Além Da Amizade escrita por Esc L


Capítulo 16
Continuação Capítulo 8.




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Ele olhou tímido pro Lipe, que estava agachado à sua frente, com um sorriso nos lábios.

 Qual o teu nome, namorado da Gabi? - ele olhou pro Felipe, que riu ao ouvir a pergunta dele.

Ele me olhou, ainda rindo enquanto eu também dava risada, mas também sentia minhas bochechas queimarem, por conta da pergunta do mocinho. Porque crianças não podia segurar a língua? Essa era uma coisa da qual eu nunca entendia. 

 Meu nome é Felipe - sorriu - e o seu é Gustavo, não é? - olhou com cara de sabido pra ele, que ficou surpreso.

 Caraca! - ele falou pausadamente - Tu é mágico? Como sabe meu nome? - ele estava realmente surpreso.

 Eu sei de tudo. - ele bagunçou o cabelo do Gu, que riu.

Como era bom ouvir aquela risada, o brilho de seus olhinhos, que antes pareciam apagados, agora se acendiam novamente.

 Tu quer ser meu amigo? Eu ia gostar de ter um amigo mágico. - o Gu falou radiante, olhando pro Lipe.

 É claro que eu quero ser teu amigo. - ele riu, olhando pra mim logo em seguida.

 Ó, esse é o nosso toque de amigos, então. - ele começou a mostrar um toque de mãos para o Lipe, que fez tudo como ele falava.

Depois de um tempinho ali, com os dois conversando sem parar, e o Felipe enchendo o Gustavo de risadas, minha madrasta voltou e com ela também veio uma de suas piores caras possíveis. Reparei bem em sua feição, e em seus olhos tinham olheiras, grandes olheiras e profundas também, ela estava levemente abatida e carregava uma expressão de preocupação. Assim que reparou que eu a observava, deu um leve sorriso, vindo em minha direção.

 Oi Lu. – dei um sorriso fraco pra ela. 

 Como tu tá? Foi bem de viagem?  

 Indo. – dei um sorrisinho a olhando – Foi sim. Mas e você, como tá? 

 Bem. – sua voz saiu vaga e ela sorriu, mas seu sorriso logo se desfez. 

Assim como eu, ela estava se fazendo forte, pois sabia que precisava ser forte, por ela e pela Gigi, que com certeza, não estaria em um dos seus melhores momentos. 

 Vejo que veio acompanhada, dessa vez. – ela sorriu, olhando pro Felipe que brincava com o Gu. 

 É – sorri – vim sim. – olhei pra eles também – E pelo jeito o Gu gostou dele.  

 Gostou sim. Já havia uns dias que eu não via esse sorriso no rostinho dele. – ela olhou pra baixo, com um olhar um pouco triste. 

De todos, por ser o que menos entendia, e por ter a idade que tinha, o Gu era o que mais precisava de cuidados, não só pela idade que tinha, mas também pela sua cabeça de criança, que por mais pura que fosse, também entraria em conflito caso o pior acontecesse, e ele perder aquela inocência que tinha, era o que todos menos queriam. 

 Bem, vamos indo? Tenho algumas coisas pra resolver.  

 Vamos sim. Mas Lu – dei uma pausa, a olhando – queria saber de uma coisa, antes.  

 Que coisa? – me olhou. 

 Eu vou poder ver o papai ainda hoje?  

 O horário de visitas já passou, o médico disse que iria abrir mais especo pra visitas a partir de amanhã. – ela me olhou com receio. 

 E como ele tá? Me fala, por favor. – olhei pra ela com piedade, quase que como uma suplicia, pra que ela me falasse a verdade. 

 Amanhã você vai saber de tudo – ela alisou meus cabelos, dando me olhando com pesar – Vai ser melhor assim. – deu um beijo em minha cabeça. 

Por que me esconder? Pra que? Isso só me causaria mais agonia, me deixaria com o coração mais apertado ainda. 

Eu ia abrir minha boca pra pedir mais uma vez que ela me contasse, mas ela me olhou séria, e em seu olhar ela parecia pedir um pouquinho de compreensão, então decidi me calar e assenti com a cabeça, compreendendo-a. Devia estar sendo difícil pra ela, assim como também estava sendo difícil pra mim.

 Vamos então? 

 Vamos sim. - sorri pra ela.

 Vêm filho, vamos! - ela chamou o Gu, que correu até ela.

 O meu amigo também vai, né? - ele olhou pra ela com aquela carinha de criança, quando quer alguma coisa.

 Vai sim, meu amor. - ela sorriu, alisando seus cabelos - Oi Felipe. - sorriu pra ele, acenando.

