POV: PEETA.

Meu sentimento de proteção só aumentava á cada segundo que passava. Eu apertava a sua mão com força, alguma coisa dentro de mim dizia que ela estava correndo grande perigo e que eu não podia deixar ela longe do meu alcance. Como se apertar a mão dela fosse fazer com que nada acontecesse! Balancei a cabeça e ela olhou para mim com as sobrancelhas franzidas, dei de ombros.

Não estava nada confortável. Eu estava usando uma roupa muito pesada, tinha 2 coletes á prova de balas aqui, sem contar com a arma que eu segurava na mão. Katniss estava apertando seu arco com tanta força que as pontas dos seus dedos estavam ficando pálidas. Ela podia dizer que não, mas estava morrendo de medo. E eu também.

Nossa equipe recrutada continha 15 pessoas. Eu, Katniss, Gale, Johanna, Finnick, Paylor, Coin, Plutarco, Haymitch, Beetee são os únicos que conheço por nome. Mas Coin, Plutarco, Haymitch e Beetee não vão participar de um enfrentamento se acontecer algum, assim como a equipe médica também não. Foram 3 médicos para cuidar da gente e principalmente de Katniss e eles não estavam felizes de participar disso, o risco de um enfrentamento não estava tão distante quanto nós imaginávamos. No fim, eram 20 pessoas. Eu, Katniss, Gale, Johanna, Paylor e Finnick mais 4 pessoas iríamos diretamente para lá, para um confronto. Eu ainda não tinha me conformado por Coin ter colocado Katniss nessa expectativa.

– Ela tem que ser a assassina de Snow, foi um pedido que ela me fez e eu faço questão de cumpri-lo.- Disse Coin com um sorriso frio no rosto. Finnick revirou os olhos.

– Se eu me lembro bem, você discutiu bastante com ela na época, não queria deixar que ela matasse-o de jeito nenhum. É incrível como a mente humana muda depressa!- Disse Finnick sarcástico. Paylor revirou os olhos e Coin também.

– Eu pensei melhor...- Disse Coin. Johanna bufou.

Eu sei o que ela pensava porque eu pensava o mesmo. Katniss estava grávida de 5 meses e a possibilidade de ela sofrer um aborto agora é totalmente nula, então é o seguinte: ou ela morre e o bebê vive, ou o bebê morre e Katniss vive. Em todos os casos, Katniss sofrerá. Ultimamente Coin está trabalhando muito para que esse tipo de coisa aconteça.

– De qualquer jeito, nós não vamos sofrer um enfrentamento, não é? Será fácil. Estamos com eles nas mãos, não estamos?- Gale perguntou com uma sobrancelha erguida. Coin engoliu em seco. Ela estava tendo problemas com Gale ultimamente. Depois que ele decidiu que ia desprezá-la totalmente, á 3 meses atrás.

– Claro que temos.- Disse Coin, cruzando os braços e crispando os lábios. Eu acho que ela tentou deixar a expressão parecida com a de Gale, totalmente sem sucesso.

– Será mesmo? Nós não temos notícias á 4 meses, talvez eles tenham mudado de ideia. Será que era mesmo seguro ter vindo agora? Sem uma abordagem antes?- Perguntei, fazendo uma careta. Coin revirou os olhos.

– Nós faremos nossa própria abordagem e será o suficiente. De qualquer jeito, já estamos aqui, não dá pra voltar atrás. E quanto a falta de notícias, bem... Vocês não tem notícias. Eu ainda tenho pessoas infiltradas na Capital.- Disse Coin sorrindo vitoriosa. Katniss fechou a cara.

– É muita idiotice acreditar em pessoas infiltradas na Capital quando eles estão sofrendo tudo o que está passando. Quero dizer, se eu morasse na Capital e você me dissesse para vigiá-los, eu mentiria para você. Eu iria pensar que não é justo defender você, quando está acabando com o lugar onde eu vivo.- Disse Katniss, cruzando os braços por cima da barriga enorme.

– O que ela disse faz muito sentido.- Disse Gale, estreitando os olhos. Coin bufou.

