Do Lado De Dentro escrita por Mi Freire


Capítulo 9
Roubo


Notas iniciais do capítulo

Algumas confusões pra dá um pouquinho de emoção.



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"Eu sei que um grande amor não é fácil de se encontrar.

Mais difícil ainda é deixar de gostar."

— Qual é o seu problema? – brinquei, olhando diretamente pra ele enquanto sorria. — Está muito calor! Qual é o sentido para essa blusa de manga longa?

— Não é nada demais. Coisa minha. – ele sorriu torto dando de ombros, desconfortável. Desviei minha atenção me irritando com a aproximação de Alana e Andrew.

Há dias que Jesse e eu estamos mais próximos um do outro, esses dias são muito bons pra mim. Gosto da companhia dele. Sem contar, que esses momentos são muito importantes para saber melhor sobre ele e depois contar tudo a Amy. Para que ela se prepare para quando estiver pronta para de declarar diretamente. Ela está mais apaixonada por ele desde que me dispus a ajuda-la lhe dando informações importantes.

— Me fala um pouquinho sobre a garota misteriosa. – é assim que ele a acha sempre que toca no assunto. — Fale de algumas características dela sem precisar revelar o nome.

— Tá, vamos lá. – me empolguei, ajeitando-me no gramado debaixo da figueira. — Ela é inteligente, muito sábia, curte leitura, é meiga, simpática, fofa, atraente, organizada. Tudo que uma menina precisa ser. Ao contrário de mim. Claro.

Ele riu.

— Estou começando a gostar dela mesmo sem conhecê-la. Mas e a aparência você pode falar dela?

— Não, ficaria muito obvio. A não ser que ela permita. Podemos falar sobre isso depois.

Ele assentiu, estreitando os olhos por causa do sol.

Segui a direção do seu olhar, percebendo que ele está olhando diretamente pra Alexa. Sentada próxima à piscina com duas amigas, uma morena e outra ruiva. Ela percebeu que olhávamos e acenou sorridente, não sei se pra mim também, mas com certeza para o Jesse.

— Você gosta dela? – olhei pra ele, seriamente.

— Ela é legal. Pra uma menina.

— Quê? Como assim? Que ironia é essa? Quer dizer que, meninas não costumam ser legais? – brinquei.

— Não todas. Por exemplo, você e a Alexa são as que eu mais me dou bem em todo o colégio. E se eu conhecesse a garota misteriosa, provavelmente também gostaria muito dela.

Disso, Amy precisava saber.

— Sério que ele falou isso? – ela pareceu não acreditar, quando contei a ela mais tarde naquele mesmo dia.

— Te juro. – sorri. — Não acha que está na hora de se revelar? Arriscar, quem sabe. Assim você nunca vai saber...

— Não ainda. Vamos continuar com essa brincadeira. Eu estou gostando. Só quero ter mais certeza.

Assenti compreensível.

Tyler estava muito diferente aquela noite durante o jantar, quase irreconhecível, nem parecia ele, aquele garoto brincalhão, sorridente e divertido, que arranca risadas de todos. Parecia preocupado e estava calado há muito tempo, nem piscava.

— O que você tem? – perguntei, cutucando sua costela com um dos meus cotovelos.

— Preciso falar com você, Hayley. – ele levantou-se, e eu fui atrás muito preocupada com o que ele tinha a dizer.

Paramos um de frente pro outro há alguns metros dali.

— Preciso da sua ajuda.

— A minha ajuda? – eu ri. — Pra que?

— Hayley, é sério. Tá sabendo que vamos ter prova de estatística na semana que vem? Eu não sei da matéria. Não sei da matéria de nenhuma aula. Estou perdido. Não que eu me importe. Mas se eu tirar nota vermelha sofro o risco de ficar em detenção. E eu não quero. – seu olhar era desesperador. — Precisamos roubar os gabaritos.

— O quê? – me assustei arregalando os olhos. — Como? Todos perceberiam Tyler. Isso não vai dá certo.

— Vai sim. Confia em mim. Quantas vezes eu te decepcionei? – ele não esperou pela resposta, mas a resposta é nenhuma vez. — Já temos em mãos todo o esquema. Mas a sua colaboração é essencial. Você topa?

