Alvo Potter e o Segredo do Cristal escrita por T M Forte


Capítulo 4
II - Estrada tortuosa - Parte 3


Notas iniciais do capítulo

Oieee! (14/08/2015)
"T., você não disse que só ia postar na última sexta-feira do mês? Para de ser indecisa, garota!" Okay, okay. Vamos com as explicações: Eu disse que TALVEZ fosse na última sexta-feira do mês, mas não confirmei nada. Além disso, fiz um combinado com meu amigo Kerayle, autor de "Alvo Potter e o Jardim Maravilhoso", que diz que sempre que ele postar, eu devo postar, porém, essa criatura demora de mais e eu queria que vocês soubessem o que acontece nessa parte final do capítulo dois. Depois disso, o combinada começa a vigorar corretamente.
Então, se vocês querem novas postagens, ENCHAM O SACO DO KEY NOS COMENTÁRIOS DA HISTÓRIA DELE TAMBÉM!
Bem... Acho que era só isso mesmo.
Espero que gostem! Não se esqueçam de comentar/favoritar/recomendar a história porque isso me incentiva (e muito) a continuar!



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O pequeno Potter largou sua mochila no sofá, sentou-se todo esparramado e apertou a ponte do nariz, imaginando a besteira que o irmão e o primo fariam se ficassem muito perto daqueles fogos. Fechou os olhos com força, sentia-se como se mal tivesse dormido aquela noite, e permaneceu assim até começar a ouvir o som de ar sendo puxado e expelido por um nariz.

— Você está péssimo – disse uma voz calma e gentil, perto o suficiente do rosto do garoto para ele sentir seu hálito de menta sendo soprado em suas bochechas.

— Obrigado, Rosa – respondeu, ainda se mantendo com os olhos fechados. – Não dormi essa noite…

— A insônia é causada por condições como fibromialgia, dor crônica, distúrbios metabólicos hormonais, algumas medicações ou substâncias, depressão e transtorno da ansiedade – contou a voz, rapidamente. Tomou um pouco de fôlego, o menino pôde ouvi o som do ar sendo puxado por uma boca, antes de perguntar: – Você anda transtornado, ansioso ou depressivo? Pode ser a puberdade, também!

Alvo abriu seu olho esquerdo – visualizando volumosos e cacheados cabelos ruivos, olhos azuis brilhantes despidos de qualquer resíduo de maquiagem, que o miravam com curiosidade, um nariz fininho e arrebitado e o rosto redondo e sardento da prima, com a pele clara como porcelana corada na área das bochechas – e ergueu a sobrancelha para a questão imposta por Rosa.

— Eu tive um pesadelo – contou.

— Os olhos azuis de novo. – Não foi uma pergunta e sim uma suposição. Que estava correta, por acaso. Rosa estava sempre certa, por isso fazia jus ao apelido que havia adquirido: Srta. Sabe-tudo. A ruiva sentou-se ao lado de Alvo que, sabendo o quanto a mesma detestava ser ignorada, por mais entediantes que fossem seus assuntos, seguiu seus movimentos com a cabeça e mirou-a, agora com ambos os olhos de esmeraldas completamente abertos. – Soube que em Hogwarts há uma cigana ou seja lá o que aquela mulher é. Por que não vamos falar com ela sobre esses sonhos que você tem quando chegarmos? Talvez signifiquem algo. Talvez você seja um bruxo vidente, sabe? Que faz premonições sobre tragédias e salva a vida de milhares… – A voz da ruiva estava rápida e animada, como a de alguém que se divertia muito ao contar uma história, antes de ser interrompida pelo primo.

— “Bruxo vidente”? – repetiu ele, dando um sorriso irônico – Rosa, pare de besteira! Não sei nem se a minha carta vai chegar. “Bruxo vidente”. – Alvo simplesmente ria, enquanto, sem se preocupar em tirar os sapatos, colocava os pés sobre o sofá e abraçava os joelhos, fazendo seu sorriso diminuir a cada novo movimento.

— A carta chegará. – Rosa tentou tranquilizá-lo, com as bochechas corando ainda mais por ter, sem querer, tocado naquele assunto tão delicado para ele, pousando levemente sua mão em um dos ombros do garoto. – Eu sei disso.

