identifiquei quem estava me chamando,era a minha mãe.

-Tá cedo,me deixa dormir.-Murmurei e pelo jeito minha mãe havia entendido,pois percebi que sua mão havia abandonado meu ombro e ela soltou um suspiro.

Sorri internamente enquanto me aconchegava mais nos meu cobertores quentinhos, eu estava com um frio do cão.Alguns momentos depois, a claridade invadiu minhas pálpebras me fazendo reclamar sonolenta.

-Que droga,mãe, fecha a porcaria da cortina!Quer me deixar cega?

-Não!Só quero que levante!-Ela rebateu e eu abri os olhos para encará-la.

Ela estava parada na frente da minha cama com os braços cruzados e a expressão séria,ela estava vestida com um vestido preto, o vestido que ela usava em funerais.Mas que droga estava acontecendo?

-O que foi?Quem morreu?-Eu perguntei um pouco mais desperta.

-A Jennet.Mas como você superou rápido,até esqueceu.-Ela disse balançando a cabeça em negação.-Você tem duas horas para se arrumar,nós vamos ao velório.

-Espera!-Eu disse sentando rapidamente na cama.-Nós quem?

-Você e eu.-Eu abri a boca para protestar mas ela levantou um dedo fazendo um sinal pra que eu me silenciasse.-Não adianta reclamar,você tem que ter pelo menos o mínimo de consideração.

-Consideração?Mas eu nem gostava daquela gorda!

-DUAS.HORAS.-Minha mãe disse rispidamente enquanto saia e com força,batia a porta do quarto.

Me joguei de cara no travesseiro enquanto abafava um grito.MEEEEERDAAAAA!!!!

...

-Por que os óculos escuros?Está nevando!-Minha mãe disse enquanto eu entrava no banco do carona no carro e fechava a porta,eu não estava muito afim de dirigir.

-É uma questão de estilo.-Eu menti com uma voz inocente,ou pelo menos foi o que eu quis que parecesse.

Duas horas depois minha mãe eu estávamos a caminho do velório da gorda.Eu estava com uma calça jeans skinny preta,um suéter preto,um longo casaco preto,e uma bota preta sem salto,e claro o óculos escuro.Eu estava com ele porque mesmo depois de dormir,meus olhos estavam vermelhos e inchados por causa do choro da noite anterior. Eu nem tive tempo de abrir meus presentes de Natal!Tudo bem,só tinham dois,um da minha mãe e outro de alguém que eu não sabia,pois nem cheguei a ler o bilhete e a curiosidade já estava quase me matando.

-Vamos ficar só um pouquinho e vamos voltar.-Eu disse como uma sugestão.

-Hermione...

-É Natal!Eu quero ir para casa para comemorar!

-Comemorar?Que tipo de comemoração?Dormir?-Minha mãe perguntou ironicamente.

-É uma ótima comemoração!- Defendi com a voz subindo várias oitavas.

Por incrível que parecesse,minha mãe riu.Eu fiquei chocada,fazia muito tempo que eu não a via sorrir daquele jeito.Ela trabalhava demais,tinha que sustentar uma casa,livrar-se da dor de perder um amor e além de tudo tinha a mim,que convenhamos,não era nada fácil me suportar.

O resto do trajeto até a capela foi corrido em silêncio.Eu olhava para fora e me lembrava de quando eu fiz aquele mesmo caminho cinco anos atrás para o velório do meu pai.Soltei um suspiro pesado e cerrei as mãos em punhos para me concentrar e mentalizar pensamentos felizes.Querendo ou não,eu realmente seguia os conselhos daquele terapeuta idiota.

Quando chegamos ao estacionamento,me surpreendi com o número de carros.My Gosh!Aquela gorda era tão amada assim?Uau.

Minha mãe e eu nos sentamos num dos últimos bancos,até porque não éramos tão íntimas da Philippis.Corri meus olhos rapidamente pelas pessoas que estavam ali e reconheci um pouco delas do jantar da noite anterior.Lá na frente,reconheci a família Malfoy e os Parkinson.Pansy parecia inconsolável secando os olhos com um lencinho e se jogando no ombro do namorado.Mas que garota mais ridícula!Eu pensei enquanto revirava os olhos.

