Os Últimos Morgenstern escrita por Luna MM


Capítulo 17
Estrelas, Ocultem seus Fogos


Notas iniciais do capítulo

"Estrelas, ocultem seus fogos;
Não permitam que a luz enxergue meus desejos negros e profundos."
— Shakespeare, "Macbeth"



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Clary soltou um suspiro silencioso e olhou através do vidro da janela. Estava em algum lugar de Los Angeles, numa pequena cafeteria em frente a um lago rodeado por grandes árvores. Ela havia perdido a noção do tempo ao mesmo tempo em que perdeu a conta de quantos países havia visitado, mas deduziu que estava no outono. As folhas verdes das árvores começavam a enfraquecer e tornar-se amareladas, quase prontas para caírem. O ar cheirava a grama molhada, embora não chovesse ali há algum tempo, mas Clary sentiu-se grata por se sentir em casa, mesmo que ela não tivesse certeza se ainda tinha algum lugar para chamar de lar.

Já haviam se passado alguns dias desde aquela madrugada fria em Toronto, onde ela conseguiu destruir qualquer relação que ainda tivesse com seus amigos do Instituto. E apesar do sonho que havia tido da conversa entre Jace e Jocelyn, ela tinha certeza de que Jace ainda estava com raiva pelo o que ela tinha feito. E uma parte dela até preferia que realmente estivesse. Era melhor pensar nele esquecendo-a e seguindo em frente com sua vida, do que correndo atrás dela pelo mundo, correndo perigo por causa de Sebastian e seu exército de Crepusculares sombrios.

Ela não gostava de pensar sobre isso. Sebastian e os Crepusculares, querendo queimar o mundo e transformar todos os Caçadores de Sombras. Detestava esse plano e detestava ainda mais ainda não ter tentado fazer alguma coisa para impedi-lo de continuar com isso, porque quanto mais crimes Sebastian cometia, mais acorrentado ao Inferno ele ficaria. E Clary ainda iria fazer o possível e o impossível para garantir redenção à ele; para conseguir sua salvação.

— Um cappuccino deliciosamente quente por seus pensamentos — disse Sebastian, com um sorriso, passando o copo para Clary e sentando-se, de frente a ela. Usava sua habitual jaqueta de couro que ela tanto gostava e seus cabelos louro-prateados haviam crescido até a altura dos olhos. Clary bebeu um gole do cappuccino.

— Alguma vez já sentiu falta de ter um lugar para chamar de lar? — perguntou ela, desviando o olhar da janela para observá-lo.

Ele parou um instante, o copo a meio caminho da boca, e passou pela cabeça de Clary que talvez Sebastian nem ao menos soubesse o que ter um lar significava.

— E quem disse que não tenho? — respondeu ele, surpreendendo-a. Abriu um sorriso torto, que fez seu coração tremer. — Você é o meu lar.

Naquele instante, Clary sorriu e veio à sua mente que talvez lar fosse uma pessoa, não um lugar. E se fosse mesmo assim, ela gostava de pensar que Sebastian também era seu lar.

Eles ficaram quietos por um tempo, apenas bebendo goles pequenos da bebida quente e observando aquela pequena parte do mundo através da janela. Os dois ali, pensou Clary, conversando numa cafeteria sobre lares, quase pareciam dois mundanos comuns, um casal de adolescentes apaixonados. E teria sido bom, constatou ela, viver numa realidade sem demônios e guerras, com Sebastian longe da crueldade que sempre esteve tão presente em sua vida.

— Você sente falta deles, não é? — perguntou, arrancando-a de seus pensamentos. Ele a observava atentamente, como se estivesse tentando desvendar um mistério.

— Sim, sinto falta deles — Clary respondeu sem pensar. Não que considerasse a ideia de dizer que não; seus amigos sempre foram parte de sua família, parte de sua vida. Não importava quanto tempo passasse ou o quanto eles a odiassem agora, ela sempre iria sentir falta de tudo que viveu ao lado deles. E do que ainda poderia ter vivido.

— Mas eu não me arrependo de estar aqui, com você. — ela continuou, não conseguindo deixar de notar o olhar triste de Sebastian, encarando as próprias mãos. — Por algum motivo, ter feito aquela proposta pra você naquela madrugada no Central Park foi uma das melhores coisas que já fiz, uma das quais eu tenho mais orgulho de ter feito. Todo esse tempo que eu tenho passado com você, te conhecendo, o irmão que eu sempre quis ter, tem sido bom.

Sebastian sorriu. Um sorriso de verdade, sem nenhum resquício de malícia ou crueldade. Em seguida, arrastou-se no banco para ficar mais perto de Clary, passando o braço em sua volta. Ela se aconchegou no seu abraço, apoiando a cabeça em seu peito e puxando sua mão para a dela.

— Eu nunca achei que fosse possível, sabe — Sebastian começou, enquanto brincava com os cachos vermelhos de Clary. — Você gostar de mim.

