Pegando Fogo. escrita por hollandttinson


Capítulo 31
A garota dos morangos.


Notas iniciais do capítulo

Voltei, seus lindos!



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POV: KATNISS.

Eu segurava a mão de Peeta com força toda vez que a minha pequena chutava. Ela estava agitada desde o momento em que entramos no carro, era como se ela estivesse pressentindo o que estava por vir, era possível? Talvez ela quisesse vir ao mundo antes disso tudo, talvez ela não estivesse feliz em estar relativamente segura dentro de mim, enquanto eu e Peeta corremos risco de morte o tempo todo. Eu não estaria.

Eu gostaria de dizer á ela que a amo, que ela não precisa se preocupar, que tudo ficará bem... Mas eu não sei se vamos ficar bem e acredito que ela saiba que a amo. Em todos os meus movimentos, em todos os meus pensamentos, eu amo minha pequena bebê relativamente protegida dentro de mim.

– Foi loucura, não foi?- Johanna perguntou baixinho. Eu olhei para ela e percebi que uma lágrima tinha escorrido dos meus olhos sem que eu notasse... Era muito comum desde que fiquei grávida chorar por nada. Ou por tudo.

– O que?- Perguntei baixinho. Ela colocou a mão sobre a minha barriga, bem do lado da Peeta. Ele olhou para nós duas confuso depois balançou a cabeça.

– Mandar você com essa barriga... As duas podem morrer. Acho que se ela morrer, você morre junto. Sentimentos são estranhos e ouvi dizer que o amor de uma mãe é mais forte do que tudo... Apesar de ela não ter nascido, tenho certeza que a ama. Eu não queria ver nenhuma de vocês duas morrendo, mas você sabe que não tem muita possibilidade de vocês duas viverem quando a gente entrar, não sabe? Mesmo com você protegida, o susto e o desespero podem acabar com você.- Disse Johanna, tirando a mão da minha barriga para segurar a minha outra mão.

– Johanna, você não está me acalmando.- Eu disse respirando rápido. Eu sabia que ela tinha razão, mas preferia acreditar que tudo daria certo no final.

– Não é isso que eu quero fazer.- Ela fez uma careta e depois me olhou profundamente.- Você pode desistir. Não precisa entrar lá, sabe que não. É só um perigo á mais para você correr, um perigo á mais que você não precisa correr. Não me conformo em ter de ver você entrar lá com essa barriga, simplesmente não posso deixar que faça isso.

– Não tem nada que você possa fazer para me impedir, Johanna. Eu prometi á Coin que estaria lá.- Eu disse, tentando soltar minha mão, mas ela apertou com mais força e se possível, seus olhos pareciam mais profundos olhando para mim.

– E ela prometeu que ficaríamos bem, também nos disse que tudo estava ganho, que não precisaríamos nos preocupar, mas preste atenção aos detalhes, Katniss. Ela é uma mentirosa, uma falsaria. Não precisa cumprir promessa nenhuma que faz á ela, não precisa matar vocês.- Disse Johanna e sua expressão pareceu agoniada. Eu consegui soltar a minha mão, indignada.

– Eu não sou Coin, eu cumpro as minhas promessas, eu vou estar lá e eu e minha filha vamos ficar bem.- Eu disse. Johanna suspirou e olhou para a janela. Quando voltou á olhar para mim ela estava com os olhos arregalados.

– Espero que essa seja uma promessa que está fazendo á mim, e que seja capaz de cumpri-la. Boa sorte.- Ela disse e então começou á andar dentro do carro de guerra, em direção ao motorista. Me virei para Peeta e ele me olhava preocupado.

– Você sabe que ela tem razão, Katniss. Você não precisa...

– Não adianta, Peeta, eu vou estar lá!

– Vai arriscar a vida de vocês duas por causa de orgulho, Katniss? Pensei que fosse melhor do que isso.- Disse Haymitch.

– O que é isso? Um compor? Quando vocês decidiram que tentariam me tirar da jogada? Porque estão me tirando da jogada? Eu quero matar Snow.- Eu disse, cruzando os braços em cima da grande barriga. Minha filha chutava loucamente e eu decidi ignorar dessa vez.

– Não estamos tirando você da jogada, não tem nada á ver com isso, Katniss! Nós só estamos pensando no seu bem e no dessa criança que você está carregando. Não é justo acabar com uma vida desse jeito. Deixou-a viver por 5 meses pra quê? Pra chegar agora e deixar que ela morra? Katniss, pense bem, você tem esse direito.- Disse Finnick.

– Eu também tenho o direito de estar lá.- Eu disse bufando. Eu detestava que colocassem a minha pequena na história, como um tipo de chantagem. Era jogo baixo, sujo e ridículo.

