Wings, Um Anjo Em Minha Vida escrita por Nynna Days


Capítulo 14
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

RE-CO-MEN-DA-ÇÕES

Sim, eu recebi mais DUAS recomendações. Aiiiii, quero agradecer a todos que comentaram e a Rarah e a Srta. Malvadeza pelas recomendações. E espero que não sejam as últimas, de verdade.

Ah e que bom que ficaram ansiosos para esse capítulo. Como eu disse nos comentários, esse é o meu capítulo favorito. E gente, eu já escrevi o primeiro capítulo de Light, a continuação de Wings. E espero que vocês acompanhem.

Aproveitem o capítulo.



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Apreensão tocou cada uma das minhas penas ainda ocultas. Meu coração estava disparado embaixo daquele olhar intimidador de Jeremy. Ele estava atento a qualquer movimento mínimo que eu dava. Fiquei perdida, sem saber ao certo o que fazer. Poderia contar a história de minha existência, mas demoraria mais tempo do que eu achava recomendável.

Respirei fundo, fazendo a coisa que eu mais achei lógica naquele momento. Dedos tremiam enquanto deslizavam pelo pano áspero de minha jaqueta. Os olhos de Jeremy se arregalaram, enquanto sua mente tinha pensamentos errados baseado nos meus movimentos. Ele colocou uma mão sobre a minha, fazendo com que seu calor se irradiasse por minha pele.

“Aliel”, ele estava sério. Pendi a cabeça para a direita, confusa. “Não precisa fazer isso para me provar alguma coisa.”, ele balançou a cabeça e seus olhos escureceram. “Eu fui um idiota naquele dia. Não era eu mesmo. Aquelas drogas...”, ele pausou, suspirando. Fiquei tensa com a lembrança. “Eu tinha parado. Se me pegassem no teste anti doping, vou ser expulso do time. Eu não quero isso, mas o importante é que eu te magoei.”

“Jeremy.”, eu respirei fundo, tentando me controlar. Meus olhos se fecharam e começaram a arder. O ar saía e entrava de meus pulmões com velocidade exagerada. A garganta ficou seca. Estava perdendo o controle. “Não importa o que você fez ou fará. De qualquer jeito não podemos ficar juntos.”

“Por que, Aliel?”, ele segurou os meus ombros com força. Abri meus olhos, surpresa. Os seus pareciam estar implorando por uma explicação. “Se é o fato de você ser virgem, eu não ligo. Posso esperar o seu tempo e...”

“Jeremy, não é isso.”, eu sussurrei.

Suspirei, dando um passo para trás e me afastando do seu toque. Mesmo que fosse o que eu mais ansiasse. Senti o frio tocando meus ossos, me deixando tensa. Fechei os olhos por um segundo. Minha mãos refletiram minha determinação quando deixaram a jaqueta deslizar de meus ombros para os pés de Jeremy. Abri os olhos e o vi me observando novamente.

Pensei em parar. Pensei em ir embora e dizer que estava ficando louca. Pensei em talvez abandonar a missão. Mas eu não conseguia. Estava ligada aquele humano de um jeito que nenhum anjo poderia ficar. Por isso que deixei minha hesitação de lado e me concentrei o suficiente para que minhas asas aparecessem.

A boca de Jeremy se abriu e ele coçou os olhos azuis, como se não estivesse acreditando no que estava vendo. Minhas penas roçavam em minhas costas, me fazendo sentir a maciez e a leveza que possuíam. Por um segundo, meus olhos caíram em duas penas no chão. Meu coração se acelerou ainda mais. A expectativa estava fazendo minha pele arder, como se eu estivesse presa em um vulcão em erupção.

“Você é...”, ele começou então deu um passo para trás, balançando a cabeça. “Não acredito. Quero dizer, nunca poderia imaginar que você fosse um...”

“Anjo.”, eu sorri.

Ele assentiu, olhando para as minhas asas, ainda assustado. Senti uma vontade de encolhê-las. Sabia que eram bastante intimidadoras, por lembrarem asas de águia. Jeremy pegou o copo de água em seu criado mudo e tomou um gole, piscando com força, ainda incrédulo com que estava a sua frente. Resolvi dar explicações plausíveis.

“Por favor, não tenha medo.”, pedi, estendendo uma mão na sua direção. Ele a olhou, então me encarou e assentiu. “Prometo que não te machucarei. Não sou um anjo mal. Te explicarei tudo, só mantenha a calma.”