— Você fala igual o meu pai. – Potter deixou a bochecha direita apoiada nos joelhos, fazendo o rosto ficar virado em direção à prima, com os olhos baixos, mirando a calça jeans que a ruiva usava. — Seria melhor se vocês dois desistissem de mim...

Há muito tempo a carta de Rosa havia chego, um pouco menos de quatro meses antes do aniversário de Alvo, e, depois de anos e mais anos dos dois garotos fazerem planos de como seria a estadia deles na escola de magia, foi isso que fez Potter se sentir cada vez pior a cada novo dia que se passava sem a chegada da sua. Depois de vinte e oito dias de aguardo depois de seu décimo primeiro aniversário, o garoto já estava começando a cogitar e aceitar, de certo modo, a teoria de que jamais iria para aquele local. Tiago sempre esteve certo. Eu sou um aborto!

— E seria melhor se você parasse de falar um bando de asneiras! – A ruiva tirou sua mão do ombro do garoto, a fechou em um punho e depositou um soco forte no braço do mesmo, o fazendo soltar um “Ai!” dolorido.

— Por que fez isso? – perguntou, massageando a área atingida com uma das mãos.

— Pra ver se entra na sua cabeça que você não vai me deixar sozinha em Hogwarts, nem se você quiser, Alvo Severo Potter! – exclamou, arregalando um pouco os olhos e aproximando seu rosto do dele. A menina ruiva, inteligente e bondosa se transformava, como Alvo gostava de descrevê-la quando a mesma estava com raiva, “em uma maluca, psicótica com cabelos de fogo”. Rosa Weasley era o sinônimo perfeito para a palavra “bipolaridade” e o menino sabia que o ato mais sensato não era discordar de nada que saía de sua boca, então apenas deixou que ela continuasse: – Você vai para aquela escola comigo nem que eu tenha que te amarrar embaixo do Expresso de Hogwarts, entendeu bem?! – Ela o socou novamente, levantou-se e saiu do aposento batendo os pés fortemente no piso de madeira, com os punhos cerrados com força nas laterais do corpo, em direção ao quintal.

Não pôde deixar de sorrir, apesar de seu braço ainda doer. Rosa, com certeza, era sua melhor amiga, mesmo sendo a única amiga que tinha.

Até o início de junho daquele mesmo ano, Alvo estudara na Escola Fundamental Almerinda Neves junto à Liz e outras inúmeras crianças que moravam em Godric's Hollow ou vilarejos, vilas e cidadezinhas próximas e, diferentemente dos dois irmãos, que sempre foram extremamente comunicativos e engraçados, o menino do meio era uma negação no que dizia a respeito de iniciar ou dar continuidade a uma conversa com alguém que ele mal sabia o nome.

Era muito calado durante as aulas, tinha vergonha até mesmo de erguer a mão para tirar alguma dúvida sobre a matéria ou pedir para ir ao banheiro – gostava de culpar o maldito lugar que havia escolhido para sentar, na carteira em frente a mesa da professora, porém, não era tão ruim quanto ficar perto do garoto barrigudo que parecia roncar enquanto respirava que sentava no fundo da sala. Potter o apelidou, carinhosamente, de Brutus, por causa de um personagem de desenho animado que ele sempre assistia com seu pai, depois de uma bela manhã ter se aproximado daquela área apenas para buscar o lápis que havia deixado cair e o gordo simplesmente ter disparado um “Caí fora, esquisitão”, fazendo seus amigos idiotas darem gostosas gargalhadas enquanto Alvo voltava para seu costumeiro acento –, e, durante o recreio e almoço, preferia permanecer em um cantinho das arquibancadas na pequena quadra de esportes, distante do resto do mundo.