– Mas você vai estar lá, dentro do carro talvez?- Perguntou Paylor entrando na história. Neguei com a cabeça. Eu entraria na mansão. Peeta bufou.

– Fazemos assim: Quando tudo estiver controlado, quando nós soubermos que qualquer tipo de perigo está descartado, você entra e mata Snow. Fim.- Peeta sugeriu e eu olhei para ele irritada.

– Isso não chega nem á ser agradável, quer dirá excitante. Eu estarei lá com vocês. Não é justo que passem por toda a diversão sozinhos.- Eu disse. Haymitch ergueu uma sobrancelha pra mim e eu revirei os olhos.

– Diversão? Ah, é. Com certeza vai ser muito divertido fazer um discurso fúnebre para você e sua filha quando estiverem mortas.- Disse Haymitch.

– Não vamos morrer!- Eu estava gritando.

– Não tem como você saber disso. Johanna tem toda razão.- Disse Finnick suspirando.

– Johanna tem que se meter na vida dela.- Eu disse.

– Ela está preocupada com você!- Paylor disse agoniada. Eu revirei os olhos e dei de ombros.

– Prestem atenção no que eu vou dizer agora: eu vou estar na mansão. Pronto, fim de papo, acabou.- Eu disse, virando o rosto para a janela demonstrando que não queria mais papo. Ainda tive tempo de ouvir Peeta suspirar antes de não conseguir ouvir mais nada por causa da bombas.

Estávamos sendo bombardeados e eu agradeci mil vezes por estarmos num carro de guerra que é impenetrável á mísseis. Mas isso preocupou á todos, inclusive á minha pequena. Ela se agitou com o barulho e meu ouvido também. Meu coração martelava rápido e forte, mas eu ignorei seu barulho para que pudesse prestar atenção nos chutes, pra saber se ela se acalmaria. Ela não estava fazendo isso.

– Coloque isso e tente ficar o mais perto possível do chão. Cuidado com a barriga.- Disse Haymitch me entregando um capacete á prova de balas e uma arma de fogo.- Estamos perto da mansão agora, acho que eles estão apenas se preparando para o que está por vir. Johanna vai sair primeiro quando chegarmos, vai jogar a bomba e então Paylor e Finnick saem. Você e Peeta vão sair por último. Coloquem isso aqui também.- Ele me entregou uma máscara.

– Pra quê serve isso?- perguntei, colocando no rosto.

– Primeiro: para que você não morra com nenhum gás tóxico. Segundo: acreditamos que eles estão guardando a mansão com segredos da Arena, então é possível que alguma coisa tente queimar vocês e o rosto também precisa ser protegido. Terceiro: não queremos que eles saibam que você e Peeta estão aqui. Para todos os efeitos, vocês são egoístas e estão em casa assistindo isso tudo por uma tela de computador.- Disse Paylor.

– Eles realmente acreditam que a garota em chamas ficaria de fora disso? Loucura.- Eu disse, prendendo o colete á prova de balas. Eu parecia bem, bem, bem mais gorda que o comum, talvez fosse a gravidez.

– Eles não vão desconfiar da barriga?- Perguntou Peeta olhando para minha barriga com uma careta. Ele estava preocupado e não conseguiria esconder isso nem se tivesse talento.

– Acha mesmo que eles vão estar preocupados em ver a barriga de alguém? Eles vão apenas atirar e atacar. Fim.- Disse Haymitch.

– Não vai entrar com a gente?- Perguntei. Estava tudo calmo agora. Devíamos estar quase nos jardins da mansão, eles não bombardeariam ali.

– Não. Eu vou me comunicar com vocês pelo microfone que está implantado nos capacetes de vocês, então, prestem atenção em tudo.- Disse Haymitch colocando um fone de ouvido.- Se preparem, estamos chegando.

Ele não precisava dizer, eu via. A mansão devia estar á uns 2 quilômetros de distância e mesmo assim eu podia vê-la. Parecia a mesma de sempre e não fazia sentido a sua presença ali, era diferente de tudo que estava ali. Não podia fazer parte daquele cenário de guerra.

– Johanna, está na hora. Tome. É só apertar o talo.- Disse Paylor se inclinando para o banco do carro onde Johanna estava sentada. Ela entregou uma granada e Johanna sorriu.

– Pode deixar comigo. Vou acertar no alvo.- Disse ela. Eu suspirei. O frio na barriga era puro desespero, eu estava em nervos. Peeta segurou a minha mão com força.

– Eu amo você.

– Não fale como se fosse despedida.

– Apenas me diga que me ama e vamos fazer logo essa porcaria, então voltaremos para casa.- Ele disse, fazendo uma careta para mim.

