Do Lado De Dentro escrita por Mi Freire


Capítulo 53
Verão


Notas iniciais do capítulo

Pode se dizer que aquela fase de ficarem "presos" no internato já passou. Ficou para trás. O tempo passou, as coisas mudaram e todos os personagens viveram uma nova etapa de suas vidas.



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"Me desculpe por nem sempre achar as palavras certas para dizer."

— Finalmente em casa. – larguei minhas coisas no chão do meu quarto. Na minha casa. Na minha cidade. Com meus pais. — O que tem pra comer? Estou faminta!

Mamãe saiu animada em direção a cozinha. Tínhamos acabado de chegar. O dia mal tinha começado. O sol ainda estava dando seus primeiros sinais. É verão! Após ter pegado o meu resultado de que tinha sim conseguido passar na escola após o meu grande esforço e minha mudança radical, meus pais vieram depressa nos buscar.

— Ei mãe. Não fuja de mim! – Oliver foi atrás dela. Ainda batendo na mesma tecla. Mamãe e papai ainda não haviam decidido sobre a proposta que meu irmão lhes fez. — A Amy pode ou não vir passar as férias aqui?

Desde que começaram a namorar, Amy e Oliver jamais se desgrudaram. Nem quando iam estudar para as provas finais. Ela o ajudou muito, por sorte, meu irmão também passou. E eu, claro, fui deixada de lado. Precisei estudar sozinha, me virar sozinha. Mas sei o quanto eles se amam e querem ficar perto um do outro. Sei também dos problemas que a Amy tem casa com a mãe problemática e o quanto ela gostaria de estar aqui, em nossa casa, onde ela já considera um lar.

— É, mãe. Porque você não deixa? – me sentei a mesa da cozinha enquanto mamãe, ainda de costas, preparava o café. — Ela pode dormir no quarto de hospedes.

— Não. Ela não pode dormir no quarto de hospedes. – nesse momento meu pai também entrou na cozinha. Não disse nada, mas sorriu para nós. Pegou uma fruta e saiu pela porta dos fundos. — Sua tia Jenna, vem passar um tempo conosco.

Tia Jenna? A única parente da familia da qual ainda temos contato e que vem nos visitar de temporada em temporada. Tia Jenna é irmã da mamãe, alguns anos mais nova e uma pessoa maravilhosa, divertida, sagaz e que tem sempre uma novidade.

— Então – eu pensei melhor por alguns segundos. — Já que a tia Jenna vai ficar com o quarto de hospedes, não vejo problema alguma em dividir o meu quarto com a Amy. Minha melhor amiga.

Mamãe foi detida pelo cansaço. A Amy passaria sim as férias de verão conosco, em nossa casa, no meu quarto. O Oliver, muito mais animado que eu com a ideia, saiu correndo para ligar pra ela e dar a notícia.

— Obrigada, mãe. – agradeci quando ela colocou bem na minha frente um copo cheio com achocolatado. — Quando a tia Jenna vai chegar?

— Em algumas horas.

Passei o resto da manhã desfrutando do meu quarto que ainda tinha o mesmo cheirinho e a mesma organização. Deixaria para desfazer as malas quando a Amy chegasse. Assim teríamos mais tempo para dividir as partes de cada uma. Assisti a televisão, ouvi música e tirei um cochilo.

Me sentia como uma verdadeira rainha no próprio castelo.

Acordei com o cheiro do almoço invadindo a casa e com um barulhinho muito irritante que vinha da direção da minha janela. Alguém estava jogando pedrinhas na minha janela. Já estava me preparando para pegar aqueles pirralhos do bairro quando na verdade vi o Jesse lá em baixo.

— Olá, vizinha. Achou que iria se livrar de mim facilmente?

Só tive de tempo de pensar em sair correndo escada a baixo e encontrar com ele no jardim da mamãe, que mesmo descuidado, com o Jesse ali parado parecia o lugar mais lindo do mundo. Mas fui interrompida, antes mesmo de sair do meu quarto, quando alguém me abraçou.

— Pirralha, como você cresceu!

Tia Jenna, mesmo com seus trinta e oito anos era uma mulherão apesar de nunca ter casado ou tido um relacionamento sério por muito tempo. Ela diz que gostar de curtir a vida. Ela é magra, mediana, os cabelos loiros lisos e curtos bem parecidos com o da Elisabeth e os olhos castanhos claro. Ela parece bem mais bonita agora do que a última vez que nos vimos quando eu estava com quinze anos.