A relação do menino com a escola trouxa acabou piorando quando Tiago embarcou na locomotiva vermelha que o levaria para Hogwarts. Obviamente, a única coisa que impedia o filhote de orca e seus capangas de enfiarem a cabeça do “Potter esquisito” dentro da privada mais próxima era o irmão mais velho dele. Não que Tiago fosse muito maior ou mais forte do Brutos “84 kg” Pincy, mas, graças à excelente carisma dele, tinha amigos mais velhos que eram tudo isso. O irmão foi, durante muitos anos, a maior certeza de segurança que Alvo já teve, porém só notou isso depois de voltar às aulas sem ele e ter de correr cinco quarteirões de Almerinda Neves até sua casa, fugindo dos garotos que o tentavam fazer de saco de pancadas. Alvo era rápido e, por inúmeras vezes, conseguiu escapar dos valentões sem maiores problemas, porém, sua sorte sempre durava pouco. Perdeu a conta quantas vezes chegou em casa com marcas em seu corpo, todo encharcado ou chorando e tendo que mentir para seus pais criando alguma desculpa esfarrapada sobre a fina linha de sangue que escorria da sua boca. “Eu caí da escada” era a sua justificativa mais usada, antes de correr para seu quarto e trancar-se ali, sempre alegando que “Tudo vai ficar bem” e pedindo em silêncio aos céus para os pais jamais irem na escola à procura de respostas melhores que as suas. Se Pincy e seus guarda-costas o atacavam sem o menino ter feito absolutamente nada, nem gostaria de imaginar o que fariam com ele caso desse com a língua nos dentes.

Seu corpo tremeu involuntariamente só pela mera lembrança de olhar para trás e ver cinco garotos, um deles grande o suficiente para necessitar de um sutiã, trajando o mesmo maldito uniforme branco e laranja que ele, perseguindo-o. A parte mais triste de não receber sua carta – além de ter a certeza que era um aborto (filho de pais bruxos sem poderes), nunca ir para o castelo junto à Rosa e ter de conviver com uma família grande e inteiramente mágica – era saber que teria de aturar as provocações desses mesmos garotos por mais sete anos de sua vida. Alvo não estava preparado física e psicologicamente para isso.

O devaneio do garoto foi interrompido pelo som, vindo do quintal dos fundos, de duas coisas pesadas se entre chocando. Pulou do sofá, encostou-se no batente da porta, qual Rosa havia deixado aberta, e observou o imenso jardim apinhado de seus parentes.

Um homem alto e magro com o rosto redondo, sardento e com os lábios contorcidos em um largo sorriso empunhava sua varinha de condão com o braço direito acima dos ombros – Alvo esticou a cabeça para o lado e viu um pouco da área esquerda do homem. Nunca deixaria de estremecer ao visualizar a parte vazia onde deveria estar a orelha dele, cuja foi perdida durante a guerra na qual ele e tantos outros participaram e se feriram –, apontando-a para uma grande mesa de piquenique que flutuava no ar e fazendo-a bater em outra idêntica àquela, porém esta sendo controlada por uma linda adolescente com compridos cabelos loiro-prateados que eram soprados pela morna brisa, olhos azul–claros e que ria deliciosamente, deixando expostos seus perfeitos e brancos dentes, fazendo todos – ou a grande maioria – seus tios e primos que estavam ali presentes rirem ao observar os dois, alguns deles voando por sobre suas cabeças, montados em suas vassouras mágicas.

A loira fez um movimento rápido com sua varinha e a mesa na qual ela manuseava deu um forte encontro com a outra, fazendo-a perder tanta altitude que quase tocou o solo.

— Eu ganhei, tio Jorge! – comemorou ela, dando pequenos pulinhos de alegria com ambos os braços erguidos e fazendo a mesa passar a centímetros de seu crânio.

— Na verdade, eu deixei você ganhar, Victoire – disse o homem, fazendo sua mesa pousar no chão e juntar-se, pelas extremidades, com uma terceira que já estava ali no gramado, antes de passar uma das mãos pela testa suada e os curtos cabelos ruivos.

— Não seja um péssimo perdedor, querido. – Uma mulher com pele, cabelos cacheados nas pontas e olhos negros passou um dos braços por volta do pescoço de Jorge e depositou um beijo em sua bochecha, deixando a marca de seus lábios com o batom roxo no rosto dele, enquanto alisava o traje esportivo azul do marido com a outra mão.

— Ele não é “um péssimo perdedor”, Angelina. Ele é só um perdedor que não aceita a derrota, que é quase a mesma coisa – sorriu a loira, pousando sua mesa ao lado das outras.

