Além Da Amizade escrita por Esc L


Capítulo 17
Continuação Capítulo 8.




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 Vem meninas, vamos embora. - a Lu abraçou nós duas, nos confortando.

 Não quero, Lu quero ficar aqui com o papai. - funguei, a olhando.

 Não da Gabi. - ela falou me olhando.

 Porque não? O doutor disse que eu poderia ficar. - falei chorosa.

 Você precisa ir pra casa, almoçar, não comeu nada ainda, esqueceu? 

 Não quero comer, quero ficar com o meu pai. - falei feito criança birrenta.

 Vamos pra casa, mais tarde a gente volta. - o Lipe falou enquanto me abraçava.

 Não quero. - teimei.

 Gabi, por favor. Eu volto contigo mais tarde. - a Lu falou.

Eu olhei com cara feia, ainda resistindo. Eu não queria ir embora, não queria arredar o pé dali até saber que meu pai sairia bem.

 Não adianta você ficar aqui, não vai poder ver seu pai, e precisa se alimentar. - o Felipe falou enquanto me olhava sério.

 Mas Lipe... 

 Por favor? - pediu, me olhando nos olhos.

Provavelmente se eu não fosse embora, ele ficaria uma fera comigo, e por um lado, ele estava certo, não ia adiantar eu ficar ali, já que eu não poderia ver meu pai. 

 Mais tarde você volta, eu volto contigo se você quiser. - acariciou meu rosto, enquanto eu o olhava - Por favor.

 Ta bom. - falei relutante - Eu vou poder voltar mais tarde, né? - olhei pro doutor.

 Vai sim minha querida, te espero aqui mais tarde, agora vá descansar. - falou calmo.

 Vamos então? - a Lu falou abraçada a Giovanna.

Eu apenas assenti com a cabeça e abracei o Felipe, indo em direção ao elevador com eles.

Não demorou muito até chegarmos em casa, confesso que eu estava cansada, chateada e destruída, com o coração ligeiramente apertado por ter deixado meu pai, sozinho, naquele hospital. 

Assim que chegamos a Lu pediu para que nós fossemos nos aprontar, enquanto ela ia ver como o Gustavo estava. Eu e o Felipe nos sentamos na sala de TV, enquanto a Giovanna subiu pro quarto dela, minutos depois o Gustavo desceu as escadas correndo e vindo até onde nós estávamos.

 Oi mana. - ele sorria, enquanto pulava em meu colo.

 Oi meu gato! - dei um beijo em seu rosto, o apertando em meus braços.

 Oi Fe. - ele sorriu pro Felipe, fazendo o toque que eles tinham inventado.

 E ai, Gu. - sorriu em retorno.

 Tu foi ver o papai hoje, mana? 

 Uhum. - falei o olhando, lembrando-me dos momentos que havia passado com o meu pai naquele dia.

 E ele tá forte? Ninguém deixa eu ir ver ele. - fez cara de triste.

Senti um aperto no peito, não sabia se respondia tua pergunta correspondendo a realidade, ou se enfatizava, afinal, ele era só uma criança.

 Ele vai ficar forte. - dei um sorriso fraco.

 Mas tu tá triste maninha - ele acariciou meu rosto - o papai disse que a gente sempre tem que sorrir, porque tu não tá sorrindo? 

 A mana só ta cansada, Gu. - respirei fundo, segurando o nó que não saia da minha garganta.

Era uma sensação de tristeza sem fim. Como sorrir em meio a isso tudo? Me diz? 

O Gu olhou pro Felipe com aquela carinha de desconfiado que ele fazia quando não acreditava em algo e logo em seguida abriu um sorriso.

 Sabe o que a gente tem que fazer quanto tá triste? - ele perguntou pro Felipe.

 Não. O que tem que fazer? - se fez curioso.

 DAR UM ABRAÇO DE URSOOOOO! - gritou, me agarrando pelo pescoço, abraçando-me com toda força que ele tinha.

Eu ri em meio ao abraço, a inocência dele era a melhor coisa pra deixar alguém melhor, seu sorriso, seu abraço, traziam uma paz sem tamanho.

 Vem Fe abraça que nem urso também! - ele falou rindo, enquanto estava abraçado a mim.

O Lipe riu, abraçando a nós dois juntos, nos apertando em seus braços, rindo com nós dois. Ficamos por alguns minutos naquele abraço, até sessarmos o riso, nos desvencilhando um dos braços do outro.

