Do Lado De Dentro escrita por Mi Freire


Capítulo 49
Conciliações


Notas iniciais do capítulo

Yukieok fico tão feliz em ver seus comentários. Obrigada s2



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"Sonhe e continue sonhando até o seu sonho tornar-se realidade."

Depois de nos esforçamos ao máximo para devorar as todas quinze pizzas encomendadas pela Nath, acabamos nos dando per vencidos e distribuindo os pedaços que sobraram para os primeiros que passassem por nós por mais desconhecidos que fossem.

Quando chegamos no quarto juntas, encontramos a Amy de baixo das cobertas mesmo naquele calor de primavera. Então, logo percebemos que ela ainda não estava bem e nem esperávamos que estivesse. Deitamos as três na minha cama apertadinhas, depois que liguei o ar-condicionado, com a barriga pra cima, enquanto a Amy começou a despejar sobre nós como tudo havia começado, como ela se sentia, o que ela pensava de tudo aquilo e o que ela esperava que acontecesse nos próximos dias.

Dessa vez foi mais fácil entender tudo que ela dizia, pois apesar de ainda chorar, era um choro controlado, mas que ainda assim deixava meu coração apertado por vê-la sofrendo pelo meu irmão. Mas eu não poderia culpar nenhum dos dois. Amar é mesmo muito complicado.

— Agora que ele se declarou tudo parece mais nítido, sabe? – não era exatamente uma pergunta. Concordamos com uma aceno. — Quando eu paro pra olhar pra trás, percebo que estava exatamente tudo ali debaixo dos meus olhos, mas eu não conseguia enxergar. Eu sempre gostei do Oliver, de tê-lo por perto, das nossas conversas, das brincadeiras dele, da maneira como ele me tratava me fazendo sentir especial, dos sábios conselhos, dos cuidados comigo. E agora, tenho total certeza, que eu não só gosto dele, mas também o amo. O tipo de amor que eu nunca senti antes por nenhum outro. Ele é meu primeiro amor real! Mas como ele mesmo disse, agora é tarde demais. Eu estraguei tudo!

E outra vez ela começou a soluçar descontroladamente e tentamos ao máximo reconforta-la sem saber o que dizer do achávamos sobre aquilo tudo. Mas de uma coisa eu estava certa, como eu mesma já imaginava que eles se gostavam muito mais que amigos, não era tarde demais e nunca seria. O amor sabe esperar o tempo que for preciso até que as coisas voltem ao lugar de onde nunca deveriam ter deixado de estar.

Os próximos cinco dias seguiram normalmente. A Amy ainda sofria pelo amor “perdido” do Oliver. Ele, todas as vezes que me encontrava, pergunta por ela, mas já parecia bem melhor ou disfarçava muito bem. E tudo que eu mais queria era que eles se acertassem logo de uma vez por todas. Não aguentava mais esse sofrimento. Eles são muito importantes pra mim e não tem como não sofrer juntos.

— Não chore mais, Amy. – passei meu braço pelo ombro dela puxando-a para mais perto de mim quando saímos da última aula da semana.

A minha amiga parecia tão pequena que sempre que eu olhava para ela parecia prestes a chorar – por mais esforço que fizesse para segurar nas aulas e diante das pessoas que esqueceram completamente daquela história - e quando eu perguntava como ela se sentia era então que ela chorava ainda mais. Em volta do seus olhos haviam olheiras profundas, sabia que não estava dormindo muito bem desde então e nem comendo o suficiente. A típica doença do amor.

— Chorar não vai fazer com que ele volte ou que as coisas mudem. A única coisa que você pode fazer nesse momento é ser forte e enfrentar os seus problemas. Não por ele, nem por ninguém, mas por você. Eu sei o quanto é difícil colocar um fácil sorriso e sair distribuindo por aí forçando uma felicidade que você não tem. Mas essa é a única maneira de mostrar que você é forte e tem o seu valor.

Nos abraçamos no meio do corredor sem nos importar com mais nada.

— Obrigada Hayley. – ela conseguiu sorrir pela primeira vez em dias, enquanto secava as próprias lágrimas. — Você é a melhor amiga do mundo! Não sei o que seria de mim se não fosse por você.

Quando eu não podia estar por perto para cuidar dela nesse momento em que tudo que ela precisava era de alguém, a Natalie me substituía. Ela deixou de passar o tempo só com o Eric para se dedicar mais a nossa amizade. Era uma revezamento entre nós. O que mínimo que poderíamos fazer em nome da nossa amizade.

