Além Da Amizade escrita por Esc L


Capítulo 18
Continuação Capítulo 8.




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 Ele não voltou aqui desde a hora que tu entrou no quarto do seu pai. – o doutor falou, respondendo o que eu queria saber. 

 Sabe onde ele foi? – o olhei. 

 Deve ter ido comer algo, não foi isso que tu pediu que ele fizesse?  

Eu assenti com a cabeça, respirando aliviada. Por alguns segundos, pensei na possibilidade dele ter isso embora, se cansado de tudo que estava acontecendo e ter me deixado ali, mas realmente ele não era disso. 

 Posso conversar com o senhor um pouquinho? 

 Pode sim, quer ir até a lanchonete do hospital? Assim tu come alguma coisa, tu precisa se alimentar. – ele falou num tom de preocupação. 

 Não, eu estou sem fome e não quero sair daqui. – falei sem graça – Podemos nos sentar ali? – apontei pro sofá. 

 Tudo bem. – assentiu com a cabeça. 

Nós caminhamos até o sofá e nos sentamos, ele me olhou como quem me incentivava a começar a falar. Puxei todo o ar que podia, tomando iniciativa para falar. 

 Eu quero que o senhor me fale quais são as reais chances do meu pai sobreviver e sair dessa. – falei em disparado. 

Ele me olhou preocupado, parecendo analisar a situação prendendo o lábio logo em seguida. 

 A verdade, por favor. – pedi encarecidamente. 

 Bom – ele deu uma pausa, ainda me olhando – já fizemos de tudo, e não existem chances. – falou com pesar.

Engoli em seco, prendendo o nó na garganta. Ele nunca havia me parecido tão sincero, como estava sendo naquele momento. 

— Nenhuma? – perguntei com a voz falha. 

— Infelizmente a medicina ainda não faz milagres, minha querida, não há mais o que ser feito porque o teu pai foi dominado por completo pelo câncer, ele só sairia dessa com um milagre. – suspirou. 

— Quanto tempo? – perguntei firme, querendo saber sobre o seu tempo de vida. 

 Ele me olhou confuso, franzindo a testa. 

 — Quanto tempo de vida ele tem? 

Ele arqueou a sobrancelha, parecendo surpreso com a pergunta. Apertei meus lábios, engolindo o choro que insistia em vir. 

— Não temos previsão de tempo, qualquer hora pode ser a hora, o organismo dele já não tem mais forças para combater a malignidade do câncer. 

O olhei atordoada sem nem saber o que falar. Meu pai podia morrer a qualquer hora, ninguém sabia o quanto isso era torturante pra mim. Deixei uma lágrima escorrer, secando-a logo em seguida. Agora que eu sabia que seu tempo não era previsto, não sairia dali um minuto se quer. 

— Olha – o doutor falou, fitando o nada e voltando seu olhar pra mim – o que eu tenho a te dizer, é que tu ore, pede pra Deus te dar forças, forças pra ti e pros próximos ao teu pai, pede por um milagre, quem sabe ainda não é a hora dele. Tudo o que tu precisa a partir de agora, é ser forte e se preparar pro que for vir. – ele me olhou cuidadosamente, parecendo querer me passar tranquilidade – Preciso ir, tenho alguns pacientes pra atender. Fica bem, ok. – ele passou a mão em meus cabelos de uma forma carinhosa e saiu andando pelo corredor, entrando em uma das portas dali.

Deixei algumas lágrimas rolarem, ele estava certo, tudo que eu precisava era ser forte, por mais que isso fosse difícil, eu precisava. Fiquei sentada ali por alguns minutos até avistar o Felipe saindo do elevador, vindos em minha direção. 

— Faz tempo que você ta aqui? – sentou-se ao meu lado. 

— Um pouquinho. – o olhei – Porque demorou? 

— Fui comer alguma coisa, estava com fome, e aproveitei pra ligar pra minha mãe. – sorriu sem mostrar os dentes – A Manu ligou. 

— Ata. O que ela queria? 

— Falar contigo, disse que estava com saudades e pediu pra que você ligasse pra ela que ela quer falar contigo. 

— Também to com saudades dela. – dei um sorriso fraco, lembrando-me da minha melhor amiga. 

Eu estava morrendo de saudades dela e dos seus abraços, das horas que ela me fazia rir e do falatório dela em minha orelha. 

— Liga pra ela. – entregou-me o celular – Parecia sério o que ela queria falar. 

