Do Lado De Dentro escrita por Mi Freire


Capítulo 10
Dor


Notas iniciais do capítulo

Em agradecimento ao carinho e ao apoio, e todas as coisas que disse, dedico esse capítulo inteiramente a Coline Masen. Obrigada! ♥



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"Vivo na expectativa de que tudo melhore."

Passei noites seguidas bolando um plano.

Agora, ali, há poucos metros de Raquel parecia o momento certo para por meu plano em prática. Ou pelo menos arriscar. Oportunidades de fazer dá certo não faltariam. Eu iria persistir até conseguir.

Caminhei lentamente em sua direção. Olhei para os lados e não vi ninguém além de nós duas. Ela começou a sorrir quando me viu. Senti pena de ter que fazer isso com ela. Mas sentimentalismo naquele momento não serviria de nada além de estragar tudo que eu tinha em mente.

Cada vez mais nos aproximávamos. Mas continuei fingindo que ainda não tinha visto ela. Como se andasse distraída. E quando chegamos bem perto uma da outra, bati com tudo meu ombro no dela. Caímos as duas.

— Tá maluca Hayley? – ela ria, sentando. — Não olha pra onde anda garota?

— Desculpe Raquel. – tentei disfarçar a minha vontade de encontrar o miolo de chaves espalhados por algum lugar.

Avistei-o há alguns poucos centímetros de mim. Tudo conspirava ao meu favor. Raquel pareceu não perceber. Ela ria. Enquanto uma de minhas mãos se aproximava lentamente das chaves.

Pelo visto ela nem se tocou que caíra do seu jeans e eu fingi que não havia percebido também, apenas peguei e enfiei no meu bolso.

O plano deu certo. Por mais bobo que tivesse sido. Levantei-me em um pulo, sorrido, fingindo dor no meu bumbum que batera com tudo no chão, estendi uma mão para ela e ofereci ajuda para erguê-la.

— Desculpe Raquel. Eu estava distraída. Agora, eu tenho mesmo que ir. Estou atrasada!

Sai correndo ao encontro do Tyler, que me esperava na sala vazia de artes. Tranquei a porta atrás de mim e abri um largo sorriso ao vê-lo.

— Você conseguiu, não conseguiu?

— Sim. Aqui.

Mostrei o miolo de chaves balançado no ar.

— Ufa, Hayley. Sabia que poderíamos contar com você.

— Tá. Mas e agora? O que vocês vão fazer?

— Não vou entrar muito em detalhes. Mas tudo irá acontecer durante a apresentação das bandas de hoje. Assim ficará mais fácil fazer sem sermos pegos. – nos beijamos, sorrindo. — Obrigado Hayley. Você é um anjo. Assim que o serviço estiver completo você pode devolver as chaves.

— Então, não demore. Raquel, uma hora ou outra, vai sentir falta delas penduradas em seu jeans. Ela pode acabar suspeitando de mim.

— Não se preocupe.

Ele sorria contente.

Naquela sexta-feira à noite para a descontração da galera, novamente iriamos ter apresentações das bandas que fizeram muito sucesso entre a galera. Enquanto isso, Tyler e seus amigos se infiltrariam secretamente na sala dos professores e tentariam roubar o gabarito da prova de estáticas que seria realizada na segunda-feira.

Torcia internamente para que tudo ocorresse bem. Não que eu estivesse com medo de ser pega junto nesse plano. Mas porque, não há sensação melhor que a vitória.

— Nossa! Tá lotando isso aqui – Amy comentou ao meu lado, toda sorridente. Estamos sentadas em uma das fileiras do meio do auditório. — Estou nervosa pelo Jesse. É muita gente!

— Relaxa – toquei seu braço. — Ele já está acostumado. E além do mais, Jesse é talentoso. Não há o que temer.

Sei que a banda de Jesse, por ser uma das prediletas, ficaria por ultimo. As primeiras animaram a galera, mas não tanto quanto eu esperava que animassem. A verdade é que eles nem era tão bons. Digamos que quem já nasce com talento não precise de muito esforço.

Enquanto isso, não conseguia de pensar em Tyler e o roubo.