Refleti por um momento.

Há quanto tempo mesmo eu não me meto numa fria? Sinto falta.

— É claro que sim. Mas o que vocês pretendem fazer?

— Ótimo! – ele me abraçou empolgado e sua expressão logo mudou de pior pra melhor. — Depois conversamos sobre isso. Preciso falar com os outros sobre a sua ajuda.

E ele saiu correndo na escuridão.

— O que faz aqui sozinha? – ouvi uma voz vinda do escuro. A voz irreconhecível de Jesse. — Está perdida?

— Claro que não, bobo. – rimos juntos. — Estava pensando. Mas, e você o que está fazendo aqui?

— Marquei de encontrar com Alexa aqui. Mas pelo visto ela ainda não chegou e nem sei se vem.

Ele pareceu levemente abalado.

Isso eu jamais diria para Amy. Só serviria para desencoraja-la e desiludi-la. Afinal, não há nada de mais em Jesse se encontrar com Alexa.

— Acho melhor eu ir. – me virei. — Acredito que ela não vá demorar.

— Não! – ele agarrou meu braço, me fazendo virar. Exatamente como no dia em que me apaixonei por Brandon. — Não vai. Fica aqui comigo. Enquanto espero por ela... Pode ser?

— Pode ser.

Conversamos mesmo com a pouca luz. O tempo passou rápido e quando dei por mim já havia passado meia hora e nada de Alexa. Jesse ficou realmente chateada com ela. Mas não me importei. Se bem que ela não deve ser aquela garotinha "perfeita" o tempo todo.

— Eu vou ensaiar com a banda. Quer ir junto?

— Não, obrigada. Vou procurar outra coisa pra fazer.

Entrávamos no pátio.

— Não quer? Tem certeza? – ele sorriu. — Você sabe quantas meninas queriam que eu fizesse esse convite? São muitas! Elas são loucas pela banda. Você precisa ver.

— Imagino. – ri. — O que elas querem é uma oportunidade de ficar pertinho de vocês. São todos muito bonitos! Normal. Mas eu não sou como elas. Eu já tenho você como... Amigo. Não preciso implorar por isso.

— Você tem razão.

Deitada em minha cama aquela noite, diferentemente de Amy e Natalie que já dormiam, eu não conseguia parar de pensar na maneira como Jesse me olhou quando concordou com a asneira que eu disse.

Por um momento, enquanto ele me olhava docemente, senti uma vontade imensa de beija-lo. Perto dele eu sinto isso todo o tempo. Mas preciso me segurar. Ele não é o meu garoto. Não estou me aproximando dele pra isso. E sim por Amy. Não quero ser uma traidora. Mas Jesse é extremamente encantador. Não tem como não me envolver.

No outro, saia da sala depois de mais duas aulas cansativas de matemática, aulas seguidas, e caminhava em direção à próxima aula. A minha preferida: artes. Mas então, Tyler me puxou antes de entrar na sala.

Ele me deu um beijo rápido. Via a agitação em seus olhos.

— Me encontra atrás do ginásio no intervalo.

E ele se foi, correndo, chamando a atenção de todos.

Amy está ao cavalete ao lado do meu. Natalie no fundo da sala ao lado de namorado que ela não desgruda. Eles são lindos juntos, estão sempre se tratando com carinho.

Não consigo olhar para Amy. Algo me incomoda. Sinto-me muito culpada por ter pensando por um momento em beijar Jesse. Ela não merece que eu seja tão injusta. Vou tentar não pensar nisso outra vez, evitando que algo assim se repita.

Eu não estou apaixonada por ele nem nada. Eu jamais me apaixonarei por outro além de Brandon. Disso estou certa. O que eu senti por Jesse em uma fração de segundos foi admiração, uma oportunidade, como se tudo conspirasse ao nosso favor, carência talvez ou desejo. Atração parece a palavra certa.

— Hayley, você está bem? – ela pergunta, me olhando.

— Sim estou. – tento sorrir, fazendo um coque no cabelo.

Eliza, a professora, passa boa parte da aula falando sobre algumas teorias importantes da arte. O que me interessa bastante. Pois se algum dia eu quero ser professora de artes, quero ser tão boa quanto ela. Considerada uma das melhores professoras do internato. Além de bonita, simpática e amiga dos alunos. Nada que vem dela soa como falsidade.

