Infinite Arms escrita por Stardust


Capítulo 17
As coisas estavam seguindo a regra universal


Notas iniciais do capítulo

Outro capítulo, amores



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/423088/chapter/17

Ouvi uma música italiana alegre tocando. Talvez fossem nos meus sonhos ou algo do tipo, mas parecia mais real do que isso. Tentei abrir os olhos, mas eles pareciam pesados e cansados. Além de tudo, minha cabeça doía e meu corpo parecia recusar levantar da cama.

Com muita dificuldade abri meus olhos. Esperava estar sozinha, mas avistei o corpo acomodado de Fabrizio, e o pior, senti o toque de sua mão na minha. Estávamos de frente e se tivéssemos ambos acordados, estaríamos olhando cara a cara. Tentei desesperadamente lembrar da noite passada. Fabrizio na minha cama não era um sinal muito bom e aquilo me assustava. Demorei quase um minuto para me lembrar. Eu estava mal. Bem mal. Fabrizio havia me ajudado.

Sorri sozinha olhando-o dormir. Minha primeira reação foi afastar nossas mãos, mas não gostava tanto da ideia. Fabrizio me fazia sentir em casa. Aquele rapaz chato e fechado do museu conseguia me fazer sentir como eu realmente era.

Sua respiração estava lenta e eu fiz o máximo de esforço para me levantar da cama sem acordá-lo. Parei por algum tempo para observá-lo dormir. Parecia uma criança tranquila. Os cabelos negros bagunçados, a roupa amarrotada e o corpo esparramado. Sorri antes de virar as costas, tentando afastar meu próprio sorriso.

Caminhei até o banheiro, tomei um banho gelado e troquei de roupa, colocando um vestido preto florido. Fiz uma pequena trança lateral no cabelo e deixei-o cair nos ombros. Quando voltei para o quarto, Fabrizio ainda dormia profundamente.

– Agora é minha vez de cuidar de você. - disse baixo me certificando de que não iria me escutar. Abri a porta e saí pelas ruas de Roma.

Estava quase chegando à farmácia quando ouvi meu celular tocar. Procurei-o rapidamente na bolsa e olhei a chamada. Alan.

– Amor! - ouvi-o do outro lado da linha. - Quando tempo!

Tentei parecer o mais feliz possível.

– Alan! Demorou a me ligar. - tinha um tom de acusação em minha voz.

– Sabe como é... O trabalho. Sempre cheio de coisas pra fazer.

– É, eu sei. - suspirei.

– Inclusive, vou receber uma promoção! Estou tão empolgado. Meu chefe disse que eu era o melhor para o cargo e...

– Fico feliz por você. - não consegui disfarçar não estar nem um pouco animada.

– Oh, me desculpe, querida. Como vai aí em Roma? Está tudo dando certo? Quando volta? - ele fazia tantas perguntas que me deixava com mais dor de cabeça.

– Está tudo bem. Tempo indeterminado, não é tão fácil assim. - tentei sorrir.

– Você consegue. Confio em você.

– Obrigada.

– Tenho que desligar. Eu te amo.

– Até mais. - falei, mas era tarde demais. Já havia desligado.

Desliguei o celular pensando no tipo de noivo que eu havia arrumado. Alan e eu éramos pessoas completamente diferentes, mas há quem diga que os apostos se atraem. E se isso for verdade, as coisas estavam seguindo a regra universal.

Entrei na farmácia e comprei um remédio para dor de cabeça. Provavelmente Fabrizio também iria precisar de um daquele.

Continuei andando pelas ruas cheias e parei em uma sorveteria. Pedi um sorvete chamado Romeu e Julieta. O pote era suficientemente grande para eu e Fabrizio comermos juntos, mas o fato de não saber se ele realmente iria gostar me incomodava. Às vezes eu achava que não sabia nada sobre aquela pessoa que eu vinha dividindo um quarto de hotel.

*

– Isso está muito bom. - ouvi Fabrizio me gritar da janela. Ele havia acordado antes que eu chegasse e sua aparência depois do banho estava melhor que a minha. Sua cabeça não havia doído e ele parecia lembrar-se de tudo da noite passada. Inclusive coisas que nem eu lembrava.

– Romeu e Julieta. - disse juntando a ele.

Aquela enorme janela dourada possibilitava nossa vista ao Coliseu. Lembrei do dia que tínhamos ido lá. Talvez fosse uma boa ideia voltar algum dia.

Ficamos em silêncio. O vento batia em nossos rostos levemente.

– Temos que procurar Aronne.

– Mas infelizmente perdemos o dia. - completou.

– Cinco horas da tarde. O que nós somos? - encarei-o. - Adolescentes?

Fabrizio levou a colher cheia de sorvete na boca.

– Talvez algo do tipo. - riu.

– Falei com Alan hoje. - disse finalmente, sem entender porque aquelas palavras haviam saído de minha boca.

– Falou? - sua voz saiu indiferente. - Ele está organizando o casamento?

– Não sei. Tudo o que ele disse foi sobre a promoção que ganhou.

– E você deve estar orgulhosa. - notei ironia.

– Ah, é bom pra ele, claro.

– Mas...

– Mas o quê? – encarei-o.

– Nada. – se defendeu.

Olhei para além da janela. O sorvete frio no céu da minha boca me dava uma sensação boa, mas eu não podia negar que estava nervosa.

– Alan é um pouco ocupado, mas é uma pessoa boa. – tentei justificar.

Fabrizio apenas sorriu. Havia algo em seu sorriso que eu não sabia entender.

– O que foi? Estou falando sério.

– Acredito em você. – disse colocando mais um pouco de sorvete na boca e voltando a fitar a vista lá fora.

Observei-o pelo canto do olho. Algo na minha ação me fez lembrar da noite passada e como uma miragem me vi chegando perto de Fabrizio no bar. Vi-me sentindo sua respiração e prestes a beijá-lo.

Como por reflexo, me afastei e olhei-o.

– O que foi, Allie? – me perguntou surpreso.

– Nada. – tentei parecer normal. Virei as costas e andei até a instante. Fingi olhar alguns livros.

Percebi que seu olhar me seguia, mas não tive como olhá-lo de volta. Algo fazia com que eu pensasse que ele também se lembrava do quase beijo. Uma coisa era tê-lo beijado por causa de Aronne, mas outra é a ação quase se repetir sem motivo algum. Mas eu estava bêbada. Era isso.

– Temos que procurar Aronne.

– É, você já disse isso. – seus olhos me encontraram do outro lado do quarto.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Manifestem-se! O que estão achando?