– Nós voltaremos para casa e então eu terei todos os dias do resto da minha vida para dizer que amo você.- Eu disse. Me aproximei dele e lhe dei um selino.- Mas por hora, eu amo você.

Johanna estava fora do carro mais rápido do que eu imaginava e nós estávamos parados. A calma ao redor era mais assustadora do que o barulho das bombas que caíram mais cedo em nossas cabeças. Mais 4 pessoas, que eu não conhecia, saíram do carro e acompanharam Johanna, provavelmente para dar segurança. Também saíram várias pessoas dos outros carros.

– Eles estão dando cobertura. Vão matar qualquer um que se meta á besta.- Disse Paylor vendo a minha expressão.

– Eles não deviam ficar distantes? Quero dizer, quando explodir... Vai acabar com eles. E com a gente também, estamos muito perto.- Disse Finnick.

– O plano é que ela jogue dentro da mansão e não fora. Por cima do muro. Eu tenho certeza de que ela vai ser capaz de fazer isso.- Disse Haymitch.

– E por um acaso vocês pensaram na possibilidade de existir um campo de força ao redor da mansão?- Perguntei como se fosse óbvio. O desespero queria tomar conta de mim mais uma vez quando eu comecei á tremer. Peeta colocou a mão na minha cintura como uma sinal óbvio de que estava do meu lado.

– Claro que sim! E é por isso que foi Beetee quem fez a granada. É especial... Ele e Gale trabalharam meses nela. Ela é capaz de perfurar qualquer coisa... Altamente perigosa. Mas não é tóxica nem nada do tipo, é apenas uma arma legal para destruir coisas.- Disse Paylor olhando minha cara espantada.

– O que mais ela pode destruir além de portões chiques e campos de força?- perguntou Finnick parecendo interessado.

– Tudo que for material.- Disse Haymitch.

– Se bater em alguém...?- A voz de Peeta morreu.

– Ela morrerá, e é por isso que vamos jogar dentro da mansão. Se tiver alguma coisa lá, alguém... Vai morrer. Virar pó mesmo.- Disse Paylor me fazendo tremer. Ela fez uma careta para mim.- Vamos prestar atenção em Johanna e o seu sinal.

Johanna andava lentamente em direção á mansão. Eu pensei ter visto ela tremer um pouco, mas achei melhor não comentar nada com ninguém.

– É esse ponto, Johanna. Lembre-se de que está acompanhada de mais 4 atiradores dos outros carros e deve se preparar para uma corrida rápida.- Disse Haymitch ao microfone. Eu suspirei quando Johanna pareceu preparar o braço para jogar a grana.- Preparar... Apontar... Fogo.

E que fogo! Em menos de 2 segundos, Johanna corria desesperadamente para a segurança de seus "ajudantes" enquanto o portão da mansão ruía em escombros. As paredes ao redor tremiam e ameaçavam cair. Tinha mesmo um campo de força porque quando foi atingindo, um feixe de luz colorida passou no céu e assombrou qualquer um. A granada era silenciosa e gostei de pensar que qualquer pessoa que estivesse lá dentro, tinha morrido em paz, sem dor, sem suspense. Apenas morrido.

– Foi um ótimo lançamento, Johanna. Podem invadir agora.- Disse Haymitch. Então se virou para nós.- Finnick e Paylor vão agora.- Paylor e Finnick concordaram com a cabeça, saltando do carro. Logo éramos apenas eu, Peeta e Haymitch dentro do carro.

Existia um batalhão de pessoas entrando na mansão á essa altura. Todos davam cobertura uns aos outros e eu vi algumas pessoas tentando escalar as paredes bem revestidas á base de facas na parede ou escalação mesmo.

– Peeta, você vai ajudar Katniss á subir pela escada que eles vão mandar lá de cima, é onde fica as flores de Snow, mas não o mate de primeira... Haverão outros com você que renderão o Presidente, então quando tudo estiver calmo, você o mata.- Disse Haymitch e eu concordei com a cabeça.

– Podemos ir?- Perguntou Peeta, segurando a minha mão com força. Haymitch suspirou.

– Vão... E fiquem vivos.- Ele disse quando nós já tínhamos saltado. Eu suspirei, colocando o meu arco e flecha com cuidado nas mãos. Eles tinham sido preparado para descarregar energia e fogo quando lançados ao ar, matariam mais rápido, foi o que Beetee disse.

Eu andei lentamente até a mansão. Eu vi mais algumas pessoas descerem dos outros carros também e sabia que eram as pessoas que nos "protegeriam". Quando cheguei mais perto da mansão, eu ouvi gritos e barulhos terríveis. Eram tiros. Eu engoli em seco mas continuei andando em direção ao lugar.

