Os Últimos Morgenstern escrita por Luna MM


Capítulo 12
Amor é um Demônio


Notas iniciais do capítulo

"Amor é um conhecido. Amor é um demônio. Não há anjo malvado além do amor."
— William Shakespeare, Trabalhos de amor perdidos



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Os finos flocos de neve batiam contra o rosto de Sebastian enquanto ele caminhava, chutando a neve com suas botas pesadas. À medida que o céu escurecia e a tempestade de neve aumentava, o vento se tornava mais gelado, obrigando-o a cruzar os braços despidos e abaixar a cabeça para evitar que seu rosto congelasse.

No entanto, o frio não o incomodava nem um pouco; pelo contrário, ele ficaria aliviado em morrer congelado, contanto que Clary estivesse aquecida. Rangeu os dentes ao lembrar-se da raiva que sentia por ter tido que interromper o beijo com a irmã para resolver as coisas com Jace. Na verdade, ele até desejou que Jace tivesse chegado ali antes e se deparado com o beijo apaixonado dos dois. Mas ele sabia que Clary não iria se sentir bem com isso.

Mesmo assim, Sebastian estava imaginando diferentes maneiras de mortes dolorosas de Jace e seus amiguinhos quando finalmente chegou ao lugar em que eles estavam. Ele parou de andar e levantou a cabeça para observar o local. Havia uma imensa ponte que ligava Toronto às outras cidades, onde costumava ter um enorme trânsito de carros e outros veículos, mas a neve havia colocado todos para dentro de casa. Ou quase todos.

O lugar também era rodeado por prédios tão antigos que ameaçavam cair a qualquer instante e alguns carros que deviam ter ficado presos na neve por tanto tempo que seus motoristas desistiram de tentar tirá-los e foram tomar um café quente. Um grande e iluminado relógio em uma das calçadas mostrava que era dezoito de dezembro, dezenove graus negativos e que um conjunto de panelas feitas de alumínio estava em promoção em certa loja.

Embaixo da grande ponte estava um rio que Sebastian não lembrava o nome, mas sabia que também era um importante ponto turístico da cidade. É claro que o rio se encontrava tão congelado que se alguém caísse ali, e quebrasse o gelo que o cobria, provavelmente morreria por hipotermia.

E bem no meio da ponte, estavam os Caçadores de Sombras que ele mais odiava.

Aquilo seria divertido, pensou Sebastian, e retomou o passo.

Ele caminhou graciosamente para a ponte, como se estivesse apenas indo passear no parque. Os Caçadores de Sombras pareceram notar sua presença e se viraram para encará-lo, e Sebastian sorriu ao ver a expressão de raiva em cada um deles.

— Eu gostaria de dizer que é uma surpresa adorável tê-los aqui — anunciou ele, ainda se aproximando. Ele juntou as sobrancelhas numa expressão pensativa. — Mas não é.

Ele mal havia terminado de falar e Jace já havia saltado para perto dele e o agarrado pelos ombros. Sebastian segurou o riso.

— Me diga onde ela está! Agora! — gritou Jace, e Sebastian notou o desespero em sua voz. Ele o empurrou para longe dele e abriu os braços, sorrindo, como se quisesse lhe dar um abraço de boas vindas.

— Não posso te dizer onde ela está neste exato momento, irmãozinho. Mas posso te dizer onde ela estava há alguns minutos — sussurrou Sebastian com a mão em torno da boca, como se estivesse contando um segredo. — Nos meus braços.

Jace assumiu uma expressão de desprezo, ao mesmo tempo em que seu rosto ficava vermelho de ódio. Sebastian o viu cerrar os punhos e se preparar para mais um ataque, mas Isabelle o interrompeu.

— Chega disso! Pare de nos fazer perder tempo, Sebastian — murmurou ela, cruzando os braços e sacudindo seus longos cabelos negros. — Nós já percorremos o mundo inteiro para tirar Clary de você e é exatamente isso que faremos.

— E eu juro, pelo Anjo, que irei matá-lo por tudo que você fez — completou Jace, estreitando os olhos.

Sebastian jogou a cabeça para trás e gargalhou alto. Em seguida, deu alguns passos até que seu rosto estivesse a poucos centímetros do rosto de Jace e o encarou com a expressão vazia.

— Eu adoraria vê-lo tentar — ele provocou.

Jace levantou o punho fechado, mas Sebastian foi mais rápido e desviou, ao mesmo tempo em que chutava seu estômago. Jace perdeu o ar por alguns instantes; tempo suficiente para que Sebastian puxasse sua espada e o atacasse.

