Dear Boss escrita por Laëtitia


Capítulo 2
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Eu vou tentar postar cada capítulo o mais rápido possível, provavelmente uns dois por semana



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Acordei na minha cama sentindo uma dor de cabeça terrível. Minha cabeça havia sido enfaixada e podia sentir um incômodo na bochecha, eu havia levado alguns pontos ali.

"Já estava na hora de acordar, como se sente?" Will perguntou, ele estava sentado na cadeira do lado da minha cama. Parecia sonolento. "não muito bem, que horas são?" Falei me sentando, fiquei um pouco tonta.

" Nove e meia. Todos estão preocupados com você" Tentei me levantar mas não consegui, caí novamente na cama. Gemendo de dor. Will se levantou e me ajudou a ficar de pé, percebi que estava usando um vestido azul claro. " O que aconteceu enquanto eu apaguei?" Perguntei, esperando pelo pior. Wil soltou um leve suspiro e segurou na minha mão, como para me reconfortar.

" Avisamos à polícia...sobre Mary Ann. Eles acharam o corpo dela, estava em péssimo estado. Eles queriam te interrogar, mas minha mãe não deixou. Disse que você estaría muito abalada." Não consegui conter minhas lágrimas e o abracei, ele me abraçou de volta. Ficamos assim por um tempo e assim que as lágrimas acabaram, me afastei. "Pegaram o assassino?" Perguntei. Will abaixou a cabeça e depois de alguns segundos de silêncio respondeu.

"Não acharam ninguém. Nem uma única pista." Fiquei estática. E se esse homem ainda estivesse por aí? E se ele tentasse me matar por ter o visto, mesmo que não tendo visto o rosto, poderia reconhecê-lo. Fiquei apavorada, e Will percebeu. Ele olhou nos meus olhos. "Não vou deixar nada acontecer com você Delie, eu e as meninas estamos aqui pra te proteger" Falou me abraçando novamente. Ouvimos algumas batidas na porta. Logo Madame Flora entrou no quarto e assim que ela depositou os olhos em mim, me abraçou. Will sorriu e foi embora.

" Minha querida, como se sente?" "Poderia estar melhor, no momento apenas com dor de cabeça" Respondi dando um sorrisinho, ela sorriu de volta e foi andando até o armário, mexeu em algumas peças e tirou um vestido limpo ali de dentro. Ele era magenta com alguns laços pretos. " Coloque, daqui a pouco alguns policiais da Yard virão aqui para lhe perguntar detalhes sobre os...acontecimentos de ontem. Eu não queria que viessem, mas eles querem muito achar esse assassino." Disse saindo do quarto e fechando a porta logo em seguida. Me vesti rapidamente e coloquei minhas botas favoritas. Arrumei o coque que prendia meu cabelo, já que a faixa na minha testa me impedia de deixar os cabelos soltos.

Enquanto descia as escadas me segurando no corrimão, com cuidado pois ainda estava tonta, percebi o quanto a casa estava silenciosa. Normalmente as meninas estariam brigando por causa de roupas ou discutindo quem era a mais bonita, mas hoje, não havia nada. Cheguei na sala de jantar e todas estavam sentadas comendo silenciosamente. Algumas estavam com olhos inchados por terem chorado a noite inteira.

 Me sentei em meu lugar de costume, e bebi meu chá tentando não trocar olhares com ninguém naquela mesa. Percebi que dois lugares estavam vazios, o de Mary Ann, ao meu lado, e o de Emily, do outro lado da mesa. Josephine, que se sentava do meu outro lado, me pegou olhando para a cadeira de Emily.

" Emily está lá em cima desde ontem a noite. Ela está arrasada, afinal, dividia o quarto com Mary e era sua melhor amiga. Ela está furiosa com você, te culpando pela morte dela. Tivemos que dar um calmante a ela, senão ela não deixaria ninguém dormir com o seu choro." Abaixei a cabeça e meus olhos se encheram de lágrimas, mas não as deixei cair. "Não se preocupe, não é sua culpa. Você estava em pânico, completamente compreensível." Falou com seu sotaque francês. Eu esperava que me culpassem por isso, afinal, eu estava lá em não fiz nada para impedir, merecia ter morrido mesmo. Quando terminei de beber o chá, alguém bateu na porta e Madame Flora foi atender. Entrou um homem baixinho e gordinho com roupas de inspetor, atrás dele seguiam dois policiais.

"Bom dia senhoritas, sou o Inspetor Lestrade, da Scotland Yard. Vim aqui falar com a senhorita Cordelia Phillips sobre o assassinato de Mary Ann Nichols" Falou ele pegando um bloquinho em seu bolso. Me levantei e fui com ele até a sala de estar, Madame Flora foi junto.

"Então, o que gostaria de saber?" Perguntei me sentando em uma poltrona, Lestrade se sentou no sofá a minha frente com Madame Flora ao seu lado. " A senhora testemunhou o crime certo?" "Sim" " Como era o assassino?" "Eu não o vi direito senhor, ele usava uma capa, uma cartola e um cachecol envolta de seu pescoço." Falei enquanto ele anotava tudo em seu bloquinho. Suspirei "Mas tenho certeza que poderia reconhecê-lo pela voz e pelo porte. Nunca mais me esquecerei desses detalhes." Terminei. Lestrade fechou o bloquinho e chegou pra frente me analizando de perto.