– Eu confio cegamente nas pessoas que eu tenho na Capital e não vejo motivos plausíveis para não fazê-lo. De qualquer jeito, vocês foram treinados para um enfrentamento, alguns de vocês foram vencedores dos Jogos Vorazes. O mínimo que podem fazer é saber lutar, então não resmunguem.- Disse Coin.

– Ei, ei, ei! Eu não vim aqui para lutar, nós nunca quisemos lutar. Vocês nos colocou nessa. Você começou isso tudo. E á menos que você esteja conosco, lutando ao nosso lado, eu não vou colocar meu dom á luta adquirido pelos Jogos Vorazes, á prova.- Disse Johanna balançando o seu machado na mão. Coin bufou.

– Não haverá um enfrentamento.- Ela disse.

– Eu espero que não.- Disse Finnick, cruzando os braços com força.

Finnick não estava bem e isso era fato. Ele estava preocupado consigo mesmo e com Annie que foi deixada no Distrito 13 sem uma despedida. Ao contrário de mim e Katniss, ele foi avisado de que íamos embora hoje. Ele sabia de tudo, mas ele nunca seria capaz de dizer á Annie. A garota pirou totalmente depois que casou com ele, ela se preocupa com ele 24h por dia, o Finnick não podia ficar 5 minutos longe dela porque ela já ficava toda louca, se debatia e gritava. Ela profetizava que ele morreria e isso me assustava bastante porque ela sempre dizia coisas como "a mansão presidencial não é segura, eles vão matar você, você vai morrer, vai embora pra sempre, não me deixe só". O mais incrível é que: ninguém sabia que nós íamos invadir a mansão, só a gente. Annie não podia saber que Finnick entraria na mansão, e isso nos fazia pensar que talvez ele fosse mesmo morrer. Mesmo assim, Finnick está aqui. Preocupado, mas aqui. Ele percebeu que eu olhava para ele, suspirou e se aproximou, sentando do meu lado. Ele baixou a cabeça e eu fiz uma careta.

– Ela vai ficar bem, Finnick. Eu tenho certeza de que eles estão cuidando dela.- Eu disse, colocando a mão no seu ombro. Ele balançou a cabeça.

– Ela já deve ter acordado... Se ela se negar á comer de novo?- Perguntou Finnick, lembrando de quando nós fomos ao Distrito 2. Eu suspirei.

– Ela não vai fazer isso.

– E se fizer?

– Você vai voltar são e salvo, Finnick. Todos nós vamos. Ninguém vai morrer, vamos ficar bem. Perfeitamente bem. Todos nós.- Eu disse. Ele balançou a cabeça.

– Não ficou com medo das coisas que Annie disse sobre a mansão? Ela disse ontem de novo, sabe? Quando nós fomos dormir. Ela me disse "Finnick, eles vão matar você, não vai ter tempo para pensar, você consegue ouvir? É um tiro e ele acerta você, por favor não vá." Ela dormiu falando isso... Como você acha que eu me sinto? Peeta, se eu morrer...

– Você não vai morrer e Annie não vê o futuro. Ela só estava com medo por você.- Disse Paylor. Finnick balançou a cabeça. Eu discordava de Paylor. Talvez Annie pudesse ver o futuro.

– Não se apavore, nós vamos voltar... Eu... Eu prometo á você que eu vou te levar á Annie.- Eu disse. Ele olhou para mim, todos olharam.

– Não pode prometer esse tipo de coisa.- Ele acusou.

– Claro que posso. Eu tenho certeza de que você vai sair daqui vivo e inteiro e quando menos esperar, vai estar abraçando a sua Annie. Você vai ver só!- Eu disse sorrindo tentando ser confiante. Eu já estava arrependido da minha promessa, mas ele sorriu.

– Eu posso confiar em você.- Ele afirmou balançando a cabeça. Eu sorri concordando.

– Chegamos.- Plutarco sussurrou alto o suficiente para que nós possamos ouvir, baixo o suficiente para que nós arrepiássemos.

– Eu estou com medo.- Katniss disse e todos nós olhamos para ela. Estava parada, segurava a minha mão com força e se possível, seus dedos pareciam mais brancos agora. Seu cabelo pareceu extremamente preto rodeando o rosto pálido como um céu nublado, só que bem mais branco. Seus olhos estavam parados sem foco e sua boca estava aberta. Seu peito subia e descia descompassadamente.

