Do Lado De Dentro escrita por Mi Freire


Capítulo 25
Natal




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"Às vezes não parece, mas você é adorável, garota. E se o mundo não tem dado a mínima pra você, o azar é do mundo, e não seu.”

Olhava-me no espelho e me sentia tão estranha e desconfortável como da vez que me fantasiei de dama mascarada da festa do internato.

— Você está linda Hayley! Sua mãe fez uma ótima escolha.

Mamãe me deu um vestido branco muito delicado de tecido fino que vai até a metade das minhas coxas. Como faz frio nessa véspera de natal, com a ajuda de Amy, coloquei uma meia calça preta. Para os pés, usava meus velhos coturnos pretos de cano médio e para cobrir os ombros um casado preto, que deixei aberto para mostrar o vestido.

Eu nunca uso vestido. Essa é a segunda vez que eu me lembre.

— Você também está muito bonita, Amy.

Ela trajava um vestido cor pêssego não muito curto. Sapatos fechados, pretos e altos. Os cabelos curtos retos e os óculos de grau. A pele delicadamente maquiada e perfumada. Perfume de rosas.

A mesa na sala de jantar parecia pequena repleta de comida, bebidas e enfeites natalinos. Mamãe colocou música clássica para tocar de fundo, o que me lembrou os pais de Jesse, apesar de nunca ter os conhecido. E o quanto pra ele - Jesse– acima de tudo, essa noite era feliz e triste ao mesmo tempo. Como também para Alexander que perdera a esposa que tanto amava.

Talvez eu fosse mesmo um tanto mal agradecida. Já que tenho tudo que preciso bem a minha frente: pai, mãe, irmãos e amigos.

A campainha tocou me fazendo estremecer. Lucy e Peter fizeram questão de saudar as visitas para a noite tão especial para todos. Até mesmo pra mim, que muitos acham que tenho o coração feito de pedra.

Jesse e Alexander.

Eles cumprimentaram a todos com embrulhos em mãos. Jesse um pouco mais a vontade como se fosse de casa. Já Alexander mais receoso, provavelmente se sentindo um pouco deslocado com a ocasião.

Olhando pra Jesse de longe vi o quanto ele sempre conseguia estar bonito. Com o sorriso encantador, a boa combinação de roupas, os cabelos dourados ajeitados. E sempre bem perfumado.

— Aliás, você está ainda mais bonita essa noite. – ele disse no meu ouvido, para que só nós pudéssemos ouvir. Enquanto ele beijava meu rosto em um cumprimento formal. Senti um leve tremor percorrer meu corpo ao ouvir o som da sua voz tão de perto e o contato da sua bochecha na minha.

Todos estavam olhando para nós.

— Alexander, aceita um taça de vinho tinto? – mamãe rompeu o silencio sempre tão graciosa quando vestida bem para a ocasião especiais.

Alec aceitou, sentando-se no sofá junto de toda a família. Nós, mais jovens, permanecemos em pé, calados um do lado do outro.

— Quer que eu guarde isso pra você? – Amy falou com Jesse, sobre os embrulhos que ele segurava. Ele assentiu educadamente.

Amy, muito mais familiarizada que o esperado, subiu para levar os embrulhos lá pra cima. Oliver, se dispôs a ajuda-la.

— Quer comer alguma coisa? – perguntei a Jesse, para quebrar o silêncio. Fomos até a sala de jantar, vazia, e sentados e uma das cadeiras de vime perto da única e grande janela.

— Sua irmã é muito bonita. – Jesse observou, levando um petisco até a boca para saborear. — Vocês não se parecem em nada.

Levei isso como um elogio.

— Beth é a toda certinha, a santa da família, mãe de família, dona da casa, estudiosa, trabalhadora, esposa dedicada. Nada que se iguale a mim, a filha rebelde, revoltada, estranha, respondona, desajeitada.

— Eu não acho que você seja nada disso. – Jesse me olhou de canto, com um sorrisinho muito bonito. — Você é bonita a sua maneira.

Não contive o sorriso. Jesse sabe sempre o que falar, ele sabe se expressar, escolhe as palavras certas, e por mais irritante que ele seja em algumas ocasiões, ele é especial e muito sábio. Um galanteador.

Amy e Oliver, mais próximos do que eu poderia imaginar, se uniram a nós, sentando-se próximos. Amy passou a dividir um cacho de uvas verdes com Oliver, incrivelmente bonito aquela noite com uma jaqueta preta.