O olhei preocupada, imaginando o que a dona Manuella havia aprontado para querer falar algo sério, peguei o telefone de sua mão discando o numero dela, não demorou muito e logo ela atendeu.

Deixei algumas lágrimas rolarem, ele estava certo, tudo que eu precisava era ser forte, por mais que isso fosse difícil, eu precisava. Fiquei sentada ali por alguns minutos até avistar o Felipe saindo do elevador, vindos em minha direção. 

— Faz tempo que você ta aqui? – sentou-se ao meu lado. 

— Um pouquinho. – o olhei – Porque demorou? 

— Fui comer alguma coisa, estava com fome, e aproveitei pra ligar pra minha mãe. – sorriu sem mostrar os dentes – A Manu ligou. 

— Ata. O que ela queria? 

— Falar contigo, disse que estava com saudades e pediu pra que você ligasse pra ela que ela quer falar contigo. 

— Também to com saudades dela. – dei um sorriso fraco, lembrando-me da minha melhor amiga. 

Eu estava morrendo de saudades dela e dos seus abraços, das horas que ela me fazia rir e do falatório dela em minha orelha. 

— Liga pra ela. – entregou-me o celular – Parecia sério o que ela queria falar. 

O olhei preocupada, imaginando o que a dona Manuella havia aprontado para querer falar algo sério, peguei o telefone de sua mão discando o numero dela, não demorou muito e logo ela atendeu.

— Oi Lipe. – ela falou com uma voz desanimada. 

— Oi amiga, é a Gabi. – dei um sorrisinho. 

— Gabiiiiiiiii, que saudades amiga. – ela falou com dengo – Como você tá? Como andam as coisas? 

— Indo... De mal a pior. – dei um risinho pra espantar o choro. 

— Queria tanto tá ai contigo. Queria te abraçar, to com saudades das suas chatices. 

— Eu também, muitas. – falei chorosa. 

— Ah, não vai chorar né? – eu funguei, já deixando uma lágrima rolar – Não chora que eu choro também, bitch. – falou num tom que me fizesse parar de chorar. 

— Tá tão difícil. – desabafei, deixando mais algumas lágrimas caírem. 

— Gabi, não chora, por favor. – ela falou manhosa – Eu sei que tá difícil, mas prometo que quando você chegar, vou te dar um daqueles abraços nossos, beeeeem forte. 

 — Promete? – funguei mais uma vez, cessando o choro. 

— Prometo. 

— Quero só ver. – falei autoritária, com a voz ainda chorosa. 

O Felipe que só olhava, deu-me um sorriso daqueles que só ele dava, fazendo-me sorri sem mostrar os dentes. 

— Mas o Lipe disse que tu queria falar comigo, o que era? 

— Ah. – riu – Primeiro, quero te contar uma coisa, mas disfarça que eu sei que ele ta ai do teu lado. 

— Ok. – dei um risinho, fazendo o Felipe me olhar curioso. 

— Ele me disse mais cedo, que esses dias que tá ai contigo, por mais que as coisas estejam difíceis, estão sendo um dos melhores dias da vida dele. – eu sorri automaticamente ao ouvir suas palavras, eu andava tão sem dar atenção pra ele, que saber disso me dava uma alegria enorme. 

— Ele vem sendo um amor – falei olhando pra ele, que sorriu envergonhado – e eu ando tão chata que mal sei como ele aguenta. – dei uma piscadela pra ele, que sorria envergonhado. 

— Ele gosta de você, boba. Vê se não deixa ele escapar, viu? Tem muita gente querendo. 

— Eu sei – revirei os olhos – e não vou deixar, agora já é meu. – brinquei. 

— Awn, que lindos. – ela falou com uma voz melosa. 

— Ta, mas agora me fala o que queria falar? – perguntei apreensiva. 

— Então... – pausou, parecendo procurar as palavras, mas eu sabia muito bem que ela iria enrolar. 

— Fala logo Manuella. 

— Acho que... To grávida. – falou num tom baixo. 

Prendi o ar olhando assustada pro Felipe, assimilando o que ela havia acabado de falar. Como assim grávida? Manuella só devia ter perdido o juízo. 

— Como assim Manu? Logo de primeira, meu Deus hein. – falei indignada. 

— Ai amiga. – falou manhosa – Faz uns dias que tá atrasada, e sei lá, to com medo. – falou em tom de desespero. 

— Caramba hein! – a repreendi – Espera mais uns dias, quando eu voltar a gente vê isso ai, ta bom? 