 Viu, tu riu com o meu abraço de urso. - comemorou, feliz.

 O melhor abraço de urso do mundo. - falei enquanto beijava sua cabeça.

Ficamos na sala até sermos chamados para o almoço, que já estava servido. 

Após almoçarmos, subi pro meu quarto, junto com o Felipe que veio atrás de mim. Eu estava tão calada, tão sem assunto que me sentia sem graça em sua presença, por na maioria do momento, não estar sendo a melhor companhia pra ele. 

 Eu vou tomar um banho, ta?

 Ta bom, vai lá. - sorri sem mostrar os dentes.

Ele me deu um beijo demorado na testa, indo em direção ao quarto de hóspedes. Entrei em meu quarto, e me deitei na cama, agarrando-me a uma das almofadas que tinham ali em cima. Assim que me virei pro lado, notei que em cima da escrivaninha ao lado tinha um porta retrato, com uma foto minha com o meu pai, quando eu era pequena. Sorri ao ver aquela foto, era uma das minhas preferidas, eu havia chegado tão atordoada, que nem tinha notado aquele porta retrato ali. Peguei ele, segurando-o no ar com as mãos, observando a fotografia. Parecíamos estar tão felizes, ele estava tão bem, tão forte e cheio de vida. 

As lágrimas inevitáveis invadiram meus olhos. Porque as coisas mudam? Porque as pessoas que mais amamos tem que partir? Sem sombra de dúvida alguma, pais deveriam ser eternos. Ele não havia morrido, mas eu sentia no fundo da minha alma, que ele estava partindo, eu estava o perdendo, e precisava a todo custo me preparar pra isso. Mas como se preparar para o que mais queremos evitar? Como se preparar para perder a pessoa mais importante da sua vida? Eram perguntas que eu me fazia a todo instante. Eu não queria perde-lo, não aceitava, ele deveria ser pra sempre. Sem ele eu morreria. 

 Chorando de novo? - o Felipe perguntou preocupado, enquanto adentrava o quarto.

Eu me limitei a falar, só o olhei, chorando ainda mais. Ele se sentou do meu lado, olhando a foto que estava em minhas mãos.

 Ele estava tão bem. - falei com dificuldade, em meio aos soluços causados pelo choro - Olha como nós estávamos felizes.

Ficamos olhando a fotografia por alguns minutos, no silêncio que logo foi interrompido por ele.

 Realmente - sorriu - olha como tu sempre foi gorda. - ele riu, apertando minhas bochechas.

Dei um risinho entre o choro, só ele pra me despertar o riso em meio as lágrimas.

 Ele vai morrer. - o abracei, afundando minha cabeça em seu peito - Eu sinto que to perdendo ele, sabe? Sinto que ele vai partir. 

 Você ta atordoada com tudo isso, precisa descansar. - falou enquanto encostava sua testa em minha cabeça.

 Ele não pode me deixar, Lipe, não pode. - eu chorava tanto que minha voz mal saia.

 Shiiiiiu - alisou meus cabelos - descansa um pouquinho, descansa. - deu um beijo no topo da minha cabeça.

Eu o abracei o mais forte que pude, fazendo dele o refúgio que eu procurava, sabendo que só seus braços tinham o poder de me acalmar por inteira.

 Como você dorme! - falou em um tom brincalhão, dando um beijo em minha testa.

Eu havia acabado de acordar, tinha chorado tanto que acabei pegando no sono em meio as lágrimas, que tinham se resultado no olho inchado que eu estava.

 Tava cansada. - expliquei-me, coçando os olhos - Que horas são? 

 Seis e meia, às oito vamos para o hospital. 

Apenas o olhei, assentindo e me agarrando mais nele. Estava tão bom ali, no quentinho dos seus braços, sentindo aquele cheiro maravilhoso que ele tinha, que eu mal tinha vontade de levantar.

 Tá tão bom aqui que nem quero levantar. - falei com dengo.

Pude ouvir um risinho sendo dado acima de mim, me fazendo rir também. 

 Não precisa levantar, tá tão bom assim, esses seus peitos colados em mim. - riu.

Eu o olhei séria, enquanto ele me olhava com a maior cara de pau do mundo, cínico! Dei um tapa leve em seu ombro e me desvencilhando de seus braços.

 Era brincadeira princesa, vem cá! - pegou em minha mão, me puxando pra ele novamente.

