Dear Boss escrita por Laëtitia


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Aqui está o primeiro capítulo, espero que gostem ^^



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Eu andava pelas ruas tentando não tropeçar nos montes de neve ou chamar a atenção de alguém, era assim todos os dias. Era meu dever ir à padaria todas as manhãs e comprar cinco sacolas cheias de scones. 

Ontem a noite havia sido cansativa, portanto perdi a hora de levantar e acabei por sair às 10h. A rua já estava cheia de homens bem vestidos e mulheres com crianças agarradas em suas saias. Eu corria tentando não esbarrar em ninguém, tentava ser invisível. Finalmente, depois de alguns minutos eu conseguia ver o grande letreiro em uma rua sem saída "PROUD CABARET". 

Sim, eu trabalhava em um cabaré, mas não se engane, eu não era uma dançarina nem uma meretriz (para ser o mais educada possível), eu apenas sirvo bebidas, e o mais discretamente possível.

Entro pela porta dos fundos enquanto tiro meu sobretudo, na ponta dos pés tentando fazer o mínimo de barulho possível, não quero acordar as meninas tão cedo, já levei muita bronca por causa disso. 

 "Cordelia, Você está atrasada, sabe disso não é?" Escuto alguém me falar, lentamente me viro e vejo Madame Flora me encarando com uma sobrancelha arqueada. Madame Flora era a dona do cabaré e foi ela quem me acolheu quando eu tinha cinco anos. Não me lembro muito dessa época, mas segundo me contaram, eu estava na rua da frente do cabaré chorando, minha mãe havia morrido e meu pai havia me expulsado de casa, Flora me criou como se fosse sua, junto com o filho dela, William.

E aqui estou eu, doze anos depois, prestes a levar uma bronca por me atrasar, de novo.

"Me desculpe Madame Flora, eu perdi a hora e acabei levantando muito tarde, isso não vai se repetir" Falei morrendo de vergonha, olhando para as minhas botas sujas de lama.

"Você sempre diz isso Delie, e isso sempre se repete" Ela disse apontando pra mim. "Vou chamar as meninas, e espero que isso não aconteça novamente" Disse subindo as escadas que levavam aos quartos. "Sim senhora" murmurei enquanto ia em direção à cozinha. Antes de entrar eu já podia sentir o cheiro do chá que logo ficaria pronto, entrei equilibrando as sacolas nos braços e as depositei em cima da mesa.

"Atrasada de novo? Um dia a mamãe vai acabar castigando você" Declarou William. Ele era um ano mais velho do que eu e servia as mesas junto comigo. De vez em quando trabalhava no bar, durante o dia ele me ajudava a cuidar da casa. 

Fiquei encarando ele por alguns segundos enquanto o via colocar quatro bules de chá em travessas de metal junto com xícaras e logo se virou para pegar pratos no armário. Me sentei em uma das cadeiras e já fui colocando chá em uma xícara pra mim, William se virou, deu um tapinha na minha mão e eu fui forçada e largar a xícara, fiz um bico e cruzei os braços. "Sabe que tem de esperar as outras para tomar o café" Ele relembrou, claro, porque até parece que eu obedecia regras, quer dizer, de vez em quando.

"Respondendo a sua pergunta, sim, eu me atrasei, mas a culpa é toda sua! Você que me largou pra fazer todos os seus afazeres enquanto você foi dormir, sabe que horas eu terminei tudo? Às quatro da manhã!" Falei virando a xícara de chá quente de uma vez só, comecei a lacrimejar de tão quente que estava, Will apenas deu um sorrisinho, pegou duas travessas e às levou para a sala de jantar. Eu fui atrás carregando mais duas travessas. As coloquei na mesa e me sentei no meu lugar de costume. 

Logo as meninas começaram a descer. Julie, Dorcas, Meredith, Josephine, Phoebe, Emily, Esther, Madame Flora e por último é claro, Mary Ann, que pela expressão que fazia estava se recuperando de mais uma de suas famosas ressacas. Todas começaram a conversar e a comer os scones, menos Mary que tomava o chá e parecia prestes a desmaiar a qualquer momento.

"Acho melhor você voltar pro quarto e descançar, senão ainda estará nesse estado hoje à noite" Cochichei para ela, que pareceu me ignorar e então terminou o chá, pegou um scone e subiu "Vou voltar à dormir, só me chamem as 18:00!" Gritou do alto da escada. Sorri e voltei a comer, era essa a Mary que eu conhecia, se preocupava mais com os clientes do que com ela mesma, as vezes isso chegava a ser preocupante, mas fazer o que, assim era Mary Ann Nichols. Depois que o marido conseguiu a guarda dos filhos ela veio pra cá, Madame Flora que sempre foi generosa, deixou ela ficar e Mary agora divide o quarto com Emily.

Depois que todas terminaram de comer, foram para seus quartos fazer sabe-se lá o que, eu fui para a cozinha com Will lavar a louça. Assim que terminei subi para o meu quarto, não era grande e muito menos o mais limpo, mas dava pra viver assim. Me deitei na cama e adormeci. Só pretendia acordar as 18:00, uma hora antes do cabaré abrir, pois precisava me preparar.

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Acordei com batidas na minha porta, e com a não tão doce voz de Madame Flora irritada

"Anda logo Cordelia! São quase 18:30! Logo os clientes estarão chegando! Se apresse!" Gritou e eu logo pude ouvir o som dos seus saltos batendo no assoalho enquanto ela descia as escadas. Me levantei em um pulo e abri o armário. De um lado haviam vestidos, alguns meio gastos pois eram das meninas que tinham sorte de receber propostas de casamento ou de arranjar um emprego e iam embora daqui, eu ficava com o que sobrava delas. E do outro lado haviam calças, camisetas, boinas e botas masculinas. isso porque para não chamar atenção dos clientes, eu me vestia de homem para trabalhar, a maioria das roupas masculinas que eu tinha eram de Will e ficaram muito pequenas para ele. 