— Ta, mas se eu estiver, juro que aborto. 

— Fecha essa boca, olha o que você ta falando. Ainda é cedo pra gente saber disso, quando eu chegar ai a gente vê direitinho. 

— Ta bom. Obrigada ta, até assim não canso de te encher dos meus problemas, desculpa. 

— Melhores amigas são pra isso. Mas ó, deixa isso quieto, não comenta com ninguém. 

— Ok. Te amo, viu? Se cuida e qualquer coisa me liga. Manda um beijo pro Lipe. 

— Ta bom, eu também te amo, se cuida você também. 

Desliguei o telefone sob o olhar curioso do Felipe, entreguei o telefone pra ele. 

— Ela te mandou um beijo.  

Ele sorriu guardando o celular no bolso, me encostei em seu peito, passando meu braço em torno de seu corpo. 

— Segredo nosso o que vou te contar, ta? – o olhei com o canto do olho. 

Ele assentiu sorrindo e me olhando. 

— A Manu acha que tá grávida. – falei pensativa. 

— Mentira. – ele me olhou assustado. 

— Verdade, a menstruação ta atrasada. 

— Mas ela e o Bruno são dois sem juízo, fala sério, de primeira cara. – falou ainda sem acreditar. 

— Foi o que eu falei pra ela. Mas quando eu chegar vou resolver isso com ela. 

— Espero que não esteja, porque o avô dela vai matar os dois.  

Nós rimos, e eu me aconcheguei em seu peito, dando um beijinho em seu pescoço que fez com que ele se arrepiasse. 

— Mas hein, não sabia que esses vinham sendo um dos melhores dias da sua vida. – dei um sorrisinho de canto, me desvencilhando de seus braços pra poder ver sua reação. 

Ele me olhou sem graça ficando nitidamente tímido, suas bochechas ficaram num tom avermelhados e ele fez uma carinha linda de quem estava realmente sem reação, dei um risinho, dando um selinho demorado nele. 

— Mas a Manuella é uma fofoqueira mesmo. – resmungou enquanto eu o abraçava de lado, tendo visão dele. 

— É segredo nosso Lipe, não conta pra ela. - o repreendi num tom divertido. 

— Não que não deixe de ser verdade – falou sem graça, me olhando – mas não era pra ela falar. – resmungou novamente. 

— Para de ser velho. – ri – Eu gostei de saber disso, gostei muito. – o olhei com carinho. 

— Gostou? Por quê? 

— Porque mesmo diante da minha chatice, você tem gostado de estar comigo, eu mal ando te dando atenção – falei ressentida por isso – e mesmo assim você não deixou de sair do meu lado e você mal imagina o quanto eu sou grata por isso.  

Ele sorriu pra mim, parecendo ter gostado do que ouviu. 

— Não sai, e nem vou sair. Sabe por quê? – eu fiz que não com a cabeça fazendo com que ele continuasse a falar – Porque eu te amo e vou estar sempre contigo, independente do que for. – ele sorriu me fazendo sorrir também. 

Era bom saber daquilo, muito bom mesmo, sentia-me mais amada do que nunca, mesmo diante a tudo que estava acontecendo. 

— Eu te amo viu? – selei nossos lábios – Muito, muito mesmo. – dei mais dois selinhos nele. 

Ele sorriu, dando-me um beijo rápido, beijo que eu já estava com saudade. 

Ficamos ali conversando durante o resto da tarde, ele havia consigo me entreter, mas não me feito tirar a cabeça do meu pai e no que seria dele dali pra frente. Depois de um bom tempo a Lu chegou junto da Gigi, elas nos cumprimentaram e foram direto para o quarto do meu pai, permanecendo por lá durante um bom tempo, nesse meio tempo que eu e o Felipe esperávamos elas saírem de lá, meu celular tocou duas vezes seguidas e nas duas vezes que eu atendi, a pessoa ficava muda e desligava logo em seguida, achei estranho mas não dei muita importância, devia só ser alguém que não conseguia manter a ligação por conta do sinal, ou sei lá. Minutos depois das ligações recebi um sms do Gabriel no qual dizia:  

G:Espero que você esteja bem e que o seu pai também, estou morrendo de saudades do seu sorriso volta logo gatinha ;) Beijos nessa boca linda, com muito amor, Gabriel s2’ 

O Felipe leu o sms com uma cara de nojo e depois ficou emburrado e eu não tiro sua razão, pois eu também ficaria, e o nome disso era ciúmes. Demorou um pouquinho, mas eu consegui dobra-lo, falando nada mais do que a verdade, de que era só ele quem eu amava e queria comigo. 

