Os Últimos Morgenstern escrita por Luna MM


Capítulo 11
Os Últimos Morgenstern


Notas iniciais do capítulo

"Longo é o caminho
E árduo, que do Inferno leva à Luz."
— John Milton, Paraíso Perdido



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/424253/chapter/11

Clary ainda não havia esquecido o medo que havia sentido do próprio irmão na noite anterior. Ela tinha certeza que ele seria capaz de matá-la se estivesse em um dia ruim e imaginar algo assim deixava-a apavorada.

Enquanto Sebastian estava fora, Clary andou de um lado para o outro no apartamento, tentando decidir o que fazer. Por um instante, ela simplesmente perdeu a esperança de que um dia seu irmão poderia mudar e cogitou a ideia de desistir; ela poderia pegar uma estela na sala de armas e desenhar um portal para fugir dali.

No entanto, quando Sebastian voltou e a abraçou em um pedido silencioso de desculpas, ela se arrependeu de em algum momento ter pensado em desistir dele. Afagou seus cabelos prateados e sussurrou que estava tudo bem e, de fato, estava.

Naquele momento ele estava dormindo com a cabeça apoiada no colo dela, enquanto ela mexia em seus cabelos, distraída. Os olhos escuros estavam fechados, a expressão tranquila e suave; enquanto dormia, ela percebeu, ele até parecia um tanto que angelical.

Clary suspirou e concluiu que não podia simplesmente abandoná-lo. Sebastian havia sido rejeitado por todos durante sua vida inteira, e ela não podia fazer o mesmo. Ela não iria fazê-lo. Ele era seu irmão e ela iria cuidar dele, iria salvá-lo de si mesmo.

Ela sentiu Sebastian se mexer em seu colo e, em seguida, ele abriu os olhos. A imensidão escura em seus olhos trouxe de volta o Sebastian que não tinha nada de angelical. Sentou-se e coçou os olhos, balançando a cabeça como se estivesse querendo afastar algum pensamento.

— Sonho ruim? — arriscou Clary, erguendo as sobrancelhas.

— Um dos piores — respondeu Sebastian, ainda perdido nos próprios pensamentos.

— Quer falar sobre isso? — perguntou Clary.

Ele negou com a cabeça e colocou o braço em volta dela, puxando-a para perto. Ela se aninhou no peito dele e não falou mais nada. Sentia-se tão bem quando estava nos braços de Sebastian, que até parecia ser surreal.

Ela olhou para cima e flagrou Sebastian a olhando. Ele não se preocupou em desviar o olhar. Pelo contrário, levantou a mão direita e acariciou o rosto de Clary. Ela fechou os olhos ao sentir seu toque; não havia nada do Sebastian demoníaco e assassino que todos odiavam. Havia apenas o Sebastian que só ela conhecia.

Ela abriu os olhos e Sebastian ainda estava olhando-a, mas dessa vez, com um pequeno sorriso brincando em seus lábios. Ele piscou para ela e se levantou, levando-a consigo.

— Venha — murmurou ele, entrelaçando sua mão na dela. — Vamos dar um passeio.

◌◌◌

Clary tentava não escorregar na neve enquanto caminhava com Sebastian pelas ruas congeladas de Toronto. Pequenos flocos de neve ainda caíam do céu escuro, dançando com a força do vento frio até pousarem silenciosamente no chão. Clary estremeceu.

Sebastian abriu o zíper da jaqueta preta que usava e a tirou, entregando para a irmã. Ela hesitou.

— Não seja boba — disse ele, colocando a jaqueta nos ombros dela. — Você está com frio.

Clary assentiu e vestiu a jaqueta. Em alguns minutos, ela já estava aquecida. Segurou o braço de Sebastian para evitar cair de cara na neve e retomou o passo.

Eles estavam caminhando em silêncio, apenas com o som de suas botas chutando a neve, quando Clary decidiu perguntar algo que não saía de sua mente.

— Sebastian — ela chamou. Ele se virou para olhar para ela, e esperou que ela continuasse. Ela engoliu em seco. — Hum, por que você guarda uma foto minha?

Sebastian parou abruptamente, quase derrubando a menina. Clary sentiu vontade de bater com a mão na própria testa, se arrependendo de ter falado algo que pudesse irritar o irmão mais uma vez.

— Como sabe sobre... — ele começou, e então seus olhos brilharam, entendendo tudo. Ele não pareceu irritado. — Claro, isso explica o motivo de meu quarto estar tão organizado ultimamente.

Clary deu de ombros, forçando um sorriso ingênuo. Depois de alguns minutos de silêncio, Sebastian a respondeu.