Os adultos se divertiam na sala. Alec já estava bem mais a vontade conversando com Joseph e papai sobre “coisas de homem”. Mamãe e Elisabeth riam do desempenho de Peter e Lucy que dançavam e faziam graça – coisas de crianças inocentes – no meio da sala.

— Seu irmão não é de todo mal. – Jesse meio que sussurrou, para Amy e Oliver não ouvirem. Oliver fazia piadas e Amy se debruçava de tanto rir. — Como eu pensei que fosse. Pelo que você falava...

— Ele não é isso que está sendo agora. Oliver não é esse garoto. Oliver é o oposto disso. Ele está mudado de uns dias pra cá. Não entendo. Acho que está tentando chamar a atenção.

— Especialmente de Amy. – Jesse soltou um risinho. Olhei para o meu irmão e minha amiga. Será que Jesse tinha razão?

— Você acha mesmo? – arqueei uma das sobrancelhas. Ele assentiu risonho. — Talvez seja. Talvez não. Ou ele está tramando alguma coisa...

Parei pra pensar em exatamente o que. Talvez destruir o coração de Amy? Iludi-la? Decepcionar papai e mamãe de alguma outra forma ainda pior? Atingir-me? Seja lá o que for que ele esteja tramando, não vou deixar que machuque as pessoas que amo. Especialmente a Amy, que é agora, mais do que nunca, minha melhor amiga.

— Vem! Vamos falar com o meu tio. – Jesse me puxou pelo braço, fazendo meu vestido levantar. Sou muito desajeitada. Não sei me portar como uma mulher deve se portar. — Ele precisa te conhecer melhor.

Interrompemos Alec no meio de um risada agradável que me fez ter um pingo de esperança que ele pudesse gostar de mim sem rancor em relação ao passado. Quando ele viu que nós nos aproximávamos de mãos dados logo parou de sorrir e endireitou a postura mostra-se sério.

— Tio Alec – Jesse soltou a minha mão. Desejei que ele não tivesse soltado. Eu nunca estava preparada. — Essa é a Hayley – ele riu. — Eu sei que vocês já conhecem. Mas tio, eu preciso, que você conheça essa Hayley de agora. A do passado ficou pra trás...

— Oi. – Amy surgiu entre nós, de uma maneira muito atrevida. — Queria saber se vocês queriam algo pra beber? – ela olhava para os dois, e não pra mim. Será que Oliver havia contaminado Amy?

— Não. Obrigado querida. Você é muito simpática!

Amy abraçou Alec de um jeito assustadoramente familiar. Tanto eu quanto Jesse ficamos surpresos com a harmonia que envolvia ambos.

— Então tio, como eu estava falando – Jesse prosseguiu, após Amy ter ido embora dali. Eu estava uma fera com ela. Motivos? Não sei bem dizer. Ela fora tão inconveniente. — quero que vocês conversem por um momento. Só os dois. E se entendam. Essa noite parece ótima pra isso, não é mesmo? Bom, eu vou ali. Já volto. Conversem! Estou de olho.

Jesse me deixou ali, diante de Alec, sem saber ao certo como agir. Digamos que eu não seja muito sociável, ainda mais, com adultos que expõem no rosto o quanto não gostam de mim.

— Alec, eu só queria...

— Não diga nada. – ele me rompeu de maneira muito fria. Engoli em seco, arrependida de estar ali e por um momento ter acreditado que isso daria certo. O culpado é o Jesse! — Veja só... Olhe pra eles.

Virei-me para olhar. Alexander estava falando de Amy, Jesse e Oliver. Os três em um canto dando risadas animadoramente. Qual teria sido a piada? Não importava. O que realmente me chamou a atenção naquela cena, era a maneira como Amy olhava para Jesse e meu irmão. Alternadamente, muito confusa.

Por um momento, cheguei a acreditar, bem lá no fundo, que Amy estaria se apaixonando pelo meu irmão. Ou algo muito próximo a isso. Mas outras vezes, como agora, olhando pra eles, podia ver claramente em seus olhos o quanto ele estava perdida. Era como se tentasse se desprender do Jesse, de todo o encantado que ela criou em volta daquela história, mas não conseguisse. Imagino o quanto seja difícil.