Jorge conjurou uma toalha de mesa branca grande o suficiente para cobrir os três móveis, deixando escapar um sorriso maroto de seus lábios ao olhar para a morena e agarrar sua cintura. Alvo jamais entenderia como seu tio pôde ter casado e tido dois filhos com a ex-namorada de seu falecido irmão gêmeo sem se sentir estranho com a situação.

— Alvo, filho, me ajuda aqui! – Assim voz de Gina, vinda da cozinha, atingiu os tímpanos do menino, ele foi ao seu encontro de imediato, cruzando com Harry no corredor, que bagunçou seu cabelo com uma das mãos.

Potter parou no arco que separava o cômodo no qual ele se encontrava do outro, deixando o cheiro de rosbife com molho de mostarda, batatas cozidas e a deliciosa torta de melaço que assava no forno impregnarem suas narinas, deliciando-o. A Sra. Weasley mexia a carne imergida no líquido um tanto grosso e amarelado dentro do grande caldeirão de prata com sua colher de madeira enquanto Gina e outra mulher – essa com cabelos castanhos um pouco cheios, trajando uma roupa formal verde-escura e que deu um sorriso sem dentes para Alvo assim que o mesmo surgiu em seu campo de visão – pegavam utensílios como talheres, copos e pratos e os depositavam sobre a mesa.

— Querido, leve os pratos lá pra fora, sim? – pediu a ruiva, indicando a pilha com, no mínimo, oito pratos de porcelana com a cabeça antes de voltar-se para a morena e perguntar: – Então Dédalo Diggle foi levado para julgamento, Hermione?

O menino, com certo esforço, pegou a pilha e, andando bem lentamente, foi em direção ao quintal. Seus braços tremiam sob o peso da porcelana e Alvo temia o momento em que os mesmos cederiam, fazendo todos os pratos se espatifarem no chão. Quando, finalmente, cruzou metade da sala de estar, Tiago, seguido de perto por Fred II, pulou os dois últimos degraus da escada enquanto dizia ao primo “… então vai ser incrível!”. O barulho do impacto entre seus tênis e o piso de madeira ecoaram pela casa e, assim que a voz do menino sumiu no ar, Gina pediu em um tom alto:

— Tiago, ajuda o Al com os pratos, por favor?

— Okay – respondeu o mais velho, dobrando as mangas de sua camisa xadrez azul. – Me dá isso antes que você faça alguma besteira, Alvinho. – Tiago estendeu os braços para apanhar os objetos das mãos do irmão mais novo.

— Eu consigo, Tiago – afirmou Alvo, fazendo um movimento rápido com o corpo e deixando os pratos fora do alcance do outro.

— Para de ser idiota e me dá logo isso aí! – mandou. O mais velho deu uma passada larga e agarrou com firmeza o ombro do garoto, que se livrou do aperto virando o tronco em sua direção, porém o movimento foi tão rápido que Alvo acabou se desequilibrando e deu alguns passos para trás. – Cuidado! – gritou Tiago, esticando os braços para frente de seu corpo ao tentar segurar o irmão, que acabara de dar um passo em falso e só se manteve em pé porque havia esbarrado em alguém.

— Cuidado, Al. – Harry segurava o filho pelos braços, que olhou para cima, com suas bochechas corando levemente, e mirou os olhos preocupados do pai – Se machucou? – perguntou enquanto o ajudava a ficar no mais pleno equilíbrio. O menino somente negava com um aceno de cabeça – Me deixe ajudá-lo. – E pegou a pilha de pratos sem nenhum esforço e voltou-se em direção ao quintal, sumindo de vista assim que atravessou a porta.

— Claro que – Alvo virou-se para trás, o irmão estava com os braços cruzado sobre o peito com cara de poucos amigos e o primo com a mãos nos quadris e um sorriso de canto de boca – o bebezinho precisa da ajuda do papai para tudo, não é? – Tiago revirou os olhos e Fred soltou uma pequena risada antes de ambos partirem em direção à cozinha.

O pequeno Potter sentiu suas bochechas queimarem de vergonha e, bem no fundo de seu ser, um pequeno sentimento de raiva crescia pelo irmão. Raiva de que? Tiago está certo em tudo que disse, garotinho abortado disse a vozinha no fundo de sua mente.