Tirei aquela tarde para deixar a mente livre de qualquer problema. Eu me deitei no gramado do jardim e fiquei por um tempo tentando não pensar em nada enquanto observava o vento levar para longe alguns pétalas das milhares de flores a minha volta. Como uma chuva de pétalas. O dia estava lindo, insolarado e com uma brisa refrescante. Mas parecia que a qualquer momento poderia chover ou fosse só impressão minha.

Fechei meus olhos. Eu poderia dormir ali. Sentindo aquela sensação única de tranquilidade, sentindo o perfume doce das flores, os raios solares do meu rosto e a brisa serena tocar meu rosto.

— Como vão as coisas? – voltei a abrir meus olhos muito surpresa ao ouvir aquela voz. Demorou um tempo até meus olhos se adaptarem a luminosidade do dia e enxergar o Jesse deitado ao meu lado no gramado com o rosto não muito longe do meu. — Desculpe se te assustei, se estraguei seu momento ou por ser tão intrometido ao tocar no assunto.

— Não tem problema. – soltei um risinho. Remexi-me sobre a cama quando acidentalmente meu braço toca no dele. — As coisas... Vão indo a sua maneira. E você, está bem?

— Digamos que sim. – ele sorriu abertamente. — Eu liguei para os pais da Alexa. Eles acabaram de sair daqui levando ela com eles para passar o final de semana em casa. Acho que eles sabem exatamente o que está acontecendo com elas, mas não quiseram me dizer nada.

— E você tem alguma suspeita do que seja?

— Não. Não tenho. Achei que poderia ser o começo de uma depressa ou uma fase difícil. Mas parece que é bem mais grave do que isso. Algo que eu não sei lidar. – ele desviou o olhar e passou a olhar para o céu azul. — Mas não vamos falar sobre isso. Eu não me sinto bem.

— Tudo bem. Então, vamos falar sobre o que?

— Nada. Não vamos falar sobre nada. Apenas ficar aqui.

Eu podia entender perfeitamente. E ficar ali, ao lado dele, não fazendo nada e isso não me incomodava. Pelo contrário, era exatamente o que eu precisava depois daquela maratona de dia difíceis. Mesmo o simples ao lado do Jesse torna-se tudo que eu mais queria. Mas havia uma outra coisa que eu queria muito naquele momento para que ficasse ainda mais perfeito.

— Eu queria te beijar.

Pela reação de espanto do Jesse acho que ele não entendeu direito o que eu disse e eu fiz como quem iria repetir pra que ele entendesse, mas acabei me calando quando ele apoiou o cotovelo na grama e aproximou seu rosto do meu com seus olhos brilhando focados na minha boca.

— Você não imagina o quanto eu venho me segurando pra não fazer isso.

Fechei meus olhos maravilhada por ter ouvido aquela confissão diretamente da boca dele. Senti que por um momento nossos desejos estavam prestes a se realizar diante daquele cenário lindo quando...

— Hayley, precisamos conversar.

— Agora? – perguntei abrindo meus olhos e olhando bem pra ele parado na minha frente.

— Eu poderia esperar. – ele olhou bem pra mim, depois para o Jesse e voltou a olhar pra mim. — Mas não posso mais simplesmente esperar.

— Vou deixar vocês conversarem a vontade. – o Jesse se levantou educadamente, mal olhou para o Tyler – eles ainda estava muito indiferentes um com o outro desde aquela discursão diante da porta do meu quarto – mas antes de sair, sorriu lindamente pra mim e se foi.

O Tyler sentou ao meu lado onde segundos atrás o Jesse estava sentado bem ali. Fiquei me perguntando se teríamos mesmo nos beijado se o Tyler não tivesse aparecidos. E olhando com outra perspectiva, concluí que não teria sido uma boa ideia. Já que o jardim não estava vazio aquele final de tarde e todos poderiam ter visto.

— Sobre o que você quer conversar? – me sentei, limpando a minha roupa da grama que havia “grudado” em algumas partes.

— Sobre nós. Sobre o que mais seria? – não gostei em nada daquele tom de voz. Não era o Tyler ali. Na verdade há um bom tempo eu vinha percebendo que o Tyler também havia mudado.

— Então pode falar.