Fiquei muito surpresa quando as luzes do auditório se apagaram e me trouxeram de volta a realidade. Tudo ficou em silêncio. Percebi que todos se entreolhavam. Amy quase não conseguia deixar de sorrir de ansiedade. Tanto ela quanto eu já sabíamos o que estava por vir.

De repente, Andrew, o vocalista amigo de Jesse, aparece no centro do palco como foco principal. Tudo ainda está escuro a sua volta e ele é o único que brilha. Meu coração dispara, bate forte e meu corpo todo se arrepia quando percebo que ele está cantando 21 Guns do Green Day.

Tudo fica ainda mais sinistro quando Andrew some na escuridão e o silencio volta a reinar. Todos se entreolharam curiosos. Então, Jesse bate as baquetas no alto três vezes e começar a tocar sua bateria. Depois, todos os outros integrantes da banda se iluminam com as luzes e Andrew volta a cantar com sua voz ultra perfeita.

— Eles são demais! – ouço um garoto gritar por cima dos meus ombros. Sua voz vem lá de trás.

— Os caras arrebentam! – outro corresponde, com a voz eufórica enquanto pula e canta.

Sinto um prazer imenso de conhecer o Jesse. Ele é muito bom baterista. Andrew não é o único que parece ter luz própria. Digamos todos os integrantes da banda interagem de maneira uniforme.

Alguém me cutuca o ombro. Viro-me pra trás e dou de cara com Tyler a minha espera. Segui-o até lá fora, um lugar seguro e vazio sob o céu estrelado. Até então, ele não me disse se ocorreu ou não tudo bem. Mas quando ele abre um sorriso e me entrega a chaves já sei da resposta.

Pulo em seus braços.

— Deu tudo certo. – ele me coloca no chão, segurando minhas duas mãos. As dele estão geladas. Talvez de nervoso.

— Como conseguiram? Quero dizer, não que não sejam capazes. Mas como conseguiram passar pela segurança toda?

— A gente sempre dá um jeito. São segredos. – ele diz satisfeito, sorridente. — E ai, o show tá legal?

— Muito! – aperto firme suas mãos, mal me contendo de tanta alegria por estarmos ali. — Vem! Vamos voltar pra lá.

No final do show, muitas meninas cercam Jesse e seus colegas de banda. Percebo que Amy fica incomodada com isso. Ainda mais depois que, ainda em cima do palco, Alexa o abraça forte e eles sorriem um para o outro. 

Amy se vai. Muito chateada. Não há nada que eu possa fazer ou dizer para reconforta-la.

Um dos maiores propósitos de ter me apegado a música, é que ela meio que transporta tudo que estou sentindo, seja bom ou ruim, para outra dimensão. E na maior parte das vezes, gosto de ouvir musicas que expressem tudo o que eu sinto, especialmente a falta que Brandon me faz.

Hoje, depois do show, sentada no jardim no mesmo lugar de sempre, sinto muita falta dele. Mais do que eu posso suportar. Por isso, já estou chorando sem me importar. Está tudo escuro e o céu brilha acima da minha cabeça. Não há nada que eu posso fazer além de reprimir toda a minha dor em lágrimas.

— Sabia que te encontraria aqui. – o ouço se aproximar. Logo depois ele está sentado ao meu lado.

Tento sorrir, disfarçadamente secando as minhas lágrimas com o dorso do braço. Não gosto que me vejam chorar. Em hipótese alguma.

— Parabéns! Mais uma vez. Pelo show de hoje. Vocês foram incríveis como sempre. – olho pra ele.

— Obrigado. – ele me olha de volta. Jesse inclina a cabeça, ainda me olhando, acho que viu o que não deveria ver. Pelo visto, dessa vez não consegui esconder. — Você não estava chorando estava?

— Não! – balanço a cabeça, soltando um risinho.

— Eu não acredito em você. – ele sorri docemente. — Estava chorando sim. Dá pra perceber pelo brilho dos seus olhos. Geralmente eles não brilham tanto no escuro. Não tente me enganar.

— Tá. Tudo bem. – dei de ombros, desviando o olhar. — Eu estava sim chorando. Mas não quero falar sobre isso, tá? Já passou.