 Oi Lu. - ele sorriu pra ela.

 O carro está bem aqui à frente. - falou enquanto começava a caminhar.

Eu olhei pro Felipe, o esperando pegar as malas. Para não deixar que ele levasse todas, peguei a minha, facilitando pra ele, que afinal, não era nenhum "burro de cargas" né.

— Tá tudo bem? - me olhou nos olhos, acariciando meu pescoço.

 Aham. - dei um sorriso fraco, o olhando também, sentindo seu carinho.

 Esse aham foi duvidoso, mas tudo bem. - falou duvidoso, dando-me uma piscadela.

Eu dei um risinho, pousando minha mão em seu ombro e selando meus lábios nos dele, que iniciou um beijo rápido e um tanto carinhoso.

 Vamos? - sorri pra ele, ao encerrarmos o beijo.

 Vamos. - entrelaçou nossas mãos.

Nós fomos caminhando atrás da Lu, que já estava um pouquinho à frente, ao chegarmos no carro, colocamos nossas malas dentro do porta malas e entramos no carro, sendo guiados pela minha madrasta, que deu partida em direção a casa do meu pai. Eu encostei minha cabeça no ombro do Felipe, que passou o braço em volta do meu pescoço, me aconchegando a ele. Só Deus sabe o quanto eu tinha a agradecer ele, por estar sendo tão carinhoso e paciente comigo. 

Depois de vinte minutos com o Gu tagarelando sem parar sobre o Felipe e as mágicas que ele fazia, chegamos à casa do meu pai.

 Vou pedir para o Antonio subir com as malas de vocês, tá bem?

— Ta bom. 

 A Rosa já preparou seu quarto, e o quarto de hóspedes para o Felipe. - ela falava enquanto nós entravamos em casa.

O Felipe me olhou com uma carinha triste, por terem ajeitado o quarto de hóspedes pra ele e não o meu quarto também. Eu ri da carinha que ele fez. Era claro que eu não iria dormir longe do meu moreno.

A Lu subiu com o Gu, enquanto eu e o Felipe ficamos na sala de TV.

 Vamos ter que dormir separados. - fez carinha triste, encostando sua cabeça na minha.

 Calma que eu dou um jeito. - dei um selinho nele, que sorriu.

 Por isso que te amo! - riu.

Meu coração acelerou ao assimilar tais palavras. Abriu-se em meus lábios, um sorriso imenso e verdadeiro, era tão bom ouvir aquilo. 

Eu encostei nossas testas, o fitando, ainda sob efeito de suas palavras. aproximei meus lábios dos seus, olhando pros mesmos que esboçavam o lindo sorriso que ele tinha, desviei meu olhar para os seus olhos, novamente, roçando meus lábios aos seus. Ele mordeu meu lábio inferior, soltando vagarosamente e logo em seguida os selou, abri minha boca, dando espaço pra sua língua, que logo a invadiu, iniciando um beijo calmo e intenso. Eu segurava em seus cabelos, enquanto seus braços estavam envoltos em minha cintura. Todo o resto havia sido esquecido, estávamos só nós, mais ninguém.

 Gabi! - alguém gritou meu nome enquanto descia as escadas - Gabi! - falou, já próximo de nós, despertando-me do nosso momento, fazendo com que o nosso maravilhoso beijo se encerrasse - Ai, desculpa, não queria atrapalhar vocês! - levou a mão à boca, demonstrando surpresa.

 Ah – falei sem graça com a aparição dela na sala – oi, Gigi. – sorri pra ela. 

Pude sentir o Felipe apertar minha mão levemente, olhei com o canto do olho pra ele, que estava com as bochechas levemente avermelhadas, bagunçando os cabelos com a mão que estava livre, em sinal de vergonha. Estava lindo, tão lindo, todo envergonhado. Segurei o riso, o fazendo perceber tal ato e voltei meu olhar pra Giovanna, que nos olhava ainda envergonhada pelo "flagra" que havia nos dado. 

 Desculpa atrapalhar vocês. – desculpou-se mais uma vez, suas bochechas tinham um leve tom avermelhado, demonstrando total timidez. 

 Que isso Gigi, não atrapalhou em nada. – dei um risinho e me levantei – Como você ta, hein? – perguntei a abraçando apertado. 

 Indo né. – ela retribuiu, me abraçando apertado também . 

Nós ficamos alguns minutos nesse abraço, apenas em silêncio. Essa era uma das formas de confortarmos uma a outra com a situação, mesmo que fosse algo quase que irreparável. Dei um beijo em sua bochecha, fazendo-a sorrir. 