O garoto sabia, ou gostava de pensar, que as provocações do irmão mais velho eram apenas algumas tentativas de acionar qualquer mecanismo de fúria para ver se Alvo mudava suas atitudes e não deixava mais ninguém passar por cima dele como o próprio irmão constantemente fazia, porém nunca adiantou grande coisa. Menosprezá-lo na frente dos outros só fazia com que ele ficasse cada vez pior.

— Saia da frente, Severo – mandou Tiago enquanto batia seu ombro com o dele ao passar para o quintal, carregando uma travessa de vidro cheia de batatas cozidas salpicadas com salsa e cebolinha picada. “Você é uma pessoa horrível, Potter!” riu Fred, atravessando a porta atrás do primo com uma bandeja cheia de copos de vidro.

— Vamos almoçar, querido? – perguntou Gina, atravessando a sala de estar com o cadeirão prateado, que expelia um pouco de fumaça branca, com o rosbife, seguida por Hermione, que transportava outra grande travessa de vidro cheia de arroz branco, e a Sra. Weasley, com talheres e mais talheres de prata em mãos e uma grande jarra de cristal com algum líquido alaranjado dentro.

Assim que os vinte e quatro integrantes da família ocuparam seus lugares nas três mesas e de mais uma cadeira ter sido acrescentada em cada uma das extremidades, os Weasley e os Potter começaram a se deliciar com aquela maravilhosa refeição enquanto os mais diversos assuntos surgiam:

— Carlinhos não virá? – perguntou um ruivo de cabelos compridos presos por um rabo de cavalo, tinha um brinco de argola com um berloque pendurado que mais parecia um dente canino e inúmeras cicatrizes faciais que, Alvo sabia disso por causa de uma das histórias que seus pais haviam contado, foram formadas por um lobisomem chamado Fenrir Greyback.

— Seu irmão está muito ocupado com o tal Dragão da Tasmânia, Gui – respondeu a Sra. Weasley antes de levar o copo cheio de suco de abóbora aos lábios. – Disse que tentaria chegar para a festa…

— Carlos deve estar se engraçando com alguma domadora, isso sim – comentou outro ruivo, este com os cabelos com gel postos para trás, óculos com aro de tartaruga e que trajava um elegante paletó preto sobre a camisa formal laranja, antes de levar o garfo com um pedaço de carne até a boca. A Sra. Weasley rosnou um “Percy!” em sua direção, porém o mesmo apenas deu de ombros.

— Pelo menos, ele deve estar se divertindo mais do que você, Sr. Secretária do Kingsley. – Jorge não desviou sua atenção da batata que cortava ao afrontar o irmão mais velho. As bochechas e orelhas de Percy ficaram tão vermelhas quanto seus cabelos e, deixando os óculos bem na ponta de seu fino nariz e olhando por cima do mesmo, explicou, tentando deixar a voz da maneira mais superior que conseguia:

— Eu não sou uma secretária – começou, dando um olhar de superioridade ao irmão. – Sou o Superintendente e Coordenador dos Departamentos e Seções do Ministério da Magia. – Seu peito se enchia cada vez mais de orgulho a cada nova palavra que emitia – A pedido do próprio ministro – E, com um pequeno sorriso de satisfação que surgia no canto de seus lábios, voltou sua atenção para seu rosbife com molho.

— Quer dizer que de secretária você foi rebaixado para empregada? – questionou Jorge. “Aposto que ele leva até cafézinho para o ministro. Será que ele usa um avental bem bonito para isso?” sussurrou Dominique, a irmã mais nova de Victoire, em direção aonde Tiago, Alvo, Rosa e Fred II estavam sentados. Tiago teve que colocar o guardanapo em frente à sua boca para não cuspir o pedaço de carne que mastigava enquanto ria e Fred expeliu um pouco de suco de abóbora pelo nariz.

— Não, quer dizer ele é pago para ficar andando de elevador e enchendo o saco dos chefes de departamento. – Rony, sentando ao lado do melhor amigo/cunhado e que acabara de colocar uma batata inteira na boca, não fez questão de engolir o alimento ao disparar aquela provocação. Assim que sua cavidade oral não estava cheia de resíduos de alimento, continuou: – Aquela italiana parecia ao ponto de cravar as unhas em seu pescoço – contou, apontando a faca em direção ao ruivo de óculos. “Eu não a culpo. Ele é insuportável” comentou Gui em tom baixo, fazendo a belíssima loira ao seu lado dar-lhe uma cotovelada no braço.