— Tem certeza que está tudo bem? – surpreendentemente ele pega minha mão e aperta. Estou surpresa. — Eu também posso ser um bom ouvinte caso você queira desabafar.

— Não, por favor, não insista. Você não ira querer saber sobre os mistérios do meu passado. É tudo muito dramático. Não quero entristece-lo com problemas meus.

— Tudo bem. – ele suspira fundo, soltando minha mão. — Engraçado, a noite está sempre bonita. – assinto, olhando também. — Mas e ai, o plano de vocês deu certo?

De repente me lembrei que as chaves de Raquel ainda estão comigo e torço para que ela não tenha sentido falta até eu poder devolve-las.

— Deu certo. Por quê? Você também quer as respostas da prova?

— De jeito nenhum.

Ficamos em silêncio. Temos opiniões muito opostas.

— Jesse? – viramo-nos ao mesmo tempo ao ouvir alguém se aproximar. Alexa. — Jesse, estava te procurando.

Ela para de pé em nossa frente. Olhando pra mim, depois pra ele. Um tanto desconfiada. Como se tivesse visto o que não existe.

— Oi Hayley. – ela força um sorriso. Depois volta a olhar pra ele. — Podemos conversar Jesse? Agora.

Jesse assente. Se levanta e acena pra mim em despedida. Eles não vão muito longe. Há uns três metros de mim, próximos de outra árvore.

A brisa da noite balança as árvores ao meu redor, fazendo com que as folhas douradas já secas do outono se espalhem pelo gramado. 

Sozinha e mais tranquila, deito-me na grama com os braços de baixo da cabeça como apoio. Olho para o céu, olho para cada estrela.  Uma folha ou outra cai sobre mim, mas não me esforço para retira-las. É tudo tão lindo! No outono tudo fica muito bonito e conforme elas caem do alto das árvores, parecem dançar no ar.

Fecho meus olhos e tento captar no fundo da minha mente um dos últimos momentos que eu tive ao lado de Brandon. Quero poder ouvir sua voz antes de ir dormir. Para no mínimo me sentir melhor e não ter pesadelos.

Lágrimas quentes acabam escorrendo de meus olhos pela bochecha por minhas tentativas em vão de ouvi-lo. Sinto que cada vez que o tempo passa, apesar da dor não diminuir, estou cada vez mais longe de Brandon e tudo que tínhamos juntos.

Rolo para o lado, como se estivesse em minha cama. E sinto algo duro perto do meu rosto. Um objeto talvez. Abro meu olhos e dou de cara com uma gaita metálica com detalhes pretos.

Sento-me e com o objeto em mãos passo meus dedos pelo escrito, onde apesar do escuro da noite e a falta de iluminação do jardim do internato, consigo ler: Lembre-se sempre de nós. Papai e mamãe.

A gaita deve pertencer a Jesse. E deve ser algo muito valioso e importante para ele. Fico me perguntando o que terá acontecido com os seus pais e o porquê dele está ali no internato longe deles. Mas isso, na verdade, não é da minha conta. Preciso devolver a gaita.

Sou impedida pelas vozes altas que vem de um ponto não muito longe dali. Olho em direção e vejo Alexa e Jesse no mesmo lugar, um de frente para o outro, parecem discutir.

Algo me impede de me mover dali. Espero por mais de quinze minutos até que Alexa se vai finalmente. Jesse continua no mesmo lugar, parado e de cabeça baixa, com uma das mãos encostada na árvore que serve de apoio para o peso do seu corpo.

— Ei – me aproximo lentamente. — Tudo bem ai?

— Oi Hayley – ele sorri a me ver. — Sim. Tudo bem.

— Ah. Legal. Mas não é o que parece. Sua expressão é péssima!

Rimos.

Alexa. Ela é um doce de garota, mas às vezes pega pesado. É um tanto exagerada e eu nem sempre tenho paciência apesar de gostar muito dela. Mas assim como você, não quero te encher com os meus problemas.

— Entendo perfeitamente. – lhe estendo o seu pertence. — Acho que você deixou isso cair quando foi falar com ela.

— Minha gaita. – ele pareceu surpreso, pegando-a. — Obrigado Hayley. Não sei o que seria de mim se eu tivesse a perdido.