Depois, ela pede que desenhássemos uma arte morta. Eliza coloca sobre sua mesa, lá na frente, uma bandeja com frutas e flores em volta. Ela quer que façamos uma interpretação daqueles objetos.

— Hayley? – Eliza me chama antes que eu saia da sala para me encontrar com Tyler. Estou muito curiosa. — Parabéns! Como sempre, você consegue me surpreender com sua técnica de desenho.

Ela me abraça. O que é estranho no primeiro momento. Não sou muito de trocar carinhos. Mas preciso retribuir. Gosto dela.

Tyler está de pé atrás do ginásio, zanzando de um lado para o outro com ar de pensativo. Aproximo-me e ele se assusta. Mas logo depois abre um largo sorriso.

— Eu falei com os outros sobre a sua colaboração no plano para pegar os gabaritos. Tudo que precisamos que você faça é pegar a chave certa com Raquel. O resto, deixa com a gente.

— Tyler... Eu gosto muito da Raquel. Você sabe.

— Todos nós gostamos Hayley. Mas esse é o único jeito! – ele se aproxima e segura minhas duas mãos. Olhando-me com suplicia. — Você topa ou não? É simples. Ela também gosta de você Hayley.

Tyler me convenceu. Eu iria fazer o que ele me pedira. Mesmo que isso me custasse caro. Por dois motivos eu iria me arriscar. Primeiro que há um bom tempo eu não sinto adrenalina pulsar em minhas veias. Há um bom tempo eu venho sendo boazinha demais. Sinto falta de mim. O que costumava ser fora desse internato. Segundo que, eu também vou precisar de nota, porque não sei a matéria e falta muito pouco tempo até a prova, não iria dá tempo de estudar. Nem se eu quisesse. E me parece justo ajudar a si mesma e os meus amigos. Mesmo que Raquel, que é adorável, se aborreça comigo. Ela terá que entender.

Passo o resto da tarde deitada no gramado, na sombra, debaixo da velha figueira, pensando uma forma de fazer o errado sem ser pega ou notada. Preciso ser inteligente, esperta e ágil. Mas sem me demorar.

— Estava mesmo procurando por você. – Jesse deita ao meu lado, a vontade, diferentemente daquela primeira noite em que deitamos aqui para conversar na festa da Trace.

— O que foi? – me virei pra ele, percebendo que ele tinha uma expressão de preocupado, como se algo lhe incomodasse.

— Preciso de um conselho seu.

Dei risada. Não resisti.

— Jesse, por favor, será que você ainda não percebeu que eu não sou do tipo que dá conselhos? Eu nem sei ser uma boa amiga. Olha só pra mim, vê se eu tenho cara de dá bons conselhos? Eu sou uma catástrofe.

— Bom, é que – ele pareceu realmente envergonhado. — você está sempre por perto. Pensei que, quisesse ser minha amiga e ajudar.

Jesse se levantou. Surpresa, me sentei.

— Acho que me enganei. Obrigado mesmo assim.

Ele se virou, pronto para ir embora.

— Ei. Jesse! Não! – eu o chamei, levemente arrependida do que acabara de dizer. — Espere. Sente-se. Vamos conversar. Eu posso até não ser boa em muitas coisas, mas sou uma boa ouvinte.

Sorrimos. Ele voltou.

— Fala: o que foi?

— É a Alexa. Eu não consigo entendê-la. Um dia ela quer está ao meu lado, diz coisas carinhosas, é amigável e em outros dias ela nem me olha, me ignora, assim, fica difícil, nem sei o que pensar sobre ela.

— Então... Você realmente gosta dela?

Ele evitava me olhar. Envergonhado, talvez.

— Não, Hayley. Eu já disse: ela é legal pra uma menina.

— Na verdade – balancei a cabeça confusa, desviando a atenção dos meus olhos para um passarinho se infiltrando nas folhas na figueira. — eu que não estou entendendo nada. Pois se, isso te preocupa, é porque você realmente está gostando dela. Ela se tornou importante e você não sabe como agir.