— Não sei o que está acontecendo entre a gente. Está tudo muito esquisito. E quando você disse que havia mudado, eu não imaginei que seria uma mudança tão radical. – percebi que ele estava um pouquinho nervoso, sem saber onde deixar as mãos paradas. Não é fácil imaginar o Tyler tendo uma conversa séria como a que está prestes a acontecer.

Do bolso do jeans ele tirou um maço de cigarro.

Iria fumar ali, diante de todos, sem se importar com a segurança?

— Você quer um?

— Não. Parei por um tempo.

Ele franziu o cenho surpreso com a minha resposta.

— Porque parou? Você nunca parou antes...

— Antes também você se preocupava mais comigo e vivia dizendo que eu não deveria fumar tanto quanto você. Pois você se importava com a minha saúde e não queria que eu tivesse o mesmo final que você.

Acho que disso ele não se lembrava. Mas eu sim, foi como se tivesse acontecido ontem e não há quase um ano atrás que foi quando eu cheguei aqui e o conheci.

— Você também era muito diferente comigo. – ele disse muito baixo sem nem olhar pra mim. Parecia chateado, aborrecido ou decepcionado.

— Tudo era muito diferente. E agora mudou. Porque tem que mudar. As coisas não são como são pra sempre.

— É, você tem razão. – ele ergueu o olhar novamente pra mim. — Acho que eu não tenho sido um bom namorado. Sou implicante, ciumento, grosseiro, egoísta e um verdadeiro babaca. Mas eu só queria que você entendesse, que isso tudo, é medo. Por medo te perder você. Por medo de deixar de ter importância ou significado pra você.

— Tyler... Não. Nunca. Aconteça o que acontecer você não vai deixar de ser importante pra mim. – toquei seu rosto. Sentia muito pena dele – talvez pena não seja a palavra correta – mas ele parecia mesmo muito tristinho. E não suporto – não mais – ver as pessoas tristes. Tenho vontade de abraçar, acarinhar, cuidar e proteger. — Eu gosto você.

— Esse é o problema, Hayley. Você não entende. – ele se afastou parecendo ferido por meu toque. — Você só gosta de mim... Mas eu amo você. E não suporto mais te ver com esse Jesse. Vocês parecem tão íntimos, tão próximos, como se tivessem uma ligação especial, uma sentimento que compartilham em segredo...

Fiquei sem saber o que dizer. Fiquei sem respostas. O Tyler estava certo em alguns sentidos. Eu não o amo. E nunca vou ama-lo. Eu já amo o Jesse. E ainda amo o Brandon. Mas não posso amar o Tyler. A culpa não é dele.... A culpa é toda minha. O problema sou eu. O defeito está em mim.

Eu não deveria está sendo injusta com ele. O Tyler merece encontrar uma garota que o ame inteiramente. E não pela metade como eu. Apesar de tudo, ele é um garoto maravilhoso. Tem lá seus defeitos. Mas quem não tem? E agora eu estou com ele, tomando o tempo dele, impedindo-o de conhecer outras garotas, outras pessoas, ter outras experiências ao invés de ficar amarrado a mim.

Mas pensando por outro lado... Não é como se ele não quisesse estar comigo. Ele quer estar comigo. Ele gosta de mim! E eu não quero faze-lo sofrer e nem ferir seu coração. Mas preciso agir. Pois acima de tudo eu quero a felicidade dele. Nem que pra isso eu tenha que machuca-lo nesse instante. Mas eu sei que ele vai se recompor e superar.

— Não me olhe com essa cara. Não vim até para terminar com você. E nem quero que você termine comigo. – ele pegou minhas mãos para segura-las olhando bem no fundo dos meus olhos. — Você é incrível. E eu farei de tudo para estar com você. Você pode até não me amar ainda... Mas há possibilidades que isso venha acontecer no futuro. Por você eu espero, Hayley. Vou te conquistar, fazer de tudo por você. Serei compreensível, esforçado e tentearei me segurar ao máximo para não estragar as coisas.

Ele me deu um selinho todo carinhoso.

— Eu prometo. Vou fazer você feliz.

Não houve tempo para que eu dissesse mais nada. O Tyler realmente não estava facilitando se essa era sua intenção. Eu estava prestes a tomar a decisão que seria a melhor para nós dois e ele, simplesmente, contornou a situação com lindas palavras e gestos de carinhos. Tem como dizer alguma coisa depois de tudo isso? Não, eu não posso. Ele é mesmo muito especial pra mim.