 Preciso levantar e me aprontar, seu chato. 

Puxei minha mão, mas ele foi mais rápido e me puxou novamente pra ele fazendo com que meus braços ficassem apoiados em seu peitoral. Ele me olhou com um sorriso no canto dos lábios, entrelaçando os dedos em meus calos, puxando-me para mais perto acabando com o espaço entre nós, iniciando um beijo lento. Levei uma de minhas mãos até seu rosto, segurando no mesmo enquanto ele brincava com a minha língua e descendo sua outra mão até a minha cintura, o beijo foi se intensificando, ganhando cada vez mais ritmo, apoiei minha outra mão livre em seu peito, enquanto ele dava leves apertões na minha cintura, por de baixo da blusa. Não havia beijo melhor que aquele, não havia beijo melhor que o nosso beijo. Seu toque era excepcional, e o efeito que ele me causava era incomparável a qualquer outro. Ele reverteu as posições, ficando por cima de mim, separando nossos lábios apenas para tomarmos o ar que nos faltavam colando-os novamente logo em seguida, sua mão passeava por minhas costas, enquanto apertava um de minhas coxas, desci minha mão para suas costas, apertando-o contra mim, mordicando seu lábio inferior, a essas horas nenhum de nós raciocinava sobre nada, e pra ser sincera, eu não queria pensar sobre nada, porque naquele momento, éramos nós, e mais ninguém. Subi minhas mãos por dentro de sua camiseta, passando as unhas levemente, na lateral de suas costas, até que fomos interrompidos pelo toque de seu celular anunciando que uma mensagem havia acabado de chegar. 

Parei o beijo, o olhando, com nossas respirações descompassadas e tomando o fôlego que me faltava, voltando a realidade, ele selou nossos lábios novamente, pronto pra iniciar mais um beijo, mas eu parei por ali mesmo.

 Vê de quem é, pode ser importante. - falei ofegante, tentando respirar calmamente. 

Ele me olhou relutante, revirando os olhos, decepcionado. Dei um risinho mentalmente, ele fazia uma carinha linda, o que me dava uma vontade imensa de beija-lo. Ele pegou o celular, olhou para a tela e me olhou, voltando seu olhar para a tela novamente.

Eu o olhei desconfiada, chegando mais pra perto, para que eu pudesse ter uma visão do que se tratava o sms, sentindo uma onda de irritação interminável me invadir assim que li o sms. Era da Larissa, o qual dizia: 

"Saudades de você meu gostoso, fui até a sua casa e fiquei sabendo que viajou com a sua amiguinha. Volta logo, prometo que lhe darei uma noite de prazer como nunca teve, estou morrendo de saudades e preciso do seu calor por perto ;9 

Te amo, gostoso sz."

Como podia ser tão vadia? Alguém me diz? Soltei o ar dos meus pulmões, já irritada. O Felipe me olhou percebendo total irritação, ele me fitava, enquanto milhões de coisas passavam-se por minha cabeça, principalmente a vontade enorme de quebrar dedo por dedo daquela loira oxigenada. Como se já não bastasse o meu pai morrendo, agora tinhas essa garota pra perturbar minha vida. 

 Vocês estavam ficando de novo? - o olhei séria.

Ele arqueou uma das sobrancelhas, soltando uma gargalhada logo em seguida. Legal, além de trouxa eu tinha virado palhaça também.

 Mas é claro que não, Gabi. - falou enquanto tentava cessar o riso.

 E tá rindo por que? - permaneci séria - Não estavam ficando mesmo? - perguntei receosa.

Por mais que eu quisesse saber a resposta daquela pergunta, senti um receio enorme, não queria me decepcionar com ele.

 Não mesmo, sua boba. - ele acariciou meu rosto - Eu te falei que não estava ficando mais com ela, e não menti, eu não conseguia e nem consigo mais ficar com ninguém além de você. - selou nossos lábios calmamente.

Eu esbocei um sorriso aliviado, relaxando meus ombros. Mas ainda não havia acabado.

 E porque um sms desses? - o olhei confusa - O que ela quer com você, afinal?

 E eu vou saber? - deu um risinho - Você sabe como a Larissa é, não desiste fácil. - fez careta.

 Pois se ela não desiste fácil, eu muito menos. - falei séria - Meu gostoso - falei com voz de nojo - ela ta pensando que é quem? - perguntei indignada. 