— Nem me fale de Caterina Zorzetti – pediu Percy, largando os talheres sobre a mesa e pousando uma de suas mãos por sobre a barriga – Só a menção do nome dela já me dá vontade de vomitar!

— Sabiam que os sapos têm a capacidade de vomitar o próprio estômago para se livrar da comida que os fazem mal? – perguntou Rosa por cima da mesa para Alvo e Tiago. O mais velho, que estava sentado ao lado do irmão, fez uma careta de nojo e afastou seu prato de comida instantaneamente, soltando um “Perdi a fome” ao virar o rosto de volta aos parentes, Dominique torceu o nariz em direção à ela com expressão de desgosto e Alvo ficara boquiaberto enquanto Fred continuava a comer tranquilamente – Não se preocupem, depois eles engolem o estômago de novo. – E, dizendo isto, Rosa deu de ombros e voltou a deliciar-se com seu almoço, prestando atenção em tudo que os outros ali presentes diziam.

Alvo olhou de volta para seu prato e sentiu-se repentinamente enjoado em ver o grande pedaço de rosbife deslizando sobre o molho de mostarda. Agradeceu em silêncio pelos humanos não terem adquirido esse mesmo dom que os sapos depois de ter imaginado a irmãzinha de oito anos cuspindo um de seus órgãos internos e deixando o mesmo pendurado pelo esôfago e boca.

— Zorzetti? – perguntou a Sra. Weasley enquanto erguia uma de suas sobrancelhas.

— Ela é Chefe do Departamento de Execução das Leis da Magia – contou Harry, abrindo um pequeno sorriso branco para a sogra. – Eu gosto dela. Muito organizada, educada…

— Claro que você gosta dela, Potter. – Percy encarava o cunhado de canto de olho, fazendo os dele, verdes e perfeitos, se estreitarem – Nunca vi um chefe de departamento deixar um mandante fazer o que bem entende, mesmo na sua seção. — Ele acrescentou a última parte, rapidamente, assim que viu a boca de Rony se abrir.

— Caterina concorda comigo e com o próprio ministro — Harry fez questão de dar ênfase nas palavras “próprio ministro” somente para o cunhado não perder aquele tom avermelhado em seu rosto e orelhas. Alvo não saberia dizer se o tio estava envergonhado ou enraivecido – que eu devo mandar no meu quartel. Se isso lhe incomoda de alguma maneira, Percy, não tem algo significativo que eu possa fazer porque, bem, eu tenho o consentimento dos meus chefes para fazer o que bem entendo. – Harry estendeu um sorriso cínico em direção a ele, fazendo quase todos os integrantes da família, aqueles que prestavam atenção na conversa, sorrirem (alguns tiveram tato o suficiente, mais especificamente o Sr. Weasley e Gui, para tentar disfarçá-lo, porém, outros, como Rony, Jorge, Gina, Dominique, Tiago e Fred II, abriram largos sorrisos).

Antes que Percy pudesse responder alguma coisa, Roxanne, a irmã caçula de Fred, que era extremamente parecida com a mãe, levantou de seu lugar e apontou para os céus, dizendo um “Vejam!” e fazendo todos os parentes olharem para onde seu dedo indicador estava a riste. Uma coruja com a plumagem em vários tons de marrom e olhos dourados carregava um envelope amarelo em seu fino bico e batia suas longas asas em direção a eles ao ir perdendo um pouco mais de altitude. A ave soltou a correspondência no colo de Harry, ao mesmo tempo que Rosa informou “É um Bufo de Bengalas” para a prima, antes do lindo animal desaparecer por entre os galhos de uma grande árvore próxima dali.

— Que isso? – perguntou Rony enquanto observava o melhor amigo retirar e ler a carta.