— Eu me lembro da primeira vez que achei que estava apaixonado – Alec voltou a falar, chamando minha atenção. — Era tudo tão magico, que eu cheguei a acreditar que aquilo era a coisa mais valiosa de toda a minha vida. Mas não foi. E sabe porque? Porque a garota por quem eu estava apaixonado, por mais que eu quisesse acreditar que sim, não chegava nem perto de ser a garota certa pra mim. Todos conseguiam enxergar isso, menos eu, porque estava cegamente apaixonado.

Porque ele estava dizendo tudo aquilo?

— Uma garota certa para um homem, é aquela que sabe se portar em todos os momentos. Independentemente da ocasião e das circunstancias. A garota certa é aquela que todas admiram antes mesmo de conhece-la, é aquela que faz todos sorriem por ela ter um encanto próprio, entende? Uma coisa que é só dela. Nasceu com ela. A garota certa é aquela que trata bem a todos e age, todo o tempo, de bom coração...

Entendi. Entendi pouco a pouco porque estava dizendo tudo aquilo e porque pra mim. Porque, Alec, como muitos outros, acham que eu não sou o tipo de garota suficiente para um garoto. Exatamente os mesmo problemas que enfrentei quando namorava o Brandon. E que ele deu a entender, é que a garota certa é como Amy, talvez Natalie e como um dia fora Beth. Mas não como eu sou, porque eu não sirvo pra nada além de atrapalhar.

Não conseguir ouvir mais nada. Não estava com raiva de Alec por tudo que ele disse. Ele tinha razão em tudo que dissera. Claro que tinha. Meus próprios pais devem achar o mesmo de mim.

Subi correndo pro meu quarto sentindo as lágrimas dificultarem a minha visão. Antes de conseguir fechar a porta, um objeto, ou algo me impediu. Na verdade, era um pé. O pé de Jesse.

— O que aconteceu Hayley? – ele entrou no meu quarto se direcionando a mim. Virei-me de costas, para evitar que ele pudesse enxergar a minha fraqueza. — Eu vi quando... Quando você correu. Foi alguma coisa que meu tio disse?

— Não! Não é nada disso. – respondi alto, com a voz alterada pela tristeza e pela fúria. — Saia daqui, Jesse. Deixe-me em paz por um momento. Eu preciso ficar sozinha.

— Nada disso! Eu fico. Vou ficar bem aqui, parado, esperando até que você possa me contar toda a verdade.

Certo. Ele venceu. Não havia outra saída. Joguei-me sobre a cama, mesmo sentada, escondendo meu rosto de lágrimas sem me importar com sua presença. Eu não poderia contar a verdade, pelo próprio bem do Jesse.

Porque sempre as mesmas coisas têm que acontecer logo comigo?

Ao invés de Jesse, Brandon quem deveria estar ali para me emparrar e me fazer sentir especial outra vez. Porque eu sou especial. Mesmo que pouco, eu sou. De alguma forma, sinto que sou. E Brandon sabia exatamente me fazer sentir única e exclusiva. Como se mais ninguém nesse mundo fosse melhor que eu. Porque ele me tornava alguém melhor.

— Escuta aqui – Jesse sentou ao meu lado, com a mão no meu ombro. Impressão minha ou ele estava tremendo? — Você não vai me dizer o que aconteceu, não é? – não respondi. — Tudo bem. Eu já sei. Apenas me ouça: seja lá o que tenha acontecido, pelo menos você tentou. E isso me orgulha bastante. Você tentou. Por mim e por você.

— Não é verdade! – consegui erguer o rosto outra vez. — Isso é tudo culpa sua! – elevei o tom de voz. Nervosa. — Você praticamente me forçou a ir falar com ele. Mas ele nunca vai gostar de mim! Entenda! Pare com isso Jesse. Pare de dizer o que posso ou não fazer. Pare de dizer o que é certo ou errado. O que você gosta ou não. Porque essa sou eu. Você está me vendo de verdade? Ou apenas me olhando?

Jesse abriu a boca para dizer algo, mas acabou não dizendo nada e voltou a fecha-la. Apenas abaixou a cabeça e fitou as próprias mãos largadas sobre o colo. Ele refletiu por um pequeno momento. E eu, tentava a todo custo me livrar das lagrimas.

Sinto falto de Brandon. Todo o tempo. Ainda mais agora. Ele era perfeito em tudo que fazia e isso de alguma forma fazia de mim querer ser alguém como ele. Passamos alguns natais juntos, poucos, mais tivemos sim a oportunidade.