— Ainda bem que encontrei. – sorriu. — É importante pra você, não é? Um presente dos seus pais?

— Sim. Foi uma das poucas coisas que me restou deles. – percebo que ele evita o contato dos meus olhos. Mas sorri, como se lembrasse de algo muito significativo. — Eles morreram. E sempre que toco a gaita sinto como se pudesse estar ao lado deles outra vez.

— Ah. Eu sinto muito. – minha voz é falha. Estou emocionada e com inveja. Por Jesse ter encontrado um meio de sentir seus pais mesmo depois da morte. Ao contrário de mim, que nunca mais pude sentir Brandon.

— Perdi meus pais aos dez anos. Há seis anos. Desde então, estava morando com a minha avó materna. Uma senhorinha viúva que me amou como um filho. Mas ela estava ficando muito velha, esquecendo-se das coisas e já não agia da mesma forma. Meus tios resolveram interna-la para o bem dela. Com isso, eu tinha que deixa-la. E vim parar aqui. Meus tios acharam o melhor a se fazer.

— Eu realmente não sei o que dizer. – vi que ele já estava prestes a chorar e eu choraria junto. Não é fácil perde quem ama. E dessa dor eu entendo bem. — Eu sinto muito. Seus pais morreram como?

Não era certo fazer àquela pergunta justamente naquele momento, pareceu ousado, mas a curiosidade foi maior.

— De avião particular. Meus pais foram músicos. Faziam parte de uma orquestra clássica. E foi ai que surgiu meu amor pela música. Eles faziam muito sucesso em outros países. E naquela manhã, eles iriam fazer uma apresentação muito importante para arrecadar fundos para uma instituição para crianças com câncer. – Jesse já estava chorando, mas ainda assim parecia ainda mais bonito que o normal. — Mas então caiu uma tempestade terrível. O piloto perdeu o controle do voo e todos morreram antes do avião cair em terra.

Me vi chorando também. Imaginando a cena dos seus pais morrendo, junto com a cena do acidente de carro de Brandon. Lembrei-me da dor ao saber da verdade. A forma como eu agi e como me comportei depois. Seria demais perguntar a Jesse o que aconteceu com ele logo depois que soube da tragédia. Imagino que ele não tenha agido como eu, feito um louco, já que somos tão pouco parecidos.

Sem dizer mais nada, apenas o abracei. Eu tinha vontade de abraça-lo e apenas agi conforme eu queria. Não havia mais nada a dizer, além de abraça-lo na tentativa de reconforta-lo. Compartilhávamos a mesma dor. E nada parecia mais certo do que nos unirmos naquele momento.

No inicio, fiquei com receio que ele não correspondesse ao meu gesto de carinho. Nunca antes havíamos nos abraçados. Nunca antes tivermos tanta intimidade, além das duas vezes em que ele segurou a minha mão. Demorou alguns segundos, talvez ele tenha sido pego de surpresa, mas Jesse me enlaçou de volta com seus braços magros.

Eu gostaria de ter recebido um abraço caloroso como aquele no dia em que soube que Brandon partiu. Talvez muitas coisas tivessem sido diferentes. Meus pais me abraçaram, mas também falaram muitas coisas que eu não estava preparada para ouvir. Por mais verdadeiras e dolorosas que fossem. Eu só queria um momento de silencio e proteção.

É indescritível a sensação de tê-lo tão perto a mim. Como se pela primeira vez fossemos um só coração. Um só corpo. Compartilhado uma só dor. A dor que sabíamos bem como suportar. Mas que nem sempre era fácil de lhe dar. Especialmente quando a tristeza vinha à tona.

Jesse se afastou. Confesso que, ainda não estava preparada para que ele se soltasse de mim. Não ainda. Queria poder ficar ali pelo resto da noite, se preciso até o amanhecer. Não queria ter pesadelos aquela noite.

Ele me olhou, com o rosto bem próximo do meu, com um meio sorriso de canto. Tive que retribuir. Fechei meus olhos quando ele passou a ponta dos dedos de baixo dos meus olhos para secar as poucas lágrimas.

Em seguida, ele puxou minha cabeça para junto do peito dele e beijou minha testa com seus lábios quentes e úmidos.