 Bom, não sei se você lembra, mas esse é o Felipe. – falei saindo de sua frente, dando a visão dele pra ela – Ele veio comigo, só pra encher o saco. – brinquei, mostrando a língua pra ele, que riu. 

 Eu lembro dele sim. – sorriu – Oi Felipe – acenou, sorrindo simpaticamente pra ele. 

 Oi Giovanna. – ele se aproximou dela, a cumprimentando. 

Ela sorriu tímida pra ele, e em seguida me olhou, abrindo ainda mais o sorriso.  

É, acho que a tua irmã vai passar de você, Gabi. – o Lipe olhou pra nós duas, comparando nossos tamanhos. 

A Giovanna riu de imediato, concordando com a cabeça. Agora eu havia virado motivo de gozação, por não ter crescido o suficiente, é mole? 

 Para, não tenho culpa de não crescer rápido como vocês. – falei manhosa. 

 Ah, eu acho que tu cresceu sim, Gabi – ela falou sorridente – cresceu uns meio centímetro, tá mais alta que da ultima vez que veio. – ela falou, me zoando.  

 Até você? – a olhei, me fazendo incrédula. 

 Ela só está falando a realidade, baixinha. – ele bagunçou meus cabelos. 

Eu o olhei me fingindo séria, mas na verdade, já estava acostumada com o Felipe fazendo tais comentários sobre a minha altura, porque na verdade, um metro e cinquenta e seis de altura, realmente não era lá aquelas coisas. 

 Somos realistas. – a Gigi completou, rindo. 

 Qual é? É um complô contra o meu tamanho?  

 Não, princesa, já vamos parar de falar do teu tamanho irreparável, né Giovanna? – falou rindo, e me puxando pra perto dele, me abraçando de lado. 

Ela apenas assentiu com a cabeça, cessando o riso aos pouquinhos. Era tão bom vê-la rindo daquela maneira, já que ultimamente, rir não vinha sendo o melhor remédio pra nenhuma de nós duas.

 Mas me conta, e o papai, como ele tá? - perguntei enquanto nós sentávamos novamente.

Ela respirou fundo, me olhando naquele jeitinho todo dela, cheio de cautela. A olhei com firmeza, pra que ela prosseguisse o assunto.

 Ah, ele tá daquele jeito, né Gabi. - fez uma carinha triste - Ele teve uma piora muito grande depois que tu foi embora, ele já não reage mais a medicamento nenhum, os médicos disseram que a tendência é piorar, ou seja... - ela suspirou, já com os olhos marejados.

Ouvir aquelas palavras foram como um soco no estômago, faltou-me o ar, me permaneci estática, apenas a olhando, ainda absorvendo o que ela havia dito. Minha maior vontade foi chorar, sair correndo e ir de encontro onde meu pai estava, cuidar dele, e pegar todo tipo de dor que ele sentia, pra mim, mas só o que me limitei a fazer, foi continuar no meu melhor estado, se é que se podia afirmar isso. Eu tinha que ser forte.

 Hum. - tomei fôlego, ainda a olhando - A Lu disse que amanhã nós vamos vê-lo. - tentei sorrir.

 Vamos sim. - ela sorriu. 

Ficamos conversando, eu, ela e o Felipe. Colocamos tudo que tínhamos pra conversar em dia, ela me contou sobre a escola dela, sobre o Gustavo, que minutos depois estava pulando em cima de nós, e tagarelando sem parar, alugando o Felipe com suas brincadeiras, que junto com ele parecia outra criança. Depois de um bom tempo naquela bagunça total, nós fomos avisados de que o jantar estava servido, como nenhum de nós havíamos comido depois de chegarmos, aproveitamos para comer o máximo que pudemos, já que a fome era a nossa melhor amiga naquele momento. O jantar foi divertido, cheio de riso, mas nada era a mesma coisa, ao olhar a cadeira da ponta da mesa vazia, sem a presença da pessoa que mais nos fazia rir e nos divertia com suas brincadeiras. Era literalmente, desolante, não tê-lo conosco.

Após o jantar, foi servida a sobremesa, e pra carregar de mais tristeza, era a sobremesa preferida do meu pai, torta de morango. Comi aquilo com total dificuldade, não era a mesma coisa sem ele, não mesmo. Depois da sobremesa, fomos todos pra sala de televisão, eu, Lipe, Gigi, Gu e a Luciana, e mais uma vez, fomos invadidos de lembranças dele, já que sempre após o jantar nós tínhamos o habito de nos sentar na sala de televisão e jogar conversa fora até que nos cansássemos. Nada tinha sentido sem ele ali, tudo era vazio. 

