Antes de perder meus poderes, antes de largar as esperanças, antes de morrer, sabe no que eu pensei? No meu primeiro dia de neve.

De repente tenho oito anos, estou no meu quintal encarando o jardim que já foi tão verde da grama, e que agora tem uma capa branca cobrindo tudo que vejo. Eu ando devagar rezando para a minha mãe não acordar, pois vai ficar muito brava se me ver fora da torre, mais eu tinha que ver como era. Eu ando ate a luminária solitária no meio do jardim, e fico ali.

Antes que eu perceba, vários flocos de neve estão caindo em cima de mim, devagar, enfeitando a noite. Hipnotizada, eu tento pegar um, mas eles fogem da minha mão. Então eu tiro a minha luva e estendo a mão para tentar de novo. E consigo. O floco que pego é lindo e único. Tão pequeno, indefeso e frágil quanto eu.

Alguém segura a minha mão, tirando-me do transe. Eu olho para cima, é um garoto, mais velho que eu. Não consigo ver parte de seu rosto, pois ele esta de jaqueta com capuz, mas consigo ver seu sorriso, e é pra mim.

Eu confiei nele, pois de algum jeito, eu sabia que ele não iria fazer mal nenhum para mim.

Ele esticou a mão para mim revelando um colar. O colar tinha um cristal em forma de floco de neve. Eu o peguei e sorri para o garoto em agradecimento. E fiquei encarando o grande cristal.

Agora que eu cresci eu entendo, eu sou um floco de neve. Eu fui feita nas nuvens, tenho minha própria forma, diferente de qualquer outro floco. E agora, como qualquer outro floco, eu tenho que cair. Em direção ao buraco fundo e escuro, para poder salvar o inverno.

Antes de perder meus poderes, antes de largar as esperanças, antes de morrer, sabe no que eu pensei? Em você.