— Muda essa cara. – Amy disse assim que entrei no quarto naquele comecinho de noite, após ter passado um bom tempo refletindo sobre tudo. Ela estava sorridente, perfumava e bem arrumada.

Estava caindo uma chuva fininha lá fora.

— O que aconteceu aqui? – olhei pra ela e depois pra Nath sentada na minha cama como uma expressão todo empolgante. O que foi que eu perdi? Continuei a olhar pra elas em busca de alguma explicação.

— Chega de esperar. Não posso ficar aqui chorando, sem conseguir dormir ou sorrir esperando que simplesmente as coisas mudem. Chegou a hora de agir. Chega de tempo. Já tive tempo demais para pensar sobre isso. A Nath me ajudou. – ela quis dizer que a Nath a ajudou a recuperar autoestima com a produção da básica maquiagem e na escolha da roupa simples. — Não vou deixar que seu irmão me chame de burra outra vez. Vou até lá conversar com ele. Porque não. Não é tarde demais.

E ela saiu, toda decidida, pisando firme no chão.

— E que pelo amor de Deus ela não volte com o coração ainda mais destroçado. – eu disse a Natalie após a Amy ter saído. — Não quero ter que matar meu próprio irmão. – consegui sorrir. — Que tal se a gente fizesse uma pequena oração?

A Natalie caiu na risada. E eu tive que rir juntos. Eu não estava brincando, mas foi mesmo engraçado. Eu orando? Não que eu não acredite na força superior. Mas orar por aquilo? Não tinha o menor cabimento. Esses dois – digo, Amy e Oliver – são grandinhos o suficiente para se resolverem.

— Vai ficar aí? – a Natalie se levantou após ter se recuperado da crise de gargalhadas. — Eu vou jantar com o Eric. Você vem?

Não tive que segurar vela e nem nada do tipo. O Tyler assim que me viu entrando no refeitório fez questão de tentar me convencer de ir jantar somente eu e ele. O bobo até fez questão de dar comida na minha boca – o que é ridículo – mas depois da nossa conversinha eu até deixei. E riamos o tempo todo, porque aquilo, definitivamente não tem nada a ver com ele.

— Que tal agora uma voltinha pelo jardim? A chuva até passou.

De mãos dadas caminhamos pelo jardim ainda muito úmido enquanto o Tyler tagarela sobre como fora o seu dia – tirando a parte da nossa conversinha – em especial, dando muita ênfase, no treino com o time.

Quando finalmente ele fechou matraca, virou-se de frente pra mim ainda segurando minhas mãos, e abaixou a cabeça para me dar um beijo daqueles de cinema.

— Quer fazer o que agora? Podemos continuar andando pelo jardim, ou ver tevê na sala de estar, jogar no salão de jogos ou...

— Tyler. Não. Não precisa disso. – eu sorria. — É tudo muito lindo, vem você se esforçando pra me agradar. Mas você não precisa disso. Basta agir normalmente e eu vou gostar de você do mesmo jeito.

Para o meu alivio ele não levou a mal meu comentário.

— Porque você não vai se encontrar com o seus amigos? Durante o jantar eu ouvi o Jake, na mesa ao lado, comentando sobre vocês irem jogar baralho no salão de jogos. – dei de ombros. — Você pode ir se quiser.

— Mas e você?

— Tyler – dei um selinho nele. — Eu vou ficar bem.

Ele sorriu lindamente.

— Você é a melhor namorada do mundo!

Antes de sair correndo todo animado para se juntar aos amigos, me deixando ali, ele me deu um último beijo. Sem muitas opção do que fazer dali em diante já que a Nath não desgruda do Eric e a Amy ainda deve estar tentando se entender com o meu irmão, eu sabia exatamente pra onde eu queria ir: a sala de música.

E lá estava ele com o piano que parecia ter sido feito especialmente pra ele.

— Sabia que te encontraria aqui. – é intrigante a forma como eu sempre sei, pensei. — Você lidar melhor com a música quando a Alexa não está por perto.

— A verdade é que – ele deu um espacinho para que eu me sentasse ao lado dele. — eu lidou melhor com a música quando você está por perto.

Sorri sentindo o rosto enrubescer.

— Quer que eu toque alguma coisa pra você?

Seus olhos âmbar estava mais que hipnotizantes.

— Se você quiser pode tocar pra mim pra sempre.


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