Essas datas são tão melancólicas que me fazem lembrar dele mais que o normal. Porque queria, mais que tudo na vida, que ele estivesse ali ao meu lado. Se ele estivesse aqui, nada disso estaria acontecendo agora. Não haveria bagunça, confusão, choro e nem a falta de explicações ou palavras. Tudo seria perfeitamente normal e bom.

Já tive natais sem ele após a sua morte. Não dei importância para nenhum deles. Nem festejei. Foi como só mais um dia qualquer. Mas agora, nesse momento, tudo parecia tão fora de ordem.

Porque Jesse estava ali? Porque dizia tantas coisas? Porque logo ele? Porque não poderia ser qualquer outro menos complicado? Porque tão certinho sempre? Porque tão parecido e ao mesmo tempo tão diferente de Brandon?

— Sabe, eu sei, não pergunte como, mas sei. Aconteceu alguma coisa no seu passado que foi muito forte pra você. Um trauma talvez ou um acontecimento marcante. E hoje, é uma noite tão simbólica, e mais que tudo na vida, você só queria que as coisas fossem diferentes e melhores. Mas não pode. Não pode mudar o passado, o que aconteceu. E isso te entristece, porque me entristece também. Olha só pra mim! – ele puxou meu rosto devagar, com a ponta dos dedos. — O que eu tenho? Alguns poucos amigos e um tio. E onde estão meus pais quando eu mais preciso deles? Eles se foram... E o que eu sou sem eles...?

Lágrimas invadiram os olhos de Brandon. Eu pude ver, mesmo que os meus olhos também estivessem cheio de lágrimas. Ele sentia muito, tanto quanto eu. Ou ainda mais. Se eu estava me sentindo mal, não parei pra pensar nem por um segundo, e ele? Como se sentia diante de tudo aquilo? Afinal, ele perdeu os pais e não há nada que eu pudesse fazer ou dizer que pudesse reverter essa situação.

— Sempre que as coisas ficam difíceis eu tento, a todo custo, pensar em coisas boas. E tudo que me vem à mente nesse momento: é você e a noite que sua família me propôs. Eu poderia estar em casa com meu tio. Só nós dois. Mas eu estou aqui, porque não há outro lugar nesse mundo que eu gostaria de estar além daqui. Aqui. Com você Hayley.

— Jesse...

— Não. Espera. Deixa-me terminar. – ele sorriu fraco. Com lágrimas já escorrendo do canto dos olhos. Não pude evitar de chorar ainda mais agora que ele estava chorando também. — Eu já te disse o quanto você está ainda mais bonita essa noite?

— Disse. Não com essas palavras. Mas disse.

— Então, vou repetir – ele sussurrou: — você está linda essa noite Hayley Collins. E eu estou tão feliz de estar aqui com você. Acredite...

A ponta do seu dedão desenhou os traços da minha boca. Seus olhos muito fixos nos meus. Não queria fechar os olhos e me perder do clarão dos olhos dele. Mas não resisti à vontade de me entregar à maciez do seu toque aveludado por meu rosto. Da aproximação da sua boca na minha, sua respiração acelerada arrepiando cada centímetro do meu corpo.

— Estou interrompendo alguma coisa? – ouvimos uma voz que vinha da porta escancarada do meu quarto. Amaldiçoei em palavras, mentalmente, seja lá quem fosse essa pessoa que acabou de aparecer ali.

Nada além de um abajur e minhas luzes natalinas iluminavam o cômodo. Por isso, não podemos ver muito bem quem era. Não tínhamos com o que se preocupar quanto a isso. Só tivermos que nos afastar.

— Hayley? – reconheci a voz. Tyler. Levantei-me surpresa. — Hayley! Eu senti tanto a sua falta! – ele me apertou forte em seus braços. — Como você está? O que está fazendo aqui? A festa lá em baixo está...

Não ouvi mais nada. Apenas vi Jesse indo embora.

Deu meia noite. Hora de trocar os presentes. Fizemos um meio circulo na sala de estar. Tyler ao meu lado. O que era bom, poder vê-lo depois de um bom tempo e ruim, por ele ser quase uma muralha, entre eu e Jesse. Os presentes estavam sobre o tapete no centro da sala, perto da arvore de natal que brilhava com luzes coloridas.

— Eu começo – Tyler disse em voz alta. Todos pararam para poder ouvi-lo e olhar pra ele. — Não tive tempo de comprar presentes a todos e nem sabia que haveria tantas pessoas aqui essa noite – todos soltaram risinhos. — Por isso, trouxe esse único presente: para você Hayley.