Lentamente, Jeremy deu um passo a frente e pegou minha mão por entre as suas. Eu respirei fundo, sentindo seu cheiro cítrico entrando por minhas narinas e fazendo meu interior se agitar. Parecendo notar isso, ele ficou mais confiante, para bem a minha frente. Seus olhos estavam em um tom de anil e eu mordi o lábio.

“Estou calmo.”, ele disse e passou a língua pelos lábios.

A visão de seu percing me deixou inquieta, mas não quis demonstrar isso. Tive que me segurar para não respirar como uma asmática, pela velocidade e a força que meu coração batia contra os meus ossos. Era como se todos os meus órgãos tivesse saído do lugar e estivessem se reorganizando. Engoli em seco.

“Antes de tudo, eu não sou aquele tipo de anjo que ficam no céu, escutando as preces e atendendo o pedido dos religiosos.”, expliquei, e ele deu um pequeno sorriso. “Sou o que os humanos chamam de cupido.”

“Cupido?”, ele questionou, levantando uma sobrancelha. “Do tipo de junta casais?”

“Exato”, sorri.

Então seus olhos brilharam, com a verdade estalada em sua mente.

“Jason e Sarah.”, ele sussurrou e me encarou esperando uma confirmação. Assenti. “É por isso que você estava tão empenhada em descobrir aquelas histórias. Por isso que queria tanto que Jason e Laisa terminassem e que eu aceitasse toda essa loucura.”

Fiz uma careta.

“Não é loucura.”, o corrigi. “Se ele traísse ou o melhor amigo não aceitar o relacionamento, é missão perdida. Precisava que Jason terminasse com Laisa antes de tentar algo com Sarah. Querendo ou não, eles foram destinados a ficarem juntos. Eu estou aqui apenas para garantir que isso se torne realidade.”

“E depois?”

Abaixei os meus olhos e soltei o ar.

“Eu volto para o céu.”

“Então eu não aceito o relacionamento deles.”, ele disse. Isso me fez encará-lo com os olhos arregalados. Jeremy estava sério. “Se isso for fazer você ficar por aqui mais tempo, vou repudiar esse relacionamento até meu último suspiro.”

Estava balançando a cabeça antes que ele terminasse de falar aquilo. Deveria saber que ele não entenderia como as coisas funcionavam. Eram coisas complexas que os humanos não deveriam saber. Queria dizer que não adiantaria me prender á terra por muito tempo. Mesmo que minha vontade fosse ficar ao lado de Jeremy, tinha alguém na Lista para ele.

A Lista era uma das coisas que nós, cupidos, mais trabalhávamos. Ali continha todos os pares que seriam formados ao longo dos anos. Era extensa e apenas os cupidos e seus supervisores tinham licença para olhá-la. Não sabia a quem seria incumbida a missão de juntas Jeremy á sua pretendente, mas eu faria o máximo para que não fosse eu.

“Jeremy, se eu não completar essa missão, outro anjo irá.”, seus olhos se estreitaram, demonstrando sua frustração pelo plano falho. “O fato de você não aceitar, só irá atrasar o inevitável. Estou cansada de dizer que não podemos ficar juntos. Será que agora você pode, por favor, aceitar isso e seguir a sua vida curta e humana?”

Senti meus joelhos falhando e sabia que estava cedendo a gravidade e a dor. Vi meu corpo indo em direção ao chão e sabia que estava merecendo o impacto. Em meu peito parecia que tinha um buraco exposto, pronto para aumentar a cada respiração arfante que eu dava.

Esperei, mas o impacto nunca veio. Abri os olhos e me vi com o rosto a centímetros do de Jeremy, que tinha os braços ao meu redor, com cuidado para não tocar em minha asas. Meus olhos se arrastaram para os seus lábios, me fazendo passar a língua pelos meus. Ele acompanhou os meus movimentos e engoli em seco.

Ele sabia que estava pisando em terreno perigoso. Qualquer pequeno movimento e eu sabia que minhas penas iriam denunciar o meu pecado, com o mais alto grito. Jeremy tirou uma mecha de meu cabelo do meu rosto e suspirou. Seu sorriso tinha sumido totalmente de seus lábios. Então ele balançou a cabeça.

“Não posso viver uma vida curta e humana sem você, Aliel.”, ele disse em voz baixa. A vontade de chorar, se tornou maior ainda. E pelo jeito que sua voz estava áspera e carregada, sabia que o mesmo estava acontecendo com ele. “E não quero aceitar nada do que está acontecendo. Ser virgem, eu até consigo lidar, mas...”

“Eu ser um anjo muda tudo, não é?”, eu dei um sorriso amargo.

