Visões - Série Premonições (Volume 1) escrita por Carolina Pietski


Capítulo 3
Realidade




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Um dia imagino que mandaram-me escolher entre dois caminhos. O primeiro caminho era claro e colorido, até visto de longe, ali vi muitas pessoas passando, dentre elas, meu pai, minha mãe e a maior parte de meus amigos. O segundo era escuro, havia algumas poucas pessoas, a maioria eu não conhecia, mas senti uma imensa admiração por todos que por ali passavam.

Sem decidir conscientemente, quase que por impulso, virei as costas para o caminho mais explorado e comecei a seguir o caminho misterioso e tortuoso, mas que, visto de perto, tinha alguma beleza, que estava se abrindo à minha frente.

Explorei tudo com o meu olhar, vi coisas que nunca havia visto e senti coisas que nunca havia sentido.

Percebi, já na metade do caminho, que a estrada que havia escolhido era diferente, muito mais diferente do que havia pensado, cheio de mistérios a serem descobertos. Era mesmo um caminho escuro, totalmente imerso nas trevas, mas à medida que eu ia passando, as coisas se tornaram muito mais claras, as árvores se tornaram mais verdes, as flores ficaram mais coloridas, o céu ficou mais azul, o caminho menos tortuoso e as pedras, apesar de ainda existirem, já não atravessavam

tanto meu caminho e, quando atravessavam, não me representavam um grande desafio. Tirava-as de letra.

Mas, agora, encontrei uma montanha na minha frente. Uma montanha difícil de ser escalada e ultrapassada, e impossível deixar totalmente para trás, pois mesmo depois de eu ter a ultrapassado, e sei que vou conseguir, sempre uma pedra ficará no meu sapato, me incomodando eternamente sem que eu possa retirá-la.

Essa montanha representa a morte de minha mãe.

É uma coisa a ser superada e agora é a hora de começar a fazê-lo.

“Já chega de adiar isso.”, penso. “É hora de começar de novo.” Faz uma semana que estou nessa cidade. Não saí de casa nenhuma vez, o diálogo com meu pai não melhorou. Assim como o buraco no meu peito.

E hoje, bom... hoje eu vou para a escola. A nova escola. O desconhecido.

–- Chegamos filha. Essa é a sua nova escola!

Olho para o lado. Lá está o prédio. Lá estão as pessoas com quem terei que conviver o resto do ano. Encolho-me. Abraço-me. Arrepio-me.

–- Você vai ficar bem?

Olho para meu pai. Olho para o velho Joe. Percebo que ele está com o mesmo rosto que na velha foto que tenho dele. As únicas diferenças são alguns cabelos grisalhos, algumas rugas e os olhos, seus olhos me dizem que ele está preocupado.

Suspiro.

–- Vou, pai. Não se preocupe – tento sorrir para tranquilizá-lo. – Eu sou como uma Fênix. Toda vez que morro, renasço das cinzas...

“Para voltar a morrer.”, concluo mentalmente. A analogia preocupou ainda mais papai. Seus olhos dizem isso claramente. E os olhos nunca mentem.

Vejo que ele está para falar algo, mas corto-o:

–- Pai, eu estou bem. É melhor eu ir, ou perco a primeira aula.

–- Tudo bem. Cuide-se! – enquanto eu me virava para sair do carro, vi que ele me lançou mais um olhar de preocupação, mas não disse nada. Ele iria ficar bem.

Enquanto andava pelo extenso gramado, ouvi meu pai arrancar com o carro. Olho para cima e vejo um céu azul, límpido, somente povoado pelo sol e pelos pássaros. Uma coisa rara de ocorrer por aqui. Sinto vontade de chorar ao me lembrar o que minha mãe e eu costumávamos fazer em dias claros assim. Afasto o pensamento. Há mais coisas com o que me preocupar.

Vou direto para a diretoria, ou, pelo menos, tento ir. A escola é enorme e o aglomerado de gente não ajuda a ver a possível sala da direção. Começo a me desesperar, pensando que teria de pedir informações a alguém. Penso que não sou mais a mesma, eu nunca havia tido medo de pedir informações a alguém. Mas, aparentemente, agora tenho.

Continuo caminhando pelo longo corredor povoado de pessoas estranhas a mim. O sinal toca. “Graças a Deus!”, sussurro. Em questão de segundos não existe praticamente ninguém nos corredores.

Olho para os lados enquanto ando. Finalmente avisto uma porta com uma placa, bendita placa!, em que se lê:

Sr. Antony Favero

Diretor

Dirijo-me à porta e dou-lhe três batidas. Ouço uma voz rouca, frágil:

–- Entre!

Abro a porta. Percebo que agora estou em um ambiente diferente do que eu havia imaginado. Há plantas, muitas plantas. E quadros. Plantas, quadros e uma escrivaninha com um homem de aparência bondosa, mais parecendo o Papai Noel, atrás dela.

–- Boa tarde, senhor. Eu sou Sophie Molina. Aluna nova.

–- Ah, sim – ele sorri. – Claro! Eu lhe levarei até sua sala pessoalmente, mas, antes, aqui está seu horário e seus livros, e o número de seu armário.

–- Obrigada! – digo, sorrindo também, mais por educação que por vontade. Ele percebe. Seu sorriso desaparece.

–- Seu pai contou o que aconteceu – disse em tom afável. – Sinto muitíssimo por sua perda. A sua turma já foi avisada a não comentar o assunto, já que aqueles jornalistas fizeram o favor de botar a história em todos os jornais. Então, não se preocupe, está bem?

Limitei-me a assentir. E nos pomos a caminhar. Eu com os braços carregados, até que o diretor me mostrou o meu armário e pude pôr minhas coisas ali. Encaminhamos-nos para a sala. E, quando chegamos lá, eu o vi. E estaquei.


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