— Digamos que, seja quase isso. A companhia dela me faz bem nas horas vagas, assim como a sua.

— Então é simples – voltei a olhar pra ele e encontrei seus olhos já nos meus. Olhos perfeitamente claros. Estremeci. É incrível tamanha semelhança ao brilho dos olhos de Brandon. — vá até ela e diga tudo que sente. Conversem. E descubra porque ela age assim.

— Mas não é tão simples assim, Hayley.

— Claro que é. Sempre é. Nós que complicamos.

Ele riu, divertido. Ri também.

— Pra quem acabou de dizer, agora a pouco, que não é uma boa amiga e não sabe dá bons conselhos. Até que, você está se saindo bem.

— Talvez. – sorri sem jeito, abaixando o olhar enquanto passava uma mecha do cabelo azul pra trás da orelha.

— Mesmo assim – ele me surpreendeu, pegando minha mão e me fazendo olhar diretamente pra ele. — eu agradeço. Obrigado Hayley.

— De nada. – afastei minha mão sem parecer grosseira. Porque, de novo, me rendi aos encantados dele e senti vontade de beija-lo.

Mas não posso.

— Mas me fala você: parece feliz com algo. O que está acontecendo? Quer compartilhar? Algo entre você e o Tyler?

— Hum, digamos que sim. Na verdade, nem sei se posso te contar isso. É meio que confidencial.

— Ora Hayley, não confia em mim? – ele não esperou pela resposta. Senti que ele não falava sério, por isso nem me dei o trabalho de dizer que sim, eu confio nele. Algo me faz confiar nele. — Tudo bem. Se não pode e não quer falar, não tenho porque insistir.

— É que talvez, você não vá gosta do que irá ouvir.

Sei que assim com Brandon, Amy e Natalie ou até mesmo Raquel, Jesse não é do tipo de pessoa que faz o mal, contra ninguém, por mais que alguém esteja pisando nele. Não há maldade ou rancor dentro de seu coração, ao contrário do meu, Tyler, seus amigos e Oliver.

— Vamos roubar os gabaritos da prova de estatística.

Disse sem rodeios, depois de alguns segundos calados, após me certificar que ninguém, além dele, poderia ouvir.

— Está falando sério? – ele me olhou espantado. Exatamente o tipo de reação que eu poderia esperar vindo dele.

— Sim, mas, por favor, não conte isso a ninguém.

Ele riu. Incrédulo.

— Hayley, isso não pode ser sério. – Jesse balançava a cabeça negativamente. Desaprovando. Tão pouco me importava. — Você – ele olhou dentro dos meus olhos outra vez. Olhei de volta, hipnotizada. — não precisa disso. A prova é semana que vem. Porque não estuda como todos os outros? Mesmo que isso nem sempre traga bons resultados, mas pelo menos, é o certo a se fazer.

— Olha Jesse – me levantei já muito irritada por ele está se metendo tanto em um assunto que não é dele. — não aja como se realmente me conhecesse. O que você sabe sobre mim é muito pouco.

Passei a mão na calça, retirando o pouco de grama.

— Eu realmente não estudaria. Nem saberia por onde começar. Não sou como você ou como muitos outros. Olha pra mim! Veja! – encarei-o friamente. — Não estou fazendo isso só por mim, mas também para ajudar uns amigos. E qual é o problema de se sacrificar de vez em quando por aqueles que gostamos?

— Pois bem – ele se levantou também e diminuiu a distancia entre nós dois. Parecia muito bravo, assim como eu. E eu não conseguia entender por que. Já que ele nem fazia parte do plano. — Eu me sacrificaria por você. Eu ajudaria você a estudar se quisesse.

— Jesse... Não. – eu ri. — Você é um cara legal. Mas não. Eu não quero. Já está decidido. Eu vou fazer o que tenho vontade. E você – apontei o dedo no rosto dele. — não tem nada a ver com isso.

Sai andando de volta aos dormitórios, ala feminina, a passos firmes.

— Hayley. Volte aqui! Eu ainda estou falando com você! – eu o ouvi gritar. De muito longe. Apenas ignorei.