– Calma, meu amor. Vai ficar tudo bem.- Eu disse, sem muita certeza do que estava dizendo. Peguei a arma que eu tinha colocado no meu colo e apertei na minha mão.- Bem, bem.

– Não vai não. Annie tem razão. Nós vamos morrer, a mansão não é segura. Eles vão atirar em Finnick, vão matar todos vocês e vão me empalhar e colocar no meu da praça, como troféu da rebelião, e tudo vai ficar pior para os Distritos e nossa filha vai ser... Ela vai ser uma avox. Vão pegá-la e acabar com a vidinha dela... Vão colocar o nome dela de garota em chamas e pôr fogo nela no próximo massacre quartenário.- Disse Katniss ainda sem olhar para ninguém. Eu engoli em seco e eu vi que muitos estavam se segurando também. As palavras de Katniss bateram no rosto de cada um de nós como um tapa, mas a mão era de um gigante.

– Isso... Não vai acontecer, Katniss. O povo da Capital não vai achar bonito se queimarem uma criança na praça... Se bem que eles achariam um máximo acabar com vocês, depois de tudo o que fizeram contra eles.- Disse Haymitch. Todos nós olhamos para eles chocados e eu queria ir lá e socar ele inteiro, mas a mão de Katniss ainda apertava a minha, seu transe ainda estava me preocupando. Haymitch deu de ombros e acabou sendo o primeiro á sair do Aerodeslizador.

– Não escute ele, é só mais um babaca.- Disse Beetee. Mas Johanna bufou.

– Isso, continuem agindo como se ela não tivesse 70% de razão. Deixem de ser hipócritas e admitam que ela tem, que as chances de sairmos vivos daqui são tão menores do que os 30% que restam! Mas já estamos aqui e não adiante ir embora agora. Katniss, você quem escolhe agora... Vai pular fora ou vai lutar com força? Sua filha não precisa ser queimada na praça se você lutar. Acha que eu queria estar aqui? Que eu quero uma guerra? Eu não quero... Mas morrer não é o pior que pode acontecer, é? Vamos lá, você é bem mais do que todo esse medo estampado em olhos claros. Eu acredito em você.- Disse Johanna, soltando o machado no chão e se agachando na frente de Katniss. Ela colocou a mão sobre a que segurava o arco.- Nós precisamos sair dessa vivos, nós precisamos voltar, você não quer voltar para casa? Não quer ver a sua menina crescer?

– Johanna tem razão. Claro que tem!- Disse Paylor sorrindo confiante. Johanna balançou a cabeça e olhou profundamente para Katniss que piscou fazendo Johanna sorrir.

– Peeta, você e sua menina. Consegue ver isso, não consegue? Vamos lá, vamos fazer valer á pena. Você vai ter uma história e tanto para contar quando ela estiver grande.- Disse Johanna, dando tapinhas na mão de Katniss que abriu uma expectativa de sorriso.

– Vamos lá, temos uma mansão presidencial para invadir e Finnick... Você não pode levar um tiro, você está usando 2 coletes á prova de balas inventados por Gale, você nunca poderá ser atingido com eles. Se tem uma coisa que Gale sabe fazer direito é isso.- Disse Katniss, se levantando decidida. Eu sorri abertamente para ela.

– Veremos quem vai exibir quem na praça.- Disse Finnick se levantando com a mesma decisão. Logo estávamos todos nós em solo firme.

Era aquela praça enorme em que os Tributos desfilam antes dos Jogos. 5 carros blindados de pacificadores estavam ali e Coin já estava segura em um deles. Os pacificadores não usavam máscaras e nós podíamos ver seus rostos e alegria por estarem nos vendo.

– Qual a situação?- Gale perguntou quando nos aproximamos do carro de Coin que deu de ombros.

– Vamos direto para a mansão, não podemos perder tempo. Eles não perdoaram o fato de que acabamos com a sua comida e o luxo. Eles estão furiosos.- Disse Coin como se fosse a coisa mais normal do mundo, né? Katniss segurou a minha mão com força e Finnick engoliu em seco.

– Certo, como vamos entrar lá?- Perguntou Paylor.

– Explodindo.- Disse Coin. Nós nos entreolhamos.

– Como é?- Johanna perguntou.

– Eu e Gale criamos uma bomba... Ela não é bem uma bomba, mas é eficaz quanto á metais e forças de segurança.- Disse Beetee dando de ombros, mas o suor escorria da sua testa.

– Vamos explodir só o portão presidencial. Lá dentro vão ter vários pacificadores, imagino... Então vocês vão precisar usar suas armas. Mas Plutarco acha que é melhor entramos pela parte superior, então vamos escalar o lugar. Vocês vão precisar de capacetes... Lá em cima fica o lugar onde Snow guarda sua rosas. É um dos lugares prováveis para ele estar escondido. Provavelmente, agora ele já sabe que estamos aqui... Andem, escolham seus carros, é hora de irmos!- Disse Coin apressada. Ela já começavam á demonstrar medo. Escolhemos o carro de Haymitch que olhou para nós e fechou a cara.

Nós passávamos pelas ruas e eu me perguntava se estávamos mesmo na Capita. O lixo amontoava pelas ruas e tinha um odor terrível, tudo o que eles prezavam como "o mais importante" estava totalmente destruído. As ruas tinham crateras de bombas soltadas por alguém, provavelmente por Coin sem a nossa autorização... As casas já não eram mais bonitas e as tintas pareciam estar caindo em pontos estratégicos. As lojas e mercados estavam fechados e dava para ver a poeira que amontoava por ali. Em alguns lugares, nós víamos pessoas conversando sem ânimo. Não se viam crianças correndo e comemorando como antes, só se via tristeza, dor e fome por todo lugar. Era o Distrito 12 que eu via, um Distrito 12 maior e mais moderno, mas com toda a sua fome e miséria. Eu engoli em seco para aquilo.

– Como as pessoas estão se alimentando?- Perguntei. Paylor, que estava no carro conosco, deu de ombros.

– Pelas suas próprias reservas... O que é incrível porque eles nunca tiveram isso. Nunca imaginaram uma guerra não é? Mas depois que começaram as rebeliões nos primeiros Distritos, o presidente achou mais prudente que fizessem. Mas não é nada fácil para eles economizarem comida... Ainda mais depois de 5 meses sem receber nada dos Distritos.- Disse Paylor depois suspirou.

– Isso é terrível... Estão tirando a miséria dos Distritos e trazendo para a Capital? Pensei que o plano era nada de miséria para todos. Igualdade.- Disse Finnick e Haymitch riu friamente.

– Você pensou? Como você é ingenuo! Aposto que também pensou que Plutarco e Coin diziam a verdade quando falavam que a Capital estava nas nossas mãos não é? Tudo mentira. Olhe para essas pessoas, para tudo o que está acontecendo aqui e me responda: Acha mesmo que essas pessoas apoiariam quem está os matando? Katniss tinha razão quando disse aquilo no aerodeslizador, sobre o infiltrado. Ele é tão mentiroso quanto Coin... E tão cínico quanto Snow. Nos disseram que quando saíssemos dos Jogos estaríamos em paz, mas estamos nele de novo. Observe de novo, Finnick... Estamos nos Jogos.- Disse Haymitch ainda sorrindo. Eu virei o rosto para a rua e ele tinha razão.

– Isso é bem pior do que os Jogos...- Eu disse, fazendo uma careta.

– É. Nesses Jogos, nós somos os inimigos e a Capital, a vítima.- Disse Katniss se encolhendo.

– Lembre-se de quem é o verdadeiro inimigo, Katniss.- Disse Johanna. Katniss concordou com a cabeça.

– Á mansão, por favor.- Paylor coordenou ao motorista do carro que sorriu de leve.

– Está na hora de uma morte em massa... Espero que eu não seja um dos corpos empilhados na praça.- Disse Haymitch sorrindo de novo. Eu suspirei.

– Espero que Snow esteja ao seu lado se você for um dos corpos empilhados na praça.- Disse Katniss.

(...)