Todos subiram para os seus respectivos quartos, menos o Felipe, que me acompanhou até o meu, e parou na porta do mesmo. 

 Te deixo por aqui, então. – ele fez uma carinha de triste. 

 É, por enquanto. – dei um sorrisinho, sem mostrar os dentes. 

Escorei-me na porta, voltando a pensar no que pensava a minutos atrás, perdendo-me em meus pensamentos. 

 Ei. – ele me olhava – Gabi? 

 Oi? – falei, voltando meu olhar pra ele. 

 Que foi, hein? No que tanto te incomoda? – me encarou – Notei que você ta assim desde a hora do jantar. 

 Nada. – tentei disfarçar. 

 Me fala, por favor. – continuou a me olhar. 

 É que sei lá – suspirei, abaixando a cabeça – não é a mesma coisa sem ele, sabe? – o olhei triste. 

Ele firmou seu olhar em mim por alguns segundos e se aproximou, passando seus braços por volta do meu pescoço, me abraçando. Eu retribui o abraço, o apertando contra mim, como uma forma de refúgio, seu abraço me acalmava, me trazia paz, e eu precisava muito disso. 

Ficamos nesse abraços por longos minutos, que se encerrou com ele depositando um beijo demorado, no topo de minha cabeça.  

Haviam momentos, em que faltavam as palavras, e só o que restava eram as ações, e tinha sido isso que ele tinha feito, já que com certeza, não me tinha o que falar, e eu o agradeci mentalmente por isso. O silêncio as vezes é necessário.

 Vamos tomar banho? – o olhei, dando um meio sorriso. 

 Juntos? – arqueou a sobrancelha, dando um sorriso safado. 

 Óbvio que não, né. – eu ri, o olhando. 

Seu sorriso logo se desfez, e seu rosto foi dominado por uma carinha linda, de criança que ficou sem o doce. 

 Estraga prazeres. – fez careta. 

 Lindo! – sorri pra ele. 

Ele sorriu de volta, aquele sorriso maravilhoso, que só ele tinha, e que eu amava tanto. 

 Vai lá tomar banho, vai. – dei um empurrãozinho de leve em seu ombro. 

 Já vou, mandona. – riu. 

 Então vai. – falei, dando um selinho nele. 

 To indo. – deu-me outro selinho, sorrindo logo em seguida. 

 Até daqui a pouco.  

Eu lhe dei um ultimo selinho demorado e entrei pro quarto, indo em direção a minha mala e pegando meu pijama. 

Depois de estar de banho tomado, sentei-me na cama, pensando em como traria o Felipe pro meu quarto, já que haviam nos separado, mas sem maldade alguma, a Lu só não estava lembrada da total convivência que tínhamos um com o outro, e que não havia mudado. 

Peguei meu celular e mandei um sms pra ele. 

G:Vem cá, moreno, já estou com saudades ): 

Deitei-me na cama e me aconcheguei no meio do edredom. Alguns minutinhos depois ele respondeu o sms. 

F: Sei não se vou, to com preguiça. 

Ri ao ler o sms, puro charme. 

G: Por favor, tá frio aqui sem você. Vem?

F: Com esse charminho... Seu pedido é uma ordem, princesa.

Como podia ser tão lindo assim? Alguém me diz?  

Minutos depois, pude ver de longe, ele entrando e fechando a porta, encostando-se nela. Ele ficou me olhando, com um sorriso de canto, todo charmoso. Eu sorri pra ele, batendo minha mão no espaço ao meu lado, na cama, como quem o chamava pra perto, ele veio caminhando de vagar, deitando-se ao meu lado. 

 Pensei que ia demorar mais. – falei brincando, acariciando seus cabelos. 

 Pra você, não tem demora. – ele falou enquanto se cobria com o edredom, junto mim. 

 Assim que eu gosto. – dei um risinho, aproximando mais nossos rostos. 

Eu o encarei firmemente, por alguns segundos, e sorri com ele, que deu um de seus melhores sorrisos. Rocei nossos narizes, sentindo sua respiração quente, batendo em meu rosto, selei nossos lábios demoradamente, ainda acariciando seus cabelos. Ele me puxou mais pra perto, colando completamente nossos corpos, enquanto ele alisava minha cintura, ele roçou nossos lábios, chupando meu lábio inferior, logo em seguida. 