Quem ele pensa que é pra me desafiar dessa maneira como se fosse meu irmão? Nem Oliver faz disso. Oliver não se importa comigo. Jesse ficou muito desapontado comigo. É evidente. Mas ele não é nada pra mim. Nada muito significativo. Nós conhecemos há um mês mais ou menos e ele já age como se realmente me conhecesse. Mas ele não sabe um terço da minha história e tudo que passei. Por isso não tem porque se meter. Não tem porque se preocupar. E isso é o que mais irritou nele. Só espero, seriamente, que ele não de com a língua nos dentes.

Com Brandon, era muito diferente. Brandon sempre soube quem eu era e mesmo assim viu em mim algo que ninguém mais conseguiu ver. E mesmo sabendo, ele nunca se intrometia diretamente, nunca me pedia pra parar, não fazer ou mudar. Ele simplesmente aceitava quem eu era e gostava de mim cada vez mais..

— Hayley, onde você se meteu a tarde toda? – Amy me olhou friamente, enquanto eu batia a porta, entrando no quarto. — Eu procurei você no almoço. Mas não te encontrei.

— Eu não estou bem. Me dá um tempo tá? – nem olhei pra ela, apenas pulei em minha cama e virei-me para o lado da parede. Contrariada. Jesse realmente conseguiu me tirar do sério. — Mais tarde conversamos.

Ela saiu do quarto, talvez um pouco chateada com a minha estupida ignorância. Mas se Amy realmente gosta de mim como ela demonstrar gostar, sei que ela me entenderá.

Tento tirar um cochilo. Apagar por um momento. Esquecer aquela história toda e só acordar de noite para o jantar. Mas não consigo. Rolo de um lado para o outro sempre pensando em Jesse e tudo que ele me dissera. Se ao menos tivesse ouvido e continuado calado, teria sido mais fácil para mim. Mas logo ele, justamente ele, resolveu se meter.

Consegui adormecer um bom tempo depois de revirar dezenas de vezes aquela cena no jardim. Mas acabei tendo um pesadelo como já era de se esperar. Diferentemente das outras vezes, não sonhei com a morte de Brandon e a minha dor. Sonhei com Jesse espalhando por toda a escola o meu plano com Tyler sobre o roubo dos gabaritos.

Levantei-me em um pulo. Com o quarto todo escuro banhado pelo anoitecer. Suava frio. Precisava ir ao banheiro lavar o rosto antes de sair atrás de Jesse, antes que ele abrisse a boca. Acabei tropeçando em algum dos meus objetos jogado no chão e bati com o rosto no chão. Não doeu. Tudo que eu tinha em mente é que precisava chegar até o banheiro ou no mínimo encontrar o interruptor de luz.

Naquela noite calorosa, estavam todos espalhados pelos corredores mesmo sendo a hora do jantar. Imaginei o inferno que deveria estar aquele refeitório lotado de gente faminta.

— Hayley! – alguém gritou, me chamando. Virei para o lado e vi Natalie abraçada ao namorado encostados a parede. — Não vai jantar?

— Agora não. Talvez mais tarde. – tentei sorrir, me aproximando. Estava com presa. — Você viu o Jesse?

— O Jesse da Amy? Oh, não. Eu não o vi. Sinto muito.

Despedi-me e sair a caça. Pelo caminho, perguntei a milhares de pessoas sobre o Jesse. Ninguém soube responder.

— Ei Andrew – encontrei-o lá fora com Alana sentada em seu colo exibindo um sínico sorriso de vitória. Ignorei-a. — Cadê o Jesse?

— Olha Hayley – gosto do som da voz dele. É divina. — Dá ultima vez que o vi estava perto da sala de artes.

— Valeu. – voltei a caça-lo.

Esbarrei com Alexa no caminho. Ao menos ele não estava com ela.

— Quem é Jesse? – ela me respondeu, depois que perguntei. — Ah! O Jesse! Bom, eu não o vi. Desculpe.

— Tudo bem. - voltei a caçar.

Procurei por todos os lados. Ou quase todos. O único que me restara, que passou pela minha cabeça, foi nos corredores vazios e sombrios das salas de aula no outro prédio.

Normalmente não se pode entrar ali depois das seis da noite. Fica tudo fechado, vazio e escuro. Meus passos pesados ecoam pelos corredores do colégio rumo ao meu destino. Estou um pouco mais irritada por não tê-lo encontrado até agora.