 Ela eu não sei - riu - mas eu sei que você é uma ciumenta linda, que fica ainda mais linda assim, toda irritadinha, cheia de ciumes. - deu um beijo em minha bochecha, enquanto ria.

 Eu não tô com ciumes! - neguei - Só não me conformo como uma pessoa pode ser tão oferecida assim. - esbravejei.

A verdade é que eu estava morrendo de ciumes, e perde-lo pra ela era o que eu não queria.

 Tá sim, cheia de ciumes de mim. - revirei os olhos enquanto ele me zoava - Ciumenta. - ele me deu outro selinho, dessa vez demorado.

 Af, vou tomar banho. - resmunguei.

Sai em direção ao banheiro, enquanto ele ria da minha cara e da cena patética que eu havia feito. Eu não devia ter ciumes, afinal, nós só estávamos ficando e não passávamos de nada além disso. 

 Ela eu não sei - riu - mas eu sei que você é uma ciumenta linda, que fica ainda mais linda assim, toda irritadinha, cheia de ciumes. - deu um beijo em minha bochecha, enquanto ria.

 Eu não tô com ciumes! - neguei - Só não me conformo como uma pessoa pode ser tão oferecida assim. - esbravejei.

A verdade é que eu estava morrendo de ciumes, e perde-lo pra ela era o que eu não queria.

 Tá sim, cheia de ciumes de mim. - revirei os olhos enquanto ele me zoava - Ciumenta. - ele me deu outro selinho, dessa vez demorado.

 Af, vou tomar banho. - resmunguei.

Sai em direção ao banheiro, enquanto ele ria da minha cara e da cena patética que eu havia feito. Eu não devia ter ciumes, afinal, nós só estávamos ficando e não passávamos de nada além disso. 

Quatro dias haviam se passado desde o primeiro dia que passei a noite com o meu pai no hospital e pra falar a verdade, fazia tempos que eu não tinha uma noite como aquela. Passamos a noite conversando e rindo como nos velhos tempos, dessa vez com a presença do Felipe que ficou no quarto conosco, fazendo com que meu pai soltasse algumas piadinhas constrangedoras sobre o que nós tínhamos, ou quase nem tínhamos. Mas é claro que além de risos, foi de muito choro, não na frente do meu pai, claro, mas sim quando na hora que cheguei em casa, que desabei novamente com o Felipe ao meu lado. Nos dias seguintes, passei todas as noites com o meu pai no hospital, exceto uma das noites que a Lu pediu para dormir com ele fazendo com que eu descansasse - e era praticamente impossível naquela situação - e pra ser sincera, eu estava exausta, porque sempre que ele dormia ou pegava no sono, eu o observada dormindo, velando seu sono como uma mãe que vela o sono do filho com medo de que algo de ruim o acontecesse, eu não saia daquele hospital, e quando saia era pra ir em casa, dormir por uma horinha e voltar ao hospital. O Doutor Marcello tinha aumentado os horários de visitas, o que não era nada bom, meu pai piorava a cada dia, como ele dizia "morria um pouquinho mais a cada dia" fazendo-me morrer cem vezes mais que ele. Ele estava mais magro, mais abatido e sua expressão era de cada vez mais cansada e vê-lo daquela maneira me torturava por inteira. 

Em uma das noites que o Felipe dormiu conosco no hospital, meu pai havia me pedido um tempo para conversar a sós com ele, o que me deixou um tanto curiosa, porque enquanto o Felipe saia do quarto, pude ver de longe ele secando algumas lágrimas e assim que se aproximou de mim, me abraçou tão forte que quase perdi o ar e ele soltou a seguinte frase "Eu vou cuidar de você, viu? Sempre." e beijou minha cabeça cuidadosamente, me abraçando mais uma vez. Nesses quatro dias, também fomos perturbados insistentemente pela Larissa, que em um dos dias ligou diversas vezes para o Felipe, fazendo-me perder a paciência e pedir para que ela parece de encher o saco, pelo menos por algumas horas, resultando em dois dias sem suas ligações e mensagens irritantes. 

Contudo, todos estávamos tentando sermos fortes, inclusive a Lu que além de cuidar de tudo relacionado ao meu pai, cuidava de nós a todo custo. Quatro dias haviam se passado, os quatro mais duradouros e dolorosos dias da minha vida.