Sem mais demora, iniciei um beijo, calmo e cheio de carinho, uma de suas mãos acariciava minha cintura, enquanto a outra segurava meus cabelos, pousei minha mão em seu rosto, acariciando o mesmo. Nossas línguas foram de encontro uma com a outra, e se entrosavam em perfeita sincronia, fazendo com que o beijo ficasse cada vez mais intenso. O ar já começava a nos fazer falta, mas ainda assim, o beijo estava bom demais para ser parado, a mão que estava em minha cintura, desceu pra minha coxa, onde ele alisou e apertou levemente a mesma, enquanto eu dava leve mordiscadas em seus lábios. Quando notei que aquilo já estava intenso demais e que o ar já nos faltava o suficiente, parei o que estávamos fazendo, encerrando o beijo. 

Cai pro lado, tomando ar, mas ainda o olhando. Nossos olhares eram como imã, difícil demais de se deixarem. 

 Vamos dormir. – afirmei, o olhando e dando um selinho demorado nele. 

 Vamos. – sorriu – Mas antes quero falar uma coisa. – ergueu sua cabeça, tendo uma visão melhor de mim. 

— O que? – perguntei curiosa. 

 Eu – deu-me um selinho – te – selou novamente – amo. – ele sorriu, dando-me um último selinho. 

Não pude deixar de sorrir. Queria entender o que ele tinha, que me fazia tão bem. Se era amor, ainda era cedo pra se saber, mas que eu estava literalmente apaixonada por ele, isso eu estava. 

 Eu também te amo, meu lindo. – falei sorrindo, o fazendo sorrir ainda mais. 

Ele se deitou novamente, e eu deitei em seu peito, ele acariciou meus cabelos, me fazendo pegar no sono logo em seguida.

Anda logo, Gigi! - falei a apressando, e um tanto ansiosa.

Era de manhã cedo, nós iríamos visitar o papai no hospital, e a demora da Giovanna estava me deixando mais ansiosa do que o normal.

 Já to indo, só to calçando os sapatos. - ela falou, enquanto terminava de amarrar seu tênis - Pronto, estou pronta. - sorriu - Vamos?

 Ainda pergunta? - esperei ela sair de seu quarto, pra garantir que não voltava e sai andando atrás dela.

Ao chegar lá em baixo, o Felipe nos esperava sentado no sofá, enquanto a Lu já estava lá fora, falando ao telefone com um dos médicos do meu pai. Ela estava o tempo todo, ligando e perguntando como ele estava, não queria ficar sem ter informações um segundo se quer. 

Eu chamei o Felipe, indo com ele e a Giovanna em direção ao carro. O Gu tinha ido pro colégio, e a babá cuidaria dele enquanto estivéssemos fora, já que não sabíamos se quando ele chegasse do colégio, estaríamos em casa.

 Vamos então? - a Lu disse ponto os óculos de Sol, e ajeitando o cinto logo em seguida.

 Vamos sim. - sorri fraco.

Eu estava realmente, muito ansiosa. Minhas mãos soavam e eu estava inquieta, minuto ou outro mexia a perna intensivamente, demonstrando sinal de nervosismo. Desde a última vez que eu havia vindo ver meu pai, não o tinha visto mais, e as especulações que se passavam em minha cabeça, sobre o estado de saúde que ele se encontrava, só piorava as coisas.

Minutos torturantes se passaram, e logo nós estávamos em frente ao hospital, olhei para o Felipe, que me olhava atentamente, e respirei fundo, tomando forças e descendo do carro, junto dos demais. Ao adentrarmos o hospital, uma onda de tensão me dominou por completa, eu estava com um medo imenso das cenas seguintes que estavam por vir. A Lu falou com uma das recepcionistas e entregou um crachá de visitas à cada um de nós, pegamos o elevador, e ao chegarmos no andar do quarto do meu pai, nos deparamos com um homem de frente ao elevador, ele estava usando um jaleco branco, seus cabelos alternavam num tom escuro e grisalho, na lateral dos mesmos, ele sorriu receptivo para nós, assim que nos viu.

 Bom dia!

 Bom dia, Marcello. - sorriu simpática.

 Vejo que vieram visitar meu grande amigo. - nos olhou.

 Sim, viemos, e eu trouxe comigo a Giovanna, minha filha, que o senhor já conhece, e a Gabriella, minha enteada, filha do Alessandro, e esse é o namorado dela, Felipe. - ela falou, olhando pra todos nós logo em seguida.

Eu olhei pro Felipe, que me deu um sorriso e olhou para o doutor, que nos olhava atentamente. Ele cumprimentou cada um de nós, nos olhando sério, logo em seguida. 

