Mistérios da Lua escrita por uzumaki


Capítulo 29
A Morte não dá sossego


Notas iniciais do capítulo

Me desculpem pelo que vou fazer neste capítulo, mas era necessário.



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POV'S ANNE

– Falta muito? - Perguntei. Sam estava me levando cada vez mais para leste. Estávamos no meio da floresta.

Nós havíamos montado acampamento de manhã para que dormíssemos um pouco, o que eu achava que não ia acontecer, graças ao sol na minha cara, mas estranhamente, ele não havia dado tanta Luz para o meu lado, e pude dormir sem problemas. Já eram cinco da tarde quando finalmente levantamos as barracas - que eu mesma havia invocado, coisa que eu me orgulho muito -, e partido para o Reino da Luz.

– Não muito. - Respondeu ele.

– Você disse isso meia hora atrás. - Protestei. - E meia hora antes da meia hora atrás.

– Dá pra ficar quieta? Não consigo me concentrar. - Ele disse.

– Não há nada em que se concentrar! - Falei, levantando os braços. - Estamos no meio da floresta.

– Talvez. - Retrucou ele. Eu bufei.

– Você ao menos sabe onde fica o Reino da Luz? - Questionei. - Porque eu estive lá e não sei onde fica.

– No fim do arco íris. - Disse Sam. Eu ri.

– Sério? - Perguntei, em meio à risos. Sam me olhou, sério.

– Mas é claro que é sério. - Disse ele. Engoli meu riso. - Daqui a pouco vai chover, e o arco íris vai aparecer. E assim, poderemos ver para que lado vai.

– Mas o arco íris não tem fim. Quer dizer, isso é apenas lenda. - Falei.

– Se eu estou dizendo que o arco íris tem um fim, é porque tem um fim. - Sam levantou os braços.

– Afe. - Fiz um gesto de desdém com a mão e passei por ele. - Tem certeza de que vai chover?

– Três, dois... - Ele sorriu. Um trovão retumbou ao longe.

– Você daria um ótimo garoto do tempo. - Falei. Sam deu de ombros.

– Não, obrigado. - Respondeu ele, andando.

– Por que simplesmente não nos teletransportamos? - Perguntei.

– Porque seu pai cercou a cidade. - Disse ele. - Ninguém entra ou sai sem permissão dele. E como ele não sabe que estamos chegando...

– Tá, tá, já entendi. - Digo, abanando a mão. - Mas estamos muito longe?

– Você. É. A. Criatura. Mais. Irritante. De. Todas.

– Ora, obrigada. - Sorri.

Continuamos caminhando em silêncio, por mais quatro horas, até o anoitecer. Quando eu já não aguentava mais, as luzes da cidade se tornaram visíveis e eu comecei a enxergar certas coisas que eu não havia visto da primeira vez. Tipo como as casas eram coloridas e brilhantes, mesmo com aquele brilho de suspense no ar, ou aquele silêncio devastador. Toda vez que eu via marcas de sangue nas janelas limpas, ou até mesmo portas escancaradas, eu tinha vontade de me encolher e chorar. Aquele povo estava quase dizimado. As luzes diminuíam quanto mais andávamos, e eu estava assustada.

– É impressão minha ou está cada vez mais escuro? - Perguntei. Sam olhou ao redor e franziu a testa, como se tivesse acabado de perceber aquilo.

– É mesmo. Que estranho. - E ele seguiu caminhando. Com muita relutância segui ele. - Olha ali, o Palácio.

Ele apontou para frente, e vi dois grande portões depois de um pequeno parque. Comecei a correr, certa de que Sam estaria ao meu lado, mas quando olhei para trás, não vi nada. Me apavorei no mesmo instante. Eu estava sozinha - à noite - em um parque, de frente para dois portões imensos, em uma cidade praticamente abandonada. Comecei a respirar pela boca com nervosismo.

Com um estrondo, vi uma luz lilás brilhar no céu, seguida de uma celeste. Me aproximei do portão e antes de fazer qualquer menção de empurrá-lo, ele se abriu. No centro do enorme pátio, via-se uma fonte de água, que estava sendo usada para alguma magia, e o ar se revolvia, fazendo redemoinhos e varrendo folhas. No centro de tudo, estavam eles.

Miranda e Raffael, lutando um contra o outro, seus poderes causando uma tempestade com nuvens cinzas.

– Onde está Anne? - Gritava minha mãe, furiosa.

– Você está louca? - Rebatia meu pai. - Ela fugiu, e foi parar no seu Palácio, dê volta e vá procurá-la!

– PAREM! - Berrei. Os dois pararam no mesmo instante e se viraram para mim. Miranda se recuperou do choque e correu para me abraçar, seguida por Raffael.

– Anne! - disse ela, me abraçando. - Onde você estava?