“Aliel, não desisto sem lutar, ok?”, ele me soltou assim que percebeu que meus pés estavam firmes no chão. Mas manteve seu rosto perto o suficiente para que visse o medo em seus olhos. “Sei que somos totalmente diferentes e que sou o exemplo perfeito de pecador, mas desde que você chegou, eu não consigo mais ver nenhuma mulher como antes. Na verdade, eu não consigo mais ver nenhuma mulher.”

“Jeremy, você está atraído por essa casca.”, disse gesticulando para mim mesma. Meus cabelos chicotearam ao meu redor, envoltos em meu desespero em tentá-lo sair daquela ilusão. “Posso ser de qualquer jeito que quiser e que seja necessário pra completar a missão.”, ele pressionou os lábios. “Já fui loira, ruiva, asiática, baixa, alta, homem.”, mordi o lábio. “Sou apenas uma presença em uma casca. Assumo a aparência que me convêm. E é isso que te atraiu.”

Engoli em seco, vendo os olhos dele se estreitarem enquanto me estudavam. Respirei fundo, sentindo minha pele queimar nos lugares onde era observada. Ele esticou a mão e roçou os dedos por meus lábios entreabertos até o meu queixo. Então tocou em meus cabelos escuros e cacheados. Por fim, pegou minha mão novamente e a pôs em seu rosto.

“Eu também sou uma casca, Aliel”, ele sussurrou, ainda sério. Sem desviar os olhos dos meus. “Para onde vai meu corpo depois que eu morrer, é óbvio. Para um caixão. E meu espírito?”, ele esperou um segundo que eu respondesse. Pressionei meus lábios juntos. “Veja, não somos tão diferentes quanto você tanto quer mostrar. Sou o pecado e você minha redenção.”

“Não me faça cair.”, sussurrei.

Ele pressionou os lábios em minha testa e deixei que meus braços envolvessem sua cintura. Suas mãos estavam em meu cabelo, com cuidado para não tocar minhas grandes asas prateadas. O calor começou a irradiar do ponto onde ele beijou, até a ponta dos meus dedos. Senti seu cheiro e relaxei, me sentindo segura.

“Eu nunca deixaria você cair.”, ele respondeu. “Não sou tão canalha. E mais uma coisa.”, ele me segurou pelos ombros e me fez encará-lo. Alguma coisa dentro de mim parecia querer me avisar que, independente do que ele dissesse, muita coisa iria mudar. “Não estou atraído por você.”

Meus olhos se arregalaram com as suas palavras e parecia que tudo dentro de mim tinha se tornado vidro. Porque estava tudo se quebrando lentamente. Um arfar saiu dos meus lábios. Antes que eu pudesse ter alguma reação humana de questionar suas palavras, Jeremy se moveu para as minhas costas.

O contato de suas mãos em minhas asas, fez com que as mais cobiçadas fantasias voltassem em minha mente. Fechei os olhos, sentindo todo o meu corpo se arrepiar com o contato dos longos e confiantes dedos de Jeremy ao longo de minhas penas prateadas. Um som desconhecido saiu dos meus lábios, como um lamento, só que mais prazeroso. Me despertando do momento, senti o corpo de Jeremy se pressionando em minhas costas e sua boca em minha orelha entorpecida.

“Eu estou apaixonado por sua essência.”, ele sussurrou e suas mãos seguraram minha cintura com força. “Não importa a casca. Me apaixonei pelo seu jeito de se preocupar com as pessoas. Por você ser ingênua. Por você me fazer ver mais do que apenas um par de peito e bunda. Ver a alma.”, seus dedos roçaram novamente em minhas asas. “Tocar em suas asas.”

Outro som desconhecido saiu de meus lábios e Jeremy riu. Sua mão que ainda estava em minha cintura se tornou possessiva e ele me virou. Minhas mãos se espalmaram em seu peito e eu arfei pelo modo que estávamos tão perto um do outro. Meus lábios estavam entreabertos, fazendo minha respiração sair ruidosa.

“É humana o suficiente para gemer com o meu toque, mas não pode me deixar apaixonar por você?”, ele disse encostando nossas testas. “Já disse que não vou te deixar cair, Aliel. Desde que nos conhecemos, nunca te deixei cair. Sempre serei seu suporte.”, ele revirou os olhos e riu. “Estou parecendo um viado falando isso.”

“Não parece não.”, eu sorri. Meu olhar caiu em outra pena que estava no chão, junto com as outras duas. Fitei os olhos confusos de Jeremy e dei um sorriso triste. “Cada vez que eu faço alguma coisa perto de um pecado, uma pena caí. Como um aviso.”