Ficamos alguns minutos sentados com o Felipe tentando me convencer a comer algo, mas eu não sentia fome e se forçasse vomitaria sem dúvida alguma. Logo a Lu e a Gigi saíram do quarto do papai, as duas choravam muito, principalmente a Giovanna e ver tal cena era de se partir o coração, olhei pro Felipe com um aperto imenso no peito enquanto ele me olhava cauteloso, dando um beijo em minha testa na tentativa certe de m acalmar. Após elas se acalmarem a Lu perguntou se eu poderia deixa-la junto da Giovanna dormir aquela noite com o papai, cedendo a próxima noite pra mim, pensei um pouco no caso, lembrando-me do que o doutor havia dito naquela tarde engolindo em seco e pensando pelo lado de que essa poderia ser a última noite delas com ele. Seria puro egoísmo meu não deixa-las dormir com meu pai, até porque quem havia passado a maioria das noites com ele foi eu, acabei cedendo, permitindo que elas dormissem aquela noite lá, mas já afirmando que não arredaria o pé dali em hipótese alguma.  

Eram 20h da noite quando terminamos tudo e eu pedi pra que eu pudesse ver meu pai acordado, como a visita abriria ás 21h foi sugerido pelo Felipe que eu só poderia ver meu pai se eu comesse algo e tal sugestão foi acatada pela Lu e pelo doutor, relutei, mas se aquela fosse a única maneira na qual eu poderia vê-lo, eu aceitaria. Desci com o Felipe contente e se dando por vencido de ter achado uma maneira de me fazer comer algo enquanto eu estava com a cara emburrada, ao chegarmos no restaurante comi apenas um lanche natural acompanhado de um suco de laranja já que eu não estava com tanta fome assim, após eu terminar de comer o Felipe pagou e nós subimos novamente, nos juntando a Luciana e a Gigi que estavam sentadas no sofá que tinha ali, minutos depois fomos informados de que o horário de visita estava aberto, fui até o quarto do meu pai, apenas na intenção de sentir um abraço teu e saber que ele estava bem, caminhei na esperança de encontra-lo numa situação melhor, mas pra minha infelicidade ele estava na mesma ou até pior. Senti seus braços frágeis porém confortantes envolvendo-me naquele abraço sem fim, era bom abraça-lo, muito bom, conversei com ele por breves minutos e logo me despedi, tendo que me retirar do quarto com o coração na mão, como todas as vezes que eu o deixava naquele lugar. 

Me dei conta de que o dia amanhecia quando vi o clarão vindo da janela que tinha ali no fim do corredor, olhei no visor do celular que mostrava ser 06:20 da manhã, fiquei por mais algumas horas ali, com os pensamentos perdidos em meio a tudo que estava acontecendo, logo o Felipe acordou me olhando sério. 

 Ficou a noite toda acordada? – coçou os olhos, despertando e me olhando novamente. 

Pelo seu olhar eu devia estar com olheiras horríveis. Droga. Pensando por outro lado, era por uma boa causa, era pelo meu pai. 

— Uhum. – o olhei sem graça. 

— Gabi sabe que isso não é necessário. – ele me olhava sério e ao mesmo tempo preocupado. 

Suspirei, fitando o nada e segundos depois voltando meu olhar à ele, decidindo se contava ou não. 

— Deixa eu te contar uma coisa – pausei, tomando coragem de falar sem chorar – ontem de tarde enquanto você comia, eu conversei com o doutor Marcello e ele me disse uma coisa, que só me faz sair daqui com o meu pai. 

— E o que foi que ele te falou? – me olhou sério, porém confuso. 

— Ele disse que qualquer hora, pode ser a hora. – falei de vagar, assimilando o que eu havia acabado de falar, sentindo profunda dor no peito. 

O Felipe me olhou ressentido e penoso, e pra ser sincera eu odiava olhares de pena pra cima de mim, mas não estava em estado de contestar, não naquela hora. Ele me abraçou forte, parecendo de alguma forma tentar amenizar a dor que eu sentia. Retribui o abraço na mesma intensidade, querendo que toda a dor se esvaísse de dentro de mim.