– Longa história. - Respondi. - Basicamente, fiz um teletransporte para mim e Ed, que nos levou a 1200 anos atrás, em uma terra de bruxos, de onde saímos ilesos, para cair direto nas garras de Josh, que descobri ser filho de Hanker. Ele me jogou numa cela longe de Ed para me entregar para a Lua, e ele iria conseguir se eu não tivesse fugido, mas me encontrei com um garoto, Sam, que me trouxe até aqui, mas sumiu antes de eu entrar e ver vocês dois brigando.

– Tudo isso? - Perguntou Raffael. - Oh, céus.

– Filha, você tá bem? - Perguntou Miranda.

– Sim mãe. - Falei. - Eu estou bem.

– Ótimo, agora vamos... - Raffael foi interrompido por uma flecha. Ela estava preparada para me acertar, mas consegui me desviar. Miranda olhou ao redor, e vimos uma sombra atravessar os portões.

Saí correndo para fora, mas de algum jeito, não sei como, um nevoeiro extremamente denso cobria minha visão, e me perdi dos meus pais.

– Anne! - Ouvi meu pai gritar.

– Filha! - Berrou minha mãe.

– Onde vocês estão? - Gritei.

– Miranda, faça alguma coisa! - Pediu Raffael.

– E o que seria isso? - Miranda perguntou.

– Usar seus poderes e afastar esse nevoeiro! - Disse meu pai, irritado.

– Claro, já que a água seria inútil nessa situação. - Miranda provocou.

– Olha aqui, sua louca, meus poderes são úteis em tudo quanto é canto, ouviu? - Meu pai soava indignado.

– Então ouça, seu orgulhoso...

– Eu sou orgulhoso? - Indagou Raffael.

– Sim, é! - Miranda gritou. - Quando soube do meu casamento nem foi atrás de mim!

– Tudo isso é só por isso? - Meu pai estava provavelmente estático.

– Sim, seu grande banana. - Miranda, pela voz embargada, deduzi que contia o choro. - Eu te amo. Sempre. Hanker ameaçou te matar se eu ficasse com você. E provavelmente teria matado Anne, mas eu a escondi em Seattle. Ela estava segura, até você enviar aquele garoto, Ed, o qual Anne se apaixonou. Eles sabem que é impossível. Mas vão lutar, assim como nós deveríamos ter sido.

Eu fiquei petrificada no lugar. Achei que minha mãe havia se empolgado um pouquinho. um silêncio cobriu o lugar, por uns dois minutos. Eu não sabia se ficava feliz por minha mãe ter se declarado, ou mais feliz ainda por ela ter citado eu e Ed, um curioso romance que meu pai desconhecia.

– Eu também te amo, Miranda. - Respondeu Raffael. - Eu me casei com Clarissa porque era o certo a se fazer, mas eu nunca a esqueci.

Eu ia dizer algo, mas como iria cortar o clima, resolvi não dizer nada.

– Tocante. - Uma voz gélida disse. Hanker. - Eu tive vontade de chorar.

– Hanker. - Miranda disse o nome com nojo. - Onde está, canalha? Mostre a cara!

– Eu posso vê-los. Mas vocês não podem. - Ele falou. - Anda me traindo, sua vadia?

– Canalha! - Gritou Raffael. - Onde você está?

– Bem aqui. - A frase me fez arrepiar até os cabelos. Antes de o xingar, um grito de dor rasgou o ar. Um grito que reconheci sendo o de minha mãe.

Fiz a única coisa que me ocorreu. Estalei os dedos. Num piscar de olhos, ventos poderosos varreram o nevoeiro, mostrando uma cena que eu nunca esqueceria. Miranda, de joelhos no chão, uma espada se projetando de suas costas, uma espada segurada por Hanker.

– Miranda! - Raffael urrou, a dor clara transmitida no nome. Eu não ouvia nada. Só via os momentos que havia passado com minha mãe. O dia que descobri que ela estava viva, quando ela tagarelou sem parar sobre minha festa, em que ela chorou no Jardim das Hespérides. Lágrimas saíram dos meus olhos e mergulharam no frio chão de terra.

Meu pai correu para Hanker, a espada em punho. Ele investiu para a direita, e tentando um truque muito antigo. Acertar Hanker nas costas. Não deu certo. Hanker pulou para a frente. Raffael tentou novamente, desta vez acertando um talho de bom tamanho no peito de Hanker. O homem olhou para meu pai.

– Não pode matar um imortal, Raffael. - Grasnou ele.

– Não. - Concordou meu pai. - Mas posso bani-lo deste mundo.

– Você...

– Ex quo te vocabo. Eo quod anima immortalis est.

– Eu sou imortal! - Berrou Hanker.

– Adiuro vos, ego desconjuro. Et absque murorum ambitu te, ter tria carcerem!

Hanker começou a gritar como um bicho. Todos os pelos da minha nuca se eriçaram e uma sombra preta saiu de sua boca aberta, mergulhando na terra e descendo. Raffael, de repente caiu sobre Miranda, e eu corri até ele.

POV'S 3° PESSOA

Anne chegou até eles. Hanker, morto, jogado ao relento, e Raffael estirado ao lado de Miranda.

