Os Últimos Morgenstern escrita por Luna MM


Capítulo 13
Deuses e Demônios Clamavam


Notas iniciais do capítulo

"Oh, sim, sei que o caminho para o paraíso era fácil.
Encontramos o pequeno reino da nossa paixão
Que podem compartilhar todos os que caminham pela estrada dos amantes.
Cambaleávamos numa felicidade selvagem e secreta;
E deuses e demônios clamavam em nossos sentidos."
— Siegfried Sassoon, "O Amante Imperfeito"



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Clary não estava sonhando, mas desejou que estivesse. As pessoas diante de seus olhos eram tão reais quanto as cicatrizes de sua luta mais recente. E ela sabia que se avançasse mais alguns passos, eles poderiam vê-la com clareza. E era exatamente isso que ela mais temia.

Quando Clary decidiu deixar sua família para se juntar ao seu irmão, ela achava que nunca mais voltaria a vê-los. E quando sequer imaginou um possível reencontro, ela só conseguiu pensar na felicidade que sentiria em finalmente voltar para casa. Mas naquele momento, diante de uma batalha entre seus amigos e seu irmão, ela só conseguia pensar no quanto desejava não estar ali.

Clary queria se encolher no chão até que a tempestade de neve a cobrisse, escondendo-a da realidade. Ela queria dar meia volta e correr para qualquer lugar, onde ninguém pudesse encontrá-la. Porém, ela não achava que conseguiria se mover.

Clary viu quando Sebastian a encontrou com o olhar e se levantou, como se estivesse adivinhando o que estava para acontecer. Viu Jace em pé, encarando Sebastian como se pudesse matá-lo apenas com a força da mente. Viu Simon com a boca suja de sangue escuro abraçando Isabelle, que parecia prestes a desmoronar. Viu Magnus amparando Alec, que tinha um ferimento na perna e não parecia conseguir se levantar sozinho.

Clary viu tudo em câmera lenta, como nos filmes de suspense que ela costumava assistir com Simon. Parecia uma lembrança tão distante, e de que ela sentia tanta falta. Ela só esperava que aquele filme tivesse um final feliz, embora duvidasse que isso pudesse acontecer no mundo dos Caçadores de Sombras.

A tempestade aumentou, até que a neve estivesse machucando seus olhos. Ela não conseguia mais enxergar os prédios antigos, os carros abandonados ou até mesmo a ponte metálica; era como se a cidade inteira pudesse se afogar na neve a qualquer instante. Ela quase desejou que isso acontecesse.

O coração de Clary batia tão forte que tinha certeza de que estava denunciando sua presença. Quando depois do que poderia ter sido uma hora, mas que parecera segundos, ela finalmente estava a poucos metros de seus amigos. No entanto, Clary congelou, como se a neve a tivesse prendido ali, deixando-a incapaz de dar mais um passo sequer.

De onde estava, a neve a impossibilitava de enxergar seus outros amigos ao canto da ponte. Jace estava na sua frente, apenas oito metros de distância. Talvez sete. Vire-se, Clary queria gritar. Vire-se e me leve de volta. De volta para casa. De volta para você. Mas ela não encontrou a própria voz.

Apenas Sebastian podia vê-la; ele a olhava como se pudesse ser a última vez. Ela tentou buscar alguma confiança em seu olhar, mas tudo o que viu nele era medo. Pela primeira vez desde que Clary podia se lembrar, ele realmente parecia apavorado. E isso não a ajudou a se acalmar.

Como se estivesse imaginando o que Sebastian estava olhando, Jace se virou. Clary prendeu a respiração e sentiu seu estômago congelar quando seus olhos dourados a encontraram. E foi como se a Terra tivesse parado de girar por um instante. Jace arregalou os olhos e largou a lâmina serafim que segurava. E correu. Correu como se um mundo inteiro estivesse separando-o de Clary.

Ela fechou os olhos com força quando Jace a tomou nos braços, num abraço que poderia ter derretido toda a neve que os cercava.

— Ah, Clary — sussurrou Jace, a boca encostada em seus cabelos —, nunca mais me faça passar por isso, por favor. — Clary soltou o ar que estava prendendo quando notou que Jace estava chorando.

O menino nunca mais chorou.

Lágrimas quentes arderam nos olhos de Clary e escorreram por seu rosto frio. Ela enterrou o rosto no ombro de Jace e chorou baixinho, apertando-o contra si.

Jace segurou o rosto de Clary nas mãos, inclinando-o para cima, mas não encontrou nada a dizer. Clary observou as íris douradas de seus olhos, a cicatriz na bochecha, o lábio inferior carnudo e até mesmo a singela lasca em seus dentes; tudo nele era familiar e, ao mesmo tempo, desconhecido. Era como voltar para casa depois de uma longa viagem; você conhece cada detalhe e ama aquele lugar, mas não deixa de achá-lo diferente, de uma maneira ou outra.

— Eu entendi que é realmente possível morrer de tristeza, sabe — disse Jace. Clary pensou na verdadeira mãe de Jace, cortando os pulsos quando o marido morreu. — Ficar sem você quase me matou, Clary.

Clary abriu a boca para responder, mas Jace já havia puxado-a para si. Ela fechou os olhos quando seus lábios se encostaram; os lábios quentes de Jace sob os lábios frios dela. Ele tinha gosto de sal e fogo, um gosto de que ela quase havia se esquecido.