Eram 09h em ponto quando a Lu e a Gigi saíram do quarto do papai meio atordoadas, pareciam confusas, conversei um pouco com elas, perguntando sobre como foi à noite e fui informada de que no momento daquela movimentação toda, era o meu pai tendo algumas complicações respiratórias por conta do seu pulmão que já mal funcionava, não posso negar que fiquei brava por terem me ocultado aquilo, mas não era hora pra contestar, eu estava abalada o suficiente para assentir e ficar quieta. Elas foram para casa por causa do Gu que havia dormido com a babá. Eu fiquei com o Felipe um bom tempo ali fora até sermos chamados pelo doutor que avisava que meu pai queria falar conosco, estranhei, já que o horário de visitas seria somente dali à uma hora. Fomos em direção ao quarto do meu pai e adentramos o mesmo, dando de cara com ele mais frágil do que nunca, respirando com ajuda de aparelhos, ele respirava tão fraquinho que mal parecia que ares saiam de seus pulmões. Apertei os lábios, apreensiva, segurando o choro enquanto reparava em cada detalhe seu, parecia ser uma última oportunidade de fazer tal coisa. 

— Mandou chamar papai? – falei tentando espantar a tensão e tremedeira que me dominava. 

— Sim. – falou baixinho e pausado, com certa dificuldade – Quero conversar com vocês, mas primeiramente, com o Felipe. – notei um sorriso dócil em torno de seus lábios. 

Mesmo em meio a tudo que ele vinha passando, não deixava de sorrir eu achava incrível sua capacidade de ser forte até nos piores momentos. 

— Pode falar. – o Felipe falou atencioso.  

Ele olhou pro Felipe por alguns instantes, parecendo analisá-lo e tomou ar, se prontificando a falar. 

— Bom meu rapaz – ele falava baixinho – primeiramente quero te dizer que se for pra ficar realmente com a minha filha – ele pausou, tomando ar e seguindo com as palavras – quero que cuide dela como ninguém jamais cuidou – ele me olhou, sorrindo de canto enquanto o Felipe escutava suas palavras atenciosamente – sei que não vou estar aqui para supervisionar e dar o colo que ela vai precisar, por isso te peço que cuide dela – suas palavras me atingiram, fazendo-me segurar o choro – cuida dela e cuide de ti também, tu é um bom garoto e vai ser um bom homem. – ele sorriu pro Felipe, que o olhava sério – E não se esqueça de que se tu magoar a minha princesa eu venho puxar o teu pé. – ele falou brincalhão, dando um risinho dificultoso, mas somente ele ria ali.Eu o olhava estática, tentando entender que droga ele estava fazendo e o porquê de estar falando tudo aquilo. Seria uma despedida? Mas despedida pra que? Ele não ia morrer, não podia e eu não aceitava isso. 

— Pai, para! – falei já com lágrimas nos olhos – Para de fazer isso, para de se despedir. – falei emburrada, feito uma criança de cinco anos. 

Ele me olhou cauteloso, balançando a cabeça negativamente como sempre fazia quando eu fazia birra. 

— Eu só estou adiantando as coisas minha princesa, não posso ir sem fazer isso. 

— Mas o senhor não vai a lugar algum, só o que vai fazer é ficar bem e se curar desse maldito câncer. – eu falava em meio às lágrimas. 

O Felipe entrelaçou sua mão a minha, pedindo baixinho pra que eu ficasse calma, segurei o choro, ainda olhando meu pai. 

— Felipe pode dar licença pra eu conversar com a Gabriella?  

O Felipe assentiu, dando-me um beijo na testa e caminhando até o meu pai pegando em sua mão direita e dando um beijinho breve na mão dele a colocando em sua testa em sinal de benção. 

— Tu tem minha benção garoto, vocês tem minha benção. – meu pai falou com dificuldade.

O Felipe sorriu sem mostrar os dentes, parecendo conturbado, saindo do quarto e nos deixando a sós, eu me sentei ao lado do meu pai o olhando. 