— Obrigado por isso. – o ouvi dizer, com a boca bem próxima do meu ouvido. Senti um calafrio.

Não posso beija-lo. Não quero beija-lo.

— Eu sei que ai – ele tocou meu coração. — dentro de você há uma dor que se iguala a minha. Mas que por algum motivo, você ainda não está preparada para compartilhar em voz alta. Eu entendo perfeitamente. Mas quero que você saiba, que quando precisar, eu estarei aqui para te ouvir. Porque eu posso te entender, assim como você me entende agora.

Jesse se foi, deixando-me a beira mar. Não tive outra escolha a não ser colocar tudo pra fora, outra vez, tudo que sentia e que estava ali acumulado no alto da minha garganta.

Escorreguei com minhas costas pelo troco da árvore e já no chão abracei meus joelhos bem forte de encontro ao meu peito e afundei minha cabeça tentando esconder meu choro.

Jesse tinha razão. Eu ainda não estava pronta, diferentemente dele, não ainda, para contar sobre a morte de Brandon e toda minha dor e os meus problemas. E o que mais doía era não saber se algum dia estaria pronta para isso.

Nada melhor que uma boa noite de sono para disfarçar toda minha angustia da noite passada. Acordei no outro dia como se nada tivesse acontecido. Tomei um banho. Vesti uns shorts jeans preto, uma regata larga e grande e meu velho All Star desbotado. Encarei o quadro de Jesse em minha parede e lembrei o quanto ele foi compreensível na noite passada. E todas as coisas que ele me revelou sobre seu passado.

— Hayley – Amy entrou no quarto. — Você viu a Nath? Sabe se ela está com o Eric? Ela não dormiu aqui noite passada.

— Acabei de acordar. Eu não sei de nada. Mas fica calma, ela deve estar por ai na companhia do namorado. Eles se gostam. Cuidam um do outro e sabem o que estão fazendo.

— Espero que sim. – ela sorriu, tirando os óculos para limpar no tecido da camiseta. — Está um dia lindo lá fora! Quero muito ver o Jesse.

Continue calada, amarrando o cadarço do meu tênis.

— Você descobriu alguma coisa a mais sobre ele? – ela perguntou curiosa, sentando ao meu lado sobre a minha cama. — Você sumiu ontem à noite. Pensei que estivesse pondo seu plano em pratica.

Abri a boca para dizer a ela boa parte do que aconteceu ontem à noite comigo e com Jesse. Mas imediatamente me arrependi e voltei a fecha-la. Não seria certo da minha parte. Por melhores intensões que eu tivesse em ajuda-la. A morte dos pais de Jesse era particularidade dele e se algum dia ele quisesse compartilhar com ela, que fizesse. Eu não.

— Vou dá um jeito de saber mais hoje.

Enquanto caminhava livremente pelos corredores, conferi se o miolo de chaves de Raquel estava mesmo no meu bolso.

Bati na porta do quartinho dela, na ala dos funcionários, só para ter certeza de que ela não estava como eu já havia imaginado. Conferi se alguém podia me ver e logo depois entrei. Coloquei as chaves dentro de umas das primeiras gavetas de seu criado-mudo.

— Hayley? – ela entrou um momento depois de eu ter terminado meu trabalho. — O que está fazendo aqui?

— Nada. – sorri, balançando os ombros como quem não quer nada de muito importante. — Estava te procurando.

Ela entrou fechando a porta.

— Ainda bem que você está aqui, Hayley. Acredita que eu perdi o miolo de chaves? Preciso da sua ajuda para encontrar. Tenho quase certeza de que eles estão por aqui em algum lugar.

Fingi que não sabia exatamente onde estavam e a ajudei a procurar por todos os lados, revirando o o pequeno quarto.

— Achei. – ela disse finalmente, um bom tempo depois. — Ufa! Finalmente. Não sei o que seria de mim se não as encontrasse.

Depois do almoço, peguei  pudim como sobremesa. De longe vi Jesse sentado a uma mesa com Alexa. Sorrimos um para o outro. Fui até a mesa de Tyler e seus amigos e me uni a eles.