Jace arregalou os olhos e se jogou no chão quando a espada cortou o ar, onde ele estava alguns segundos atrás. Finalmente recuperou o ar de seus pulmões, puxou uma lâmina serafim do cinto e avançou para cima de Sebastian.

Sebastian riu alto e desviou para o lado graciosamente e, depois, numa velocidade e força inumana, pegou o braço de Jace que segurava a lâmina e o levantou, arremessando-o do outro lado da ponte, como se não pesasse mais do que uma pena. Jace, milagrosamente, caiu a poucos centímetros do muro da ponte, escapando de aterrissar em um rio congelado.

Sebastian escutou Isabelle, Simon, Alec e Magnus prenderem a respiração e se perguntou silenciosamente se eles ficariam apenas assistindo o espetáculo. Deu de ombros e praticamente voou para cima de Jace, que continuava no chão. Ele o pegou pela jaqueta e o jogou no muro, de modo que sua cabeça pendia para fora da ponte.

— Quantas vezes ainda vai perder para mim, menino-anjo? — perguntou Sebastian, colocando a ponta de sua espada na garganta de Jace.

— Eu nunca perdi para você — sussurrou Jace em resposta, e uma fina linha escarlate apareceu em seu pescoço, onde a espada de Sebastian estava.

A espada se enterrou mais um pouco na garganta de Jace e, enquanto ele via estrelas atrás dos olhos, não pôde deixar de se lembrar da luta que tivera com Sebastian em Idris. Ele quase havia morrido naquela vez, mas conseguira matar Sebastian. E agora lá estava ele, prestes a morrer pelas mãos do Caçador de Sombras que ele havia matado. Seria até cômico se não fosse terrível.

Mas então, como se tudo aquilo não fosse irônico o bastante, algo dourado e brilhante açoitou as costas de Sebastian e o fez derrubar a espada, que voou longe. Ele soltou Jace, que desabou no chão, e se virou para encarar Isabelle que estava com o chicote na mão direita e um sorriso vingativo no rosto.

— Eu não vou deixar você matar meu irmão — disse Isabelle, erguendo o queixo. Seus olhos negros lacrimejados deixavam claro que ela estava se lembrando de Max. — Desgraçado.

Sua vadia — ele rosnou e se soltou do chicote agressivamente. O objeto voou para perto de onde a espada de Sebastian estava, do outro lado da ponte. Ele cerrou os punhos com força e a fuzilou com o olhar, enquanto caminhava calmamente para perto da Caçadora de Sombras.

Isabelle começou a recuar alguns passos, subitamente assustada. Sebastian arrancou uma adaga de seu cinto e a levantou na mão direita, pronto para enterrá-la na garota. Mas, de repente, algo o ergueu do chão. Ele olhou para os próprios pés e viu uma brilhante luz azul fazendo-o flutuar no ar e, em seguida, cravou os olhos ameaçadores no feiticeiro. Magnus estava com os olhos semicerrados, movendo as mãos em círculos e sussurrando algumas palavras em latim.

Isabelle recuperou seu chicote num instante e não hesitou em lançá-lo em Sebastian, provocando cortes tão profundos que ele duvidava que apenas uma iratze iria curá-lo. Ele gritou e agarrou o ar, tentando inutilmente se livrar da magia que o prendia no ar. Sebastian engoliu a dor e voltou seus olhos para o feiticeiro que continuava concentrado na própria magia. Pelo canto do olho, Sebastian conseguiu ver Alec com uma estela na mão, provavelmente fazendo uma iratze em Jace, de costas para eles. Ele soube exatamente o que tinha que fazer.

Sebastian nem precisou perder tempo em mirar, ele sabia que iria acertá-lo em cheio; lançou a adaga que segurava na direção de Alec e sorriu quando ele gritou de dor, sabendo que havia acertado. Magnus congelou ao ouvir o grito do garoto e correu para ajudá-lo, rompendo a magia que prendia Sebastian no ar.

Ele caiu em pé e, aproveitando que Isabelle também havia se distraído com Alec, pegou a Caçadora de Sombras pelo pescoço e a jogou do outro lado da ponte. Ele voltou a se aproximar dela em menos de um segundo, com a espada recuperada na mão, e pressionou os joelhos com força contra seu peito. Ele quase ouviu as costelas de Isabelle se quebrarem e levantou a espada, apontada para seu coração.

Mas então, antes que ele pudesse se livrar de mais um Lightwood, algo se prendeu em suas costas e atacou seu pescoço. Ele gritou, ao mesmo tempo que largou a espada e girou, segurando o que havia se prendido nele.