Não me importo com as câmeras, sensores de presença ou alarmes ou se posso encontrar um inspetor pelo caminho. Caso eu for pega, posso inventar uma desculpa qualquer. Sem precisar se punida por está burlando as regras. Jesse me paga quando eu encontra-lo. Estou me arriscando por ele, passando pro toda a segurança para encontra-lo.

De longe pude ouvir para ter certeza. Ele estava tocando bateria como um maluco. Bastou chegar perto da sala de música, para vê-lo embalado pelo ritmo de sua bateria. Balançado os cabelos claros com os olhos cor de âmbar fechados.

Nunca o vi tão extravasado.

Abri a porta envidraçada para entrar na sala, pelo barulho que fazia ele nem me ouviu e nem me viu. Aproximei-me devagar ao ponto de poder ver o suor escorrendo na lateral do seu rosto, as maças do rosto vermelhas pelo cansaço e a camiseta preta de manga longa com uma banda estampada grudando no seu peito magro. Toda molhada.

Ainda assim, estava incrivelmente mais bonito do que a ultima vez que o vira. Mas não posso esquecer que estou muito enraivada para me importar com os detalhes.

Eu poderia ficar décadas ali apenas o observando tocar feito um louco fora de si. Mas preciso agir rapidamente. Aproximo-me ainda sem ser percebida e o interrompo o arrancado do banco onde está sentado atrás de sua bateria.

Posso ser mais forte do que você imagina.

O arrasto até uma das paredes mais próximas, sufocando-o com meus dedos presos em seu pescoço. Jesse me olha assustado, surpreso e sem reação. Olho bem no fundo de seus olhos sem me importar o quanto eles me fazem lembrar Brandon.

— Escuta aqui – nossos rostos estão muito próximos um do outro, mas não há desejo de beija-lo, apenas estrangula-lo. — não ouse falar sobre o roubo dos gabaritos para ninguém. Entendeu bem? Se ela história for espalhada pela escola, eu acabo com você!

— Hayley – ele fala com dificuldade. Estou realmente apertado o pescoço dele. Jesse fica cada vez mais vermelho com dificuldade de respirar. Pergunto-me onde está a força dele. — me solta, por favor.

Ele é incapaz de fazer qualquer coisa contra mim. É um garoto fraco e sem defesa. Sinto um pingo de dó e acaba o deixando respirar melhor.

Ele se curva buscando ar. Respira profundamente com as mãos apoiadas nos joelhos.

— Ficou maluca? – ele me olha. Um olhar com dureza. Logo depois de conseguir voltar a respirar normalmente. — Quer me matar?

Não respondo.

— Eu não vou e nem iria falar disso pra ninguém. Sabe disso. – seus olhos são quase convencíveis. — Confia em mim. Apesar de não achar correto, eu não vou estragar o plano de vocês.

— Bom – mesmo assim não me arrependo do que fiz. — eu precisava me certificar que você não iria abrir a boca. – minha voz se amansou. — Sonhei que... Você estrava tudo.

Ele riu. Como se eu não tivesse perto de mata-lo agora a pouco.

— Mas não importa. Porque estava tocando aqui sozinho?

— Estava tentando me libertar da raiva.

— Então, você toca feito um louco quando está com raiva?

Sorrimos.

— É. Por exemplo, agora, estou me sentindo bem melhor, mesmo depois de você quase me matar.

— Ah. Desculpe por isso. – sorri sem jeito, me afastando. Aproximei-me da bateria. Deslizando meus dedos por ela com medo de quebrar. — Tocar realmente funciona?

— É como pintar pra você. – ele sorri lindamente, voltando pra de trás da bateria. — Quer tentar? Vem aqui, eu te ensino.

Meu estomago roncou alto. Surpreende-nos. Rimos.

— Dessa vez não vai dá. Estou faminta!

— Se é assim – Jesse levantou-se novamente. — deixa pra próxima. Também estou com fome. O refeitório estava lotado. Vou te acompanhar dessa vez. Agora deve estar bem mais vazio.


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Notas finais do capítulo

Me digam o que acham de tudo isso! ♥



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