– Pai... o que aconteceu? - Perguntou a garota, desesperado, quase engasgando nas próprias lágrimas.

– Eu... bani Hanker. - Respondeu Raffael, também tossindo, mas uma tosse de morte. - Você está salva, Anne. Esta foi minha última e poderosa magia.

– Você tá morrendo? - Novamente pergunta ela, chorando.

– Você, minha filha, é o bem mais precioso que eu tenho na minha vida. E eu consegui te salvar. É tudo o que importa agora. Eu vou rever sua mãe. - Disse ele, sorrindo, e passando a mão no rosto da filha. - Vamos te esperar lá, tudo bem?

– Tudo bem. - Respondeu Anne. Um nó se formando na garganta.

A Feiticeira se deitou no meio dos pais, os dois ao seu lado, lhe protegendo. Como deveriam ter sido. Uma família feliz.

– Cuide... do Reino. - Pediu Raffael. Fazendo seu último esforço, ela pegou a mão da filha. Anne tomou a mão do pai também. - Eu amo você.

Raffael fechou os olhos. Pela última vez. Anne chorou incontrolavelmente, agarrada na mão do pai, o homem mais corajoso que ela já havia visto, e da mãe, a Rainha mais incrível e linda de todas. Anne soluçou, e pensou nos pais. Eu amo você. Disseram ambos.

Anne chorou até pegar no sono.

**************

POV'S ANNE RAXEL WATERN, A PRINCESA ANNELISE.

Abri os olhos. Havia algo gelado caindo em meus braços. Me sentei e vi que estava deitada em um parque. Mas não qualquer parque. Eu estava no Jardim das Hespérides, aos pés da árvore que mostrava seu maior desejo. E aquilo ao meu redor era... neve. A grama, antes verde e colorida, agora estava branca. Completamente branca. Os troncos das árvores eram borrões escuros. Me levantei e olhei ao redor. Não havia a mínima chance de eu estar de volta ao Reino das Trevas. Sem mais nem menos, algo falou em minha mente.

– Anne. - A voz clara e fina, vinha, obviamente de uma mulher. Um vulto se mexeu no portal.

Minha mãe apareceu. Seus olhos azuis não era de um simples azul, mas sim um azul de verão. Usava um simples e comprido vestido lilás. O estranho, era o fato de ela andar e dissolver a neve ao redor de onde estava.

– Anne. - Chamou ela.

– Mãe! - Gritei, correndo até ela, a abraçando. Ela beijou minha cabeça.

– Oh, minha menina. - Ela me abraçou fortemente. Ouvi um pigarro atrás de mim. Me virei e vi meu pai, sorrindo, braços abertos.

– Anne, minha filha querida. - Ele chamou, e eu fui até ele, que me abraçou. Lágrimas vieram a meus olhos.

– Vocês estão...

– Não. - Miranda me interrompeu, e meu pai me largou delicadamente. Miranda se colocou a seu lado, e ele colocou o braço ao seu redor. - Estamos mortos fisicamente.

– E como eu posso ver vocês? - Questionei.

– Anne, você é nossa filha, e queríamos vê-la uma última vez. - Respondeu Raffael.

Uma lágrima rolou.

– E vocês vieram apenas para me dar adeus? - Perguntei.

– Infelizmente, sim. - Miranda concordou, triste. - Mas também mandar você tomar cuidado. O mal ainda não acabou.

– Sim, eu sei. - Assenti. - A Lua ainda está por aí.

– Sim. - Concordou meu pai. - Você precisa se teletransportar para o Monte Everest. É onde fica o Templo da Lua.

– O quê? - Arregalei os olhos. - Mas o monte Everest fica na China!

– Isso mesmo. - Miranda sorriu. - Temos que ir, filha.

– Já? - Andei até eles, que me envolveram em um abraço.

– Estamos esperando por você. E sempre de olho. - Raffael avisou. Miranda riu, e eles começaram a brilhar.

– Cuidado no Everest. - Disse ela. - E coloca um casaco porque vai estar frio!

– Mãe! - Resmunguei, sorrindo. - Eu amo vocês.

– Nós também te amamos. - Eles responderam, em uníssono.

– Cuidado ao acordar. Você não vai gostar de onde estará. - Raffael disse, sombrio. E logo depois, eles sumiram.

Endireitei-me e comecei a pensar no lugar onde eu deveria ir. Um lugar onde eu via apenas em fotos nos livros de geografia. E me programei para ir até lá. Eu não sabia se eu podia me teletransportar em sonhos, mas estava disposta a descobrir, e assim, fechei os olhos, pronta pra guerrear contra o frio - sem um casaco. Por que será que mães estavam sempre certas?


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Notas finais do capítulo

Bem, podem me matar agora. Ah, olhem o último capítulo postado, pq eu coloquei um aviso mto importante.
E para os que não manjam de latim, aqui tá a tradução:
"Eu te convoco de volta de onde vieste. Alma imortal, viaje de volta. Eu te amarro, eu te desconjuro. Te condeno três vezes três a prisão sem muro!"



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