Os Últimos Morgenstern escrita por Luna MM


Capítulo 16
Permita que a Escuridão


Notas iniciais do capítulo

"Permita que o amor encerre o Pesar para que ambos se afoguem,
Permita que a escuridão conserve seu lustro negro:
Ah, é mais doce se embriagar com a perda,
Do que dançar com a morte e sucumbir ao chão."
— Alfred, Lord Tennyson, "In Memoriam A.H.H"



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/424253/chapter/16

Sebastian não dormiu naquela noite, mais uma vez, por causa do efeito que Clary tinha sobre ele. Ela era a única pessoa capaz de provocar uma confusão forte o bastante em sua mente para fazê-lo perder o sono.

Clary ainda estava deitada ao seu lado; os cabelos ruivos espalhados pelos travesseiros brancos, um meio sorriso torto se formando no canto de seus lábios, o peito subindo e descendo lentamente no ritmo de sua respiração leve. Aquela era uma imagem tão linda que, mesmo sem saber exatamente o porquê, Sebastian não queria fechar os olhos e perdê-la.

Enquanto observava Clary dormir, inalcançável no mundo dos sonhos, Sebastian percebeu que não se importaria em passar o resto de sua vida vivendo aquele momento; não se importaria em passar uma eternidade acordado, perdido no tempo, se pudesse escutar sua respiração e sentir seu coração batendo.

Sebastian ergueu uma mão e acariciou o rosto da irmã, tocando sua pele quente e macia com o polegar. Quase que sem perceber, sua boca formou um sorriso; Clary pertencia a ele. E agora que ele finalmente a tinha inteiramente, não iria deixar que nada e nem ninguém tentasse tirá-la dele.

Sebastian se inclinou na cama e beijou a testa de Clary suavemente, tomando cuidado para não acordá-la. Esperava que ela não acordasse antes que ele voltasse. Olhou-a por mais alguns segundos até piscar, voltando para a realidade, e permitiu-se vestir a jaqueta preta.

Saiu do apartamento com apenas um pensamento em mente. Ele iria destruir qualquer um que ameaçasse tirar Clary dele.

◌◌◌

Sebastian chutou uma pedra para fora do seu caminho enquanto caminhava pela Rue Étienne Marcel que, no momento, estava vazia. Os prédios igualmente antigos estavam silenciosos e as lojas de centro ainda estavam com as portas fechadas. Diferentes dele, as outras pessoas ainda conseguiam dormir, pensou.

Sebastian sempre gostou da França, especialmente de Paris. Acreditava que o seu gosto por tudo que era clássico influenciasse-o nisso, mas dessa vez era diferente. Aquele lugar o trazia certa inspiração e, de alguma maneira, esperança.

Virou uma esquina e caminhou mais alguns metros até chegar a um depósito antigo que costumava ser uma fábrica de roupas, mas que estava abandonado há anos. Os vidros das janelas escuras haviam sido quebrados e as paredes rachadas estavam cobertas por poeira. Ele empurrou a porta e subiu a escadaria, fazendo os degraus de madeira ranger sob seus pés, e chegou a um longo corredor. Havia dezenas de portas em cada parede, a maioria sem fechadura. Uma luz brilhante escapava pela porta entreaberta da última sala.

Dentro do cômodo, via-se um imenso quadrado luminoso girando contra uma parede de concreto, tomado por vento. Um Portal. Sebastian pôde enxergar terras incendiadas com fogo infernal antes que dezenas de Caçadores de Sombras vestindo vermelho atravessassem o Portal e enchessem a sala num círculo.

Sebastian caminhou até estar no centro do círculo e, delicadamente, puxou o Cálice Infernal do cinto e o ergueu com as mãos acima da cabeça baixa. Instantaneamente, todos os Caçadores de Sombras — ou Crepusculares, como ele mesmo havia batizado — abaixaram as cabeças e fizeram uma breve reverência.

Como um deus em meio aos seus seguidores, ele pensou.