Eu estava em casa, terminando de arrumar meu cabelo para voltar ao hospital, quando a Lu passou apressada pelo meu quarto.

 Gabi, to indo pro hospital. - ela falou atropelando nas palavras.

Um frio subiu pela minha espinha, e meu coração se dilacerou em pedaços só de imaginar o que poderia ser.

 Porque? O que aconteceu com o papai? - perguntei aflita.

 Seu pai piorou Gabi, piorou muito, ele teve uma hemorragia, não sei direito - algumas lágrimas escorriam de seus olhos - não tenho tempo, preciso ir pra lá.

O desespero tomou conta de mim, parecia que a cada momento aquele pesadelo se intensificava ainda mais. Engoli o choro respirando fundo.

 Eu vou com você Lu - falei com a voz falha - não vou te deixar ir sozinha, assim. 

Ela apenas assentiu, descendo as escadas, eu peguei meu celular e desci correndo atrás dela, o Felipe que me esperava na sala olhou confuso a cena e veio correndo até nós.

 O que foi, Gabi? O que ta acontecendo? - ele perguntou confuso, enquanto eu entrava no carro.
 Meu pai piorou, não sei bem o que aconteceu, nós estamos indo pro hospital. - falei em tom de preocupação.

O desespero que eu estava sentindo era tanto, que as lágrimas que queriam rolar mal saiam. 

 Espera, eu vou com vocês. - ele disse abrindo a porta traseira do carro.

A Lu ajeitou o cinto e deu a partida no carro, indo em direção ao hospital com toda a velocidade que podia fazendo com que a nossa chegada ao hospital não fosse demorada. Ao adentrarmos ela se informou na recepção, pegando os crachas e nós fomos em direção á um dos elevadores que tinham ali, subindo até um andar diferente do qual ele estava horas mais cedo.

 Lu, porque nós subimos pra oitavo andar? - perguntei sem entender.

 Teu pai ta passando por alguns exames, e o doutor Marcello está nos esperando aqui. 

Eu olhei pro Felipe, que estava do meu lado, só observando tudo que acontecia, ele me deu um sorrisinho, parecendo me incentivar, e eu o olhei com um olhar de gratidão, fazendo com que ele me mandasse uma piscadela. Não demorou muito e o elevador já estava no andar onde meu pai se encontrava, assim que saímos nos deparamos com o doutor sentado em um dos típicos sofás que tinham nos corredores de lá, com a cabeça apoiada nas mãos. 

 Cadê ele doutor? - ela perguntou aflita, enquanto nos aproximávamos dele.

 Como meu pai ta? - perguntei aflita também.

 Calma, peço que tenham calma. - ele nos olhou firme.

Meu coração se apertava a cada palavra dele, só ele poderia nos contar o que estava acontecendo e isso me afligia ainda mais.

 Venham, sentem-se aqui por favor. 

Ele deu espeço para que nós pudéssemos nos sentar no sofá, assim fizemos, e mantemos nosso olhar nele, para que ele prosseguisse no que iria nos falar.

 Fala Marcello, por favor. - a Lu pediu já nervosa.

 Bom, houve uma piora muito grande no quadro do Alessandro, maior do que nós imaginávamos. - ele nos olhou com um olhar receoso, talvez por medo da nossa reação - Ele teve uma hemorragia, como eu já havia informado, e isso é muito grave, então prosseguimos com alguns exames, já que ele não vem reagindo a medicamento algum, e bem... - ele deu uma pausa torturante, angustiando-me ainda mais.

 E? Fala doutor! - pedi já aos prantos.

 E não tem mais o que possamos fazer. - ele falou lamentando - Eu e minha equipe tentamos de todas as maneiras, mas já não há mais nada a ser feito, só o que nos resta é rezar pra que um milagre aconteça. - sua voz saiu falha.

Eu o olhei aflita, caindo num choro incessável. Ele estava nos avisando que meu pai morreria, que só faltava assinar seu atestado de óbito. 

 O senhor tá falando que ele vai morrer? É isso? - falei com dificuldade, por conta das lágrimas que me dominavam sem parar.

 O câncer dominou todo o corpo dele, não há uma parte que ele não tenha se manifestado, de tudo que podia fazer, nós fizemos minha querida. - ele me parecia receoso, talvez por dizer tantas verdades de uma vez só, verdades que partiam pedaço por pedaço do meu coração - Não tem mais nada que se possa fazer, infelizmente a medicina ainda não está tão avançada a esse nível.