— Eu conheço esse olhar, esses olhinhos apagados – meu pai falou enquanto me olhava – tu não está me perdendo querida, só está ganhando mais um anjo da guarda. – ele sorriu de canto – Eu sei que é difícil, mas as vezes a vida nos prega algumas peças princesa, e nós temos que ser forte para vencê-la e estrelá-la em grande estilo e eu sei que tu faz isso como ninguém. Eu só quero que tu se cuide e que em suas escolhas seja sábia, que nunca deixe de seguir seu coração – ele falava enquanto eu chorava horrores, aquilo estava sendo torturante, doloroso demais por eu já saber o que significava – o medo sempre vai tentar ser maior que tu, mas tu tem que mostrar que tua força e coragem são maiores do que ele. – ele acariciava minhas mãos lentamente, conforme teu corpo conseguia agir – Eu nunca vou te deixar, vou sempre estar do teu lado te cuidando e te protegendo, lembra? Não estou perto, mas estou te cuidando, não estou perto, mas estou sempre te amando. – ele relembrou nossa frase de acordo, eu não tinha palavras só o que sabia fazer era chorar e chorar e chorar – Vai ser sempre assim, eu nunca vou sair do teu lado, você sempre vai ser a minha princesinha, a minha menininha. – ele me olhou com ternura – Não deixa teus irmãos, viu? Eu não vou estar mais aqui, mas quero te pedir que não os deixe, vai ser um momento difícil para todos vocês. Lembre-se de que sempre que se sentir sozinha, pensa em mim, pensa no papai que eu vou estar lá contigo, viu?

Eu estava em prantos, meu pai estava me assustando, pois ele realmente estava se despedindo, o abracei com toda força e cuidado que pude chorando encostada em seu peito, escutando as batidas vagarosas do seu coração cansado. 

— Eu te amo pai – falei em meio ao choro – o senhor é tudo pra mim, eu nunca vou me esquecer de você. – falei o apertando contra mim. 

— Eu também te amo princesa, sempre vou amar! - ele falou baixinho. 

Ele levou suas mãos até a minha cabeça, afagando meus cabelos fazendo me sentir protegida e amparada, fiquei ali por alguns minutos, rejeitando a possibilidade de poder perdê-lo, a possibilidade de poder perder minha vida. Ele acariciava meus cabelos com tanta leveza que eu mal sentia enquanto respirava fraco, acordei de tal transe quando a máquina que calculava seus batimentos cardíacos começou a calculá-los vagarosamente, olhei com desespero pra ele que fechava os olhos conforme seus batimentos reduziam. 

— PAI OLHA PRA MIM, PAI! – pedi aos berros enquanto seus olhos se fechavam de vez – PAI, NÃO ME DEIXA AGORA NÃO PAI, OLHA PRA MIM, OLHA AQUI! – eu me engasgava com minhas lágrimas e palavras, vendo-o ficar sem reação. 

O aparelho começou a soar um apito agudo, e seus batimentos cardíacos seguiram numa linha reta, eu sabia o que era aquilo e desesperei-me ainda mais ao cair em mim do que significava. Corri em disparado até a porta do quarto, gritando em meio ao choro o doutor e as enfermeiras, o doutor Marcello correu até mim notando meu desespero, meu coração estava se despedaçando lentamente e um vazio sem fim ia tomando conta de mim. 

— Volta papai, volta! – eu peguei em suas mãos mornas as chacoalhando o doutor veio até mim, me afastando dele – Salva ele doutor, salva ele! 

— ME DA OS DESFIBRILADOR, RÁPIDO! – ele disse a uma dar enfermeiras que estava no quarto – TIREM ELA DAQUI! – ele disse enquanto eu chorava sem parar. 

Eu não queria sair dali, eles não podiam me tirar dali, eu queria ficar com o meu pai queria salvar a vida dele, trazê-lo de volta pra mim. 

— NÃO, ME DEIXEM AQUI, NÃO QUERO SAIR, EU QUERO FICAR COM O MEU PAI! – eu falava aos prantos enquanto tentava me desvencilhar dos braços do Felipe que já me segurava junto de mais duas pessoas que não notei quem era. 

Eles me arrastaram pra fora do quarto enquanto eu via a cena do meu pai levando choques no peito, sem ter reação alguma, eu me debatia tentando voltar, fecharam a porta e eu perdi a vista do que acontecia lá dentro, eles me soltaram fazendo-me sentir o peso de minhas pernas, eu não tinha forças, não conseguia me manter em pé, deslizei pela parede sentando em posição fetal. Uma parte de mim estava indo embora e deixando um vazio sem preenchimento dentro de mim. 

  Felipe narrando:  

E lá estava ela, sentada no chão, chorando sem parar pelo que mais temíamos que acontecesse, eu não sabia o que fazer além de confortá-la, queria poder dizer a ela que ficaria tudo bem, mas eu não seria hipócrita, porque por mais que também quisesse isso, sabia que as chances disso acontecer eram quase que remotas, e se eu pudesse, dava minha vida pela do pai dela, só pra não vê-la sofrendo daquela maneira. 