— Oi tia. Fico muito feliz em vê-la! – digo assim que ela me solta. — Mas agora eu preciso ir. Tem uma pessoa me esperando lá em baixo.

— Um namorado, talvez? – ela gritou do alto da escada quando eu já estava com a mão na maçaneta da porta principal. Nem ousei a responder a sua indecente pergunta.

Pra minha sorte o Jesse ainda estava parado ali me esperando. Fui me aproximando devagar sentindo o coração bater cada vez mais depressa como se fosse a primeira vez que estivéssemos nos vendo. Quando parei de frente pra ele fiquei completamente envergonhada de dizer qualquer coisa. O que eu poderia dizer? Que nunca estive tão feliz em vê-lo? Ou que não sabia expressar tamanha felicidade que eu estava sentindo em tê-lo ali mais uma vez? Ele estava incrivelmente bonito com um jeans preto, uma camiseta simples branca, os olhos claríssimos por causa do sol.

— Jesse eu...

Ele me calou pressionando seus lábios doce nos meus. Minha primeira reação foi de completo espanto. Mas quando ele envolveu minha cintura com suas mãos foi quando eu pude finalmente corresponder aquele beijo que esperei por meses.

Tem como começar as férias de verão de maneira mais perfeita?

Nem ousei a pensar nas inúmeras possibilidades. Não queria estragar aquele momento único. Só conseguia pensar como era bom a sensação de ter a boca do Jesse na minha. O quanto ele beija bem ou o quanto suas mãos são firmes em mim.

— Ai meu Deus! Acho que estou ficando um pouco tonta. – eu disse fazendo-o sorrir de um jeito tão irresistível.

— Aqui é o meu lugar. – ele olhou em volta. A rua vazia, as casas tão parecidas. — Como eu ainda não tenho uma casa só minha, decidi passar as férias outra vez com o meu tio Alec que me recebeu de braços abertos. Onde você estiver, o mais perto que eu puder estar, é onde eu vou ficar.

Fiquei um tempinho ali com ele do lado de fora sentados no meio fio de mãos dadas. Nem precisávamos dizer nada. Eu só queria desfrutar daquela sensação única, daquele momento tão desejado, daquela a proximidade tão sonhada.

— Hora do almoço crianças! – tia Jenna gritou da porta para nós. Eu e o Jesse nos viramos para trás. — Olá. Vem almoçar com a gente namoradinho da Hayley.

Ela sumiu. Fechando a porta.

— Me desculpe por isso. – eu disse totalmente constrangida. Minha tia não tem jeito. Ela é assim. Sempre arruma um jeito de fazer graça de tudo mesmo que pra isso ela tenha que deixar com vergonha.

— Tudo bem, Hayley. – ele sorriu todo gracioso. — Mas quem é ela? Eu nunca a vi antes.

— Minha tia Jenna. – levantei-me tirando a sujeira do jeans. — Vem! Vai querer almoçar conosco?

Ele aceitou o convite.

— Jesse! – mamãe veio recebe-lo com um largo sorriso e uma abraço carinhoso assim que adentramos na cozinha onde todos já estavam a mesa só esperando o almoço ser servido. — Que bom te ver! Sente-se.

Antes de se sentar o Jesse educadamente cumprimentou a todos: meu pai, meu irmão e a minha tia que não parava de sorrir.

— Tia, só pra constatar, o Jesse não é meu namorado.

— Não ainda. – ela rebateu, sem nos olhar.

Durante o almoço a campainha tocou. O primeiro a levantar foi o Oliver saindo em disparada em direção a porta.

— Oi família! – A Amy cantarolou aparecendo ao lado do Oliver de mãos entrelaçadas.

— Família – o Oliver deu um passo à frente antes da Amy sair do lado dele para cumprimentar a todos. — queria dizer oficialmente, aqui, diante de todos, que eu e a Amy estamos namorando.

A primeira reação dos meus pais - que ainda não sabiam - foi de surpresa, já a tia Jenna nunca pareceu tão contente. Meus pais precisaram processar aquela informação por dez segundos, e só aí, que eles voltaram a sorrir. Um sorriso que ia de orelha a orelha. Papai sorria mais que a mamãe. Mamãe levantou-se da mesa só para abraçar a Amy.

— Isso é maravilhoso! – papai finalmente conseguiu dizer. Levantou-se, foi até a sala rapidamente, e depois voltou com uma de suas garrafas de vinho especiais. — Vamos comemorar!