A Lu, junto de mim, chorou ainda mais do que pôde, e eu senti uma dor imensa ao me colocar em seu lugar. Eu ainda tinha quem me consolasse, ainda tinha o Felipe pra me ajudar e dar todo apoio possível, mas e ela? Como ficaria com a partida do meu pai? Quem a consolaria e a ajudaria com os meus irmãos? Péssima hora pra Deus decidir tirar meu pai de nossas vidas.

 Ele não pode morrer doutor, não pode. - desesperei-me, segurando em seu jaleco - Salva ele, salva a vida dele, por favor! - pedi mediante ao choro, que não seria sessado tão cedo.

Ele me olhou sem reação, apenas me dando um olhar de quem lamentava.

 Por favor. - falei baixinho, caindo sem forças, diante de seus pés.

Só o que eu sentia, era a dor que gritava desesperadamente dentro de mim, eu mal me aguentava em pé, não tinha condições, muito menos forças. Eu chorava caída no chão, diante de seus pés, a Luciana e o Felipe, ao verem a cena, foram até mim levantando-me junto do doutor e sentando-me novamente no sofá que tinha ali.

 Gabi, calma, por favor. 

A Lu pedia, mas eu mal o escutava, estava em conflito comigo mesma, dentro de mim, conflito sem resolução alguma, era como se um buraco abrisse lentamente dentro de mim. Só o que vi, foi a Lu e o doutor Marcello caminhando até uma porta grande, deixando-me ali com o Felipe. 

 Ei - ele me puxou pra si, acolhendo-me em seus braços - calma amor, você precisa ficar calma. - ele secou minhas lágrimas, dando um beijo demorado em minha cabeça. 

Amor, ele tinha me chamado de amor. Eu o pedira pra repetir, se não fosse diante daquela situação, ou se eu conseguisse pronunciar palavra alguma. Agarrei-me a ele com força, chorando ainda mais.

O Felipe ficou comigo até o doutor voltar acompanhado da Lu, que já não chorava mais, mas tinha os olhos fortemente avermelhados. Eu os observava enquanto eles aproximavam-se de nós.

 Quer ver seu pai? - o doutor perguntou me olhando.

Eu assenti que sim com a cabeça, o olhando.

 Ok, mas tu só vai poder vê-lo pelo vidro, tudo bem? Ele ainda não pode receber visitas. 

Decepcionei-me ao saber que só poderia ver ele daquela forma, mas ainda assim queria vê-lo, melhor isso do que nada, não é? 

Eu me levantei sob o olhar do Felipe e da Lu e caminhei ao lado do doutor, o acompanhando e sendo guiada por ele, entramos pela grande porta que tinha ali, e fomos caminhando por um longo corredor, era incrível como aquele lugar era tão grande, eu me perderia facilmente ali, parecia uma cidade. 

Caminhamos um pouco mais até o doutor parar no corredor, me fazendo o olhar sem entender o que ele pretendia.

 É ali - ele apontou para uma parede, onde tinha um vidro enorme que parecia dar a visão para um quarto. 

Respirei fundo, tomando todo ar necessário e caminhando até o vidro que tinha ali, parando em frente a ele e observando o ser quase irreconhecível que estava do outro lado do vidro, se eu não reconhecesse tão facilmente meu pai, não diria que era ele deitado naquela cama, tão frágil e indefeso de tudo. 

Chorei horrores ao vê-lo pior do que já podia estar, era horrível vê-lo morrendo e não poder fazer nada, eu me sentia um lixo, me sentia sem finalidade alguma. As agulhas em seus braços, sua pele pálida, sua boca sem cor, ele dormia e se eu não soubesse que estava dormindo, diria que tinha morrido. Meu coração se dilacerava cada minuto mais e as lágrimas rolavam incontroláveis, era demais pra mim vê-lo daquela maneira, demais mesmo. 

Sai correndo dali, aos gritos do doutor Marcello, mas não dei ouvidos, passei por aquela porta ainda correndo, e fui trombada de surpresa pelo Felipe, que me agarrou num abraço. Agarrei-me em seus braços e o abracei com toda a força do mundo, fechando os olhos ainda em prantos, pedindo pra Deus que tudo aquilo ainda não passasse de um pesadelo horrível e torturante.