Sentei-me no chão ao seu lado, tentando achar palavras pra lhe confortar, mas nem isso eu conseguia, talvez porque às vezes, o silêncio de um abraço seja mais confortante do que palavras. Me aproximei ainda mais dela a envolvendo em meus braços enquanto a mesma ainda chorava sem parar, a abracei forte, como se toda dor que ela sentisse fosse sair naquele abraço, mesmo sabendo que seria em vão. Só eu sabia o quanto me doía vê-la sofrendo e chorando daquela maneira.  

Fiquei sentado ao seu lado, com ela abraçada a mim, até vermos a porta do quarto que o pai dela estava se abrir, senti meu coração palpitar, temendo pelo que poderia acontecer a seguir. A apertei ainda mais em meus braços, tentando mostrar a ela que eu estava ali. Vimos então o doutor sair do quarto, com uma de suas piores caras possíveis, a Gabriella olhou pra ele num olhar desesperado e apreensivo, enquanto ele a olhava penoso, talvez por vê-la tão fragilizada daquela maneira, ele apertou os lábios, balançando a cabeça negativamente a abaixando logo em seguida. O que mais temíamos havia acontecido.

  Gabriella narrando:  

Fiquei ali, sentada no chão, imóvel. Sentia como se a cada movimento que eu fizesse a dor se alastraria cada vez mais. Senti o Felipe passar seus braços em torno de mim, me abraçando forte, um daqueles abraços que parecem aliviar a alma, mas, naquele momento, por mais que preciso aquele abraço não surtiria efeito algum, além de me mostrar que ele estava comigo.  

Ficamos ali sentados esperando o doutor dar noticias, em meio ao meu choro incessível. Eu tentava de todas as formas pensar em resultados positivos, mas só o que me vinha na cabeça eram pensamentos negativos e lembranças intermináveis dos melhores e piores momentos que eu já tinha passado com o meu pai. Após alguns minutos ouvi a porta do quarto em que meu pai estava se abrir senti meu coração acelerar, ele batia tão rápido quanto os tambores de uma escola de samba. Respirei fundo, respirei fundo, engolindo em seco e olhando diretamente pro doutor, que estava com uma de suas piores caras, mais lágrimas transbordaram de meus olhos, ele olhou para mim, fazendo um sinal negativo com a cabeça e abaixando a mesma logo em seguida.  

Meu mundo caiu, desabou literalmente. Caí num choro profundo e desesperado, sentia tudo em mim, doer e um vazio sem fim invadir-me, não havia mais o que fazer, ele havia partido e me deixado ali. 

Sentia minhas mãos tremerem, eu enxergava apenas borrões por conta do choro que nunca cessava. Maldita doença que o havia levado de mim! Eu queria morrer, queria ir para junto dele, nada mais fazia sentido. Eu queria vê-lo, queria tocá-lo e sentir sua pele quente por uma última vez, mas no momento em que eu decidi me levantar senti meu corpo amolecer e minha vista escurecer, a partir daí não vi mais nada.

Abri meus olhos vagarosamente, sentia uma dor terrível na cabeça e a claridade daquela luz forte não me ajudava em nada, levei minha mão direita até a minha cabeça, e senti algo puxar e me pinicar em meu braço, foi quando olhei atentamente e reparei que havia uma agulha no mesmo, onde seguia um fio até uma bolsa de soro. 

Olhei pro meu lado esquerdo e não vi ninguém, tentei entender o que estava acontecendo quando ouvi o Felipe falar comigo, e aí então recordei-me de que estava dentro de um hospital e de que tudo que eu havia passado, não tinha sido apenas um simples pesadelo. Senti algumas lágrimas rolarem pelo meu rosto. 

— O que aconteceu? - perguntei a ele, me referindo sobre onde eu estava. 

— Você passou mal e desmaiou - ele pausou, parecendo pensar se falava ou não - depois da notícia que o doutor deu, então ele te trouxe pra cá e te examinou. Você vai ter que tomar essa bolsa de soro. 

Eu olhei pra ele e apertei meus lábios, fungando e secando as lágrimas com as costas das mãos. 

— E o meu pai? - fiz aquela pergunta apenas pra confirmar se foi real ou não. 

Ele me olhou balançando a cabeça negativamente, com os olhos marejados. Eu solucei e o abracei com força, sendo retribuída, chorando ainda mais.