Lá dentro, depois do portão, corpos de pacificadores mortos estavam jogados ao chão entre os escombros, apesar de uma morte terrível, suas expressões eram de calma e eu estava certa em pensar que tinham tido uma morte leve, calma e tranquila. Sem dor, sem desespero, sem aviso, apenas morreram.

– O que vai ser feito com esses corpos?- Perguntei baixinho ao Haymitch porque sabia que ele estava me ouvindo.

– Vamos enterrá-los dignamente, não se preocupe com isso. Siga sua meta. Escale a mansão.- Disse Haymitch e então eu me lembrei da escada. Ao lado, bem onde acabava uma torre da mansão, uma escada estava sendo arremessada. Eu suspirei. Eu nunca seria capaz de subir assim.

– A escada não foi planejada para uma grávida de 5 meses, foi?- Perguntei ao Haymitch. Eu ouvi a sua respiração do outro lado.

– Não, mas não dá pra fazer de outro jeito.

– Quem disse? Eu vou entrar na mansão e subir as escadas.- Eu disse. Ele começou á gritar do outro lado.

– KATNISS EVERDEEN NÃO SE ATREVA! Você vai fazer o que combinamos.- Ele disse.

– Não vou, não.

– Não arrisque sua vida assim.

– Minha vida vai bem, obrigada.

– Katniss...

– Tchau, Haymitch.- Eu disse, pegando o arco com mais força e me virando para a porta principal da mansão. Peeta pareceu se agitar, pelo menos a pessoa que eu imaginava ser Peeta, mas eu ignorei. Continuei andando em direção á mansão e os outros vieram atrás de mim, Peeta era o mais agitado.

Corpos, corpos, corpos. Pacificadores e pessoas normais estavam jogadas no chão com sangue jorrando. O pior era que a maior parte delas não tinham sido mortas por nós, pelo que eu pude ver. Eles tinham morrido pelas próprias armadilhas de Snow. Os lasers que ele plantou para queimar qualquer um que passasse devem ter sido esquecidos pelos seus pacificadores quando eles se agitaram para nos matar, eles estavam queimados por dentro e mortos por todos os lados.

– Parece que o tiro de Snow saiu pela culatra, não é?- Perguntou Haymitch com a voz sorridente.

– Sempre sai.- Eu comentei sem muito humor, eu sentia que tinha coisa pior vindo por aí, que não valia á pena ficar emocionada e feliz.

Mais á frente, eu gritei louca quando vi. Era Madge, a garota que achava que era minha amiga, ela quem estava jogada no chão, se debatendo com 3 tiros, um na cabeça, outro na barriga e outro na perna. Ela não gritava, não chorava e nem nada, apenas se debatia no chão como um peixe que foi posto para fora do aquário. Ela me lembrou Rue, por um momento eu me lembrei da pequena Rue que foi meu maior motivo de esperança na Arena, a pequena Rue que morreu tão rápido. A pequena Rue que não chorou, não gritou e nem esperneou, aceitou a morte como uma velha amiga. Rue se silenciou para que deixasse sua grande amiga e pior inimiga, passar e levá-la para sempre. Madge também se silenciaria.

– Eu nunca vou poder agradecer á você e ao seu pai por todos os morangos que vocês compraram, pode parecer pouco, mas salvou minha vida muitas vezes. Obrigada. Fique em paz, você merece.- Eu disse, me abaixando para afagar seus cabelos. Ela olhou para mim, ainda viva e respirando. Seus olhos eram indecifráveis.

– Katniss?- Sua voz era rouca e falha. Eu balancei a cabeça positivamente. Ela fechou os olhos e uma lágrima escorreu pelo seu olho, então ela a abriu novamente, olhando para Peeta que estava ao meu lado. Ela deve tê-lo reconhecido, porque sorriu.- Você fez um ótimo uso do broche, Peeta. Eu sei que você é uma ótima pessoa e merece viver bem. Subam e matem Snow... Ele está no 3ª andar. Matem-o... Por mim.- Ela disse com a voz falha e tossindo muito. O sangue jorrava da sua boca.

– Pode deixar, nós não vamos deixar sua morte assim, barata. Obrigado por ter me dado do broche, ele salvou as nossas... Vidas.- A voz de Peeta foi morrendo enquanto o sorriso de Madge, que tinha se aberto quando ele começou á falar e foi morrendo aos poucos. Então seus olhos eram vidro.

– Vá em paz, garota dos morangos.- Eu disse fechando seus olhos. Meu coração estava apertado mas eu não chorei, eu não choraria. Peeta fez uma promessa á Madge e eu o ajudaria á cumprir. Voltei á andar, procurando a escada principal. Eu mataria Snow.

(...)


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Notas finais do capítulo

Meu Refúgio recebeu mais reviews e a leitora provavelmente está lendo isso. Bem vinda!