Alvo apenas esticou a cabeça em direção ao envelope que seu pai havia jogado sobre a mesa, visualizando o selo no qual o mesmo estava fechado: um brasão que lembrava a forma de um escudo, roxo e com dois M's em alto-relevo cruzados entre si. O pequeno Potter, assim como seu irmão mais velho, mordeu o lábio inferior. Quando o pai recebia uma carta de Ministério da Magia, ele nunca tinha boas notícias para dar à família.

— Um chamado de emergência. Parece que houve um roubo no Departamento de Mistérios – contou Harry, sem tirar os olhos do papel. Foi como se o ar desaparecesse de repente. Quase todos na mesa prenderam a respiração assim que aquelas palavras chegaram aos seus tímpanos. “Impossível” sussurraram Percy e o Sr. Weasley em coro e Hermione levou uma das mãos aos lábios, talvez para tentar controlar o grito sem som que ela dava. Harry voltou-se ao melhor amigo ao continuar: – Kingsley quer que a gente vá para o ministério agora para a…

— Schacklebolt sabe o significado da palavra “folga”? – rosnou a Sra Weasley assim que viu o genro erguer-se de seu lugar, seguido por Rony, que antes colocou um grande pedaço carne na boca e, em seguida, disparou um “Vambora!” deixando alguns pedaços de alimento voarem pela mesa.

— Aurores, tecnicamente, não tiram folga, Molly. – O Sr. Weasley tinha a voz cansada enquanto se recostava na cadeira, retirava os óculos de aro retangular e limpava suas lentes com um dos guardanapos de tecido branco.

— Eu vou também – disse Percy ao levantar-se, arrumando a lapela de seu paletó e, em seguida, beijando rapidamente o topo da cabeça da bela mulher ao seu lado, que tinha cabelos negros ondulados e cintilantes olhos castanhos. – Indaguei a Taylor-Wood sobre a competência dos Inomináveis ainda semana passada e ela…

— Ninguém liga! – gritaram os outros quatro irmãos Weasley. Percy apenas trincou os dentes de maneira dura e, com um forte estalido, desapareceu. Alvo sabia que o tio não tinha, simplesmente, desaparecido e sim que ele acabara de aparatar, ou seja, sumiu de um lugar e apareceu em outro no mesmo instante. Aquela era uma das maneiras mais rápidas de um bruxo se locomover. E a mais desconfortável, também pensou o garoto enquanto admirava o lugar onde o ruivo de óculos estava.

Os dois aurores se despediram de todos, dando mais atenção para as esposas e filhos, é claro. Harry despenteou o cabelo de Tiago e Alvo e depois deixou que Liz lhe desse um abraço apertado, seguido de um beijo rápido de Gina, que sussurrou algo que o filho do meio do casal entendeu como um “Você não vai demorar, vai?”, fazendo o marido movimentar os ombros como se dissesse “Não faço ideia”. Hermione teve de segurar seu filho mais novo, que mais parecia uma miniatura idêntica de seu marido, pelos ombros, pois o mesmo não soltava o braço de Rony e exclamava, repetidamente, com os olhos chorosos: “Eu não quero que o papai vá!”. “Seu pai volta logo, Hugo. Papai tem que ir trabalhar” disse a madrinha de seu irmão cheia de meiguice, fazendo um movimento com a mão para que o marido se apressasse.

Antes de acompanhar Harry, que se afastava um pouco dos familiares, Rony aproveitou para roubar outra babata e colocá-la inteira na boca. Postou-se ao lado do Chefe da Seção de Aurores e deu-lhe um sorriso sem dentes – já que as bochechas estavam cheias de batata triturada – antes de agarrar firmemente um de seus ombros.

Ambos desapareceram logo em seguida.

Alvo engoliu em seco. Sempre que o pai era chamado para um desses casos de emergência, sentia como se seu peito fosse explodir a cada minuto que passava sem ele.

Empurrou seu prato para longe. Fome era a última coisa que ele sentia naquele momento.


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Notas finais do capítulo

— Olha eu aqui de novo!
— E aí? Gostaram do capítulo? Vamos, não tenha medo de deixar um comentário me dizendo o que achou. Eu não mordo. Juro!
— Não se esqueçam de comentar/favoritar/recomendar a história porque isso me incentiva (e muito) a continuar!
— Até logo!
— Beijos da autora estranha ♥