— Eu também tenho uma novidade pra vocês, filhos. – mamãe disse após o termino do almoço. Eu parei de lavar a louça pra prestar a atenção no que ela iria dizer. O Jesse que estava secando a louça também parou.

A Amy estava limpando as coisas sobre a mesa e Oliver tentando ajuda-la, mas ele não leva jeito pra isso. É muito pior que eu.

— Quando terminarem quero que vocês venham comigo a um lugar.

O lugar que ela queria nos mostrar era a sua nova Confeitaria, que ela abriu com sua sócia, a Dona Carlota. O lugar é todo bem decorado em tons de rosa claro e azul bebê e branco. Na rua de trás da minha casa. É como um Café, tem mesinhas e cadeiras confortáveis para se sentar, um balcão repleto de doces enfeitados, serve café, chá ou suco natural. Um ótimo lugar para se conversar com uma pessoa especial. Mas a principal especialidade são os bolos para encomenda, de todos os tipos.

— Mãe, isso é incrível! – tive que abraçá-la. Estava completamente emocionada por ela ter progredido. — Parabéns!

Passamos o resto da tarde ali, comendo aquelas incríveis guloseimas. Só me levantei quando o Jesse anunciou que tinha que ir embora, o céu já estava começando a escurecer.

— Eu vou com você. – disse a ele. Nos despedimos do pessoal que continuou na Confeitaria e voltamos caminhando para casa.

— Foi ótimo passar o dia com você. – ele quebrou o silêncio, me olhando de relance enquanto sorria.

— Eu também gostei. – sorri meio tímida. — Queria poder continuar aproveitando o resto do dia com você.

— Seria bom. Mas não posso abusar. Meu tio não pode ficar o tempo todo sozinho enquanto eu estiver aqui...

Ele parou de falar. Segui a direção de seus olhos... E lá estava tia Jenna conversando naturalmente com Alexander em frente de casa. Eu nem lembrava do exato momento em que ela saiu da Confeitaria.

— Acho que ele já está muito bem acompanhado.

Nós rimos. Mesmo assim, Jesse se despediu de mim, com um beijinho no meu rosto.

— Preciso ligar para o pessoal da banca e combinar os ensaios. – ele se justificou. — Nos vemos amanhã.

Não fiquei triste pelo fato dele ir embora antes do dia acabar. Pelo contrário, fiquei feliz por lembrar que eu poderia vê-lo amanhã e depois de amanhã, por um tempo indeterminável, já que ele está hospedado na casa do tio de frente pra minha.

Ignorei a minha tia ainda conversando com o tio do Jesse como se não tivesse m nos visto. Entrei em casa, a casa vazia, e subi diretamente para o meu quarto. Fechei a porta e me joguei sobre a minha cama aproveitando o silencio da casa enquanto pensava no Jesse.

Meu único desejo nesse momento, tirando todas as preocupações com o meu futuro, era que eu e o Jesse tivéssemos as melhores férias de verãos de nossas vidas.

— Hayley – a Amy entrou no meu quarto sem nem bater na porta. — sua tia vai pedir pizza. Vem comer com a gente.

As coisas não poderiam estarem melhores. Todos na minha casa – exceto o Jesse – reunidos na sala de estar devorando as pizzas que tia Jenna pediu pelo telefone com a Coca-Cola e dando muita risada.

Depois do jantar a Amy deu um tempo com o Oliver para me ajudar a acomoda-la em meu quarto. Eu também precisava desfazer minha malas e dar espaço no meu guarda-roupa para ela colocar suas coisas. Terminamos nossa organização quase meia noite. Todos já tinham ido para seus quartos e a casa estava silenciosa. Deitei na minha cama pronta para dormir. Me sentia exausta. A Amy também deitou no colchão ao lado da minha cama e desligou o abajur.

— Hayley, preciso te dizer uma coisa. – ela quebrou o silêncio. Dez minutos depois. Eu tentava a todo custo pegar no sono, mas só conseguia pensar no quanto eu gostaria de estar com o Jesse naquele momento.

— Então diga, Amy. – novamente acendi o abajur que iluminou boa parte do meu quarto e do rosto dela.

— Seu irmão pediu pra eu dá uma fugidinha e ir dormir com ele lá no quarto dele. Tudo bem pra você se eu for agora?

— Claro que sim, Amy. – sentei-me sobre a cama. — Mas por favor, tome cuidado com meu irmão, ele é muito espertinho quando quer. Não faça nada que não queira.