Felipe narrando:

Era horrível pra mim ver a Gabi daquela maneira, tão frágil e indefesa, a cada minuto que se passava e eu a via sofrer, eu sentia vontade de pegar toda dor que ela sentia pra mim, e livra-la de tudo aquilo. Eu sabia o quão difícil estava sendo pra ela tentar ser forte, ela fazia pose e caras na frente dos outros, como se fosse imbatível, mas eu sabia o quão frágil a minha menina era, e a cada vez que eu a tinha em meus braços, que eu a abraçava, eu tentava ao máximo passar todas minhas forças pra ela, mostrar que eu estava ali independente do que fosse e que as dores dela, eram as minhas dores, que as minhas forças eram por ela e pra ela. 

Na hora em que ela passou correndo por aquela porta, trombando e se agarrando à mim, abracei-a com toda força que pude, lhe consolando e secando suas lágrimas, com um aperto sem tamanho no peito. No dia em que seu pai havia pedido para conversar comigo ele me disse boas e sábias palavras, recomendou-me e me aconselhou sobre muitas coisas, impondo suas condições de um futuro namoro com a Gabriella, ele era uma das melhores pessoas que eu já tinha conhecido.

Estávamos sentados no sofá que tinha no corredor do hospital, seu pai já havia voltado ao quarto, mas ainda não podia receber visitas, ela estava agarrada a mim, e cochilava enquanto eu acariciava seus cabelos, como uma pessoa podia ser tão linda, isso eu não sabia. Não demorou muito pra ela acordar, ela me olhou meio atordoada, com um olhar assustado, e eu sorri pra ela numa tentativa de mostrar que estava ali com ela. Seus olhos azuis já não tinham mais o brilho que sempre teve e ganhava um pouco mais de intensidade na cor, por conta da vermelhidão que o dominava, efeito das horas de choro e cansaço. Eu acariciei seus cabelos, dando um beijo demorado no topo de sua cabeça logo em seguida, confortando-a. Ela afundou seu rosto em meu pescoço.

 Tá com fome? - perguntei, abaixando um pouquinho meu pescoço para poder olha-la.

 Não. - ela falou baixinho com a voz falha. 

 Você precisa comer Gabi, não comeu nada desde o almoço de ontem e já se passaram do meio dia. - falei calmo, a olhando. 

 Não quero comer.

Eu sabia que seria difícil faze-la se alimentar, ela era teimosa e sua teimosia a predominava por completa.

 Come só um pouquinho? 

Ela fez que não com a cabeça. Se ela não se alimentasse, mais cedo ou mais tarde acabaria desmaiando por ali mesmo, e isso era o que eu menos queria.

 Só um pouquinho Gabi, por favor. 

 Não quero Felipe. - ela falou séria. 

Respirei fundo, mostrando insatisfação sentindo ela se encolher ainda mais em meus braços. Decidi não insistir, porque caso isso acontecesse ela iria teimar ainda mais, e acabaríamos um ficando de cara com o outro e eu não queria isso naquele momento, afinal, eu daria um  

jeito depois.

 Gabriella? - o doutor Marcello a chamou.

 Oi? - ela o olhou rapidamente.

 Seu pai já está liberado pra visitas, mas está dormindo, deseja vê-lo? 

 Quero sim. - ela deu um sorrisinho de canto. 

 Só vou te pedir pra não acorda-lo, os exames foram longo e seria bom que ele descansasse. - alertou-a.

 Tudo bem. - ela sorriu de canto e me olhou logo em seguida - Vai comer alguma coisa, você tá sem se alimentar - ela falou carinhosa, como se quem precisasse comer fosse eu - talvez eu demore um pouquinho, ta? 

 Tudo bem. - sorri pra ela - Vai ficar bem?

 Uhum. - ela me deu um selinho e foi em direção ao quarto do pai dela.

Fiquei a olhando entrar, sentindo um aperto imenso no peito. Fui em direção ao elevador, eu realmente precisava comer, estava morto de fome e fazia algumas horas que eu não comia, entrei no elevador entretido em meus pensamentos, se não fosse por um milagre, dali em diante as coisas só iriam piorar.