 Ele estava ansioso para vê-los, e falou especialmente, da Gabriella que veio para vê-lo. - ele sorriu.

Era bom saber que meu pai lembrava de mim, e que estava ansioso para me ver, se ele soubesse a saudade que eu estava!

 Bom, eu vou até o quarto do Alessandro ver como ele está e já volto aqui parar chamar vocês. - sorriu e foi em direção ao quarto do meu pai.

Nós nos sentamos em um dos sofás que tinham ali. Encostei no ombro do Lipe, mexendo as pernas impacientemente. Comecei a passar meus olhos pelo lugar, enquanto esperava o doutor voltar. As paredes daquele lugar tinham um tom de azul claro, e os corredores eram bem iluminados, típico de hospital. As paredes tinham alguns quadros, quadros diferentes, sem sentido algum, pelo menos pra mim, que olhava de relance. O chão que parecia ser limpo a todo instante, de tão branco que era. Senti um calafrio subir por minha espinha, não me sentia confortável ali, até porque, quem se sente confortável em um hospital? Depois de longos minutos de espera, o doutor Marcello apareceu, com uma pasta num tom azul escuro em seus braços, anotando algo.

Ao entrar no quarto, caminhei lentamente, passando por um pequeno corredor, onde tinha uma porta logo à frente, a qual deduzi que fosse o banheiro, caminhei mais um pouco, ainda em passos lentos, já podendo ter a visão do meu pai, deitado na cama, e pude sentir meu coração sendo torcido e apertado de todas as maneiras possíveis.

Fui o olhando desde os pés, que estavam cobertos por um cobertor até a cabeça. Ele estava mais magro, muito magro, por sinal, mal parecia aquele homem forte e saudável que sempre foi. Seus braços que antes fortes, agora estavam magros. Sua feição era cansada, ele tinha a aparência calma, porém cansada, em seus olhos tinham olheiras profundas, sua cor era pálida e sua boca que sempre teve um avermelhado forte, agora tinha apenas um tom amarelado. Como uma doença podia acabar tanto com uma pessoa assim? Dai já era de se perceber que não somos exatamente nada. Segurei o nó sem fim que havia se formado em minha garganta.

Ainda o olhando, tentei sorrir, mas a tentativa foi fracassada, era difícil demais vê-lo daquela forma, o homem que sempre foi forte, um dos meus melhores exemplos de vida, se acabando daquela maneira. Aquele não podia ser o seu fim. Engoli em seco, voltando a realidade e tentando sorrir para ele, mas é realmente muito difícil sorrir, quando a nossa maior vontade, é chorar.

 Oi - pisquei fortemente, deixando uma lagrima rolar sem querer - papai. - tentei sorrir.

 Oi minha princesinha. - ele sorriu, fazendo com que meu peito se apertasse mais ainda.

Eu me aproximei ainda mais dele, por fim, o abraçando fortemente, com todo cuidado do mundo. Eu tinha medo de abraça-lo, ele parecia tão frágil, parecia que a qualquer toque ele se quebraria. Ele afagou meus cabelos, dando um beijo demorado em minha cabeça. Repousei minha cabeça em seu peito, ainda abraçada a ele, e assim fiquei.

 Como tu tá, hein? - ele perguntou com a voz cansada, enquanto acariciava meus cabelos vagarosamente.

Sua respiração era lenta, quase que imperceptível. Mais uma lágrima rolou de meus olhos, sequei-a rapidamente, antes que ele percebesse.

 Bem. - falei vagamente, sem firmeza.

 Seu bem não foi nada convincente. - ele deu um risinho, seguido de uma tossida.

Pude sentir ele respirando fundo, como quem puxava todo ar que precisava. Preocupei-me, mas ainda assim não olhei em seu rosto, se eu o olhasse, desabaria na mesma hora, e isso era o que eu menos queria, ser forte estava me causando dor o suficiente.

 É, eu também estou bem, poderia estar melhor, mas... - deu um risinho novamente, fazendo piada. 

Como ele podia fazer piada com uma coisa dessas? Me diz? Dei um riso sarcástico, o olhando séria. Ele tinha um sorrisinho nos lábios.

 Como o senhor pode brincar pai? - funguei - Olha o estado que o senhor está? Isso é estar bem? - as lágrimas rolavam sem parar.

Ele puxou-me pra perto, novamente, afagando meus cabelos enquanto eu chorava incessavelmente, o agarrei a mim com mais força, não me cabiam palavras, só a sua presença ali era o que importava, a presença do meu pai, meu tudo.