"Já parou pra pensar que pode estar correndo perigo? Agora que esse homem sabe onde você mora, ele pode a qualquer momento invadir esse lugar e matar você". Arregalei os olhos pensando nisso, ele podia me matar, e matar as outras meninas, podia matar  também Madame Flora e Will. " E o que eu posso fazer? Se o senhor está sugerindo que eu vá pra outro lugar, duvido que meu pai vá me querer em casa novamente e eu me recuso a viver junto com aquele homem. E tem mais, não conheço nenhum parente meu". Lestrade se levantou rapidamente, arrumou a roupa e foi andando rumo à porta.

"Vou pesquisar nos registros dos cartórios, mandarei meus homem atrás do seu parente mais próximo vivo, e você irá morar com ele. Não precisa morar pra sempre, somente até pegarmos esse assassino, depois pode vir pra cá" Falou e saiu, seguido por seus policiais. Voltei para a sala e vi que todas as meninas cochichavam. 

Antes de perguntar o motivo de tanta conversa, vi que Emily estava na beira da escada. Ela estava com uma cara horrível, com a maquiagem borrada e as roupas de ontem a noite. Ela se virou pra mim e deu um sorrisinho sarcástico.

"Ora, ora, mas ela finalmente acordou, como se sente meu bem, viva?" Falou chegando perto de mim. Cada palavra transbordando ódio e ironia. Josephine foi para a minha frente de uma forma protetora. " Deixe ela em paz Emily, você não sabe o que ela passou." Emily soltou uma gargalhada e empurrou Josephine para o lado, ficando à minha frente novamente. Dei um passo para trás. " Sei sim! Ela não fez NADA! Mary Ann estava precisando da ajuda dela, e ela não fez nada! Deixou esse homem cortar Mary em pedacinhos enquanto ficava olhando. Completamente inútil" Gritou no meu rosto. Fiquei furiosa.

"Pra sua informação, eu não sei se você já passou por uma situação onde você simplesmente fica paralizada em frente ao perigo. Eu estava apavorada, queria fazer alguma coisa mas não conseguia. Queria saber o que você faria, você não passa de uma prostituta mal paga que mal consegue clientes e nunca vai ser ninguém na vida!" Cuspi e logo recebi um tapa em resposta, na bochecha que não estava machucada antes. Josephine segurou Emily e foi puxando ela em direção a escada. Meus olhos se encheram de lágrimas, mas não de tristeza, mas de ódio. Não deixei as lágrimas escorrerem, apenas virei de costas. 

Enquanto Emily subia as escadas, ela gritou de volta "Tem razão, mas ao menos eu ganho dinheiro e um dia vou poder sair desse lugar, você nem isso tem, vai viver aqui pra sempre, não vai arranjar um marido nem terá filhos! Nunca terá uma família." 

Foi a gota d'água. Fui correndo até a porta da frente, peguei meu sobretudo e saí. A nevasca havia aumentado, mas não importava, eu precisava ficar sozinha naquele momento. Mesmo com um assassino á solta querendo me matar. Tinha apenas algumas moedas comigo e não dariam para pagar uma carruagem para ir aonde eu queria. Suspirei, iria ter que ir andando mesmo.

Depois de mais ou menos uma hora e meia andando, cheguei até o rio Tâmisa. Eu costumava vir aqui no inverno com a minha mãe e nós íamos patinar. Sentia falta disso, sentia falta dela. Me sentei na beira da ponte de Westminster e fiquei horas ali, apenas admirando as crianças patinando no gelo, rindo quando alguma delas caía. Só percebi que estava ali há muito tempo quando o Big Ben soou três badaladas. Tinha que voltar, afinal, eram quase duas horas até o cabaré. 

No caminho de volta, não parava de pensar no que Emily havia dito. Ela estava certa. Eu nunca sairía do cabaré. Mesmo que saísse, quem iria querer ficar comigo, sou insuportável de se conviver, vivo brigando com todos. Ai Deus, só espero que Lestrade consiga achar algum parente meu. 

Quando finalmente cheguei, vi que uma carruagem estava saindo da porta. Entrei e vi Lestrade sentando novamente do sofá. "Achamos um parente seu, e ele não mora muito longe, na verdade, eu mesmo o conheço, mas não acho que se lembre dele, era muito nova da última vez que o viu" Falou, ele parecia desconfortável.

"E...quem seria?" Perguntei esperando pelo pior. "Se lembra de John Watson?" Botei meu cérebro pra funcionar, sim, me lembrava dele. Nunca pensei que o veria novamente. "Sim senhor, ele é meu primo, filho da irmã de minha mãe. A última vez que o vi foi no natal antes dele entrar pra faculdade de medicina" Aquele foi o último natal que eu passei com minha mãe, adicionei mentalmente.

"O que acha de ir morar com ele? Ele mora em um flat na rua Baker. Nº 221B. Na verdade, acho melhor deixar claro que ele divide o flat com Sherlock Holmes" Falou com desgosto.  Eu me espantei. Já havia lido sobre Sherlock nos jornais, havia resolvido o caso de Lord Blackwood há 2 meses e era praticamente o melhor detetive de Londres, provavelmente o melhor do Reino Unido. Já sabia que resposta dar.

"Sim, eu quero morar com ele." Sorri, sabia que assim que fosse pra lá, minha vida iria mudar, e muito.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado ^^



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