— Sem problemas. Eu vou me cuidar. – ela também se sentou. — E não pense em besteiras... Não vamos fazer nada disso.

Ela então se levantou, abriu a porta devagar para não fazer barulho, já que meus pais não poderiam nem sonhar com aquilo, e acenou antes de sair. Mas então tive uma ideia e chamei por ela.

— Leve a chave com você. Tranque a porta. Eu também vou sair. Vou pular a janela e me encontrar com o Jesse. Quero muito vê-lo!

Amy sorriu de um jeito muito sacana, porém não disse nada. Pegou a chave, fechou a porta e trancou-a pelo outro lado para se unir ao Oliver no quarto dele.

Que casal não quer passar uma noite agarradinhos?

Antes de pular a janela do meu quarto e aterrissar no gramado eu tinha que ter certeza de uma coisa. Peguei meu celular e digitei rapidamente uma mensagem para o Jesse.

Abre a porta dos fundos. Quero muito entrar.

Alguns segundos depois ele me enviou a resposta.

Estarei te esperando.

Pulei a janela com muito cuidado, caí no gramado, levantei-me rapidamente com certa dificuldade, antes de atravessar a rua olhei para os dois lado e não vi nada, olhei para trás (pra minha casa) e também não vi ninguém me espiando, corri dando a volta na casa de Alexander, chegando aos fundos encontrei com o Jesse já me esperando com a porta da cozinha aberta, entrei e subimos silenciosamente para o quarto dele.

— Ficou maluca? – ele perguntou em um sussurro assim que fechou a porta atrás de si como nós dois já em segurança dentro do seu quarto.

— Completamente maluca por você. – sussurrei entre um sorriso e outro indo em sua direção. Colei meus lábios sem tirar os olhos dos dele. — Eu não aguentava mais esperar. Estava com saudades.

Beijamo-nos ali mesmo no meio do seu quarto. Quando cansamos de ficar em pé nos acomodamos em sua cama. Bem abraçadinhos. Com o vento noturno entrando pela janela aberta próxima a cama.

— Cadê aquele seu pijama curtinho? – ele passou a mão na minha perna. Meu pijama de hoje era um mais descente: calça longa e blusinha de alça. — Queria te ver novamente com ele.

— Safado! – dei um leve tapinha nele. Depois começamos a rir, não nos esquecendo de não poder exagerar no volume já que Alexander poderia estar dormindo. — Você não gostou desse pijama?

Fiz beicinho.

— Claro que gostei, boba. – ele me deu um rápido selinho e depois voltou a sorrir. — Você é linda de qualquer jeito.

Voltamos a nos beijar.

— Você teve notícias da Alexa? – perguntei assim que nos afastamos. Meus olhos estavam conectados aos seus.

— Não vamos falar dela agora. Ela terminou comigo, lembra? – ele me deu vários beijinhos pelo rosto. — Vamos falar de nós.

— Ah é? – um sorriso bobo brincou em meus lábios. — Vamos falar o que sobre nós? – meu coração já batia acelerado. Tive medo que ele pudesse escutar.

— Vamos falar sobre... O quanto esse dia está sendo especial. Ter você aqui, comigo, não poderia estar melhor. – o Jesse se aproximou de mim, puxando-me também mais perto dele. — Eu esperei por muito tempo para poder te beijar sem ter que ficar com a consciência pesada. – seu hálito fresco tinha cheiro de morango. — Agora não consigo parar mais.

Nem eu.

Ficamos nos beijando por muito tempo. Eu passando a mão carinhosamente em seu cabelo e na nuca e ele desesperadamente acarinhando as minhas costas e o meu braço fazendo meus pelos do corpo todo se eriçaram de satisfação.

Acordei no outro dia com a cabeça sobre seu peito. Podia sentir seu peito subir e descer suavemente. Podia também sentia os contornos do seu abdômen magro através da regata branca de tecido fino. Lembrei-me das cicatrizes no seu braço que estavam descobertos naquele momento sobre o meu corpo. Sem fazer muitos movimentos passei meus dedos pelas cicatrizes como se estivesse pintando uma tela. Quase que podia sentir a dor dos ferimentos feito pelo próprio Jesse há um bom tempo atrás. Mesmo assim, pra mim, as cicatrizes eram só mais uma das tantas partes perfeitas que constituíam o maravilhoso Jesse do qual já não sabia viver sem.


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Notas finais do capítulo

E ai, gostaram de ter os dois finalmente juntinhos? Mas ainda não é o fim, é apenas o começo.



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