— Já voltou? — ela me perguntou, quando me viu caminhando ao seu lado.

— Não, eu vim do futuro para te alertar que você está cometendo um grande erro.

— Que tipo de erro sr. Logan do futuro? — fingiu preocupação.

— Um grande erro — e então olhei para ela, procurando alguma coisa para continuar a brincadeira — você está andando com o tênis desamarrado!

— Ah não! Isso é tão errado! Tão fora dos padrões da sociedade! Quase tão ruim quanto usar piercing no nariz! Oh, o que minha família irá dizer...?

— Hey! Eu uso piercing no nariz!

— Eu sei, falei de propósito, mente de vento.

— Eu não tenho mente de vento.

— Claro que tem — ela fingiu olhar algo muito interessante pela minha orelha — se olhar daqui vejo o horizonte inteiro.

— Você está muito atrevida garota, pensa que pode vir e ficar me zoando assim? — fingi estar bravo.

— Ah, desculpa, eu...

— É brincadeira, eu não ligo — e dizendo isso, entramos no refeitório da escola.

"Refeitório" é algo simples para chamar aquele lugar, era melhor do que muitos restaurantes, eles sabem aproveitar o dinheiro que pagamos para respirar aqui. Logo eu e Juliet sentamos juntos, foi a primeira vez que alguém sentou comigo, mas não demonstrei emoção por isso, iria parecer idiota demais. Então nós nos encaramos com cara de idiota antes de começarmos a comer, chegara o momento que comprovaria se você está interessado ou não em falar com a pessoa: o momento sem assunto.

— Então... — comecei, sem nada em mente.

— Logan! Garota que não conheço! — sim, fui interrompido por Louis Biggons.

Nesse momento tomei uma conclusão importante sobre Louis: ele era um vidente que sempre sabe onde eu estou e sabe o que eu estou fazendo e escolhe especialmente alguns momentos para vir conversar comigo.

— Oi Louis — respondeu Juliet, em um tom um tanto irônico, mas rindo em seguida.

— Olá — respondi, meio secamente, não sou o tipo amigável — do que precisa garoto?

— Será que eu... eu poderia, bem eu queria primeiramente... ah, eu queria...

— Pode ficar com a gente sim Louis — interrompi forçando um sorriso amigável (não foi muito difícil dessa vez).

— Obrigado — ele sorria tanto, como se tivesse ganhado um prêmio importante — ah Logan, eu queria agradecer por...

— Não precisa agradecer, eu gosto de brigar com o Edward...

— Você ter entregado ele para o orientador fez ele receber um trabalho sobre bullying, sem ganhar ponto nenhum e...

E voou ketchup na cara de Louis.

E Juliet ria segurando a "arma do crime".

E eu ri da idiotice dos dois.

E Louis fez uma cara de por-que-diabos-você-fez-isso-garota?

— Por que diabos você fez isso garota? — ele praticamente gritou feito uma meninina (me veio à cabeça quando derrubei café em Lilian) enquanto se limpava com o guardanapo.

— A... conversa... tava... chata — ela disse em meio aos risos.

— Isso não é motivo — mas logo Louis começou a rir também — Louis Biggons — ele estendeu a mão.

— Eu sei quem é você — ela apertou a mão dele — Juliet Clark.

Fiquei com ciuminho, eu não tive o direito de apertar a mão de ninguém.

— Clark? Você é...?

— Sou da sua classe.

— Então como não lembro de você.

— Sento no fundo, mais fundo que o Logan.

— Tem um lugar na sala atrás do Logan?

— Tem.

— Não sabia. Posso fazer uma pergunta Juliet?

— Minha vez de jogar ketshup em alguém, quem se voluntaria? — interrompi, ameaçando pegar o vidro em minha frente. Louis afastou a cadeira.

— Pode Louis — respondeu a garota rindo.

— Por que você está de pijama e tênis?

— Eu fiquei com preguiça de trocar de roupa e os tênis foram as primeiras coisas que encontrei.

— Isso faz todo o sentido do mundo.

— To ligada.

E o resto do dia se passou assim. Eu, Juliet e Louis, pela primeira vez pensei profundamente e descobri que finalmente considero alguém como "amigo" e em como isso era legal. Às nove horas (meia hora depois do toque de recolher), ouvimos Jeremy no auto-falante da escola.

Todos os alunos devem se dirigir aos seus dormitórios imediatamente. Alunos que eu conversei mais cedo, sigam minhas ordens.

— Ele não conversou comigo, conversou com algum de vocês? — perguntei, ainda parado, enquanto quase todo mundo corria pelos corredores.

— Não — Juliet respondeu.

— Ele conversou comigo — Louis disse baixinho — mas eu não lembro o que era... vou procurá-lo.

E o garoto saiu correndo como uma gazela no meio do mar de gente correndo feito idiota.

Apenas por instinto, me dirigi até a parede em minha frente e, quando percebi que o corredor estava o mais deserto possível, puxei a falha do papel de parede, que era falso e colocado ali propositalmente, apenas para esconder uma porta atrás dele (sim, a porta era "invisível" para os outros babacas, que não deram a mínima para o volume da porta na parede, nem para ela ter surgido do nada no meio do corredor).

— Como você fez, descobriu ou sei-lá-o-que isso? — Juliet estava surpresa.

— Caí aqui sem querer uma vez, com nove anos — respondi — é uma das passagens secretas que levam ao dormitório masculino.

— Tem isso que leva pro das garotas também?

— Nunca achei, acho que quem construiu a escola provavelmente achou que as meninas não veriam graça em passagens secretas muito loucas, sujas, velhas, com teias de aranha e decoração de mil novecentos e quadradinho.

— Quadradinho?

— "Bolinha" é muito comum.

— Entendível. Quantas dessas tem na escola — apontou com a cabeça a porta.

— Tem milhares de portas aqui Juliet — respondi rindo,.

— Você entendeu Logan!

— Não sei o número exato, mas acredito que eu conheço todas.

— Você vai me apresentar todas.

— Com certeza, baby.

— Tenho que ir, não tenho uma passagem secreta que me manda direto para o meu dormitório.

— Boa sorte dando voltas sozinha — gritei quando ela estava virando o corredor, Juliet, com a maior sutileza que só ela tem, mostrou o dedo médio e disse algo que parecia com "Vai se foder, viadinho".

É, prevejo uma grande amizade.

Cinco minutos depois estava no meu quarto. Pelo menos no que eu achei que seria meu quarto, Estava diferente, agora tinha três camas, três guarda-roupas... três tudo! Só não tinha três banheiros, mas tudo bem, eu não precisava. Então pulei na primeira cama, e usei ela de cama elástica, isso parece infantil, e é mesmo, mas eu não ligo. Pouco tempo depois ouvi a porta abrindo e caí na cama, escorreguei e rastejei até o guarda roupa que tinha rabiscado "LFS" e abri, fingindo que estava trocando de roupa. Não entendi porque colocaram minhas iniciais na porta, deveria ser mais alguma coisa idiota.

A porta se fechou e eu tirei a camisa, procurando a blusa do pijama, enquanto tirava a calça, ficando apenas de cueca. Era assim que eu ficava no quarto, blusa do pijama e cueca, geralmente estilo samba-canção, sempre achei mais confortável.

— Logan? — ouvi uma voz conhecida, porém não identificável vindo de um longe um pouco perto. Terminei de colocar a blusa tão rápido que senti meu pescoço estralando, puei rapidamente as mangas e as segurei com as mãos. — Você ta aí?

Era o Louis. para ver o que ele queria.

— O que que você quer?

— Dormir? — ironizou.

— Vai pro seu dormitório então — empurrei ele pela porta.

— Você não entendeu! — ele riu — eu durmo aqui agora.

Então raciocinei, não era um presente eu ter três camas. Eu teria que dividir o quarto.

— Nós dois e mais quem?

E a porta se abriu revelando a última pessoa que eu queria ver no momento: Edward Goldens. Pelo menos me alegrei ao ver que tinha deixado mesmo ele com o olho rosto, e mais ainda ao ver a cara dele, não de raiva, mas de medo. Estava sorrindo quando me joguei na cama para dormir.