Jeremy ficou alerta, mas não me soltou.

“Não quero que perca as asas.”

Sorri.

“Não perderei.”

****************************

Observei Jeremy dormindo durante a noite inteira com um sorriso no rosto. Era incrível como ele parecia tão fascinado por mim quanto eu por ele. Lembrei-me da sensação de seus dedos correndo por minhas asas e pressionei os lábios juntos, impedindo que outro gemido saísse deles. Passei a língua pelos lábios e me levantei da cama nos primeiros sinais do nascer do sol.

Abri a janela, vendo-o se remexer, incomodado pela luz em seu rosto. Segurei um riso e caminhei em sua direção. Me ajoelhei ao seu lado e toquei em sua testa, afastando alguns fios negros que estavam ali. Ele deu um pequeno sorriso, mas não abriu os olhos. Deveria estar muito cansado. Sabia que o veria daqui a poucas horas na escola, mas hesitei antes de ir.

Olhei em seu rosto por mais alguns segundos e, movida pelo impulso, me inclinei e pressionei os meus lábios em sua testa. Sua pele era macia e fez com que meus lábios formigassem. Me afastei lentamente respirando com força. Coloquei minha mão por cima do meu peito e caminhei com passos cuidadosos até a janela.

“Por que você me contou?”

Pausei e me virei, para ver Jeremy parado exatamente como eu o havia deixado. Então abriu um dos olhos e deu um meio sorriso. Não pude me impedir de ficar envergonhada. Ele sempre me pegava no flagra. Sorri, sentindo minhas bochechas queimando, mesmo que não aparecesse.

“Eu não sei.”, dei de ombros, sincera. Balancei a cabeça. “Realmente não sei.”

Seu sorriso aumentou.

“Eu sei, mas prometi que não te deixaria cair.”, ele se sentou e coçou os olhos. Seus cabelos negros estavam mais bagunçados do que o normal. Estava fofo. “Até mais tarde.”

“Até”

Sai pela janela e me equilibrei no parapeito da janela. Então tirei a jaqueta, balançando os ombros e tencionando as costas, sentindo as penas deslizando por minha pele. Sabia que Jeremy estava assistindo tudo, mas não me virei para encará-lo. Me inclinei e tomei impulso, antes de começar a bater as asas e voar para longe dali.

**************************

Eu sabia que eles viriam atrás de mim. Só não sabia que seria tão rápido. Mas, meu pensamento se tornou errado quando cheguei ao quarto ao lado da igreja e vi que estava acompanhada. E que não era Caliel e nem Adriel.

Dois anjos estavam ao lado de minha janela, com as expressões inflexíveis e os braços cruzados. Um deles era Uriel, já o conhecia por ser o mentor de Daniel. Seus cabelos eram ruivos e enrolados, me lembrando de Sarah. Seus olhos eram cor de mel e brilhavam com a luz do nascer do sol. Suas asas eram brancas, como a de qualquer anjos de sua espécie e sua roupas quase que da mesma cor. Mas, ainda sim, eram menos branca do que as de Rafael.

O outro anjo eu não conhecia, mas era tão antigo quanto. Suas asas e suas roupas eram do mesmo tom de branco que as de Uriel. Mas seus cabelos eram loiro platino e seus olhos verdes. Dei um passo para trás, tomada pelas presenças. Então me ajoelhei e pus uma mão fechada em punho sobre meu coração, abaixando a cabeça.

“O que desejam, Arcanjos?”, eu disse com a voz submissa.

“Você sabe o que viemos fazer, Cupido Aliel.”, Uriel disse com a sua voz carregada. Era como se sua voz soasse dentro de minha mente. “Se mostrou para um humano e deve arcar com as consequências.”, fechei os olhos, sentindo meu coração se acelerar.

“Você vai á julgamento, viemos te buscar.”, o outro Arcanjo disse.

E enquanto subia de volta para o seu, com a escolta de Uriel e o outro anjo, – que logo descobri ser Ezequiel – eu rezei. Rezei para que pudesse ver Jeremy mais uma vez.


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Notas finais do capítulo

E o que será que irá acontecer com a nossa anjinha? Gente, to em lágrimas. Domingo é o último capítulo. Espero que não me abandonem.

Ah, e postei uma das minhas continuação. Sociedade Renegada. Espero que me acompanhem lá também.

http://fanfiction.com.br/historia/443306/Sociedade_Renegada/