Visões - Série Premonições (Volume 1) escrita por Carolina Pietski


Capítulo 4
Certezas




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“Não acredito!”, penso. “Não pode ser, simplesmente não pode!”. Mas, com certeza, era.

O menino. Aquele menino do sonho. Estava ali, na minha frente. Na mesma sala que eu. Do mesmo jeito que eu me lembrava dele. Moreno, olhos verdes, pele clara. Tudo. Ele era inconfundível, mas... como pode ser o mesmo?

–- Srta. Molina, você está bem?

Acordo de meus devaneios, eu havia esquecido do diretor ao meu lado. Sacudo a cabeça para clarear os pensamentos.

–- Sim, diretor, estou ótima.

Simplesmente não consigo tirar os olhos do garoto. E, enquanto o diretor entra na sala comigo logo atrás, o garoto encontra meu olhar e eu vejo. Vejo a mesma expressão que devia estar no meu rosto quando o vi. Choque. Medo. Confusão. Reconhecimento.

Sim, ele, com toda a certeza, também havia sonhado comigo.

“Mas como é possível?”, penso novamente. Estou em choque, não consigo prestar atenção no que o diretor está falando. Só acordo novamente quando a professora me manda sentar em uma das classes vazias no fundo da sala.

“Ótimo!”, é um lugar em que posso observar sem ser observada.

Sinto meus nervos à flor da pele, mas não consigo me acalmar. Sinto olhares em mim. Suspiro. Pelo jeito, nem sentando no fundo da sala terei sossego.

Tento me concentrar na aula, digo a mim mesma que terei muito tempo para pensar no assunto depois. Não adianta. Abaixo a cabeça, apoiando-a nos braços cruzados em cima da mesa.

O tempo passa devagar demais. Escuto a professora parcialmente, mas essa pouca concentração evapora-se quando sinto um estranho formigamento na nuca. Olho para cima por reflexo e vejo o garoto olhando para mim. Assim que encontra meu olhar, ele desvia os olhos. Continuo olhando.

Ele está virado de costas para a professora, conversando com o colega que senta atrás dele, quando percebo que, abaixo de seus olhos espantosamente verdes, há olheiras cobertas com maquiagem. Analisando seu rosto mais profundamente, vejo que está coberto de hematomas e pequenos cortes, tudo, também, escondido por maquiagem.

Parece que o sonho não foi somente um sonho, afinal.

Aliás, mais um sonho que não foi somente um sonho. “Meu Deus. Está voltando, está começando tudo novamente! Mas... por quê? Por que agora?”

Começo a entrar em desespero. Não sei se conseguirei suportar se tudo se iniciar novamente. Meu coração está acelerado e a respiração torna-se difícil. Fecho os olhos e respiro fundo, ao menos tento. Nada dá resultado.

Levo minha cabeça aos meus braços apoiados à mesa novamente, ainda de olhos fechados, ainda ofegante. Parece que a qualquer momento meu cérebro vai explodir, tal a velocidade de minha tentativa de raciocínio.

Revejo parte do sonho, que, na verdade, agora sei que tratou-se de uma Visão. Na minha mente tudo permanece claro quanto a ela. O mínimo pio de coruja, um leve farfalhar de folhas. Lembro-me de tudo. Nos mais absolutos e ínfimos detalhes. Como pude não perceber antes do que se tratava? A clareza, a realidade excessiva. “É claro.”, penso. “È claro que é uma Visão, mas depois de tanto tempo?”

Sinto novamente o estranho formigamento em minha nuca. Dessa vez olho mais discretamente. O garoto me encara. Olhos assustados, cheios de temor. De tensão. “Preciso descobrir o que fazer. Preciso saber quem é esse garoto e o por quê de minhas visões parecerem ter voltado por ele.”

Nesse momento, sinto uma dor de cabeça inesperada e muito forte. Minha cabeça está prestes a explodir quando eu vejo. Vejo as cenas que lutei tanto para esquecer, mas que ali estão, vivas, nítidas e presentes em minha mente.

Vejo um quarto escuro, familiar demais. Ouço novamente aquele som gotejante e sinistro. O vento. Os passos. Os sussurros. Os gritos.

O fim.

E o começo.

Repentinamente, acordo ofegante em uma sala desconhecida. Estou deitada de costas, olhando para uma luz branca e forte demais, meus olhos doem com claridade.

A sala é toda branca, com somente uma planta a um canto, verde, mas sem flores. Continuo olhando em volta e percebo que estou obviamente em uma enfermaria.

Bufo quando percebo isso. “Ótimo. Desmaiei no primeiro dia de aula. Realmente fascinante.”

Através do vidro, vejo uma enfermeira se aproximando rapidamente, em questão de segundos ela já está abrindo a porta e entrando no recinto com cerca de quatro macas. Ela me vê acordada e sorri maternalmente.

–- Oh, você acordou! Deu um belo de um susto nos seus colegas. Até bateu com a cabeça no chão, dizem que foi uma pancada muito forte, talvez seja melhor você ir diretamente com seu pai para o hospital verificar sem houve alguma concussão. Nós já o chamamos e ele está a caminho.

Apenas sorrio levemente.

“E isso está ficando cada vez melhor.”, penso com amargura.


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