O caixão estava bem no centro,em frente ao púlpito,onde o padre conversava em voz baixa com o Jake que parecia inconsolável.Naquele momento eu senti pensa dele.É,isso mesmo,eu estava com pena do baleia-filho.Qual é?Eu sabia qual era a dor de perder um dos pais,eu sabia que não era fácil, e eu sabia o quanto ele estava sofrendo.Era só por isso.

Logo a cerimônia começou e minha atenção se voltou para cada um dos elogios fúnebres que seus conhecidos iam falando.Na verdade,na verdade,eu nem estava prestando atenção.Deixei que meus pensamentos vagassem para qualquer outro lugar enquanto fingia prestar atenção e balançava a cabeça nos momentos certos.Até que chegou a vez de Jake falar.

Ele andou devagar até o púlpito e assim que chegou lá o padre deu alguns tapinhas em suas costas,e então Jake começou a falar:

-Não acho que posso explicar o quanto minha mãe era especial para mim.Também não acho que algum dia eu vou superar sua morte,talvez o tempo ajude e...talvez não.Eu não sei.-Ele começou a chorar de novo e vi muitas pessoas nesse momento chorando junto.Eu só assentia com a cabeça,porque eu entendia tudo aquilo.-Ela sempre foi uma ótima mãe para mim,uma mãe e também um pai,já que meu pai já se foi também.Espero que eles estejam juntos agora.

E então ele prosseguiu falando sobre coisas da sua infância e de como a mãe dele sempre o amou muito e o apoiou e como ele a amava e essas coisas,até que ele saiu de trás do púlpito e andou até o caixão,percebi que ele estava com um pacote pardo nas mãos.

-E,eu vou deixar uma última coisa com ela,porque eu sei o quanto ela adorava isso aqui.-E apontou para o saco,que agora eu tinha percebido que era do Burger King.Ai,o que aquele tosco ia fazer?-Mãe esse é o seu favorito,é um Whooper Furioso com extra de bacon.Nunca mais vou conseguir comer um desses sem lembra de você.-Dito isso,ele abriu o saco de papel e tirou de lá um hambúrguer e o que ele fez?Ele colocou entre as mãos cruzadas do corpo da mãe dele!

Depois que eu digo que esse cara era bizarro,ninguém acredita!

Depois de mais um tempo de choro e essas coisas,ele se virou para os presentes ali e me encarou com aqueles olhos vermelhos.

-Eu queria que a Hermione falasse algumas palavras.Minha mãe gostava muito dela,e além disso,minha mãe logo seria a sogra dela,não é Mione?-Ele apontou para mim enquanto com a outra mão ela secava os olhos.

Meu queixo caiu e eu nem sabia o que fazer enquanto todos olhavam para mim,alguns até soltaram umas risadinhas.

-Vai logo.-Minha mãe disse me cutucando.

Eu levantei e com passos rápidos me encaminhei até o púlpito de cabeça abaixada.Eu ainda matava aquele gordo.A minha pena havia sumido completamente.

-Ahn...-Eu comecei sem ter ideia do que falar.-Bem...eu...conheci a sra.Philippis quando...eu era criança e...-Mas que droga,droga,droga,droga.-Ela realmente gostava do Whooper Furioso.-Na primeira fila,eu vi Draco rindo descaradamente,mas eu continuei,porque minha mãe me encarava parecendo brava.- E...eu espero que ela esteja feliz onde quer que ela esteja...porque...ela sempre foi muito...carinhosa comigo e...-Eu pigarreei e continuei depois de uma breve pausa,decidi soltar qualquer coisa mesma,eu já estava acabando.-Eu espero que tenham muitos Whoopers Furiosos no lugar onde ela esteja e que ela possa comprar todos de graça.É isso.Vá com Deus, dona Jennet.-Terminei fazendo o gesto de “paz e amor” com as mãos.