Escolhi uma calça marrom, uma blusa branca meio larga e suspensórios. Calcei as botas e prendi meu longo cabelo preto em um coque no alto da cabeça, coloquei uma boina cinza para escondê-lo. Saí correndo do quarto e desci as escadas rapidamente, alguns clientes já haviam chegado e estavam cortejando as meninas, alguns as apalpavam em lugares que prefiro nem descrever, argh, nojento! Ainda bem que estou disfarçada. Lavei alguns copos e logo era minha vez de servir as mesas enquanto Will lavava os copos. Logo percebi que um homem todo encapuzado entrou, ele usava um sobre tudo preto e uma cartola, logo ele foi falar com Mary Ann que estava sentada em uma mesa, sozinha tomando whiskey direto da garrafa. Revirei os olhos e me encostei na bancada do bar, enquanto esperava alguém fazer um pedido, logo o homem encapuzado levantou a mão, me chamando. Não dava para ver seu rosto direito, pois estava escondido por um cachecol vermelho.

"O que o senhor gostaria de pedir?" Perguntei fazendo a voz perfeita de um menino. Depois de alguns anos fazendo isso, você se acostuma. 

"A sua companhia e da linda moça aqui" Ele respondeu com sua voz grossa apontando para Mary que estava sentada em seu colo sorrindo, "bêbada demais pra se lembrar disso amanhã" Pensei. Um calafrio percorreu minha espinha, eu sabia que isso não ia dar certo.

"Er...eu sou só um garçom, não há homens aqui para esse serviço, s-senhor, mas pode tentar em outros lugar-" "Mas eu quero você, e é melhor que venha comigo, não precisa se esconder querida, sei o que você é" Ele falou dando um sorriso de lado, e isso me assustou profundamente. Quando me dei por mim, estávamos saindo pela porta, a nevasca havia aumentado eu estava congelando. O homem abraçava Mary de lado enquanto ela estava de mão dada comigo. Eu queria puxá-la e sair correndo, mas não ia adiantar, ela estava muito bêbada pra correr.

Fomos andando até uma área deserta, onde haviam estábulos, eu estava entrando em pânico, ele começou a beijar Mary e eu me sentei em um caixote de madeira e abaixei a cabeça, não queria ver aquilo. Tentei me concentrar em meus pensamentos até escutar algo que não esperava ouvir. 

Um grito terrível, e vinha de Mary, me levantei e corri até eles, o homem agora tampava a boca de Mary com a mão enquanto cortava seu abdomem, eu queria correr e gritar, mas não conseguia.

Caí sentada enquanto via Mary tentando se defender do homem, e cada vez mais ele a esfaqueava, no pescoço, no ventre, eu estava apavorada. Somente quando ela parou de se mexer eu  tive noção do que havia acabado de acontecer, Ele a havia matado, ele havia matado Mary Ann. Consegui soltar um grito. Ele se virou na minha direção furioso e socou o meu rosto, como aquilo doeu, mas não tanto quanto ver uma amiga sua morrer e não poder fazer nada. Sentia minha bochecha latejando e logo ele começou a me arrastar pelos meus cabelos. Me jogou no chão perto de onde o corpo de Mary estava e se abaixou na minha frente.

"Que tal fazer companhia para a sua amiguinha, hein?" Ele falou passando a faca pelo meu pescoço, fechei os olhos e esperei ele me matar, mas apenas senti uma pontada terrível na mesma bochecha que ele havia socado, ele levantou a faca que pingava sangue, o meu sangue e o de Mary ann, ele chegou perto do meu rosto e lambeu o ferimento da minha bochecha, eu cuspi em seu rosto. Ele ficou com mais raiva ainda e continuou me esfaqueando. Meus braços, meu abdomem, minhas costas, meus ombros e minhas pernas, ele cortava superficialmente, mas o suficiente para tirar bastante sangue.  

Quando eu pensei que iria desmaiar, me lembrei das meninas do cabaré, na Madame Flora e no William. Eu queria vê-los novamente. E queria conseguir um emprego digno e sair do cabaré. Talvez juntar um dinheiro extra e dar para Madame Flora, talvez assim ela arrumasse uma casa melhor, que não estivesse caindo aos pedaços.

Juntei as últimas forças que eu tinha e bati com força minha testa na do meu agressor, ele caiu no chão gemendo de dor e eu me levantei e saí correndo. Enquanto corria, minha visão ficava embaçada tanto pela dor quanto pelas lágrimas que caíam. Pude sentir algo quente escorrendo pela minha testa, sangue. Que ótimo.

 Fui na direção do cabaré e entrei pela porta da frente assustando a todos, inclusive os clientes, que chegaram perto tentando me ajudar. Outros pararam para verem um suposto menino com roupas rasgadas e diversos ferimentos pelo corpo, chorando. Will veio correndo do bar e me segurou antes que eu caísse no chão.

"Ela...está morta..." sussurei para Will que agora me segurava no colo. Ele arregalou os olhos, assustado. "Quem? Quem está morta? Responda Delie!!" Exigiu tentando me manter acordada.

"Mary Ann...mataram Mary Ann Nichols" Sussurrei e fechei os olhos, caíndo em uma escuridão profunda, apenas ouvindo algums meninas sussurrando assustadas e Will gritando o meu nome.


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