Ela abriu a boca para protestar, mas ele ainda não havia terminado de falar.

— Deixe-me continuar, irmãzinha — pediu ele, sorrindo. — Quando eu finalmente te conheci, enquanto ainda era Sebastian Verlac, percebi que você era totalmente diferente do que eu imaginava. Por ter nascido e sido criada como mundana, sempre achei que você seria um desastre ambulante, que não teria a mínima ideia do quão poderosa era, que não saberia agir e pensar como alguém do nosso mundo. Mas eu estava enganado, Clary. Você se mostrou uma das pessoas mais corajosas e determinadas que eu já havia visto; porque mesmo sem nenhum treinamento e provavelmente assinando uma carta de suicídio, você não pensava duas vezes antes de fazer toda e qualquer coisa por quem você se importava e amava.

“E então, eu fiquei louco por você. Comecei a querer te ver o tempo inteiro, estar com você, te conhecer melhor e, de algum modo, tentar fazer com que você gostasse de mim. É claro que, por eu ser quem eu sou, não posso culpa-la por ter sempre me desejado longe de você. E assim, você se tornou a minha maior e única fraqueza, Clary, porque eu seria capaz de parar o mundo a qualquer instante só para te fazer ser minha todos os dias. Por falar nisso, ainda sou capaz.” Sebastian terminou, com um sorriso torto se formando no canto da boca.

Clary endireitou-se no banco. Com os olhos ardendo em lágrimas quentes, ela tirou uma mecha de cabelo louro-prateado de cima dos olhos de Sebastian e sorriu, aproximando seu rosto lentamente até que seus lábios se encontrassem. Ele retribuiu o beijo, puxando-a pela cintura até que ela estivesse em seu colo. Ambos sorriram.

— Mas eu estava certo sobre uma coisa em relação a você — disse ele, acariciando o rosto da irmã, enquanto ela erguia as sobrancelhas, esperando que ele continuasse. — Você não fazia e ainda não faz a mínima ideia do quão poderosa é. Nem sequer imagina que eu faria qualquer coisa por você, não importasse o quê. Se agora, nesse momento, você pedisse pra eu incendiar todo este lugar e depois o reconstruísse pedaço por pedaço, eu o faria sem hesitar.

“E por essa razão, nós dois somos parecidos, como eu sempre costumo dizer. Você nunca pensa duas vezes antes de fazer algo por alguém que é importante pra você, caso contrário você sequer estaria aqui comigo, não é? Acontece que eu também sou assim, mas apenas quando trata-se de você.”

Em algum lugar no fundo da mente de Clary, ela escutou a voz daquela Caçadora de Sombras desconhecida na festa em Paris. Estou dizendo que você é a única que pode mudar Jonathan Christopher Morgenstern, porque você é a única pessoa que ele se importa.

— Você não tem ideia do efeito que causa em mim, irmãzinha. — Sebastian disse, enquanto traçava uma linha de beijos no pescoço da irmã, provocando-lhe arrepios.

— Na verdade, eu tenho sim — respondeu Clary.

Encarando o irmão com um olhar misterioso, Clary saiu de seu colo e, com a mão entrelaçada na dele, puxou-o em direção ao banheiro da cafeteria. Não havia movimento no estabelecimento, então ninguém apareceu para reclamar, embora ela desconfiasse que ninguém em sã consciência reclamaria de alguma coisa para Sebastian.

Entrando no banheiro consideravelmente limpo, Sebastian chutou a porta atrás de si, enquanto puxava Clary pela cintura, ambos ainda conectados pelo olhar. Ele arrancou a jaqueta dela, deixando-a apenas com uma blusa fina de alcinhas. Em seguida, agarrou-a pelas pernas e colocou-a sentada em cima da pia, de modo que os dois ficassem da mesma altura. Clary arfou quando o irmão beijou seu pescoço, ao mesmo tempo que pressionava suas coxas em volta dele, intensificando o calor e o desejo que ambos sentiam.

Uma voz dentro da cabeça de Clary gritava que ela deveria ir com calma, deveria manter o controle e ir devagar. Mas ela silenciou a voz, não se importando. Depois de tudo que havia acontecido, todas as coisas que ele havia dito para ela naquele dia, ela o queria mais do que qualquer outra coisa. Mais do que isso, ela precisava dele. E sentia-se bem com isso.


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Notas finais do capítulo

Acharam mesmo que eu tinha abandonado dessa vez, né? hahah não vão se livrar de mim tão fácil. Sei que provavelmente seja preciso voltar alguns capítulos pra vocês entenderem melhor a história novamente, na verdade eu recomendo que façam isso, porque a partir daqui, a história vai tomar um rumo diferente e importante. Como pedido de desculpas por todos esses meses sumida, voltei com um capítulo repleto de Clastian pra vocês.