Simon — ele escutou Isabelle sussurrar. Sebastian se jogou no chão com força, caindo em cima do vampiro e fazendo um buraco na neve. Simon se levantou cambaleando, colocando as mãos na garganta e tossindo um líquido vermelho escuro.

— Seu sangue é nojento — conseguiu dizer. Sebastian riu sem humor.

— Posso dizer o mesmo sobre você, vampiro — ele disse, puxando alguma arma do cinto para se livrar do vampiro quando uma voz tirou sua atenção.

— Deixe eles em paz — Sebastian se virou para ver Jace em pé, coberto de sangue. Sebastian riu novamente. — A sua luta é comigo.

— Ora, Jace. Você realmente não se cansa de perder para mim, não é? — ele retrucou, sorrindo como um anjo. Ou um demônio.

— Eu nunca perdi para você, Sebastian. Porque eu tenho algo que você jamais terá — rebateu Jace e seus olhos dourados brilharam. — O amor de Clary.

Sebastian cerrou os dentes e estreitou os olhos.

— Você está enganado — ele respondeu em voz alta, confiante. — Clary me ama.

Dessa vez, Jace riu tão alto que poderia ter acordado a cidade inteira.

— Ela o está enganando. Clary é inteligente; ela deve ter fingido gostar de você para que você baixasse a guarda e ela pudesse ter alguma chance de fugir — disse Jace, sorrindo. Sangue ainda jorrava de sua boca, mas ele não pareceu se importar. — Você é tão estúpido, Sebastian. Realmente acreditou que ela pudesse gostar de você?

Sebastian sentiu algo se esvaziar dentro de seu peito e suas pernas pareceram não suportarem mais seu peso. Ele abaixou a cabeça e tentou se concentrar. Não podia escutar aquilo, não podia se permitir fraquejar. Não na frente dele. Não depois daquele sonho com seu pai.

— Isso não é verdade — ele sussurrou, tentando fazer suas palavras se tornarem reais. Clary o amava, ele tinha certeza disso. Não tinha?

— Clary odeia você, assim como todo mundo — continuou Jace, como se Sebastian não tivesse falado nada. Se aproximou. — Você é um demônio, Jonathan. Você merece ir para o Inferno.

A visão de Sebastian escureceu e ele não conseguiu enxergar quando o punho de Jace o acertou com força suficiente para derrubá-lo. Ele atingiu o chão coberto de neve e não conseguiu reunir forças para levantar ou sequer erguer o olhar para encarar o inimigo.

Diversas imagens passavam rapidamente pela mente de Sebastian. Valentim o batendo e dizendo para ele engolir o choro, Jocelyn o rejeitando e dizendo que ele era um monstro e, Clary... Clary fingindo amá-lo para que depois pudesse apunhalá-lo pelas costas. Aquilo doía mais do que a lâmina de uma espada.

Ele iria ser derrotado porque o amor o enfraqueceu. Assim como Valentim havia dito.

Amar é destruir e ser amado é ser destruído, murmurou a voz de seu pai em sua mente. Quantas vezes terei que repetir isso para meus filhos?

A tempestade de neve pareceu aumentar, transformando o lugar num grande lençol branco. Sebastian ergueu a cabeça, tentando enxergar além dos muitos flocos de neve. Jace continuava o encarando, como se estivesse congelado no tempo. Ele não viu os outros, mas deduziu que estivessem assistindo tudo em algum lugar ao longe.

Sebastian desviou o olhar para um grande prédio antigo do outro lado da calçada e fechou os olhos, sentindo os flocos de neve baterem contra seu rosto. Quando voltou a abrí-los, cabelos tão vermelhos quanto o fogo chamaram sua atenção. Fogo no gelo. Clary.

Ela estava paralisada, olhando para toda aquela cena, com os grandes olhos verdes arregalados. Provavelmente ninguém havia a notado ali ainda.

O peito de Sebastian se encheu de uma coragem repentina e ele reuniu forças para se levantar. Ele não sabia se ela realmente o amava ou se apenas havia sido fingimento, como Jace havia dito. Mas tudo ficaria claro agora. E enquanto Clary respirava fundo e começava a caminhar lentamente em direção a eles, seu coração acelerou.


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Notas finais do capítulo

Eu sei que vocês realmente vão querer me matar por não ter colocado a parte da Clary hueheuhe mas é que esse capítulo ficou tão grande que eu achei melhor parar por aí. Vocês deveriam me agradecer, porque estou fazendo o possível e o impossível para prolongar a história mais um pouco.
(Comemorem comigo porque a capa de Cidade do Fogo Celestial tem meus Morgenstern lindos)