Mal terminei e praticamente voei de volta para o meu lugar,meu rosto devia estar mais vermelho do que carro de bombeiros,mas ao mesmo tempo eu sorria.Mas como eu era cara-de-pau!

Depois veio o enterro,que foi igual a todos os enterros que eu já tinha visto:Muito choro,gente de preto,parentes jogando o punhado de terra na cova e depois indo embora quase morrendo de chorar.

Depois que começaram a colocar a terra na cova,eu saí passando por entre as cadeiras,tomando muito cuidado para não tropeçar em nenhuma,o chão estava coberto de neve e eu não queria cair.Saí do cemitério e andei até o lugar onde minha mãe havia estacionado o carro,me encostei no capô e esfreguei minhas mãos uma na outra para tentar aquecê-las.O clima estava todo sombrio e eu tinha a bela vista de lápides e túmulos.É sério,aquilo me dava medo.

-Com frio?

-AHHHHHHHHH!-Eu gritei quando ouvi alguém falar atrás de mim,ao pé da minha orelha.

Virei para trás e antes mesmo de ver quem era,dei um soco acertado no rosto do ser.Um Malfoy com uma cara furiosa levantou o rosto,esfregando a bochecha com a mão.

-Sua idiota!Porque me bateu?-Ele perguntou,como se não fosse óbvio.

-Você ainda me pergunta?Mas que merda,Malfoy!Eu estou num cemitério,sozinha no estacionamento,olhando para os túmulos e vem um otário do nada para me assustar.Foi um reflexo!-Eu soltei enquanto fazia gestos com as mãos.

-Mas que mão mais pesadinha,hein?-Ele reclamou ainda esfregando o rosto que estava muito vermelho.

-Obrigada.-Respondi com sarcasmo antes de voltar a posição que eu estava antes.

Ele se postou ao meu lado,se apoiando no capô do carro também.Como se eu tivesse dado permissão para aquele ser se encostar no meu carro.Por que é que aquele otário tinha vindo falar comigo?

-Ah!-Ele exclamou.-Tinha até me esquecido.Feliz natal.-Ele disse olhando para mim.

-Por que?-Eu soltei sem pensar.

-Porque é Natal!É isso o que pessoas civilizadas fazem:desejam feliz natal umas às outras.-Ele falou como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

-Não,não isso.-Eu respondi negando com a cabeça.-Por que está falando comigo?Por que depois de todo esse tempo?Não dá para me deixar em paz?!-Eu disse rispidamente.

-Eu não sei.Eu simplesmente vim falar com você.É tão ruim assim?

-É!

Ele balançou a cabeça em sinal de indignação e voltou a olhar para frente.Acho que já havia acabado tudo o que tínhamos para dizer.

-Hermione...-Ele começou.

-É Granger!-Eu interrompi corrigindo-o.

-Por que você está agindo assim?-Ele perguntou jogando as mãos para o alto,finalmente explodindo.

-Assim como?-Fiz cara de desentendida.

-Assim,desse jeito estúpido.Você não era assim antes!

-Ah!Desculpe se vou estragar a sua vida fazendo uma revelação como essas, mas eu tenho que te dizer uma coisa: AS.PESSOAS.MUDAM!-Eu disse grifando cada palavra.

-Quer dizer que vai ser assim a partir de agora?Pensei que depois desse tempo você já teria esquecido de tudo,deixado para trás.

-Eu não esqueço as coisas facilmente,eu tenha um boa memória.Memória de elefante,sabe?-Eu perguntei indicando a minha cabeça.

Nesse momento meu celular começou a tocar.

-Não vai atender?-Ele me perguntou apontando para o bolso do meu casaco,onde estava o celular.

-Não com você aqui.-Rebati o olhando irritada.

-Isso é um pedido sutil para que eu vá embora?

-Já devia ter ido à muito tempo.

Ele me lançou um olhar indignado e saiu com as mãos nos bolsos do casaco.Quando o vi a uma distância considerável,eu peguei o celular e sem nem mesmo ver quem era,o atendi.