Depois de longos minutos de choro, ele foi me acalmando, fazendo o choro cessar aos poucos. Senti como se tivesse chorado minha alma, eu precisava daquilo, precisava do carinho do meu pai, de seus braços como refúgio.

 Pai, não posso te perder, pai! - falei manhosa, dando uma fungada novamente.

 Essa é a vida, princesa. - ele falou calmo - Nascemos, crescemos e quando Deus decide, nos leva com ele, e enfim, morremos. 

 Porque não pode ser eu no teu lugar? Porque? - o olhei, chorando ainda mais - Eu daria tudo pra trocar de lugar com o senhor, tudo. - dei ênfase no "tudo", encostando minha cabeça em seu peito.

 Olha pra mim, Gabi. - pediu.

Eu o olhei atentamente, em meio aos soluços. Ele acariciou meu rosto com leveza, pousando seus dedos magros em minhas bochechas.

Alessandro: Independente do que aconteça, eu nunca, nunca - deu ênfase no "nunca", falando com total firmeza - vou te deixar. Eu sempre vou cuidar de ti, não como corpo presente, mas como teu anjo, vou te proteger onde tu for. - ele sorriu.

Eu não tinha o que falar, faltavam-me palavras, e principalmente aceitar, que de certa forma, ele já estava se despedindo.

Ficamos por um bom tempo ali, com ele me consolando, quando na verdade, eu quem devia estar dando total assistência ao mesmo, mas eu precisava disso, precisava dele.

 E tu e o Felipe, se resolveram? - ele me olhou enquanto eu ajeitava o cabelo, que estava bagunçado.

O olhei com um sorrisinho de canto, ele eram quem eu mais devia agradecer, afinal, se não fossem as sábias palavras que ele sempre tinha, eu jamais teria caído na real, não em tempo certo.

 Nos resolvemos sim. - sorri ao lembrar-me dele - Ele está ai fora, veio comigo, não quis que eu viesse sozinha. 

 Mas olha só! - deu um risinho, tomando ar - Estão namorando?

 Não, estamos tentando, sabe? - o olhei, soluçando, efeito dos longos minutos de choro que tive.

 Vai ser um bom genro. - afirmou, fitando o nada - Bom que ele está ai, assim converso com ele também, preciso ditar minhas regras antes de partir.

Dolorido, porém realista e um tanto quanto humorado. Esse era o meu pai, o meu doce e amado pai.

 Para de falar essas coisas, pai. - falei brava, com a voz chorosa.

Ele deu um risinho, puxando-me pra perto dele novamente, abraçando-me como nunca. Seus braços me envolviam por inteira, e por mais frágil que ele estivesse, ainda tinha aquele abraço forte e cheio de carinho, que tanto me encorajava sempre.

Ficamos por mais alguns minutos, jogando conversa fora, contando as novidades que tínhamos, era bom estar com ele novamente, muito bom, e eu aproveitava cada segundinho ao seu lado, por ter a incerteza de não saber se cada segundo que eu passava com ele, era o último. Mas vocês já ouviram dizer que tudo que é bom dura pouco? Pois bem, foi isso que aconteceu, logo fomos interrompidos pelo doutor Marcello, que adentrava o quarto com um sorriso no rosto.

 Mas olha só, está até com um sorriso melhor no rosto. - brincou, batendo levemente a mão no ombro do meu pai.

 Com uma princesa dessas me visitando - olhou pra mim - tem que estar! - sorriu.

 Ela é mesmo, muito bonita. - sorriu.

Eu olhei envergonhada, dando um sorriso logo em seguida.

 Mas eu vim para avisar a mocinha que o tempo dela esgotou. - sorriu amigavelmente - Temos mais duas moças ansiosas esperando para vê-lo lá fora.

Eu olhei desapontada, para ele. Antes não tivesse entrado, assim não me tiraria de perto do meu pai. 

 Mas já? - falei com dengo.

 Sim, minha querida, sua madrasta e sua irmã estão esperando, e também.

 Não quero sair do seu lado, pai. - falei chorosa, me agarrando a ele novamente.

Meu pai deu um leve risinho, acariciando minhas costas.

 Tem que ir, princesa, não quer que a Gigi ou a Lu fiquem desapontadas, não é? - olhou-me com carinho.

 Mas pai... - falei relutante, com a voz embargada.

Eu não queria sair de seu lado, não queria deixa-lo, queria cuidar dele, conversar com ele, queria seus carinhos, suas palavras conselheiras, queria o meu pai por perto.

 Ei - o doutor chamou minha atenção - não chora não. Vamos fazer o seguinte, vou ver se consigo abrir um espacinho pra você vir mais tarde, durante a noite, assim pode ficar com ele mais um pouquinho. 