  Gabriella narrando:

Deixei o Felipe pra trás, junto com o doutor e fui caminhando em direção ao quarto do meu pai, com o coração na mão, disparando a cada passo que eu dava e ficava mais próxima da porta, ao chegar de frente a mesma a abri de vagar, dando passos lentos, como da primeira vez que eu tinha visto ele naquele quarto de hospital. Ao vê-lo deitado naquela cama, com seu estado pior que da primeira vez que eu o tinha visto, senti uma onde de medo me invadir e senti meu coração diminuir, ficar pequenininho, sentindo-me indefesa, junto a ele que estava mais que eu. As lágrimas passaram a invadir meus olhos enquanto eu me sentava na poltrona ao lado de sua cama, peguei em sua mão direita, com todo cuidado do mundo, acariciando-a calmamente, suas mãos estavam levemente geladas, sua pele já havia mudado de cor pra um tom amarelado e bastante pálido, seus cabelos que antes eram muitos já havia caído boa parte, todos aqueles aparelhos ligados ao seu corpo, tudo aquilo me agoniava, eu tinha vontade de tirá-lo dali e ficar no lugar dele, tudo que eu mais queria era salvar sua vida, eu morreria por ele, se possível. Em meio a tantas lágrimas, tomei iniciativa de pelo menos tentar falar pra ele tudo que estava sufocado em mim, mesmo que ele não fosse ouvir, eu precisava falar. 

 Oi campeão - funguei, tentando conter as lágrimas persistentes - que situação que nós estamos, não é? Olha pro senhor, quem diria que iria se encontrar assim um dia, hein? E porque logo você? To me fazendo essas perguntas todos os dias, sério mesmo. - solucei - Tá doendo tanto te ver assim papai, tanto, porque tudo que eu menos quero nessa vida, e não quero é te perder, eu não posso te perder o senhor é tudo pra mim, sempre me ajudou em tudo - sorri secando as lágrimas com as costas das mãos, enquanto acariciava com a outra mão, uma de suas mãos - esses dias eu tava lembrando de quando o senhor me ensinou a andar de bicicleta, lembra? Eu sempre que caía chorava e o senhor sempre me incentivava a continuar, com todo o carinho do mundo, sempre foi assim. Mas e agora, pai? E agora? Quem vai me incentivar a continuar quando eu cair? Em quem eu vou me firmar quando não me sobrarem forças? Eu faria de tudo, tudo mesmo pra estar no seu lugar, só pra não te ver como o senhor está agora, só pra não te ver sofrendo, sentindo dor, morrendo um pouco mais a cada dia que passa. Eu já estou tão cansada de chorar, pai, e só o que eu sei fazer ultimamente é isso, chorar. - eu soluçava, dessa vez com o choro mais calmo - Acho até que o Felipe já deve estar cansado de me ver chorar, deve estar me achando uma manteiga derretia. - dei um risinho em meio ao choro, até mesmo em situações assim o Felipe não deixava de estar presente e me fazer rir - É, eu sei que o senhor gostou dele, e preciso te contar que se não fosse pelo senhor nós não estaríamos juntos hoje, por isso eu te agradeço viu, obrigada mesmo, porque se não fosse pelo senhor e por ele, eu mal me aguentaria de pé. Você precisa ficar bem papai, porque eu realmente não sei se vou ter forças sem o senhor pra me manter de pé, não vou suportar te perder, isso eu posso te garantir, se já está difícil com o senhor aqui, assim, imagina sem, meu coração se dilacera só de imaginar. - e o choro tomou conta de mim mais uma vez, estava doendo e só eu sabia o quanto - Tá todo mundo sofrendo, todo mundo agoniado com isso, eu, a Gigi, o Gu que é pequenininho e ainda não entende, mas sente sua falta, a Lu, todo mundo. O senhor precisa ficar bem pai, nós precisamos de você aqui conosco, campeão. - deitei meu rosto com cuidado, sobre sua mão, dando um beijinho na mesma - Eu te amo mais que tudo nessa vida, não me deixa não. - falei baixinho, ainda chorando.

Fiquei em silêncio, apenas chorando com a cabeça sobre a cama e acariciando sua mão, apenas eu e ele, naquele silêncio agonizante, mas também confortante.

Fiquei um bom tempo com o meu pai até o doutor entrar avisando que meu tempo já tinha chago ao limite, dei um beijo na testa dele seguido de um "eu te amo, fica bem" e me retirei do quarto ao chegar no corredor, procurei o Felipe com os olhos pra ver se ele estava ali, mas não tive sinal dele, olhei confusa pro doutor e depois olhei o corredor novamente, vendo se eu o achava perdido por ali. 

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Notas finais do capítulo

Continua...



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