Ficamos por uma hora ali naquela sala, até que a bolsa de soro acabasse, ele não saía do meu lado, ficava junto de mim a todo instante, mesmo diante a todo choro, eu permanecia sem falar uma palavra, apenas por não ter forças pra falar, enquanto ele acariciava meus cabelos, fitando o nada, logo o dr. Marcello apareceu na sala. 

— Teu soro já acabou, está liberada. - sorriu fraco - O motorista está esperando vocês lá em baixo. 

Eu assenti o olhando. 

— Está sentindo alguma coisa? - ele perguntou enquanto examinava meus olhos. 

— Dor - falei baixinho, e eu sentia muita dor, uma dor tão grande em meu peito, que a minha cabeça que latejava sem parar era quase que irrelevante comparada a dor que eu sentia - dor de cabeça. - solucei. 

Ele me olhou penoso e passou a mão pelos meus cabelos. 

— Vou te receitar um remédio pra dor de cabeça e um calmante, caso precise. 

— A - solucei, engolindo o choro pra que eu pudesse falar algo compreensível - a Lu e a Gigi já sabem? 

— Sim, a Luciana está resolvendo as coisas. - ele falou, me parecendo triste - Eu sinto muito, fiz de tudo que pude pra tentar traze-lo de volta. - seu tom de voz era muito triste.

Eu assenti e olhei pro Felipe, pedindo a ele que me levasse embora, ele pegou minha blusa de frio e me deu pra vestir enquanto eu pegava minha bolsa, o doutor fez a receita e nós nos despedimos dele, saindo daquele lugar.Tudo que eu mais queria era sair dali.

Fui o caminho todo em silêncio, eu não falava nada por simplesmente, não ter o que falar, não ter forças pra falar, só o que se passavam em minha cabeça eram lembranças, as mais dolorosas lembranças. Passamos na farmácia pra comprar os remédios receitados e ao chegarmos em casa, parei antes de entrar porta adentro. Era triste estar lá, por saber que ele não estaria mais, doía, doía demais. 

 — Tá tudo bem? - o Felipe me olhou nos olhos.  

Não, não estava tudo bem, estava tudo se desmoronando de vez, como estaria tudo bem? O olhei, assentindo que sim, mas no fundo, ele sabia que não estava. 

Dei um passo a frente, e então entrei dentro de casa, sentindo uma tristeza enorme me invadir, se é que isso ainda fosse mais possível. Caminhei, passando pelo hall da casa, indo em direção a sala de televisão. Eu andava devagar, dava passos pequenos, analisando tudo a minha volta, tinha um pedacinho dele em cada lugar dali. Haviam portas retratos dele com a Gigi, com a Lu, com o Gu, comigo… Fui arrastando meus olhos por todos os portas retratos, até chegar no último da fileira, onde a foto eramos todos nós reunidos, a última foto que tiramos juntos antes da minha volta. Senti como se tivesse levado uma facada no estomago, faltou-me ar, olhei pra cima tentando reduzir as lágrimas que não deixavam de cair, mas Deus, como doía! 

Fiquei olhando o porta retrato por longos minutos, até ouvir o celular do Felipe tocar, ele olhou no visor e olhou pra mim novamente. 

— Tua mãe, quer falar? - ele me olhou. 

Fiz um sinal de negativo com a cabeça, tudo que eu menos queria era ouvir consolos, seja lá de quem fosse. Ele falou com ela por alguns minutos e logo desligou, ainda me olhando.

— Ela tá vindo pra cá, já está no aeroporto. 

Seria bom ter o colo da minha mãe, eu estava com saudades e bem, tê-la por perto não seria tão ruim assim, não que eu não gostasse da minha mãe, de forma alguma, é só que… Eu não queria ninguém sentindo pena de mim, nem me falando aquelas palavras típicas de quando perdemos alguém, e conhecendo-a como conhecia, minha mãe seria uma das primeiras a fazer isso. 

Subi pro meu quarto com o Felipe atrás de mim, joguei minha bolsa na cama e me sentei na mesma, ele parou na porta, me olhando, parecendo me analisar. 

— Ainda tá com dor de cabeça? Quer os remédios? 

— Aham. 

— Já volto. - ele deu uma piscadela e saiu do quarto.  

Aproveitei que ele havia descido e fui em direção ao banheiro, eu precisava de um banho, estava me sentindo suja, o "cheiro de hospital" parecia estar impregnado em mim. Fiquei durante bons minutos no chuveiro, só com a intenção de que aquele aguaceiro todo levasse toda a dor que eu sentia ralo abaixo, tentativa em vão.


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Notas finais do capítulo

Continua...



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