 Sério? - o olhei sorrindo, secando as lágrimas.

 Sério, é bom pro seu pai. - sorriu.

 Então eu vou poder voltar mais tarde? 

 Te dou a confirmação logo, logo, mas é certo que sim. - sorriu - Agora vamos, antes que tua madrasta e tua irmã fiquem bravas. - falou brincalhão.

 Mais tarde eu volto, ta? - falei olhando pro meu pai, beijando sua bochecha demoradamente.

 Ta bom meu anjo. - sorriu - Agora vai lá, vai! 

Eu o abracei mais uma vez, mas sem a mínima vontade de deixa-lo. O olhei chorosa, e ele assentiu com a cabeça pra que eu fosse, com um sorriso nos lábios. Desvencilhei-me do abraço, relutante, e o olhei.

 Mais tarde eu volto, aguenta ai, tá herói? - dei uma piscadela, deixando junto dela uma lágrima cair.

Ele sorriu pra mim e eu sai daquele quarto, deixando com ele o meu coração, que á essas alturas, já estava mais apertado do que nunca. Ao sair, deparei-me com o Felipe de pé, encostado na parede, com sua cabeça caída pra trás, me parecendo um tanto impaciente. Assim que me viu ele abriu um sorriso confortante, vindo em minha direção e dando-me um abraço acolhedor, o abracei forte, tão forte que se possível, daquele abraço nos tornaríamos um só. Em meio aquele abraço, deixei mais e mais lágrimas caírem, sabendo que ali, eu poderia chorar á vontade, tendo a certeza de que com o Felipe, eu não precisaria me passar por forte. Depois de longos minutos com ele abraçado a mim, o choro foi cessando, fazendo com que eu me acalmasse aos poucos.

 Vem, vamos tomar uma água. - abraçou-me de lado, guiando-me ao bebedouro que tinha ali.

 Tá mais calma? - perguntou acariciando meus cabelos.

 Aham. - afirmei.

Nós estávamos sentados no sofá que tinha ali, esperando minha madrasta sair da sala do quarto.

 Quer conversar? - me olhou preocupado.

 Agora não, depois. - aconcheguei-me em seus braços.

Ele deu um beijo no topo da minha cabeça e envolveu seus braços ao redor de minha cintura, enquanto eu encostei minha cabeça em seu ombro, ficamos sentados em silêncio por alguns minutos, até o Felipe quebra-lo, perguntando sobre como havia sido lá dentro. Ele estava preocupado, o que não tiro sua razão, até porque eu também ficaria se fosse o contrário. Que Deus o livrasse disso, pois só eu e Deus sabíamos da dor que eu estava carregando comigo. Contei pra ele sobre tudo que tinha acontecido, não deu pra evitar as lágrimas, é claro, ainda mais quando se tratava da manteiga derretida que eu vinha sendo ultimamente, contei a ele sobre a fragilidade em que ele se encontrava, sobre o quanto foi bom abraça-lo novamente, sobre as perguntas que ele fez sobre nós, e principalmente a parte de que ele queria falar com o Felipe, que até ficou surpreso e apreensivo com aquilo, o que me fez rir e arrancar um olhar sério dele, por rir da sua reação. Uma hora depois, a Lu saiu do quarto com a Gigi e o doutor Marcello, a Giovanna secava as lágrimas, enquanto minha madrasta parecia acertar algo com o doutor.

 Vamos? - a Lu falou, aproximando-se de nós.

Ignorei completamente o que ela disse, e fui em direção a Gigi, que ainda secava as lágrimas que insistiam em cair. Eu a abracei forte e ela retribuiu, encostando sua cabeça em meu ombro, num choro sem fim. 

 Ele tá pior, muito pior. - ela chorava ainda mais.

Pior? Tinha como ele ficar por? Uma tristeza imensa me invadiu, enquanto eu segurava o nó que se formava em minha garganta. 

 Até anteontem ele estava mais forte, juro Gabi. - ela falava entre soluços - Ele tá morrendo, cada dia que passa ele seca mais - fungou - tu viu como ele estava? Viu como tá magro? Ele vai morrer mana. - desabou novamente, deixando-me sem reação.

Tudo que eu queria, era sair daquele pesadelo sem fim. E eu que pensava que ele poderia estar melhor que antes, quando na verdade, a cada dia ele piorava. Logo senti as lágrimas invadirem meus olhos novamente e só me coube chorar junto com ela. Era doloroso demais saber de tudo aquilo. 


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Notas finais do capítulo

Continua...



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