Ela o amava. Pelo Anjo, como ela o amava. Era completamente apaixonada por tudo em Jace; a coragem, a bravura, a determinação e até mesmo a ironia e o sarcasmo. Todos os menores detalhes o tornavam perfeito para ela.

Pensou naquelas duas semanas em que Jace estava desaparecido e o mundo de Clary parecia ter desabado sobre ela. Naquele momento, sob a culpa de tê-lo trazido de volta à vida e não contado para ninguém, ela havia desejado inverter os papéis. Desejou estar desaparecida, enquanto Jace estaria seguro. Ela só não sabia que aquilo se tornaria realidade.

Alguém atrás deles pigarreou, chamando atenção. Clary piscou, se esquecendo de que não estavam sozinhos.

— Detesto ter que interromper o reencontro de um casal, de verdade — disse Simon, sorrindo enquanto mais sangue escuro escorria por seu queixo. Ele não pareceu se importar. — Mas eu também senti a sua falta, Fray.

Clary sorriu quando Simon aproximou-se dela e a tomou num abraço que quase esmagou seus ossos, embora ela não se importasse. Dali, Simon era o mais próximo de casa e de sua vida normal que ela costumava ter antes de tudo virar de cabeça para baixo.

Depois de muito tempo abraçando Isabelle, Magnus e até mesmo Alec, Clary finalmente virou-se para olhar para seu irmão. Sebastian permanecia quieto com a cabeça baixa, preferindo encarar o chão a aquela cena. Clary teve de se controlar para não ir até ele e abraçá-lo também; sabia que seus amigos não entenderiam.

— O que aconteceu aqui? — perguntou ela, hesitante em ouvir a resposta.

Por um momento, ninguém disse nada. E Clary começou a se sentir incomodada com aquela situação. O silêncio e o frio pareciam nunca ter um fim.

— Nós vamos te levar de volta para casa, Clary — disse Jace, tocando o braço dela. — Assim que eu acabar com ele.

Ao ouvir isso, Sebastian finalmente levantou a cabeça, derrubando um pouco de neve que havia caído em seu cabelo branco. Clary ficou esperando que ele a olhasse e dissesse algo, mas ele nem pareceu notá-la.

— Estou cansado de suas palavras repetidas tantas vezes, menino-anjo — disse Sebastian, num tom de voz provocador. — Quando vai começar a agir?

Jace rosnou e se lançou para Sebastian, agarrando-o pelo pescoço e o levantando alguns centímetros acima do chão. Clary mordeu o lábio inferior para não gritar e sentiu gosto metálico invadir sua boca.

— É assim que planeja acabar comigo? — perguntou Sebastian, rindo. Sangue escorria pelo seu nariz.

Jace o jogou contra a neve e pegou a lâmina serafim que ainda estava no chão. Correu até ele e ergueu a lâmina, pronto para cravá-la em seu coração. Sebastian estava paralisado no chão, esperando o golpe. E ainda sorria.

Clary mal ouvia a própria respiração. A lâmina que Jace segurava descia cada vez mais em direção ao peito de Sebastian, que não parecia reagir. Ele iria deixar Jace matá-lo? Clary não podia acreditar naquilo.

Seus pés tomaram a decisão antes de seu cérebro e ela correu. Um metro e meio. Sebastian ainda não havia se movido. Um metro. Jace continuava segurando a lâmina com firmeza. Sessenta centímetros. Os dois ainda não haviam percebido seu movimento. Trinta centímetros. Clary sabia que não tinha escolha.

Sua mão agarrou o braço de Jace quando ele abaixou a lâmina serafim. Ela gritou algo que poderia ter sido um "Pare" ou simplesmente um "Não", mas que o fez parar. Jace a encarou com os olhos arregalados numa mistura de surpresa e confusão.

— Clary, o que está fazendo? — perguntou Jace, lentamente, como se ela estivesse louca. Talvez estivesse. — Vou matá-lo pelo o que fez com Max, pelo o que fez comigo e pelo o que fez com você. Ele merece isso.

Clary sabia que precisava contar a verdade para ele. Sabia que a culpa daquilo era dela, e não de Sebastian. Ela havia feito a proposta.

— Você não pode fazer isso, Jace — ela sussurrou.

Jace cruzou os braços e ergueu uma sobrancelha.

— Por que não?

— Porque... — a voz dela falhou. — Ele não fez nada comigo.

Sebastian olhou para Clary. Conte a verdade, ele estava dizendo. Ou eu contarei. Ela não o culpava por querer dizer algo assim. Sempre soube que aquela hora chegaria e que ela teria que tomar uma decisão, teria que fazer a sua própria escolha.

Clary suspirou. Sentia um peso tão imenso nas costas que ela não duvidava que, em qualquer instante, iria cair de joelhos. A tempestade de neve havia finalmente dado uma trégua e deixado uma cidade coberta por um lençol branco para trás; ela ergueu a cabeça para olhar o céu escuro. Clary contou trinta e três estrelas antes de olhar para seus amigos e contar a verdade.


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Notas finais do capítulo

Olá, meus amores! Eu sei que vocês querem me matar porque: 1) eu demorei uma eternidade para atualizar a história e 2) eu terminei o capítulo assim mais uma vez fiosjspdkspodk mas eu juro que tô tentando fazer o melhor que posso para escrever. Eu realmente tô sem tempo, por isso sei que o capítulo não ficou tão bom quanto vocês esperavam. Tentarei melhorar isso e atualizar mais rápido da próxima vez, ok? ok! E, por favor, não me abandonem.