— Vamos jogar sinuca depois? Todos nós. Podemos montar timinhos e bater apostas. O que acham? – Jake quem sugeriu.

Ficou faltando um no meu time para fechar. Não pensei em ninguém melhor que Amy.

Passamos à tarde de sábado jogando no salão de jogos.

— Jesse? – chamei-o, ao vê-lo sozinho em um dos tanto bancos espalhados nas laterais dos corredores. Perto das portas.

Amy estava ao meu lado. Pareceu encolher quando me sentei ao lado de Jesse e chamei-a para sentar ao meu lado.

— Quero que conheça uma amiga minha – sorri para eles. — Essa é Amy. Amy Miciano. Minha colega de quarto.

— Ah – ele abriu um sorriso, dando uma boa conferida nela. Como se nunca antes tivesse a notado. O que é bem provável. Amy está sempre escondida por ai. — Oi Amy, prazer.

Puxei conversa, para descontrair e deixa-los mais a vontade. Amy olhou para mim agradecida. Um bom tempo depois, depois que ganharam mais intimidade, resolvi agir.

— Preciso pegar uma coisa no quarto. – levantei-me. — Eu já volto! Fiquem ai conversando. Não me decepcionem.

Sim, eu mentia. Não havia nada para pegar no quarto. Acabei batendo de frente com Natalie enquanto ela saia do quarto e eu entrava. Ela sorriu e acenou animadamente. Resmungou ao do tipo que deu a entender que Eric estava a sua espera e que ela estava com pressa.

Deite-me na cama e aproveitei aquele comecinho de noite para passar o tempo sozinha e fazer o que gosto e tenho vontade. Com o controle, liguei o rádio e coloquei o CD pra tocar.

Houve duas batidas na porta. Mas não me atrevi a levantar e ver quem era. Torci para que não fosse Amy. Queria muito que ela ainda estivesse lá com Jesse, aproveitando a primeira oportunidade de estar ao lado dele. E se fosse outra pessoa qualquer, que percebesse que eu não estava a fim de papo. Tudo que queria era ficar sozinha, a vontade.

— Tyler? – o vi entrar segundos depois. — O que faz aqui? – sentei-me sobre a cama, vendo-o se aproximar. — Como conseguiu entrar?

— Queria ficar com você. Posso? – ele sentou-se ao meu lado, deu-me um rápido beijo e sorriu todo doce.

Voltamos a nos deitar. Agora, a minha cabeça sobre o peito dele que subia e descia conforme sua respiração.

— O que você tem? – resolvi perguntar. — Notei que está muito diferente hoje. Aconteceu alguma coisa?

— Nada não. Não se preocupe. – ele beijou meus cabelos, acarinhando meu rosto. Gosto do contato dele.

— Espero que não seja por causa dos roubos dos gabaritos. A prova é segunda-feira. Vai da tudo certo. Você não está arrependido, está?

— Não. Nenhum pouco. Pelo menos pra mim, foi o certo a fazer. Eu realmente preciso da nota. – ele sorri. — Vamos lá, deixe de preocupação. Só quero ficar aqui. Gosto de você! Gosto de ficar com você.

Ele acabou me convencendo, ainda mais depois de me provocar com seus beijos pra lá de prazerosos e o contato de sua mão mergulhando por meu corpo.

Um dia antes da tão esperada prova, duas senhoras da direção do internato passaram de sala em sala. Fiquei preocupada, imaginando a possibilidade de elas terem descoberto algo sobre o roubo e agora estariam atrás dos culpados. Ou alguma coisa direcionada a isso.

Percebei que Jesse também pensou o mesmo quando as viu entrar na sala de aula e todos se calaram. Elas passaram os olhos por todos os alunos de mesa em mesa. Jesse, sentado na frente, virou a cabeça para olhar pra mim, sentada no fundo. E sorriu fraco. Sorri de volta tentando mostrar confiança.

— Temos um comunicado importante. – uma delas, a mais baixinha de cabelos avermelhados e curtos, deu um passo a frente ao dizer.

Meu coração queria sair pela boca.

Não por medo, mas sim por preocupação. Aceitaria qualquer punição, menos ser expulsa e ter voltar pra casa.


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Notas finais do capítulo

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