Não fiquei surpresa. O presente era uma linda jaqueta de beisebol preta com mangas e detalhes brancos.

— Eu pensei em mandar bordar meu nome nas costas – Tyler prosseguiu. Com os olhos brilhando. — mas então, lembrei-me que se eu o fizesse, você me comeria vivo.

Todos riram. Tyler é um bobinho. Enfim, eu acabei gostando do presente. É bem a cara dele.

Tive pouco tempo para comprar os presentes ainda aquela tarde depois de deixar Jesse e as crianças lá fora brincando. A minha mãe eu dei um vinil muito antigo dos Beatles. Ela adora. Ao meu pai dei uma camisa xadrez que é bem o tipo dele. A Amy um ursinho cor-de-rosa. Ao meu irmão eu dei um joguinho, daqueles bem bobos, ele adora. Porque eu sei. Pois apesar dele ser todo durão, Oliver é uma criança por dentro. A Beth e Joseph eu dei um livro para casais. Peter e Lucy ganharam brinquedos muito infantis e tem também Alec, um dos últimos, dei a ele flores, porque sei que ele adora. Para Jesse uma caderneta com aspecto rústico, meio antigo, para ele escrever e guardar suas canções e pensamentos.

A troca de presentes foi bem agradável e animada. Conseguir rir apesar de sentir a tensão pesada entre eu e Alexander.

De todos os presentes que ganhei de diversos tipos, confesso que me surpreendi com Jesse, por ele ter me dado um mini baú de madeira, médio, pintado com verniz e decorado por estrelas.

— Desculpe Tyler. Não comprei nada pra você. – disse após a ceia. Já havíamos comido o bastante. Agora, estávamos na varanda do lado de fora, sentados lado a lado. — Não sabia que viria.

— Pensou que eu não viesse, não é mesmo? – ele sorriu, apertando firme a minha mão. — Eu vim. Eu disse que viria, não disse? E também porque, senti muito a sua falta. Muito mesmo.

Ele falava sério. Pude ver pelo brilho em seus olhos esverdeados.

Conforme abríamos a boca para falar algo, uma densa fumaça saia de dentro de nós como se estivesse fumando um cigarro. Sorrimos um para o outro pensando na mesma coisa. Pensei que Tyler tiraria de dentro de um do bolso um maço de cigarros. Mas não. Ele apenas se inclinou para mais perto do meu rosto e me beijou. Foi estranho a principio. Diferente.

— Posso ficar aqui? Essa noite. Não tenho para onde ir. Minha casa fica muito longe daqui. Pensei que pudéssemos dormir juntos...

Oliver foi o primeiro a desaprovar a ideia.

— Me desculpe. No meu quarto ele não fica.

— Posso dormir no sofá...

— Nada disso! – dei um passo à frente, decidida. Não deixaria Tyler na mão. — Eu fico aqui em baixo e você dorme no meu quarto.

— Hayley, eu posso ficar no seu quarto. Tyler pode dormir no quarto de hospedes. Tudo bem pra mim, se tiver pra você também.

— Isso! Boa ideia Amy. – mamãe gostou.

Estava ficando cada vez mais tarde. Todos pareciam visivelmente cansados. Exceto Tyler. Alec já tinha ido embora, sem ao menos se despedir de mim. Não que eu fizesse questão. Pelo menos Jesse ficou conosco. Mesmo que não tivéssemos ficados sozinhos nem por um momento desde a interrupção do nosso quase beijo no meu quarto. As crianças já tinham ido dormir. Na minha casa há dois quartos de hospedes. Um deles pertence à Amy, mas que agora é de Tyler. O outro fica pra Elisabeth, Joseph e os filhos.

— O baú que te dei tem um significado especial – estava acompanhando Jesse até a porta. Ele já estava de partida. — Mas não quis dizer nada na frente dos outros. Só quero que saiba que, quero que guarde dentro dele tudo que estiver relacionado a nós. Somente a nós.

Jesse beijou meu rosto.

— Boa noite, Hayley. E, feliz natal. – não sei porque, mas senti que de alguma forma Jesse estava mudado. Parecia distante e tristonho.

Fiquei de longe, observando-o se afastar cada vez mais em direção à casa do tio do outro lado da rua. Contive meu impulso de correr atrás dele e pedir para que ficasse mais um pouco. Antes de entrar, Jesse acenou de longe e sumiu na escuridão.


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