— Você lembra que eu te disse que sempre quis conhecê-la? — ele perguntou e Clary assentiu. — Isso sempre me ajudou. Quero dizer, quando eu cogitei desistir.

Ele havia voltado a caminhar, mas Clary ainda estava parada tentando entender o que ele havia dito. Sebastian olhou para a menina que estava com os braços cruzados e a expressão concentrada, e sorriu.

— Desistir do quê? — ela se aproximou dele.

— De tudo — ele deu de ombros.

— Por quê? — insistiu Clary.

Então, Sebastian voltou sua atenção para uma família que estava no quintal de uma pequena casa, próximo a eles. Um homem e uma mulher estavam sentados na escada da casa, abraçados e com sorrisos sinceros nos rostos. Eles observavam duas crianças exageradamente agasalhadas que brincavam na neve, um menino e uma menina; o menino estava colocando uma cenoura no boneco como se fosse um nariz, enquanto a menina tirava um cachecol de si mesma e enrolava no boneco. Sebastian desviou o olhar.

— Porque, todos os dias, era uma luta viver comigo mesmo. Com o demônio dentro de mim, com as dores que nosso pai me fazia sentir. — contou Sebastian, o olhar distante, como se estivesse revivendo uma lembrança. — Teria sido mais fácil ter desistido, Clary. Me entregado para a Clave, deixado que eles me interrogassem, condenassem e acorrentassem minha alma ao Inferno.

Clary congelou no lugar. Ela sabia que isso realmente aconteceria se a Clave encontrasse Sebastian, depois de tudo que ele havia feito de errado. Mas ela tremia só de imaginar seu irmão preso no Inferno. Sozinho.

— A vontade de conhecê-la me deu a força que eu precisava — continuou ele, encarando os próprios pés. — Eu costumava olhar para a sua foto e imaginar o dia que finalmente iria encontrá-la. Você é minha única família.

Clary sorriu.

— Os Últimos Morgenstern — sussurrou ela.

— Os Últimos Morgenstern — repetiu e também sorriu. Em seguida, ele a puxou pela cintura e a beijou.

Clary envolveu o pescoço dele com seus braços e retribuiu o beijo, sentindo seu gosto. Fogo e menta. Sebastian passava a mão nos cabelos dela, enrolando os dedos nos longos cachos; havia delicadeza em seu toque, como se ele estivesse pegando em algo que pudesse quebrar em qualquer instante.

O beijo se aprofundou lentamente, suavemente e intensamente. Clary podia escutar crianças brincando, adultos conversando e até mesmo os pequenos flocos de neve sendo carregados pelo vento, mas nada importava mais. Quando ela estava nos braços de Sebastian, ela quase podia esquecer-se do resto do mundo. Quase.

Ela parou quando Sebastian ergueu a cabeça, olhando para algo atrás dela. Clary se virou e procurou pelo o que havia tirado a atenção dele, mas não conseguiu enxergar nada além de muita neve. Quando ela se virou novamente, Sebastian tinha uma expressão irritada no rosto.

— Já volto — resmungou ele, soltando-a. O mesmo tom de voz do Sebastian que ela costumava odiar. — Não saia daqui, Clarissa.

Clary abriu a boca para responder, mas Sebastian já havia desaparecido. Ela cruzou os braços, sabendo que se não fizesse o que ele havia mandado, provavelmente sofreria consequências. Sendo assim, esperou.

Ela imaginava que deveria ser algo muito importante para tirá-lo dali daquela maneira, mas o que poderia ser? Clary começou a contar os minutos, enquanto batia o pé, impaciente. Depois do que parecera quase dez minutos, ela bufou e seguiu o caminho por onde Sebastian havia ido.

O que a menina mais temia era acabar se perdendo e, mais uma vez, se meter em uma briga e quase morrer. Escorregou tantas vezes que sua roupa já estava toda coberta de neve e suas mãos roxas. Clary suspirou e colocou as mãos dentro da jaqueta, apressando os passos.

Ela já estava imaginando as piores coisas que poderiam ter acontecido à Sebastian quando finalmente o encontrou. No entanto, o que Clary viu estava muito além de sua imaginação, tanto que o ar sumiu de seus pulmões.

No meio de uma ponte coberta por neve, estava Sebastian, caído no chão. Ele encarava algo com uma expressão cheia de ódio e nojo e quando Clary seguiu seu olhar, mordeu os lábios com força para não gritar. Ali estavam Isabelle, Simon, Alec, Magnus e — seu coração fraquejou — Jace.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Não me matem por terminar o capítulo assim! c: