Apesar de eu ter passado tanto tempo no colégio Electoral, acredito que nunca tive um "primeiro dia" mais emocionante como o deste ano. E isso não tem nada a ver com Juliet ou Louis.

Nunca tivemos um aluno novo na minha sala que eu me lembre (a sala III sempre teve o máximo de alunos). E para o nosso azar (ou não, quem sabe) este ano três alunos se mudaram, abrindo assim o círculo da sala III e deixando seus lugares vazios. Isso explicava totalmente o fato de ter um garoto estranho no dormitório masculino ontem.

O lado bom de tudo isso é que o professor perdeu alguns minutos da sua preciosa aula para se apresentar e explicar regras da escola e classe. Achei isso tão inútil quanto estar naquela sala, naquela escola, naquele dia.

Quando o professor resolveu dar aula senti alguém invadindo completamente meu espaço e se sentando na mesa que estava vazia ao meu lado (não havia uma explicação para ter uma carteira a mais sobrando, mas eu gostava de ficar sozinho).

— Você é Logan, não é? — ele perguntou, realmente não sabe respeitar o antissocialismo alheio — o garoto que caiu na água lá na casa dos Clark?

— Isso não é o tipo de coisa que você deveria saber — eu encarava a parede atrás do professor.

— Meu avó estava lá — riu — ele te ajudou a sair de lá.

Por um momento me lembrei dos dois velhos que me ajudaram naquele dia.

— Meus parabéns, mas eu poderia morrer sem essa informação.

— Sempre simpático assim?

Finalmente encarei o cara, ele sorria com um pouco de sarcasmo. Algo na sua aparência era familiar, mas não consegui perceber o que era, afinal.

— Só com desconhecidos.

— Isso não é problema...

— Eu não quero conhecer você.

— Você é um modelo de simpatia, não?

— Claro, esse é até o meu apelido.

— Por que não dividem o assunto com a classe? Parece ser tão mais interessante que a aula de física! — o professor gritou, parando a aula, olhando para mim e o garoto do meu lado.

— Qualquer coisa é mais interessante que sua aula, Brad — respondi como se ele tivesse me perguntado quanto é um mais um. Alguns alunos riram.

— Você é um grande comediante, sr. Stole...

— Sinto ter que discordar do senhor...

— ...tente fazer piadas a sua semana na detenção...

Ótimo, mais uma para minha coleção.

— Teria feito sentido se eu não tivesse dito "sinto ter que discordar do senhor", seu otário.

A sala fez um "uuuh" em uma só voz.

— ...nas suas duas semanas na detenção.

Eu tenho que aprender a calar a boca. Ou a falar baixo.

Alguns minutos depois eu estava saltitando pelo corredor para entregar mais uma folha de detenção com muitas reclamações exageradas do professor para Jeremy.

É, eu não estava tão animado assim.

Na verdade caminhava o mais devagar possível, nunca se sabe quando o professor voltará para dizer que você está perdoado e não precisa cumprir duas semanas (a mais) de detenção.

Isso não aconteceu, eu tive que correr para a sala do orientador antes que o próximo professor quisesse brigar comigo pelo atraso tive que ouvir um pequeno sermão quando Jeremy terminou de ler o que eu levava (que eu não ouvi de verdade, a foto de um poodle atrás da cadeira dele era mais interessante) e logo em seguida fui para a aula.

— Está atrasado, Stole — rosnou a professora de matemática.

— Tudo bem, tem autorização para entrar — levantei o papel cor-de-rosa e continuei andando, a professora me barrou colocando o braço na altura do meu peito — ah Karen, por favor... — ela olhou para mim, para o papel na minha mão, e de volta para meu sorriso falso — você está atrapalhando sua própria aula — me soltou — obrigado.

— Sente-se logo Stole — Karen se virou para a lousa e voltou a escrever.

— Você tem uma ótima "reputação" — o garoto do meu lado não desiste de falar comigo.

Que coisa chata.

— Claro, já devo estar batendo recorde de detenções, nou entrar para a história do colégio.

— Você tem uma animação contagiante.

— Costumam dizer isso — fiz questão de manter a voz cansada que geralmente uso.

— Jura?

— Claro que não. Agora cala a boca cara, não estou afim de "ficar de castigo"por mais tempo.

— Como vai você e seu novo namorado? — Edward, o babaca preferido da escola, resolveu me atormentar no almoço.

— Que tipo de droga anda usando Edward? — ignorei os tapas que ele deu no meu ombro — e eu não te dei permissão para sentar aqui.

— O garoto novo vocês ficaram de conversa durante a aula — deu de ombros — e eu não me importo com o que deu ou deixou de dar.

— Ele é só um babaca, assim como você.

— Por onde sua namorada e o amante dela andam?

— Pensei que eu tivesse um namorado, agora tenho uma namorada também, e ela tem um amante. Em cinco minutos descobri que sou bígamo e corno.

— Estou falando da namorada de verdade.

— Eu parei de ter amigos imaginários com sete anos, por que diabos eu teria uma...?

— A Juliet, retardado! A Juliet e o Biggons.

— A Juliet não é minha namorada, de onde tirou isso? E ela e o Louis? Sério, o que você anda fumando?

— Eu tirei de vocês se pegando na casa dela...

— Não era algo sério...

— E não fumei nada, apenas sei que se tivesse chance, Louis pegaria a Juliet.

— Você imagina cada coisa — girei os olhos — e respondendo a sua pergunta, não faço a mínima ideia.

— Namorado que não sabe onde a própria namorada está....

— Ela.não.é.minha.namorada.seu.débil.mental!

— Ora, mas...

— Sério se você...

— Desculpa meninos, mas vou atrapalhar a conversa — Juliet sentou entre mim e Edward, ela sorria, adoro quando Juliet sorri.

— Não atrapalha — Edward piscou para ela, o monstro do ciúme me atacou — estávamos falando sobre — tossi alto, e torci para ele entender que era para calar a boca — futebol.

— Não sabia que Logan gostava de futebol.

— Mais uma coisa que aprendeu sobre mim. E olha, eu sou muito bom na brincadeira — ri — eu estaria até no time da escola, querida, mas ouve um acidente e me proibiram de qualquer atividade esportiva enquanto estudar aqui. Quase que não pude mais chegar perto dos campos e quadras de treina...

— E dos jogadores!

— Isso, obrigado Ed, digo, Edward, mas diminuíram minha pena — Juliet abriu a boca — é uma longa história

— É o tipo de história que você iria adorar ouvir, querida — Edward tentou imitar minha voz, provavelmente.

— Sabe que eu não falo assim, né?

— É assim que eu escuto quando você fala.

— Mas isso não é nem um pouco... — ouvi risada do meu lado— qual a graça, Clark?

— Vendo vocês assim — sorriu de uma forma fofa — até parece que são melhores amigos de infância.

— Até parece, odeio esse calango loiro.

— Não pense que comigo é muito diferente!

— Edward, você não precisa gritar para chamar a atenção de todos.

— Não tenho culpa se chamo atenção naturalmente.

— Você não chama atenção naturalmente, você...

— Vocês são duas crianças — Louis se sentou na minha frente.

— Você chegou, então somos três — Edward fingiu reverência.

— Verdade, vocês três são um bando de infantis... — comecei.

— Você está no meio dos "três" — Juliet sussurrou alto. Isso é possível?

— Ah, então são quatro, seus estúpidos — senti um pequeno tapa na nuca — você é a mais...

Lilian Smots passou por perto, algo nela mudou, talvez ficar sem ninguém que te conheça de verdade na escola faça bem para algumas pessoas. Pelo menos para ela fez.

— "A mais" o quê? — Juliet me tirou de transe.

— Oi?

— Você tava falando, daí ficou calado, parecia mais retardado do que já é — Edward falou com a boca cheia de algo que me lembrou que não tinha comido quase nada até agora.

— Ah, não... não era nada.

— Credo garoto, você é estranho.

— Descobriu sozinho ou precisou ajuda do Capitão Óbvio?

— Olha, eu já estou...

— Sério, calem a boca, muito sério mesmo.

— Ta bom, desculpa, querida.

Não deu cinco minutos e Edward se levantou, disse que tinha que resolver umas coisas, que a gente tinha que ir para algum lugar hoje de noite, que todo mundo ia e que ia ser demais. Depois eu que sou um garoto estranho.