POV: PEETA.

Katniss dormia calmamente ao meu lado. Eu sentia a sua respiração no meu braço, á qual ela estava abraçada. A minha perna não doía mais, apesar de ter uma cicatriz horrenda ali e ainda sangrar um pouco, mas eu sentia que estava sarando, porém, eu sabia que nunca mais seria a mesma, afinal, a espada foi fundo, talvez tenha tocado algum osso meu, eu não tenho certeza, estava muito agoniado com o momento para lembrar de sentir dor.

Olhei para a "porta" da caverna. Conseguia ver a lua cheia daqui. Seria linda se não estivesse na Arena e soubesse que tudo isso é manipulado. Mas o que eles queriam? Conseguiram trazer Katniss e Rue para os Carreiristas na hora certa, porque não trouxeram Thresh, Foxface e Cato até nós ainda? Quero dizer, onde está Foxface agora? Porque ela não se move? Não ataca? O que ela está calculando? E se ela não está dando um bom show, porque ainda não a mataram? O que a Capital quer realmente? Porque está nos deixando ficar vivos, juntos e salvos aqui? Para que a dor seja maior depois? Seria compreensível, mas mesmo assim, eles querem morte, sangue... Porque não machucam Thresh ou Foxface? Porque está tudo atraído á mim e Katniss?

Somos os desafortunados do Distrito 12. Nós somos o casal que se ama mas não teve tempo para viver o romance. Nós chamamos a atenção da Capital. Talvez os moradores da Capital queiram nos ver, queiram novidades. Talvez o fato de termos voltado á ficar juntos tenha feito eles ficarem felizes e a Capital não quer acabar com a alegria. Mas nós vamos morrer, um de nós vai morrer uma hora, isso é fato. Eles não têm como evitar a tristeza da Capital por muito tempo. O que eles querem? Eu não compreendo.

Olhei para o céu mais uma vez, esperando ver algum para-quedas. Eu não quero alimento, não quero remédio, nem nada que venha da Capital, eu não quero isso, eu não preciso disso agora. Eu quero um bilhete. Um bilhete que me faça pensar no que Haymitch quer nos dizer, uma luz. Balancei a cabeça, Haymitch não nos daria nada se não fosse realmente necessário.

– No que está pensando?- Katniss perguntou, se sentando apoiada nas mãos. Sorri um pouco para ela. Como dizer á ela que eu só quero entender o que a Capital quer fazer conosco, e porque estamos juntos?

– Na verdade, eu estava só apreciando a noite, eu não sei se essa vai ser a última vez que faço isso, sabe? E estar aqui com você, e apreciar a noite, e sentir o calor do seu corpo, numa noite só, é realmente algo que eu preciso apreciar.- Eu disse, sorrindo para ela. Talvez tenha sido isso que eu tentei fazer de inicio, então, eu não estou mentindo para ela.

– Acho que a gente pode parar de pensar nas coisas ruins que estão acontecendo. Acho que se a Capital quisesse que algo de ruim acontecesse conosco, ela já o teria feito.- Disse Katniss e eu balancei a cabeça.

– Não concordo com isso. Nos pegar de surpresa deve ser algo divertido para alguém.- Eu disse, dando de ombros. Ela concordou com a cabeça.

– Você tem razão.- Ela disse, depois olhou para mim.- Você anda tão calculista.- Sorri.

– Convivência com o Haymitch. Ele me ajudou bastante quando nós planejávamos na Capital uma forma de mantar vivo, esse não foi o plano desde o inicio? Ficar vivo?- Eu ergui uma sobrancelha para ela, sorrindo. Ela concordou com a cabeça e depois gargalhou.- O que foi?

– Fiquei imaginando como Effie está agindo agora.

– Effie?

– É. Ela é tão... Perfeccionista. Eu não imagino Effie na Arena, passando fome, apesar de ser bem magra. Também não imagino ela dormindo em cavernas, comendo esquilos assados assim.- Disse Katniss, apontando para a nossa refeição, eu sorri.

– Eu estou imaginando Effie morrendo de vomitar agora, enquanto assiste á isso. Deve ser uma cena engraçada. Também imagino o Haymitch enchendo o saco dela.- Eu disse e Katniss gargalhou. Mas era verdade. A minha mente estava cheia de cor de rosa aceso e álcool e isso me faz rir.

– Provavelmente ela está pensando no quanto estamos sendo rudes e arrogantes falando de todos os seus podres absolutamente limpos e enjoativamente cheirosos e purpurinosos.- Disse Katniss, sorrindo. Eu concordei com a cabeça.

– Até posso ouvir o doce som de sua voz.- Eu disse, rindo.- Vou sentir falta de Effie enchendo o saco e Haymitch com toda aquela bebedeira nojenta.

– Ah, com certeza vou sentir falta de Effie enchendo o saco.- Ela me disse, fazendo uma careta.- Pensar em Haymitch bebendo me dá náuseas.- Ela disse. Eu olhei para fora da caverna de novo.

– O que você acha disso, Haymitch? Eu nunca mais daria nada para ela depois dessa. Xingou legal.- Eu disse, e Katniss gargalhou, balançando a cabeça.

Eu queria poder eternizar esse momento, esse sorriso, essas brincadeira e palhaçadas que a gente faz, esse braços e abraços, esse momento para sempre. Mas não posso, não tem como, uma hora tudo acaba, tudo se vai. Como a noite, ela se foi tão rápido que eu nem pude notar. Entre tantas e tantas brincadeiras, nós demos adeus á lua e as estrelas.

– Você acha que já consegue andar?- Perguntou Katniss, enquanto guardava as nossas coisas dentro de sua mochila e eu vestia a minha calça e botas. Dei de ombros.

– Eu não estou sentindo dor, mas eu também não andei ainda.- Eu disse. Ela concordou com a cabeça enquanto me entregava a mochila. Estava eu com a mochila nas costas, uma faca na mão, e ela, com seu arco e flecha.

– Não sei se o Cato vai estar forte o suficiente para tentar nos matar, mas a gente pode relaxar, não é? Ficar esperto o tempo todo. E ainda tem Foxface e Thresh por aí, e nós nunca vamos saber onde Foxface está. Ela é sorrateira demais.- Disse Katniss, enquanto saíamos. Eu enchi duas garrafas de água do rio antes de sairmos e então nós fomos.

– Thresh é mais fácil de se achar. Ele está onde a vegetação é mais alta e ele pode se esconder. É de lá que ele tira o alimento, também, eu acho. Fomos lá uma vez, eu e os carreiristas.- Eu disse. Katniss concordou com a cabeça.

– E também é grande. Acho que não é do tipo que anda silenciosamente.- Disse Katniss. Eu concordei. Andar com Katniss pela floresta me fez ficar mais silencioso no quesito andar. Hoje eu consigo andar sem fazer barulho, como um gato. Mas minha perna está machucada e vez ou outra ela estrala e eu só falto me bater de tão irritado que eu fico.

– Acho melhor você ir caçar e eu ficar.- Eu disse, quando minha perna estralou pela última vez. Me encostei numa árvore, queimando de raiva. Katniss me olhou com uma expressão preocupada.

– Mas Peeta, se alguém aparecer?

– É melhor do que eu atrapalhar tudo. Você precisa caçar, eu já sinto fome.- Eu disse. Ela fez uma careta e eu sabia que ela sentia também.- Faz assim, você vai atrás dos animais e eu vou pegar umas frutas.

– Tudo bem.- Ela disse e tirou o seu casaco.- Você coloca as frutas aqui. E eu coloco os animais aqui, também. Assim, vamos saber quando nós voltamos e que foi logo.

– Feito.- Eu disse, sorrindo para ela. Ela se aproximou de mim e me deu um selinho.

– Até mais, nos vemos logo. Toma cuidado, okay?- Ela disse e se afastou. Eu sorri enquanto a via se afastando. Seria tudo tão bom se eu pudesse fazê-la ficar comigo para sempre, mas o para sempre não existe.

Encontrei umas amoras que pareciam muito bonitas, catei um monte e coloquei de voltar no casaco de Katniss que até então, estava vazio. Ela não tinha voltado ainda. Talvez ela estivesse com problemas em encontrar algum animal. Dei de ombros. Ela vai se dar bem, ela sabe o que fazer.

Voltei para a floresta e peguei mais das amoras bonitas e negras. O casaco estava repleto dela e nada de esquilos ou coelhos, nada. Mas ainda era cedo, acredito que não passava das 11:00AM. Encontrei macieiras e morangueiros também, mas os morangos estavam muito machucados e eu tive a impressão de que se eu tocasse em algum morango, os tordos que habitavam a árvore me atacariam e eu não quero ter mais um machucado para preocupar...

– KATNISS!- Gritei e voltei correndo para o casaco. Tinha ouvido o barulho do canhão e meu coração estava mais do que acelerado. Será que foi Katniss? Minha Katniss estaria machucada em algum lugar da floresta? Eu corria como um louco, procurando um vestígio da minha garota. Onde está mesmo a porcaria do casaco?

– PEETA!- Ela se abraçou á mim, desesperada, chorando e jogando tudo que tinha nas mãos, no chão. Ela estava bem. Estava viva. Estava tudo bem agora.

– Meu Deus, como eu tive medo, como você me assustou. - Eu disse, apertando mais o seu corpo.

– Tive tanto medo de perdê-lo. Eu vi as amoras no casaco! Peeta, aquilo são amoras cadeado, uma mordida e você morre. Você quase me matou de susto!- Ela disse, ainda agarrada á mim. As amoras bonitas. Eram venenosas. E eu pensei que Katniss fosse gostar delas.

– Desculpa, eu não sabia.- EU disse. Senti ela balançar a cabeça em concordância e logo os seus soluços cessaram e nos afastamos. Ela limpou o rosto com a mão e se abaixou para pegar o arco e a flecha.

– Você também conseguiu maçãs.- Ela disse, tentando sorrir para que eu pensasse que algo que eu fiz deu certo, como se eu não soubesse que tudo que eu faço dá errado.

– Eu consegui foi te fazer ter quase um ataque cardíaco!- Eu disse, segurando a mão dela, que ainda tremia. Eu queria sorrir porque saber que Katniss me ama é a maior alegria da minha vida, mas isso não era nada engraçado.

– Você está vivo e eu também. É isso que importa.- Ela disse, apertando a minha mão.

– É, estamos vivos.- Eu disse, concordando com a cabeça.

– Thresh, Foxface ou Cato?- Perguntou, olhando ao redor, esperando ver um corpo morto em algum lugar.

– Não vi o aerodeslizador descer, o corpo deve estar em algum lugar.- Eu disse para ela. E então nós começamos á correr pela floresta á procura da vitima nova da capital.

(...)