"Àquele que vencer e fizer a minha vontade até o fim darei autoridade sobre as nações." — citou, erguendo a cabeça. — "Ele as governará com cetro de ferro e as despedaçará como a um vaso de barro. Eu lhe darei a mesma autoridade que recebi de meu Pai. Também lhe darei a Estrela da Manhã.".

Sebastian abaixou as mãos, trazendo o Cálice Infernal, e suspirou.

— Por séculos incrivelmente longos, protegemos mundanos que não amamos de forças sobre as quais continuam ignorantes e uma Lei antiga nos impede de revelarmos que somos seus salvadores. Morremos às centenas, a maioria antes de alcançar uma boa idade, sem agradecimentos, sem que ninguém além dos nossos nos preste homenagens. E mesmo assim, ainda temos que nos esconder nas sombras. — Sebastian levantou a voz e abriu um sorriso, como se estivesse fazendo um discurso de honra. Talvez até pudesse ser um.

— Somos os salvadores desta terra e deveríamos governá-la — continuou, e seus olhos escuros brilharam. — É hora de deixar Raziel para trás e abrir os braços para Lilith, Mãe Maior. É hora de abandonar as leis duras da Clave, que já foi corrupta por tempo demais. O poder é nosso direito de nascença. É hora de reivindicá-lo.

Os Caçadores de Sombras sombrios começaram a se manifestar em murmúrios de entusiasmo, outros ainda com certa insegurança pairando, mas todos se calaram imediatamente quando Sebastian endureceu o olhar.

— Desejo assistir a Clave sendo destruída pelo meu exército de Crepusculares — declarou, quase sorrindo com a imagem em sua mente; nenhum deles estaria preparado para matar um inimigo que carregasse o rosto de filhos, amigos, namorados, parabatai. — Eu ordeno que cumpram uma tarefa de extrema importância — prosseguiu. — Vocês irão invadir cada Instituto de cada canto do mundo e transformar o maior número de Caçadores de Sombras em Crepusculares. Aqueles que se mostrarem inúteis em um exército devem ser mortos.

Sebastian desviou o olhar para encarar Amatis, que estava à frente dos outros Crepusculares.

— Esse Cálice Infernal ficará sob a sua guarda. É claro que é apenas uma réplica e o original estará comigo, mas este servirá para a função principal dele. — ordenou e Amatis assentiu com a cabeça, abrindo um sorriso frio prazeroso. — Faça honra à sua posição de primeira-tenente e execute a tarefa com sucesso.

— Mas, Lorde Sebastian, não estará conosco na invasão dos Institutos? — Amatis perguntou, erguendo as sobrancelhas finas.

— Não, estou ocupado com coisas que não são de seu interesse — rebateu, a voz fria. — Apenas façam o que ordenei e me mantenha informado.

Sebastian fez um gesto com as mãos, dispensando seus seguidores. Os Crepusculares começaram a se direcionar para o Portal que ainda brilhava e girava na parede de concreto, mas Amatis parecia querer mais alguma informação.

— Isso é tudo, Lorde Sebastian? — ela perguntou, ainda parada no mesmo lugar.

Sebastian franziu a testa, como se de repente estivesse se lembrando de algo crucial.

— Na verdade, há mais um detalhe — disse, e sorriu. — Comecem pelo Instituto de Nova York.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Sinceramente, acho melhor parar de prometer que irei atualizar logo porque nunca dá certo hueheuhe sério, gente, foi mal. Eu sei que esse capítulo tá curtinho e sem muita ação, mas foi só pra dizer "hello, ainda estou aqui" e ver quantos leitores sobreviveram... E também quero agradecer à Feeh98, Laura Herondale e Amante Imortal pelas recomendações lindas que me deram ânimo pra voltar! É isso, continuem por aqui c:

P.S.: No mês passado conheci a maravilhosa Cassandra Clare e foi o meu melhor presente de aniversário (: