Alvo Potter e o Segredo do Cristal escrita por T M Forte


Capítulo 5
III - Divertimento infame - Parte 1


Notas iniciais do capítulo

Oie! (07/09/15)
Não, o Key ainda não postou o capítulo novo dele e eu não vou esperar a criatura postar porque eu sou dessas. Parece que o nosso acordo terminou (mesmo ele mal tendo começado). Que triste.
Ai, gente, não consigo me controlar. Quero tanto saber o que vocês vão achar dos próximos acontecimentos que não dá para deixar de atualizar a fanfic por quase um mês! Isso é bom ou ruim? Digam-me vocês.
Espero que gostem! Não se esqueçam de comentar/favoritar/recomendar a história porque isso me incentiva (e muito) a continuar!



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O restante do almoço, apesar de muito mais tranquilo e da tensão ter tomado conta do ambiente, seguiu normalmente. Com a ausência de Percy, Jorge começou a implicar com Gui e seus cabelos “estupidamente” grandes, porém o mais velho apenas estendeu um de seus dedos médios em direção a ele, fazendo-o soltar um pequeno riso antes de se calar.

Por insistência de sua avó, Alvo acabou comendo um pequeno pedaço da torta de melaço, mesmo sentindo uma pequena queimação iniciar-se na boca de seu estômago.

Seu pai adorava aquela torta.

Para Alvo, era horrível pensar que, a cada vez que saísse para alguma missão, seu pai poderia nunca mais voltar. Sabia que Harry era talentoso. Sabia que nenhum bruxo ou criatura jamais o fizera cair, porém, como o próprio chefe de família dizia em algumas ocasiões, “para tudo se há uma primeira vez na vida”. Essa tal “primeira vez” poderia estar mais perto do que ele imaginava?

O menino balançou a cabeça. Tinha que afastar aqueles pensamentos terríveis de sua mente antes que lágrimas escapassem por seus olhos. Sentia-se como se alguém o estivesse apertando em um forte abraço de urso, muito pior do que aquele que lhe foi dando pela Sra. Weasley quando chegara n'A Toca, fazendo sua respiração acelerar e seu peito gritar por socorro. Cada vez que mera insinuação de nunca mais ver Harry entrando pela porta de sua casa, apesar de extremamente cansado, com um largo sorriso nos lábios ao ver a esposa e os filhos invadia seus pensamentos, sentia um forte vazio em seu peito.

— Acorda, Severo! – mandou Tiago, sapecando um tapinha em sua nuca, fazendo o irmão exclamar um “Ai!”.

— Que foi? – perguntou Alvo, cerrando as sobrancelhas e massageado a área atingida com uma das mãos.

— A vovó quer que a gente ajude com a festa. – Rosa não se deu ao trabalho de desviar sua atenção dos pratos que recolhia ao responder o primo.

Alvo pendeu a cabeça para trás e bufou ao se levantar. Revirou os olhos, ignorando o olhar severo que a ruiva de cabelos cheios lhe mandou – ela sempre detestou aquela mania que os primos Potter possuíam –, antes de começar a ajudar a retirar a mesa, se concentrando principalmente nos talheres.

Não pôde conter o “Uau” que saiu de sua boca assim que seus outros familiares ergueram uma gigantesca tenda branca por sobre eles, qual cobria grande parte do jardim. Uma pequena pontada de entusiasmo atingiu seu peito assim que viu uma chave de fenda e um cerrote grande saírem voando de uma caixa de ferramentas vermelha para ajudar Gui a montar o palco de tamanho médio em meia lua em uma das extremidades e Jorge, junto à Angelina e Roxanne, pendurar, um por um, fiozinhos com pequenas lâmpadas que se intercalavam com cristaizinhos em forma de corações em cada entrada da tenda.

Talvez a festa não fosse tão horrível e sem graça quanto Alvo achava. O menino se permitiu dar um sorriso, assim que atravessou a porta da sala de estar, ao imaginar o que aconteceria dali a algumas horas.

Ao passar pelo portal para a cozinha, Alvo e Rosa, enquanto pousavam os objetos ao lado da bancada onde suas mães lavavam a louça, conseguiram ouvir um pouco da discussão entre a avó Molly e a belíssima mulher com cabelos loiro-prateados à sua frente. Victoire era a réplica exata da mãe, com exceção do olhar arrogante que sua progenitora possuía. Ambas se encontravam de pé, cada uma de um lado da mesa, onde folhas e mais folhas se encontravam espalhadas sobre ela.

— … porrr isso que as garrrdênias ficarrriam melhorrr do que as madrrressilvas – continuou a mulher que trajava um impecável vestido comprido de cor amarelo-canário, qual realçava perfeitamente as curvas de seu corpo, ao estender uma das folhas em direção à sogra. Alvo sempre se perguntou se a tia simplesmente se vestia daquela maneira porque não tinha roupas mais “normais” em seu guarda-roupa ou se apenas gostava de se sentir melhor do que todas as mulheres de qualquer local que estivesse. Algo no fundo de sua mente dizia que a segunda opção era a mais provável. Rosa reprimiu seu sorriso assim que visualizou a mãe revirar os olhos castanhos e dizer um “Francamente” quase inaudível, porém, Gina, ao contrário da afilhada, deu uma sonora risada enquanto secava um dos copos com o pano branco.

— Continuo achando tudo isso muito escandaloso, Fleur – disse a Sra. Weasley, cruzando os braços por sob os seios. – Será apenas uma reuniãozinha…

— Orrra, porrr favorrr – cortou Fleur, jogando os cabelos para trás enquanto revirava os cristalinos olhos azuis (fingindo não ter visto a mãe de seu marido estreitar os lábios e apertar, ainda mais, o próprio braço, tentando controlar a raiva que insistia em crescer dentro de seu peito). – Lembrrro-me muito bem que só faltou o casamento de Harrry e Gina terrr se torrrnado um evento histórrrico ou um ferrriado nacional. Foi manchete d'O Prrrofeta Diário durrrante uma semana! – A loira pousou as mãos por sobre os quadris ao dar um pequeno sorriso de vitória pelo canto de sua boca rosada.

A boca da Sra. Weasley chegou a se abrir, mas foi Gina quem respondeu, chamando a atenção de todos ali presentes para si assim que bateu a porta de um dos armários com força. Alvo teve certeza que o estrondo foi ouvido até por aqueles que estavam do lado de fora da casa.

A Toca estava silenciosa. Alvo puxou a manga da jaqueta de Rosa ao dar um passo para trás, dando espaço para a mãe passar.

— Não acrrredito – os olhos de Fleur se estreitaram assim que a ruiva imitou seu maldito sotaque francês. O sorriso da loira desapareceu, porém o de Gina se alargou mais assim que deu uma passada para frente e agarrou o encosto de madeira da cadeira mais próxima – que você ainda está ressentida por causa disto. – Ela limpou a garganta. – “Ai meu Deus, ela aparrreceu n'O Prrrofeta Diário e eu não!” – imitou. Hermione teve que levar as mãos aos lábios para esconder o riso, enquanto a loira cerrava os dentes com força, deixando o queixo visivelmente rígido, e os outros três indivíduos não sabiam que reação expressar. – Tenha dó, Delacour. Isso faz quase quinze anos, mas, para você não ficar com um pouco mais de complexo de inferioridade, podemos colocar uma vasinho de gardênias exclusivamente na sua mesa, e, se não me engano, nosso casamento tomou tanto destaque porque envolvia O Eleito e uma jogadora de quadribol conhecida mundialmente. E você, é o que de tão importante para o mundo? – perguntou, erguendo uma das sobrancelhas e dando um sorriso cínico.

Fleur apenas fechou as mãos em punhos, soltou um alto rosnado e saiu do ambiente batendo os saltos de seus sapatos fortemente no piso de madeira. Gui, que vinha em direção à cozinha, encontrou a esposa e só houve tempo de perguntar “O que foi, amor?” antes da mesma partir em direção ao jardim sem se preocupar em dar uma resposta.

— Pare de franzir a testa! Vai te dar rugas! – gritou a mãe de Alvo.

— O que aconteceu aqui? – perguntou o ruivo, cruzando os braços por sobre seu peito largo ao fixar seu olhar na irmã mais nova.

— Nada. – Gina apenas deu de ombros antes de voltar a secar os copos – A culpa não é minha se sua esposa gosta de falar, mas não gosta de ouvir.

— E a culpa não é dela se você a odeia, Ginevra – rosnou o mais velho com os olhos faiscando de raiva.

— Eu não a odeio, Guilherme – explicou a ruiva, tornando a encará-lo e mantendo sempre a voz calma –, mas, admito, não iria me importar em nada se ela caísse em um dos trilhos de King Cross em horário de pico. Até emolduraria O Profeta Diário com aquela notícia, além de… – Gui não permaneceu no lugar para ouvir o restante da frase da irmã e, batendo os pés igualmente à esposa, voltou em direção ao jardim.

— Também não precisava falar com ela daquela maneira, Gina – ralhou a Sra. Weasley ao lançar um olhar de desaprovação para a filha –, tampouco com seu irmão. – Sua voz era baixa, porém, feroz.

Rosa, agora ela segurando a manga do primo, saiu da cozinha puxando Alvo. O menino conseguiu ouvir a mãe expelir a frase “Ahhh! Vai ficar do lado do mais velho, como sempre, não é?” com o tom mais irônico que conseguia.

O menino se sentiu culpado por deixar Hermione sozinha entre a mais velha das Sras. Weasley e a Sra. Potter, pois não tinha certeza se a cozinha continuaria inteira depois que as duas ruivas terminassem de “conversar”.

— Nossa – suspirou Rosa, largando o primo assim que ambos chegaram ao centro da sala de estar.

— Droga – exclamou uma voz vinda da escadaria, fazendo os dois garotos virarem em sua direção.

— Sabia que nenhum dos dois seria louco de sacar a varinha para a mamãe! – comemorou Tiago em um dos degraus ao estender ambos os braços acima dos ombros – Agora, paga! – mandou, esticando a palma de sua mão direita para Fred, que estava com o nariz franzido, bem ao seu lado, e olhava raivoso em direção à porta por onde o tio acabara de sair.

— Você me decepcionou, tio Gui! – gritou o moreno, metendo as mãos nos bolsos de sua jeans e, em seguida, entregando cinco moedas de ouro ao irmão mais velho de Alvo.

— Estavam espionando? – perguntou uma Rosa raivosa ao subir apenas três degraus para colocar-se em frente aos primos, com os punhos cerrados com força.

— Só seria espionar se fosse algo que nós não poderíamos saber… – começou Tiago enquanto observava os dois versos de cada uma das moedas.

— … e nenhuma delas fez muita questão que nós não soubéssemos de algo, na verdade, pelo contrário – completou Fred dando de ombros e voltando a subir a escadaria junto ao primo. – Vamos, Potter. Eu ainda não te mostrei a sequência que o papai vai usar para estourar os...

— Acho melhor vocês ficarem longe daqueles fogos! – Rosa cerrou, ainda mais, os punhos e, assim que cruzou os dois garotos, parou em frente a ambos, bloqueando a passagem.

— E é você que vai nos impedir, Rosinha? – Tiago lançou-lhe um olhar e um sorriso provocante.

— Se for necessário… – Rosa estreitou os olhos em resposta, segurando algo que estava dentro do bolso de sua calça por sobre o tecido. Alvo nunca compreenderia os momentos onde ambos agiam como se fossem inimigos mortais.

— Quer saber? Eu não vou discutir com você! – bradou Gina, batendo os pés para fora da cozinha e amenizando o clima pesado entre os primos – Ah – exclamou a ruiva quando se deparou com os quatro garotos mirando-a com curiosidade –, Tiago. – O menino, rapidamente, escondeu a mão com os cinco galeões em suas costas e deu um sorriso inocente à mãe – Como nós fomos os últimos a chegar, os quartos já foram escolhidos…

— Eu vou dormir com o Fred no quarto do tio Jorge, como sempre. – Seu sorriso se alargou e tornou-se verdadeiro ao mirar o primo, que retribuiu com o mesmo gesto.

— Na verdade, não. – O sorriso de ambos os meninos desapareceram com a mesma facilidade com que surgiram assim que aquelas palavras atingiram seus tímpanos – Louis pediu para ficar no mesmo quarto que o Fred, então você vai ficar com o Alvo no quarto do Rony.

Apesar dos dois irmãos terem arregalado os olhos, ambos expressavam reações completamente diferentes: Tiago parecia não acreditar naquilo que havia ouvido e Alvo estava em pânico.

Já havia “dormindo” com o irmão algumas outras vezes, mas em nenhuma delas havia sido uma “experiência agradável”. Tiago era hiperativo, demorava para pegar no sono e, como se não bastasse Alvo ter de ouvir o irmão se mexer para lá e para cá na cama ao seu lado, quando finalmente pegava no sono, o primogênito dos Potter roncava extremamente alto, igual ao pai, e falava enquanto dormia. Sem contar das pegadinhas que o mesmo aprontava com o pobre menino quando este conseguia dormir. Alvo nunca se esqueceria do dia em que acordou com o sapo-boi coaxando em seu peito e nem do pequeno ataque cardíaco que teve.

— Eu posso dormir no sofá! – disse-lhe Alvo.

— É, ele pode dormir no sofá! – Tiago arriscou um sorriso galanteador para a mãe, o qual não deu nada certo.

— Esse assunto já está mais do que encerrado. – Gina se controlava para deixar a voz baixa, porém não controlou a revirada de olhos antes de partir em direção ao quintal.

— Espera aí, mãe! – gritou Tiago, pulando os poucos degraus da escadaria até o solo e batendo seu ombro com o de Alvo, dando passadas largas para acompanhar sua progenitora. Fred o seguia de perto – Isso não é justo! Eu não quero ficar com ele!

— Eu não vou discutir com você também, Tiago Sirius. – Foi a última coisa que Alvo conseguiu ouvir antes de ficar sozinho com Rosa e seus pensamentos.

Por que ele me odeia tanto? O que eu fiz? Questionava-se Alvo, cabisbaixo. Será que é porque não sou corajoso como ele? Será que ele sabe sobre o Brutus?

Claro que não. Acha mesmo que se o Tiago soubesse de algo sobre o pudim de banha ficaria quieto? Ele teria contado para o papai em dois tempos e você teria que voltar para a Almerinda Neves com um protetor genital, meu amigo. O Sr. Chupeta de baleia não ia deixar barato caso o pai do “Potter esquisito” fosse reclamar dele na diretoria, não é mesmo? Ele ficaria te esperando na porta de casa para te dar uma surra. Mas isso aconteceu? Não. Então, relaxe. Tiago te odeia por você ser o irmãozinho abortado e idiota dele.

Alvo balançou a cabeça, tentando afastar sua consciência. Às vezes, ela conseguia tirá-lo mais do sério do que o próprio irmão.

— Seu irmão é irritante – disse-lhe Rosa, cerrando as sobrancelhas e cruzando os braços por sobre o peito.

— Tenta conviver com ele todos os dias – propôs Alvo, ainda olhando para a porta por onde Tiago acabara de sair.

— Tá brincando? Não sei como você consegue. – Rosa apoiou os antebraços no corrimão da escadaria, olhando na mesma direção que o garoto – Se eu fosse você, teria matado ele antes de completar seis anos. – A ruiva deu de ombros e começou a subir a escadaria.

Alvo deu um largo sorriso antes de partir atrás dela, avançando de dois em dois degraus para acompanhar o ritmo da prima.

O clima tenso entre os dois primos sempre existiu, pois a menina era a única, com menos de dezessete anos, que não aprovava as atitudes de Tiago em silêncio.

O irmão mais velho de Alvo costumava dizer que Rosa era a “segurança” particular dele, o que, de certo modo, não deixava de ser verdade. Alvo era baixo, magrela e se encolhia de medo só de alguém aumentar a voz com ele, já Rosa era um caso completamente diferente: era alta, tinha uns sete centímetros a mais que Alvo e três ou quatro a menos que Tiago – sem contar os cabelos cheios e rebeldes do mesmo –, encorpada e era o tipo de pessoa que não gostava de injustiças ou que ninguém a olhasse de cima, algo que o herdeiro dos Potter fazia com frequência com aqueles olhinhos esverdeados e arrogantes.

Tiago, pelos relatos de Harry, era a figura esgarrada do avô paterno dos meninos, Tiago Potter, e do melhor amigo do mesmo, padrinho de seu pai, Sirius Black, pelo fato de adorar provocar, arrumar confusão e fazer pegadinhas com os outros. Rosa era um dos alvos favoritos do mais velho pelo mesmo achar cômico o estado de nervos que a prima se encontrava depois.

Havia escondido uma Bombinha de Tinta Fedorenta dentro do boxe do chuveiro na última visita que eles haviam feito à casa dos avós. Alvo jamais se esqueceria da cena seguinte: Rosa – com o rosto e os cabelos arrepiados completamente pintados de verde, fedendo à cebola e ovo podre – enrolada em uma toalha rosa pêssego avançando no pescoço do afilhado de seus pais, jogando-o por cima do sofá enquanto gritava “O que você fez, seu idiota?!” e, em seguida, quase todos os adultos tentando desgrudar um do outro, que rolavam por sobre o tapete aos tapas. Depois deste dia, o pequeno Potter começou a entender o porquê da prima deixar suas unhas incrivelmente grandes.

— Dominique me contou que, antes das férias, ele e o Zachary colocaram um Pântano Portátil no corredor do terceiro andar de Hogwarts – propalou a ruiva, continuando sua subida pela escadaria em zigue-zague. – Uma menina ficou presa mais de duas horas no lodo até os professores conseguirem tirá-la.

De repente, Alvo parou bruscamente de andar. “Zachary?” repetiu ele em seus pensamentos, lembrando-se, instantaneamente, da carta endereçada a Tiago que ele havia lido naquela manhã. Será que o envelope que Zachary guardou todo esse tempo, a pedido do Tiago, é uma carta da diretora para o papai contando sobre isso? Questionava-se internamente, ignorando o olhar preocupado que a prima lhe lançou, quatro degraus acima daquele que ele estava.

— Qual o problema? – perguntou, cerrando as sobrancelhas ruivas ao mirá-lo por sobre um dos ombros.

— Preciso te contar uma coisa – disse-lhe Alvo, rapidamente, ao subir degraus suficiente para seus rostos ficarem centímetros um do outro. Rosa apenas fez um pequeno movimento com a cabeça, concordando, antes dele continuar: – Não aqui. As paredes têm ouvidos – acrescentou em um tom mais baixo, olhando de um lado para o outro para ter certeza que ninguém estava por perto.

— Vamos pro quarto do papai! – exclamou Rosa ao deixar escapar um pequeno sorriso de canto de boca, pegando Alvo pela mão e o puxando até um dos últimos andares da casa torta.

No quinto andar, havia uma porta, aberta, de mogno lustrosa com uma plaquinha velha pendurada ao centro com os dizeres “Quarto do Ronald”, pintados de uma cor laranja forte, um tanto descascados. Rosa teve de se abaixar um pouco para que sua cabeça não tocasse no teto inclinado e laranja do quarto, onde todas as suas paredes estavam cobertas por pôsteres antigos dos ex-jogadores do time de quadribol favorito do padrinho de Tiago, o Chudley Cannons, que seguravam suas vassouras com uma das mãos e acenavam alegremente para eles com a outra. Era incrível como aquele local parecia ter acabado de sair de uma merecida reforma, mas, mesmo assim, tinha um ar antigo de como se alguém não o usasse há anos. Havia duas camas de ferro branco no pequeno lugar com suas colchas floridas devidamente arrumadas, uma sob a parede inclinada e a outra sob a janela, onde Liz e Hugo estavam sentados com os cotovelos apoiados nas coxas e as cabeças nas mãos, um enfrente ao outro, com um tabuleiro de xadrez entre eles e pedacinhos quebrados de peões de porcelana postos de lado.

— Fora – mandou Rosa, olhando diretamente para o irmão caçula e apontado com o polegar por cima do ombro, indicando a porta por onde Alvo acabara de passar.

— Eu tô ensinando xadrez bruxo pra Liz. Ela é muito ruim – contou Hugo ao estender um largo sorriso para a irmã, fazendo a prima resmungar um “Não sou, não”.

— Tô nem aí. Vá ensiná-la em outro lugar – devolveu Rosa, pousando as mãos nos quadris.

— A gente chegou aqui primeiro! – protestou Hugo em voz alta, levantando-se da cama com um pulo e mirando a irmã de maneira raivosa. Alvo e Liz apenas acompanhavam a pequena discussão dos irmãos alternando o olhar para lá e para cá, como se estivessem assistindo uma partida de tênis.

Rosa continuou com a expressão calma antes de dar um longo suspiro e dizer:

— Hugo, se vocês não saírem agora, eu vou contar pro papai sobre aquilo – Rosa fez questão de dar ênfase na palavra “aquilo”, fazendo o irmão perder a cor – que você tem escondido no seu armário. Você quer mesmo isso? – A ruiva maior deu sorriso cínico ao erguer uma de suas sobrancelhas ao ruivinho. Os irmãos Potter se encararam com o mesmo ponto de interrogação em suas faces.

— Não – bufou o pequeno de maneira quase inaudível ao revirar os olhos. Rosa reagiu à aquele ato cerrando os punhos. Ela realmente odiava quando alguém revirava os olhos para ela. Hugo voltou-se para Liz, colocou todas as peças, inclusive as quebradas, em torno de seus braços e, com um movimento com a cabeça indicando a porta, disse: – Vamos. – Liz abraçou o tabuleiro junto a seu corpo ao segui-lo quarto afora, perguntando “O que você tem escondido no seu armário?”.

Rosa contornou Alvo, que se sentou na outra cama assim que as costas da irmã sumiram pelo corredor, e segurou a porta para fechá-la quando seu irmão apareceu, novamente, perguntando:

— A vovó não disse que queria que vocês ajudassem a arrumar o quintal pra festa?

— Disse – respondeu ela, fechando a porta em frente a um Hugo boquiaberto.

Alvo teve de morder o lábio inferior para evitar rir do primo enquanto Rosa se deitava na cama sob a janela, resmungando um “Que saco” em tom baixo.

— E então? – perguntou ela, sentado-se encostada na parede e apanhando o livro (O Domínio das Trevas no séc. XX por Eldred Worple) que estava ao lado de aquário imundo, sobre o parapeito da janela aberta, abrindo-o, logo em seguida, na página que estava marcada por uma caneta. – O que queria me contar?

Assim, Alvo começou a contar tudo que havia acontecido em seu quarto naquela manhã desde a chegada da coruja-das-torres, Hércules. Rosa ouvia o primo descrever todo o ocorrido com os mínimos detalhes, fazendo algumas pausas aqui e ali para dizer algo como “Hum…” ou “E depois?”, com os olhos fixados na página de seu livro, mas sem fazer nenhum movimento com eles.

— Acha que esse envelope é uma carta da diretora? – perguntou a ruiva após o discurso do primo.

— Não sei – respondeu o menino, sinceramente, deitando com as mãos cruzadas por sobre a cabeça, apoiado no travesseiro ao observar o teto alaranjado do quarto. – Talvez.

— Tia Gina vai ficar louca da vida. – Rosa fechou seu livro, colocou o mesmo de volta sobre o parapeito da janela e sentou-se com as pernas cruzadas como uma índia, observando o primo com as sobrancelhas franzidas no cenho – Lembra daquela vez que o Neville mandou um comunicado dizendo que o Tiago tinha perdido mais de cem pontos para a Grifinória?

— Se eu lembro? Eu estava do lado dela quando aquela porcaria chegou – contou, lembrando-se claramente do tom avermelhado que o rosto de sua mãe havia ganhado e de seu estado de fúria depois que Harry leu aquela carta para ela. – Papai teve que impedi-la de aparatar em Hogsmeade porque ela ia esganar o Tiago se conseguisse entrar em Hogwarts.

— Mas ele não conseguiu impedi-la de mandar aquele berrador, não é? – Rosa sorriu com os olhos virados em direção à colcha florida sobre a qual estava, alisando a mesma com a mão – Fred disse que as paredes do salão dos meninos tremeu tanto que parecia que tinham roubado a escova de cabelo da Victoire.

Ambos explodiram em risadas.

A extrema vaidade da prima mais velha era motivo de chacota por todos os outros. Rosa, por exemplo, achava cômico como a loira tinha que pentear dos cabelos a cada quinze minutos, sendo que ela, quando muito, penteava os seus uma vez por dia. Alvo, por outro lado, adorava ver como a adolescente usava as suas roupas mais elegantes para eventos simples, como, por exemplo, a vez que trajou seu melhor vestido da Lanvin para sair com seu namorado, sendo que o mesmo a levaria a um rancho para andarem de cavalo. Era uma peça delicada e bonita, feita de algum tecido claro, que o menino não soube identificar o que era pano e o que era lama quando os dois garotos retornaram da “maravilhosa”, como a loira Weasley mesma havia descrito, tarde naquele local. O namorado, se sentindo mal pela situação, disse que compraria outro igual àquele para a amada, mas seu ato de cavalheirismo foi cortado por Jorge, que disse “Você pode trabalhar de graça para mim pelo resto da vida, vender sua alma e o seu corpo, mas nunca vai conseguir comprar outro igual para ela”, fazendo-o apenas rezar para que Victoire esquecesse aquele assunto o quanto antes.

As risadas foram cessadas por um estrondo vindo da porta, que se abriu bruscamente ao fazer os dois garotos pularem em seus lugares e soltarem pequenos gritos de pânico. A porta se desprendeu do batente graças a um chute que foi dado na mesma por uma bota marrom amarelada.

— O que vocês estão falando da minha garota, seus pentelhos? – perguntou o dono da bota, encostando-se no batente com os braços cruzados sobre o peito não muito largo e dando um sorriso galante para os garotos.


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Notas finais do capítulo

— Heeey! Olha eu aqui de novo!
— E então, sugestões de quem chutou a porta? O que Hugo esconde em seu armário? Gina e Fleur irão se pegar pelos cabelos? E Tiago, conseguirá dormir no quarto com seu amado primo? Por que estou fazendo essas pergunta (PORQUE QUERO COMENTÁRIOS!)? Devo parar? Okay.
— Na próxima parte (copiei isso do Key, nem ligo): Arrumação e inicio da festa de reencontro. Rosa arruma um jeito de descobrir mais sobre o envelope que estava guardado no malão do filho do padrinho de Alvo, Neville, e algo inacreditável vem à tona. Novas personagens (sim, essa palavra é um feminino mas engloba os dois gêneros) serão apresentadas e a velha guarda "retorna das cinzas". Ansiosos? Então comentem muuuuito!
— Gostaram do capítulo? Vamos, não tenha medo de deixar um comentário me dizendo o que achou. Eu não mordo. Juro!
— Não se esqueçam de comentar/favoritar/recomendar a história porque isso me incentiva (e muito) a continuar!
— Até logo!
— Beijos da autora estranha ♥